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Entre a coesão e a dispersão, a lógica da formação da Cidade-Região de São Paulo

CAPÍTULO 2 – Da metrópole à Cidade Região Paulista

2.2 Entre a coesão e a dispersão, a lógica da formação da Cidade-Região de São Paulo

Como visto no primeiro capítulo, o termo cidade-região foi proposto por Scott et al. (2001) para designar qualquer área metropolitana, ou conjunto contíguo de áreas metropolitanas, mais sua hinterlândia, formada por um conjunto de assentamentos dispersos, cuja economia interna e questões políticas têm fortes relações com questões extranacionais. As cidades-regiões globais funcionam, em síntese, como verdadeiros nós no sistema mundo, pois exercem grande influência em diversos territórios e possuem relações intrínsecas com

Campinas, Sorocaba e Vale do Paraíba e Litoral Norte, também as aglomerações urbanas de Jundiaí e Piracicaba e a unidade regional de Bragança Paulista”.

82 Além disso, deve-se levar em conta que o fenômeno se encontra em sua fase inicial e provavelmente não se

várias partes do globo; são, portanto, pontos de luminosidade83 (parafraseando SANTOS, 2005), pois emanam todas as características do chamado Meio Técnico-Cientifico Informacional84.

As cidades-regiões são frutos de processos sociais e urbanos hodiernos, mas que foram gestados no âmbito da estruturação das metrópoles fordistas-keynesianas. A extensão/dispersão do tecido metropolitano das metrópoles ditas industrializadas já era um prenúncio da formação desta nova morfologia. Concordando com Magalhães (2008, p. 9) pode-se dizer que “a cidade-região é a forma urbana do processo de metropolização em seu estágio contemporâneo, que apresenta continuidades e rupturas com os processos anteriores”. Assim, pensar no conceito cidade-região exige enxergar uma unidade espacial marcada pela multiescalaridade de fenômenos, já que esta forma se perfaz pela sobreposição de diversas escalas: local, regional, nacional e global; pois, no desenvolvimento desta espacialidade, estas escalas se “mesclam por meio de complexas relações que se desenvolvem em diversas direções e com alcances diferenciados” (LENCIONI, 2006, p. 74). Por envolver estas diversas escalas, pensar em “cidade hífen região85” é trazer à mente o conceito de sinoikismo86, exige

pensar de maneira integrada, pois, “pensar a metrópole, a região metropolitana ou o entornometropolitano é pensar uma região, [...] pois mesmo87 examinando apenas a metrópole, o espectro da região aparece, porque ela em si, não é mais uma cidade isolada, mas uma cidade-região” (LENCIONI, 2003a, p. 7).

Além de ser multiescalar em sua essência, a cidade-região se traduz e se constitui por um processo que possui uma lógica histórica. Elas nascem e estão intrinsecamente relacionadas ao processo de reestruturação produtiva e urbana, a flexibilização da acumulação do capital e das relações de produção, a adoção e expansão do uso das tecnologias de

83 Milton Santos, ao analisar a expansão do Meio Técnico-Cientifico-informacional pelo território brasileiro,

cunha os termos espaços luminosos e opacos. Para o autor “os espaços luminosos seriam aqueles que mais acumulam densidades técnicas e informacionais, ficando assim mais aptos a atrair atividades com maior conteúdo de capital, tecnologia e organização. Por oposição, os subespaços onde tais características estão ausentes seriam os espaços opacos. Entre esses extremos haveria toda uma gama de situações. Os espaços luminosos, pela sua consistência técnica e política, seriam os mais susceptíveis de participar de regularidades [...] (SANTOS; SILVEIRA, 2005, p. 264).

84 De maneira resumida, o Meio Técnico-Científico-Informacional seria “o momento histórico no qual a

construção ou reconstrução do espaço se dará em comum conteúdo de ciência e de técnica” (SANTOS, 2005, p. 37).

85 O uso da expressão “cidade hífen região” teve como intuito parafrasear Lencioni (2003a). Segundo a autora, o

simples emprego do hífen a contraposição ao uso de preposição, como por exemplo, cidade E região, já muda a conotação destas palavras. Assim, “cidade hífen região” passa a revelar o desenvolvimento de um arranjo territorial que se constitui numa manifestação sócio espacial do capitalismo contemporâneo.

86 O sinoikismo refere-se a processos históricos ocorridos na Grécia antiga em que vários assentamentos se

uniam e fundavam uma nova cidade ou entidade política.

informação e comunicação, bem como a expansão do processo de metropolização que imprime novas características aos lugares, como visto no primeiro capítulo deste estudo. Vale relembrar que a expansão da metropolização do espaço, além de homogeneizar e levar para outros lugares as condições gerais de produção antes restritas às metrópoles e primordiais à reestruturação produtiva, também mudou a função urbana de muitas cidades e aglomerados (LENCIONI, 2003a). No caso da Cidade-Região de São Paulo, esta se conforma pelos processos citados anteriormente, ou seja, surge, principalmente, devido à reestruturação produtiva que desconcentrou a produção industrial para um raio de aproximadamente 150 km da capital paulista e integrou funcionalmente um conjunto de cidades e aglomerados em um único complexo regional.

Há de ressaltar que, mesmo a formação das cidades-regiões sendo um fenômeno estudado por muitos autores em diversas áreas do globo terrestre (SCOTT et al., 2001; PARR, 2005; HALL, 2001), a estruturação desta morfologia no Brasil – e em qualquer país localizado na periferia do capitalismo - reflete várias incompletudes e contradições, assim como a metrópole dita fordista no contexto destes países também se caracteriza pela incompletude, ou seja, as novas formas urbanas (quando comparadas com aquelas localizadas nos países desenvolvidos) revelam todas as incongruências do sistema econômico vigente. A incompletude das metrópoles ditas fordistas, bem como as incongruências das novas morfologias urbanas, relaciona-se ao modo que os sistemas de acumulação88 se desenvolveram nos países periféricos. Por exemplo, Lipietz (1989), ao examinar o desenvolvimento do fordismo nos países “semi-industrializados”, propõe a noção de “fordismo-periférico”, o autor explica a questão da periferia no excerto abaixo:

Tal como o fordismo, está baseado na reunião da acumulação intensiva com o crescimento dos mercados de bens finais. Mas permanece sendo “periférico”, no sentido em que, nos circuitos mundiais dos ramos produtivos, os empregos qualificados (sobretudo no domínio da engenharia) são majoritariamente exteriores a estes países. Além disso, os mercados correspondem a uma combinação específica de consumo local das classes médias, consumo crescente de bens duráveis por parte dos trabalhadores e de exportação a baixo preço para os capitalismos centrais (LIPIETZ, 1989, p. 119).

Destaca-se que foi no âmbito da expansão do fordismo periférico no Brasilque foram desenvolvidas as condições gerais de produção necessárias para constituição da Cidade-Região Paulista. Ainda sobre a constituição do fordismo nos países ditos

88 De acordo Lipietz (1989) os regimes de acumulação compreendem um modelo de “realocação sistemática do

produto, que administra, ao longo de um período prolongado, uma certa adequação entre as transformações das condições de produção e aquelas das condições de consumo” (LIPIETZ, 1989, p. 304).

subdesenvolvidos, pontua-se que sua formação inicial esteve relacionada às políticas de substituição de importação iniciadas na década de 1950. Já o apogeu deste modelo de industrialização taylorista/fordista ocorreu durante a década de 1970, neste período o modelo fordista periférico quase convergiu para o perfil dominante nos países centrais. Contudo, segundo Silva e Laplane (1994, p. 86) esta convergência não aconteceu devido à permanência de características relacionadas ao caráter periférico e tardio da industrialização brasileira.

Em linhas gerais, pode-se afirmar que a industrialização brasileira foi realizada e orientada pelo paradigma tecnológico-industrial norte-americano, mas que não houve a articulação de seus mercados e a sua institucionalidade sociopolítica segundo o modo de regulação fordista. Cabe salientar que, além destas questões pontuadas, o modelo de welfare- stateimplantado nos países centrais, o qual permitia uma melhoria das condições de vida da classe trabalhadora, não foi implantado nos países periféricos (SANTOS, 2015).

De acordo com Lipietz (1989), o regime de acumulação introduzido na periferia do capitalismo de fato tratou-se de um modelo fordismo autêntico, pois foi acompanhado de uma genuína mecanização da produção e da instalação de um processo de produção em série, que propiciou a acumulação de maneira intensiva através do consumo de bens duráveis. Contudo, este modelo é periférico, pois “nos circuitos mundiais dos ramos produtivos, dos postosde trabalho e de atividades produtivas mais nobres, esses países permaneciamexcluídos de incorporação nesses circuitos, sendo responsáveis apenas pelaprodução em larga escala das atividades mais banais do circuito produtivofordista” (SANTOS, 2015, p. 214). Em outras palavras, é periférico porque se mantém dependente em aspectos tecnológicos aospaíses centrais e também porque o nívelde emprego industrial é garantido por uma demanda formada por uma classe média local, pelo acesso parcial dos trabalhadores fordistas ao mercado e pelas exportações (SANTOS, 2015).

No mais, cabe salientar que a implantação deste sistema de acumulação não se deu de forma igualitária por todo território, ocorreu em lugares dotados de condições necessárias para a reprodução do capital, sendo estes lugares as metrópoles, parafraseando Lipietz (1989): o fordismo, colocando-se em condição periférica, sabe se instalar apenas nas metrópoles. A produção do espaço nos países subdesenvolvidos, pautada em estratégias advindas dos países centrais, gerou desigualdades internas. No caso brasileiro, levou a concentração da chamada “malha programada”89 (BECKER, 1991) em pontos específicos do

89 Becker (1991) define a malha programada como o conjunto de aparato técnico instalado no território

território. Cabe salientar que estas disparidades influenciariam o aumento de fluxos tanto de investimento, quanto dos populacionais para as “metrópoles industrializadas”.

A despeito das desigualdades que permeiam o território brasileiro estas, de acordo com Oliveira (2003) e Santos (2004), não podem ser interpretadas de maneira dualista90, ou seja, a produção econômico-social do subdesenvolvimento não se dá pela coexistência de áreas modernas e precárias esperando pela chegada da “modernidade”. Na realidade, o que se observa é que os ciclos de atividades econômicas (ciclo do açúcar, do ouro, do café etc) implantados no Brasil sempre foram alheios à própria realidade, ou seja, os longos ciclos de acumulação foram estruturados na periferia a partir das lógicas queemanam dos centros da economia-mundo. Esta inserção periférica ou, em outras palavras, esta inserção na economia mundo com funções voltadas para “fora”91, faz com que as transformações geradas por cada

ciclo não sejam expandidas por todas as áreas. Assim, com as profundas reestruturações de ciclos econômicos, o que se percebe é a formação de um território “incompletamente organizado92” (SANTOS, 2004). Com a existência de estruturas de ciclos anteriores

convivendo com estruturas atuais, ou seja, as constantes “reestruturações impostas pela necessidade de entrada em novos ciclos provocam o abandono de projetos (de desenvolvimento urbano-regional) em curso, e o início da formulação de novos projetos sem que os anteriores tenham sido plenamente levados a cabo” (MAGALHÃES, 2008, p. 118). Para Santos (2004), a realidade dualista não pode ser aceita, pois o que se nota é a coexistência de dois circuitos da economia convivendo maneira dependente93.

Por fim, cabe destacar que as incompletudes que caracterizam a metrópole constituída no fordismo periféricotambém se constituem no âmbito da cidade-região, pois da mesma maneira que estas metrópoles detinham espaços “modernos” essencialmente produzidos “para fora”, na cidade-região também é possível perceber a continuidade deste

período dos governos autoritários, que tinham por objetivo o controle técnico e político do território, bem como atendiam aos interesses hegemônicos.

90 Santos (2004) desenvolve as críticas ao dualismo em O espaço dividido.

91 Na realidade, os espaços voltados “para fora” aqui são compreendidos como os espaços derivados, de acordo

com Santos (2004) “[...] a cada necessidade imposta pelo sistema em vigor, a resposta foi encontrada, nos países subdesenvolvidos, pela criação de uma nova região ou a transformação das regiões preexistentes. É o que chamamos de espaço derivado, cujos princípios de organização devem muito mais a uma vontade longínqua do que aos impulsos ou organizações simplesmente locais. Pelo fato de serem derivados, estes espaços se organizam e se reorganizam em relação a interesses distantes: sua organização é função de necessidades exógenas e depende de parâmetros importados, tomados de empréstimos aos sistemas representativos desses interesses distantes” (SANTOS, 2004, p. 104-105).

92 O termoespaçoincompletamente organizado foi elaborado por Santos (2004) para definir o modo não

homogêneo como todo aparato técnico se espalha pelo território brasileiro, e em geral pelo território dos países subdesenvolvidos. Por este aparato se localizar apenas em pontos específicos e por razões que obedecem à lógica do capital, a produção do espaço no subdesenvolvimento ela é organizada (porque tem uma lógica), mas ao mesmo tempo é incompleta (porque é seletiva).

padrão. Por exemplo, Mattos (2004) afirma que uma das características das novas morfologias urbanas é a produção/detenção de artefatos urbanos ou de centralidades voltadas à economia global, são espaços produzidos para fora derivados da realidade social vigente (SANTOS, 2004).

As cidades-regiões, portanto, ao mesmo tempo em que concentram tecnologias - atividades relacionadas ao “circuito superior da economia” (SANTOS, 2004) - ou seja, ao mesmo tempo em que elas emanam o Meio Técnico-Cientifico-Informacional por excelência; na periferia do capitalismo, elas ainda se perfazem como espaços “incompletamente organizados”, “derivados”, e “seletivos”94 (SANTOS, 2004). Nas palavras de Magalhães (2008), o espaço incompletamente organizado se manifesta na cidade-região principalmente através de um tecido urbano espoliado sem as condições mínimas de reprodução ampliada da vida.

Por estar na periferia do sistema mundo, por ter os próprios processos e lógicas de constituição, torna-se necessário resgatar, mesmo que de forma breve, a história dos processos que influenciaram a constituição da Cidade-Região Paulista. Neste sentido, a próxima sessão analisará os pontos da história econômica e de produção do espaço do estado de São Paulo que possibilitaram a expansão do processo de metropolização e a integração funcional de uma parte do território paulista. Destaca-se que esta breve volta ao passado será realizada a partir da década de 1970, com intuito de analisar, principalmente, como se deu o processo de reestruturação produtiva e de expansão do processo de metropolização. Contudo, cabe lembrarque os processos históricos anteriores a década de 1970, tais como o ciclo do café, foram os que possibilitaram a concentração de certos aparatos técnicos nesta porção sudoeste do estado, e que também contribuíram para a estruturação da CRP.

A constituição da cidade-região paulista e suas condições gerais de produção: um breve resgate histórico:

Como visto anteriormente, a presente seção tem por objetivo analisar os processos inerentes à formação da cidade-região de São Paulo, levando em consideração que este “arranjo espacial” (HARVEY, 2001b) se apresenta como uma nova escala para acumulação. A cidade-região é a resposta geográfica do capital para vencer a crise de sobreacumulação do

94 Na visão de Santos (2004), os espaços seletivos são os espaços da racionalidade. São áreas pontuais dotadas de

fordismo, ou seja, a nova morfologia urbana é fruto da reestruturação95 (social e econômica) que aconteceu na década de 1970 em todo o mundo. A despeito da crise do modelo fordista central96 de produção, destaca-se que esta passou a ser evidenciada com a redução nas taxas de lucro e de produtividade de diversos setores industriais. De acordo com Lipietz (1989), a crise do modelo fordista ocorreu devido a questões regulatórias na escala nacional e internacional, sendo, a de nível internacional, a crescente internacionalização do sistema de acumulação fordista que equalizou a competitividade entre Estados Unidos, Europa e Japão. Este fato gerou um aumento no preço de muitas matérias primas, tais como o petróleo.

Na escala nacional, a queda do crescimento no ritmo da produtividade do trabalho levou diversas indústrias localizadas nos países centrais a migrarem parte de seus processos produtivos para os países periféricosa fim de contornarem, através de subcontratação, as crises relacionadas ao declínio da produtividade e aos problemas salariais. Esta migração comprometeu o equilíbrio do mercado interno dos países centrais, já que a regulação e crescimento dos mercados se relacionava a política de valorização salarial. Sintetizado, a queda na lucratividade da produção nos moldes fordistas “deveu-se a múltiplas causas vindas ‘do lado da oferta’: desaceleração da produtividade, crescimento do preço total do trabalho (inclusive o salário indireto do Estado-providência), crescimento da relação capital-produto, crescimento do preço relativo das matérias-primas” (LIPIETZ, 1994, p. 81). A interrupção de décadas seguidas de crescimento econômico levou a um quadro de recessão que impactou os países centrais e também, de modo mais eloquente, a economia dos países de fordismo periférico. Esta crise revelou a incapacidade do fordismo e do keynesianismo de atuarem como modelo de desenvolvimento econômico e de regulação estatal, com intuito de resolverem as contradições do modelo capitalista naquele período (SANTOS, 2015).

A resposta à crise instaurada na década de 1970 foi uma profunda reestruturação no sistema de produção e de acumulação vigente. Observou-se, neste sentido, a passagem de um sistema rígido, baseado na produção em massa, para um sistema flexível97. Contudo, essa

95 De acordo com Ajonas (2015, p. 53) “o processo de reestruturação econômica corresponde à busca de um

novo ajuste do modo de produção, após a deflagração de uma grande crise. No capitalismo, ocorre quando, após um período de franco crescimento, ele encontra limites à sua própria expansão. Não se trata, pois, de crises espacial e temporalmente restritas, também comuns no contexto capitalista, mas de crises abrangentes, estruturais, que exigem mudanças profundas nos padrões de acumulação e como sistemas de regras”.

96 Relembrando que, de acordo com Lipietz (1989), o fordismo pode ser analisado por dois planos: como regime

de acumulação e como princípio geral da organização do trabalho.

97 Para Harvey (2011, p. 140): “A acumulação flexível é marcada por um confronto direto com a rigidez do

fordismo. Ela se apóia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional. A acumulação flexível envolve rápidas mudanças dos padrões

reestruturação extrapolou a esfera produtiva e alcançou as relações de trabalho, bem como a divisão internacional e territorial do mesmo. Portanto, a reestruturação iniciada “apresenta uma dimensão claramente espacial na medida em que se encontra diretamente relacionada à mobilidade das empresas e, em corolário, às suas distribuições geográficas pelo globo e territórios” (REOLON, 2015, p. 407). De maneira geral, a reestruturação econômica iniciada na década de 1970 revela a busca do capital para resolver suas crises de sobreacumulação. Neste sentido, a crise do fordismo não pode ser interpretada como uma crise espacial e temporalmente restrita, fato comum no contexto do sistema capitalista, mas deve ser vista como uma crise estrutural que exigiu mudanças nas estruturas dos padrões de acumulação (AJONAS, 2015).

Em termos de práticas, esta reestruturação significou uma maior internacionalização do capital financeiro e produtivo, aliada a uma maior abertura e desregulamentação econômica de diversos estados-nações, afim de propiciar maior rentabilidade ao capital financeiro especulativo. Além da adequação das economias nacionais, constatou-se, também, uma flexibilização das leis trabalhistas com um aumento das chamadas terceirizações. Para Benko (1996), um dos pontos fulcrais da reestruturação ocorrida foramas mudanças no mundo do trabalho com a desvalorização da força de trabalho, ou seja, “a questão dos salários está no cerne dos processos de saída da crise, porque faz parte a um só tempo da questão da demanda e dos custos” (BENKO, 1996, p. 32).

No campo da produção, o modelo rígido de produção fordista deu lugar ao modelo flexível, em que as indústrias desverticalizaram98 a sua produção e passaram a adotar novas formas de organização espacial da produção. Além do mais, com a Terceira Revolução Industrial, notou-se o uso cada vez maior de novas tecnologias no domínio da produção, o que permitiu o aumento da produtividade e a redução no uso da força de trabalho. Observou-se, portanto, “a utilização da informatização produtiva e do sistema just-in-time; germinou a produção baseada emteam work, alicerçada nos programas de qualidade total, ampliando também o processo de difusão da microeletrônica” (ANTUNES, 2014, p. 14). No Brasil, e em especial no estado de São Paulo, o setor automobilístico foi o que mais aderiu, bem como o que iniciou as reestruturações, observa-se que “já na década de 1970, a unidade da

de desenvolvimento desigual, tanto entre setores como entre regiões geográficas, criando, por exemplo, um vasto