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CAPÍTULO 1 – Da metrópole à metropolização do espaço

1.3 Novas morfologias urbanas e o pluralismo de conceitos

Como visto ao longo deste primeiro capítulo, o atual estágio do processo de metropolização se relaciona às mudanças no regime de acumulação capitalista (a passagem do fordismo para o regime flexível), à ascendência da globalização, à reestruturação produtiva e às mudanças na divisão internacional e territorial do trabalho. Neste sentido, destaca-se que o arranjo espacial inerente à contemporaneidade transcende a noção de urbano e de aglomerado urbano e incorpora diversas formas à dimensão regional (MOURA, 2009). Em outras palavras, o arranjo espacial, que é a face do modelo de acumulação flexível, possui uma dimensão metropolitana, por conter todas as condições gerais de produção necessárias a reprodução do capital e do trabalho na atualidade; bem como possui uma dimensão regional, pois é caracterizado por uma desmedida extensão territorial e pela multiplicidade de fluxos materiais e imateriais, e que através destes fluxos, incorpora diversas espacialidades ao contexto metropolitano. Por estão razão, o arranjo da contemporaneidade possui uma dimensão que é urbano/metropolitano e regional (MOURA, 2009).

Assim, para entender a configuração de morfologias urbanas mais complexas e a desconfiguração da clássica cidade monocêntrica, muitos autores lançam mão de novos conceitos – tais comocidade-região (SCOTT et al., 2001), cidade difusa (INDOVINA, 1991), cidade global (SASSEN, 1991), entre outrasexpressões para explicar as novas morfologias e o

papel que elas estabelecem no sistema de cidades. Ou seja, são elaborados novos termos, noções ou conceitos para nomear (ou clarificar) o “novo”. Nesse sentido, o QUADRO 2 – elaborado por Moura (2009) – sintetiza os principais termos que surgiram nas últimas décadas para denominar a nova morfologia espacial do século XXI. Sobre essa pluralidade de conceitos, Moura (2009, p. 53) afirma quealgumas morfologias “se contrapõem à ideia de aglomeração, dentro da naturezade formações em descontinuidade, porém com forte articulação; outros adjetivam as cidadespelos seus novos conteúdos”.

Este quadro traz conceitos que se relacionam à dinâmica econômica globalizada, como também apresenta noções que qualificam as aglomerações urbanas de grande porte populacional e extensão territorial. Uma destas terminologias que elucida os aglomerados de grande peso populacional, e que influenciou o olhar sobre as metrópoles e suas transformações, é o termo megalópole, formulado por Gottman (1967) para expressar os fenômenos espaciais que estavam ocorrendo na costa leste dos Estados Unidos no final dos anos de 1960. A megalópole concebe a ideia de uma “região urbana com coalescência, com fusão de metrópoles” (LENCIONI, 2015b, p. 43). Ou seja, tal conceito caracteriza um urbano contínuo e de extensão territorial considerável, que se consolida devido ao crescimento e expansão de uma ou mais cidades até se conurbarem com outra região de influência.

QUADRO 2 – Síntese das principais morfologias urbano-regionais e suas devidas referências

MORFOLOGIAS REFERÊNCIAS

Arquipélago urbano VELTZ, (1996) Cidade Arquipélago VIARD, (1994)

Cibercities BOYER, (1996)

Cidade Difusa INDOVINA (1990)

Cidade Dispersa MONCLÚS (1998)

Cidade dos bytes ou soft city MITCHELL (1996)

Cidade flexível LEHRER (1994)

Cidade Global SASSEN (1991)

Cidade Informacional CASTELLS (1999)

Cidade Mundial Hall (1996), FRIEDMANN e WOLF (1982) Cidade pós-moderna AMENDOLA (1997)

Cidade reticular DEMATTEIS (1998) Cidade-região Global SCOTT et all(2001)

Edge City GARREAU (1991)

Exópole SOJA (1994, 2002)

Hipercidade CORBOZ (1994)

Megacidade BORJA e CASTELLS (1997)

Megalópole GOTTMAN (1967)

Megarregião SASSEN (2007)

Metápole ASCHER (1995)

Metroplex North Texas Commission (1972) Metrópole sem bordas GEDDES (2002)

New burb DAVIS et all(1994)

Outer City SOJA (1994, 2002)

Pentúrbia LESSINGER (1991)

Pós-metrópole SOJA (2002)

Post-suburbia TEAFORD (1997)

Privatopia MCKENZIE (1994)

Rurbano BAUER e ROUX (1976)

Suburbia BAUER (1993)

Tecnoburb FISHMAN (1989)

Tecnópoles CASTELLS e HALL (1994)

Telépolis ECHEVARRIA (1994)

Fonte: Moura (2009, p. 56).

Além disso, um dos elementos definidores da “megalopolização” seria o critério populacional adotado (acima de vinte milhões de habitantes). De acordo com Gottmann (1967), as megalópoles formam verdadeiras nebulosas urbanas, ao propagar a urbanidade por todo o espaço regional. Outros conceitos que definem os grandes aglomerados são os de

megarregião e megacidades. Para Borja e Castells (1997), a megacidade54 detêm as funções superiores direcionais, produtivas e administrativas de todo o planeta; o controle da mídia; a verdadeira política do poder; e a capacidade simbólica de criar e difundir mensagens. As megacidades surgem, portanto, em um período de extrema difusão de novas tecnologias de informação e comunicação, informatização da vida e do trabalho. Estes grandes aglomerados constituem-se, em outras palavras, em um “espaço de fluxos” por excelência. Para Castells (1999a), os fluxos são os elementos estruturadores da economia e das redes de cidades na atualidade e estes são dominados pelas grandes multinacionais e empresas. Em síntese, muitas dessas novas formas de urbanização, tais como a cidade informacional de Castells (1999a) e a Tecnopolis (CASTELLS; HALL, 1994), têm como elemento central a informação, ou seja, no mundo contemporâneo “a informação é o input chave da economia mundial, o elemento central que permite a acumulação capitalista” (BENKO, 2009, p. 123).

Há, também, outras terminologias sintetizadas no QUADRO 2 que qualificam as transformações ocorridas nos subúrbios e nas periferias de grandes aglomerações urbanas ao redor do mundo. É o caso da periurbanização das edgecities ou das exópolis, formas estas que tratam da problemática de mudanças nas fronteiras urbanas. De acordo com Garreau (1991), a edgecityse refere à cidade da borda e sua formação está vinculada ao fenômeno de suburbanizaçãoiniciado na década de 1950 nos Estados Unidos, através de estímulos do governo norte-americano para alocação de centros comerciais, escritórios e áreas residenciais nestas zonas limítrofes. Destarte, o surgimento desta morfologia está associado, também, à localização e relocalização de atividades industriais e comerciais em direção as áreas limítrofes das cidades. Porém, para Garreau (1991), as edgecities não podem ser classificadas como subúrbios, já que, na realidade, são verdadeiras cidades, pois possuem governos, centralidade e outros elementos característicos desta instância. Já a exopolis (SOJA, 1996) designa as cidades que nasceram isoladas da malha urbana na metade da década de 1970, nas proximidades de Los Angeles. Os estudos de Soja (1996) centraram-se principalmente no condado de Orange e se referiam a uma forma que surgiu em função de uma produção industrial de ponta, baseada na pesquisa e produção de tecnologias avançadas, telecomunicações, biologia, serviços militares e serviços avançados. Segundo Soja (1986),

54Las megaciudades son constelaciones territoriales discontinuas hechas de fragmentos espaciales, de parcelas

funcionales y segmentos sociales. [...] La era de la información es ya, y será cada vez más, la era de las megaciudades [...] por las siguientes razones: a) las megaciudades son los centros de dinamismo económico, tecnológico y empresarial en sus países y en el sistema global [...]; b) son los centros de innovación cultural, de creación de símbolos y de investigación científica […]; c) son los centros del poder político, incluso en los casos en los que el gobierno reside en otras ciudades [...]; d) son los puntos de conexión del sistema mundial de comunicación (BORJA; CASTELLS, 1997, p. 53).

esta representa umnovo tipo de espaço que caracteriza a sociedade contemporânea. Porém, para Rufi (2003), a exópolis retrata um novo modelo imobiliário de subúrbios, já Garreau (1991) a trata como verdadeiro parque temático55.

A despeito da formação dos subúrbios, torna-se necessário distinguir a noção dos subúrbios norte-americanos, bem como das periferias e dos subúrbios desenvolvidos no contexto dos países semiperiféricos e que influenciaram o arcabouço teórico de diversos estudos urbanos no âmbito da América Latina. Assim, se a constituição dos subúrbios norte- americanos se relacionam a alocação de uma população com maior poder aquisitivo durante o pós-guerra nas bordas das cidades; o desenvolvimento das periferias brasileiras (por exemplo) muito se assemelha à formação dos subúrbios relatada por Engels (2008)56 no nascer da primeira Revolução Industrial na Europa. Isto é, as periferias brasileiras – e por certo, de toda a América Latina - por um longo tempo se caracterizaram57 por serem ambientes marcados pela ausência de infraestrutura e pela expansão da precariedade. O processo de periferização, no Brasil, associa-se a crescente “expoliação urbana”, que se configurou a partir da massiva concentração da população pobre e trabalhadora nas áreas periféricas dos grandes aglomerados.

A vultosa desordem estereotipada nos ambientes periféricos das grandes metrópoles deste país possui uma lógica claramente denunciada por Kowarick (1982) em seu eloquente texto “A lógica da desordem”. Segundo ele, esta “lógica”, em toda sua racionalidade, acompanha o desenvolvimento do capital imobiliário que, na busca por maximização do lucro através da renda da terra, atua na valorização de algumasáreas e desvalorização de outras, bem como na criação de reservas de valores. A produção imobiliáriabrasileira “muito se vale do discurso e do apelo de marketing usados nos modelos de urbanização americano, mas no processo de expansão das aglomerações prevalece a periferização da pobreza” (MOURA, 2009, p. 38). A consequência desta dinâmica é uma apropriação desigual do espaço por distintas classes sociais: para os pobres, ficou a árdua missão de desbravar novas áreas urbanas distantes das principais benesses da cidade.

55 “It’a a theme park – a seven hundred and eigth-six square mile theme park – and the theme is “you can have

anything you want. It’s the most California-looking of all the California: the most like the movies, the most like the stories, the most like the dream” (GARREAU, 1991, p. 271).

56 Original 1845.

57 De acordo com Marques (2015), nas últimas décadas tem se observado uma heterogeneização das periferias

em algumas grandes metrópoles brasileiras, tais como São Paulo. Segundo este autor é possível notar, por exemplo, uma maior ascendência social dos moradores das periferias tradicionais clássicas, ou seja, tem-se uma melhoria na qualidade de vida da população de baixa renda. Como também nas áreas periféricas geograficamente, tem surgido novos padrões de urbanização, como é o caso do crescimento de condomínios fechados, em outras palavras: de periferias elitizadas.

Para além dos processos de suburbanização, há, também, aquelas morfologias relacionadas ao papel de certas localidades na rede de cidades mundiais, sendo um deles o decidade global, termo este queestá diretamente relacionado aos impactos causados pela globalização nas metrópoles dos países desenvolvidos no final dos anos de 1970. A teoria sobre cidades globais foi iniciada por Friedmann e Wolff (1982) que descreveu uma estrutura hierárquica de rede de cidades ao redor do mundo, de acordo com a localização de sedes de grandes multinacionais e de centros de decisões internacionais. Para o autor (FRIEDMANN; WOLFF, 1982), a geografia locacional das grandes multinacionais, assim como a irradiação dos fluxos de informação e mercadorias das mesmas, organiza e estrutura a hierarquia de redes de cidades a nível internacional. Entretanto, foi através do livro The Global City escrito por Saskia Sassen (1991) que o conceito de cidades globais foi amplamente difundido. A autora analisou a ascendência e o papel de três lugares na rede mundial de cidades, sendo elas: Nova York, Londres e Tóquio.

De acordo com Sassen (1991), estas três cidades detêm o título de globais por apresentarem as seguintes características: alta concentração de riquezas, de laboratórios, centros de pesquisa e inovação, centros de gestão e de finanças, indústrias e serviços internacionalizados e uma extrema dualidade social, isto é, “uma elite muito cristalizada e com renda muito elevada e empregados de serviços diversos desqualificados58” (BENKO, 2009, p. 123). É preciso pontuar que a cidade global também nasce e se estrutura frente a realidade pós-fordista, e se caracteriza também pela especialização dos lugares e uma crescente mundialização das economias. Neste sentido, Soja (2001); Veltz (1996) e Scott et al. (2001), entre outros, dedicaram-se, no âmbito dos estudos urbanos e regionais, à compreensão das mudanças nas morfologias urbanas, frente à mundialização/internacionalização da economia e das atividades produtiva em um mundo pós-fordista59. Os conceitos elaborados por tais autores afim de qualificar as mudanças nas novas aglomerações também estão descritos no Quadro 2, elaborado por Moura (2009).

Associadas à ideia de cidadeglobal, tem-se tambémas chamadas cidades-regiões globais60 (SCOTT et al., 2001) caracterizadas por estruturas industriais

58 A despeito desta dualidade Benko (2009, p. 123) afirma que o crescimento das cidades globais “é

acompanhado de sinais de declínio, que a sua arrogante riqueza repousa também sobre uma pobreza quase estrutural e uma insegurança crônica”. No mais, é preciso salientar que Sassen (1991) também caracteriza outras cidades como globais, tais como: Paris, Frankfurt, Milão e Los Angeles.

59 O termo pós-fordismo aqui não significa o total desaparecimento de características inerentes ao regime de

acumulação fordista, mas a passagem da hegemonia para o outro regime, neste caso: o regime de acumulação flexível.

60Moura (2009, p. 59-60) salienta que o termo cidade-região global compartilha algumas das hipóteses da cidade

concentradoras,sobretudo de tecnologia e informação. As cidades-regiões, em síntese, são áreas de grande influência no mundo globalizado e “se distinguem do conceito clássico de cidade, considerado muito restrito para o entendimento da crescente interdependência de múltiplas redes de atividades econômicas, organizadas em configurações territoriais ampliadas” (MOURA, 2009, p. 59). De acordo com Scott et al. (2001) as cidades-regiões globais figuram uma nova forma de organização regional, não mais baseada em uma estrutura rígida e hierárquica que passa pela intermediação dos estados nações, mas um regionalismo baseado em uma estrutura hierárquica que possui múltiplas escalas que variam da escala global ao local. Na verdade, na atualidade, o que se observa é a existência de um mosaico de grandes cidades-regiões constituindo uma das “principais redes estruturais da nova economia global, essas economias e regiões ligam-se em redes flexíveis de firmas que cooperam e competem em um crescente e extenso mercado” (MOURA, 2009, p. 60).

Cidade região: a face da metrópole contemporânea

Como visto ao longo deste capítulo, as transformações macroeconômicas nas últimas décadas implicaram também transformações em algumas morfologias urbanas ao redor do mundo. Como resultado, viu-se surgir uma metrópole difusa, de desmedida extensão territorial, fragmentada, com alta complexidade e de escala urbano-regional, forma esta conceituada neste trabalho como cidade-região61 (SCOTT et al., 2001; PARR, 2005; LENCIONI, 2003a; 2011; MAGALHÃES, 2008). Esta morfologia tem sido objeto de estudo de diversos autores, principalmente nas áreas de geografia, economia e planejamento urbano e regional. Contudo, deve-se reconhecer sua gênesenos trabalhos de Scott et al. (2001), que cunharam o termo cidade-região global explicitado anteriormente.

umarelativa diversidade de configurações, podendo ser desde uma grande metrópole, um grande espaço produtivo, até uma rede de pequenas e médias cidades; (ii) sob um novo paradigma tecnológico, a grande concentração mitiga os custos de transação, aumenta os efeitos de informação e flexibilidade, incentiva graus crescentes de criatividade e inovação, devido à alta qualificação da força de trabalho, e oferta uma grande variedade de fornecedores e de oportunidades de negócios”.

61 Na realidade, Scott et al. (2001), cunham o termo cidade-região global para caracterizar as áreas

metropolitanas que se expandem e aglutinam diversas áreas ao redor, mas que, principalmente, têm um papel preponderante no âmbito da economia global. Contudo, a presente tese não utiliza o adjetivo global para a Cidade-Região Paulista, os próprios autores do texto Global city-regions and the new world system não tratam as cidades de São Paulo, México, Hong Kong, entre outras, como globais, mas apenas como cidades-regiões, pois estas não entrariam na categoria de cidades Globais. Há de se ressaltar, também, que o presente trabalho não aprofunda a discussão do conceito de cidades-globais e suas contradições, principalmente nos países em desenvolvimento. Para saber mais sobre o conceito ver: Sassen (1991); Ferreira (2007); Fix (2007) e Torres e Marques (2001).

As referências empíricas para estes autores foram as transformações ocorridas na região sul do estado da Califórnia, nas últimas décadas, caracterizada por intensas mudançasderivadas de significativos processos globais. Para os autores, a cidade-região se traduz em um novo regionalismo no contexto da globalização e tem se tornado um espaço de fluxos cada vez mais fluido entre os sistemas de cidades e regiões mundiais. No mais, os autores (SCOTT et al., 2001) definem as cidades-regiões globais como qualquer grande área metropolitana ou qualquer conjunto contíguo de áreas metropolitanas juntamente somado de sua hinterlândia de extensão variável62. Já Parr (2005) caracteriza a cidade-região como a área que integra o polo metropolitano e toda a sua área de influência, através dos fluxos63 com complementaridade64. Isto é, esta morfologia tem sua conformação a partir do momento em que o processo de metropolização se alastra para o entorno metropolitano e conjuga outras aglomerações ao núcleo metropolitano através do aumento dos fluxos de pessoas, informação e mercadorias, entre outros.

Neste contexto, a presente tese conceitua as cidades-regiões de acordo com as premissas de Lencioni (2003a) e Magalhães (2008) sendo assim: primeiro, parte-se do entendimento de que a cidade-região pode ser compreendida como “a forma urbana do processo de metropolização em seu estágio contemporâneo, que apresenta continuidades e rupturas com os processos anteriores – como aqueles que deram origem às próprias metrópoles em contextos históricos anteriores” (MAGALHÃES, 2008, p. 8). Em segundo lugar, destaca-se que esta morfologia emerge na era do capitalismo avançado e se coloca como nó frente à economia globalizada. Por fim, pontua-se que a cidade-região se conforma a partir do processo de reestruturação produtiva (LENCIONI, 2003a). Em outras palavras, a cidade polo e parte de sua área metropolitana passaram por um processo de saturação de suas áreas de crescimento, saturação estavinculada ao alto do custo do solo, a alta concentração de atividades e de pessoas e a falta de áreas para expansão urbana; ou seja, tais fatores se apresentaram como um empecilho para a concentração de certas atividades e para o processo

62 “In simple geographic terms, a global city-region can be said to comprise any major metropolitan area or any

contiguous set of metropolitan areas together with a surrounding hinterland of variable extent” (SCOTT et al., 2001, p. 2).

63 An important component in the overall pattern of interaction within the city-region involves commuting flows.

Given the fact that this type of interaction is largely confined to the city-region, it is possible to be more specific about the balance of each zone with respect to the other, both in monetary and physical terms (no consideration is given to the important question of intra-zonal flows) (PARR, 2005, p. 557).

64 It would be misleading to regard the city-region as being simply composed of two zones, each with a distinct

set though of economic specializations. There exists an obvious complementarity between the two zones in terms of supply and demand relationships that forms the basis for a strong zonal interdependence. This important defining feature of the city-region is reflected in a variety of economic and social interactions (PARR, 2005, p. 558).

de acumulação do capital. Assim, diversos complexos industriais, novas tipologias comerciais como os condomínios empresariais e de logísticas, instituições de ensino e pesquisa e condomínios residenciais passaram a se localizar nas franjas das áreas metropolitanas ou em outros aglomerados urbanos próximos a estas áreas. É neste sentido que Lencioni (2003a) descreve a cidade-região paulista a partir da reestruturação produtiva que aconteceu em São Paulo:

Mesmo examinando apenas a metrópole, o espectro da região aparece, porque ela em si, não é mais uma cidade isolada, mas uma cidade-região. Uma cidade-região que não se definiu por um planejamento, mas uma cidade que assim se definiu por um processo, por uma lógica histórica que desafia a compreensão de sua dinâmica e, até mesmo, o planejamento urbano. Essa cidade-região, como uma forma nova do processo de urbanização, é, vale repetir, um produto associado à reestruturação produtiva. Essa cidade-região está relacionada ao processo de metropolização do espaço, processo esse que imprime características metropolitanas aos territórios. [...] A cidade-região se constitui, assim, num fenômeno do estágio de desenvolvimento do mundo atual e num nó essencial da economia global (LENCIONI, 2003a, p. 7).

Portanto, a cidade-região se caracteriza como o novo arranjo espacial fruto do capitalismo contemporâneo, logo sua compreensão não pode se desvincular das lógicas das dinâmicas de valorização e acumulação do capital, pois sua própria forma traduz a dinâmica capitalista contemporânea e a nova divisão social e territorial do trabalho. Em síntese, a cidade-região seria o espaço privilegiado para a reprodução do capital e, principalmente, para a reprodução do capital industrial na atualidade, tendo em vista o esgotamento da metrópole fordista para acumulação industrial.

Entretanto, como foi explicitado ao longo deste capítulo, ao mesmo tempo em que a metrópole fordista deixou de ser o espaço apropriado para produção industrial, os espaços perimetropolitanos se tornaram oportunos para instalação da indústria flexível com a reestruturação produtiva. Em outras palavras, “cria-se em seu entorno um anel em intenso