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Quem migra e se desloca nas diversas escalas da cidade-região?

CAPÍTULO 3 – A lógica topográfica da Cidade Região Paulista: que formas os fluxos

3.2 Quem migra e se desloca nas diversas escalas da cidade-região?

De acordo com Limonad (2007, p. 146), uma das evidências das crescentes reorganizações territoriais são os processos de “relocalização das atividades produtivas e/ou de redistribuição espacial da população”. Assim, a primeira parte do presente capítulo buscou demonstrar como os processos de redistribuição espacial da população podem expressar novas formas de urbanização, bem como a forma como a população se organiza no âmbito das novas morfologias urbanas. Devido às mudanças no fenômeno da mobilidade espacial da população no final do século XX, como o arrefecimento das grandes correntes migratórias de longa distância e o ganho de importância relativa da mobilidade de curta e média distância, assim como a mobilidade pendular, questionou-se se estas transformações não estariam relacionadas às novas formas de organização territorial.

Como salientado, verificou-se no estado de São Paulo, além de uma reorganização do espaço produtivo ditado pelas novas dinâmicas de acumulação do capital, uma redistribuição espacial da população que partia da região metropolitana de São Paulo, em direção aos principais aglomerados urbanos localizados ao redor da RMSP. Ao mesmo tempo, notou-se que, assim como São Paulo, algumas aglomerações como Campinas, Santos, Sorocaba e Jundiaí, também passaram a apresentar umaexpansão da população de caráter centrífugo, com os municípios periféricos registrando taxas geométricas de crescimento superior ao polo. Paralelamente, constatou-se um aumento expressivo da mobilidade pendular, tanto entre aglomerados urbanos, quanto no espaço intrametropolitano. Na realidade, o que se observou foi uma intensa a mobilidade espacial da população em duas escalas socioespaciais: intrametropolitana e intrarregional. Pontua-se que esta intensa mobilidade, além de demonstrar que os novos espaços de circulação da população permeiam estas duas escalas, também elucidam dois processos inerentes à conformação da cidade- região: a redistribuição espacial da população e as complementaridades socioespaciais.

Para explorar tal questão, este trabalho questiona quem são os indivíduos que permeiam estas duas escalas. Nesse sentido, interessa analisar a seletividade em termos do perfil socioeconômico e demográfico daqueles que se movem pelo espaço intrametropolitano

e intrarregional, já que esta caracterização poderia evidenciar alguns processos de produção destes espaços.

A face da redistribuição espacial da população na Cidade-Região Paulista: as características dos migrantes intrametropolitanos e intrarregionais

Para Cunha (2015b) os elementos que estruturam e ordenam a produção, ocupação e expansão do urbano, especialmente em um contexto metropolitano, geram uma série de incentivos e constrangimentos que levariam os indivíduos, segundo características específicas a se moverem. Segundo o autor tais elementos seriam:

[...] a localização e a desconcentração industrial, bem como suas implicações na dinâmica de geração de empregos e desenvolvimento urbano das áreas; a promoção e a dinâmica imobiliária, por meio de manipulação do mercado de terras, da criação de novos empreendimentos para as classes pobres e ricas, ou mesmo da ocupação irregular do espaço; a ação do Estado na distribuição dos serviços públicos e na área da habitação; a deterioração dos níveis de vida etc. (CUNHA, 2015b, s.p.).

Segundo Cunha (2015b), esta estrutura de incentivos e constrangimentos consiste em um conjunto de forças que atuam de maneira distinta em cada espacialidade, levando os grupos sociais a responderem a estes fatores de acordo com suas características e especificidades. Neste sentido, esperar-se-ia que os fluxos migratórios gerados apresentassem composições diferenciadas em termos socioeconômicos. Destaca-se que esta estrutura pode operar tanto nos lugares de origem, quanto nos de destino, isto é, “o direcionamento de um fluxo poderia refletir as respostas dos atores não apenas aos constrangimentos no local de origem, mas também aos incentivos ou atrativos existente no local de destino” (CUNHA, 2015b, s.p.).

Dota (2015, p. 6) também interpreta a migraçãocomo uma contrapartida a uma estrutura de incentivos e constrangimentos, sendo esta estrutura fruto de uma série “de condicionantes estruturais e conjunturais existentes nas grandes aglomerações, podendo boa parte deles ser atribuída aos mercados de terra e de trabalho”. Para este autor os condicionantes estruturais e conjunturais da migração estariam relacionados não só a especificidade territorial de cada lugar, mas também estão associados a questões econômicas, sociais e políticas que condicionam as migrações tanto no nível local, quanto regional, nacional, etc. Estes condicionantes estruturais e conjunturais da migração se associam de maneira relacional aos incentivos e constrangimentos, que levam cada indivíduo ou familia a se deslocar pelo espaço ou não.

De fato, a hipótese trabalhada por Cunha (2015b, s.p.), “que exista diferenças qualitativas nos fluxos migratórios, segundo as características demográficas, socioeconômicas e espaciais dos municípios de destino dos movimentos”, relaciona-se à estrutura de incentivos e constrangimentos que permeiam o espaço intrametropolitano. Todavia, mesmo que o presente estudo analise a conformação da Cidade-Região Paulista e de seus processos de redistribuição espacial da população em duas escalas, acredita-se que seja possível utilizar o mesmo esquema analítico para compreender o que ocorre numa escala maior, como a intrarregional. Emboraos movimentos populacionais na escala intrarregional possua características distintas em termos dos elementos condicionantes, em particular no que se refere ao mercado de trabalho e imobiliário, pode-se pensar que tanto os movimentos intrametropolitanos quanto os movimentos intrarregionais, tenderiam a gerar incentivos (ou constrangimentos) que levariam grupos específicos a se moverem (ou não) nesta “nova” escala espacial, motivados por questões laborais ou habitacionais.

Certamente, uma das características demográficas que melhor reflete o caráter seletivo da migração é, sem dúvidas, a idade. Por exemplo, no decorrer da década de 1960, o estudo de Everet Lee (1980, p. 102) demonstrou que uma das principais seletividades apresentadas pelos migrantes seria dada por esta variável. Para este autor, as formas como os obstáculos ou os estímulos que fazem o indivíduo migrar ou não, variam de acordo com a “etapa do ciclo vital”167 de cada um. Nesta perspectiva, com o avançar da idade, o indivíduo

passa por etapas do ciclo de vida que “alteram suas preferências quanto à localização domiciliar e, consequentemente, estimulam ou inibem a migração” (CAMPOS, 2015, p. 282). Pode-se dizer que a idade representa o momento da vida e sintetiza os eventos ao longo da trajetória dos indivíduos (COURGEAU; LELIËVE, 2006). Em função disto, pode ser um bom indicativo das chances de inserção laboral (o fato de estar em idade ativa ou não), do acúmulo de ativos, da probabilidade de estar em uma união, etc. Por exemplo, indivíduos em fases menos avançadas de seu curso de vida e do ciclo de vida familiar tenderiam a apresentar condições de vida inferiores em comparação com aqueles que estariam mais avançados no ciclo de vida. Isso porque, estariam na fase inicial da vida econômica, o que

167 As famílias mudam com o tempo, passando por diversos estágios. Esse processo foi historicamente chamado

de ciclo de vida da família. Os pioneiros no uso da expressão foram os americanos, nos anos que antecederam a segunda guerra mundial, em estudos relacionados àsociologia rural (GLICK; PARKE, 1965). Entretanto, quem deu notoriedade ao conceito foi o sociólogo e pesquisador do U.S. Bureau of the Census, Paul Glick, que estudou o comportamento das famílias americanas, por mais de 40 anos. O conceito de ciclo de vida familiar adotado por Glick fundamenta-se na ideia de que o modelo tradicional de família atravessa diversos estágios bem definidos ao longo de sua existência: formação do núcleo familiar, criação dos filhos, ninho vazio (quando o último dos filhos deixou o lar) e dissolução (com a morte de um dos cônjuges).

implicaria menores salários e menor tempo de acúmulo de recursos financeiros, fator este determinante para a posse de bens, como a casa própria, entre outros ativos materiais.

Neste contexto, será visto ao longo deste capítulo que determinadas modalidades migratórias possuem a tendência de serem realizadas nas idades mais jovens, já que algumas características, tais como a idade mais avançada, por vezes, colocam-se como impeditivo para a realização dos movimentos de mais longa distância. Assim, a Tabela 12 apresenta a distribuição relativa dos migrantes e não migrantes168, segundo grandes grupos de idade e modalidades migratórias, para os censos de 1991, 2000 e 2010, por regiões metropolitanas e aglomerados urbanos169.

Através desta tabulação, nota-se que os migrantes e “não migrantes, em todas as regiões, registraram uma redução nas idades mais jovens (15 a 29 anos) e um aumento na participação relativa dos idosos (60 anos e mais) ao longo dos períodos analisados. Esta redução nos grupos etários mais jovens e o envelhecimento relativo da população170, vincula-

se às mudanças na estrutura etária causadas pelo expressivo declínio nas taxas de fecundidade nas últimas décadas171.

Ao analisar a Tabela 12, verifica-se que também existem diferenciais significativos entre os indivíduos por condição migratória e grandes grupos etários. Neste sentido, ao comparar os migrantes com os “não migrantes”, verificou-se que os indivíduos que realizaram algum movimento no âmbito da cidade-região eram mais rejuvenescidos do que aqueles que nunca migraram ou migraram há mais de 10 anos. Por exemplo, constata-se que cerca de 31% dos “não migrantes” tinham entre 15 a 29 anos no censo de 2010, já os migrantes deste mesmo grupo etário totalizavam 50%. Em contrapartida, nota-se que os “não migrantes” com mais de 60 anos de idade perfaziam 15% do total deste grupo, enquanto menos de 7% dos imigrantes tinham a mesma idade (Anexo 47). A comparação destes dois

168 Neste trabalho os “não migrantes” podem ser classificados como aqueles que são naturais do município ou o

indivíduo com tempo de residência superior a dez anos. Considera-se as pessoas com mais de dez anos de residência como não migrantes, pois estes, com o decorrer do tempo, tenderiam a incorporar as características dos nativos, justificando unir os dois na mesma categoria. Assim, devido ao fato dos não migrantes incluírem também os não naturais, sempre estes serão referidos usando aspas.

169 Com intuito de facilitar a análise, bem como a compreensão das tabelas, optou-se por unir as aglomerações

urbanas que compõem a Cidade-Região Paulista sendo elas: Jundiaí, Piracicaba e a Micro- região de Bragantina, já as regiões metropolitanas são analisadas separadamente. Também, optou-se por mostrar nas tabulações descritas ao longo desta sessão, apenas as modalidades migratórias intrametropolitana e intra-CRP. As tabulações com todas modalidades encontram-se nos anexos.

170 Existem dois tipos de envelhecimento o relativo e o absoluto, o primeiro refere-se ao aumento no número de

idosos devido à redução no número médio de filhos por mulher. Já o segundo, diz respeito ao aumento no número de idosos que, em muito, se deve ao aumento na expectativa de vida.

171 As taxas de fecundidade no Brasil passaram de 6,3 filhos por mulher em 1960, para 1,8 filhos por mulher em

2010. No estado de São Paulo a redução foi uma média de 5 filhos por mulher, para 1,7 no mesmo período analisado (ALVES; CAVENAGHI, 2012).

grupos etários entre estas duas populações demonstra que os fluxos migratórios tendem a ser realizados por pessoas mais jovens e no início da idade adulta.

TABELA 12 – Distribuição percentual dos chefes de domicílios “não migrantes” e imigrantes de data- fixa, segundo grandes grupos etários e modalidades migratórias. Regiões Metropolitanas e

aglomerados urbanos da Cidade-Região Paulista, 1991, 2000 e 2010172

Fonte: IBGE (Censos Demográficos 1991; 2000; 2010).

Ao contrapor as duas principais modalidades migratórias estudadas neste trabalho (intrametropolitana e intra-CRP), percebe-se que 40% dos indivíduos que migraram para algum outro aglomerado da cidade-região no período 2005-2010, tinham entre 15 a 29 anos. Por outro lado, mais de 43% dos imigrantes intrametropolitanos estavam inseridos no mesmo grupo etário. Nota-se, portanto, que os indivíduos que migraram na escala intrametropolitana eram mais rejuvenescidos do que aqueles que se moveram no espaço intrarregional, pois de acordo com os dados do último censo demográfico, mais de 12% dos migrantes intra-CRP

172 A distribuição percentual dos chefes por grandes grupos etários para todas as modalidades migratórias

encontra-se no Anexo 47. 1991 2000 2010 1991 2000 2010 1991 2000 2010 15 a 29 37,1 43,0 31,9 51,3 47,6 43,1 56,0 53,5 51,8 30 a 44 33,2 27,8 30,2 35,4 36,9 36,4 28,8 28,7 28,5 45 a 59 18,2 18,0 23,0 9,0 11,1 14,4 9,0 11,0 12,2 60 e mais 11,5 11,2 14,8 4,2 4,5 6,1 6,1 6,8 7,5 Total 8.737.446 12.025.057 13.394.446 327.325 440.382 427.514 39.065 55.754 65.241 15 a 29 37,4 42,1 31,2 52,6 47,5 44,9 45,3 41,5 43,0 30 a 44 32,1 28,0 29,4 31,5 35,8 34,3 35,4 35,9 32,3 45 a 59 18,2 18,1 24,0 10,6 11,4 14,6 12,2 14,9 15,3 60 e mais 12,3 11,8 15,4 5,2 5,3 6,2 7,1 7,7 9,4 Total 930.187 1.463.744 1.804.125 37.371 49.486 57.524 51.974 68.308 61.230 15 a 29 36,2 41,7 30,6 46,6 43,1 40,8 37,5 32,6 31,7 30 a 44 30,3 26,5 28,5 33,8 35,2 34,5 31,8 30,7 24,6 45 a 59 19,5 18,4 23,5 12,5 14,8 16,1 17,2 20,8 22,5 60 e mais 14,0 13,4 17,3 7,1 6,8 8,6 13,5 15,9 21,2 Total 635.746 913.015 1.043.096 30.162 41.301 42.225 34.823 53.143 65.524 15 a 29 40,5 45,0 45,0 56,0 47,4 46,8 41,8 39,2 37,4 30 a 44 31,6 27,2 27,2 28,9 33,1 32,2 36,2 34,7 32,1 45 a 59 17,0 17,4 17,4 9,9 13,1 13,9 13,1 17,2 17,8 60 e mais 10,9 10,4 10,4 5,3 6,5 7,1 8,9 9,0 12,7 Total 873.852 1.326.598 1.326.598 34.859 44.833 51.626 33.043 43.114 38.602 15 a 29 38,9 44,4 32,8 53,0 49,2 49,0 41,1 39,7 39,6 30 a 44 30,3 27,0 28,8 27,2 32,7 30,5 38,6 34,0 31,2 45 a 59 17,9 16,8 23,1 11,8 12,1 13,5 13,3 17,5 17,2 60 e mais 12,9 11,8 15,3 8,0 6,1 7,0 7,0 8,8 11,9 Total 646.037 1.011.389 1.201.159 20.067 29.783 34.852 32.760 50.852 53.649 15 a 29 37,5 42,7 31,4 52,4 46,1 46,6 41,0 38,3 39,0 30 a 44 30,7 26,9 28,6 30,9 34,8 32,2 36,5 35,8 33,4 45 a 59 18,4 17,8 23,5 10,3 12,7 15,0 13,5 15,4 16,6 60 e mais 13,4 12,6 16,4 6,4 6,4 6,2 9,1 10,6 11,1 Total 921.243 1.386.081 1.601.654 25.282 30.452 28.759 43.347 60.038 61.037 15 a 29 37,4 43,1 31,9 51,6 47,2 43,9 44,1 40,9 40,7 30 a 44 32,6 27,6 29,8 33,9 36,1 35,3 34,5 33,4 30,1 45 a 59 18,2 17,9 23,2 9,6 11,7 14,5 12,9 16,0 16,9 60 e mais 11,9 11,4 15,1 4,8 5,0 6,4 8,5 9,7 12,3 Total 12.744.511 18.125.883 20.539.911 475.065 636.237 642.500 235.013 331.209 345.283 AUS Idade RMSP RMC RMBS RMVPLN RMS Aglome rados Urbanos

Não Migrante Intrame tropolitano Intra-CRP

tinham mais de 60 anos de idade, enquanto 6% dos migrantes intrametropolitanos tinham a mesma idade.

Em síntese, pode-se afirmar que a migração de mais longa distância tende a ser mais rejuvenescida do que aquelas de longa e média distância. Nesta perspectiva, verificou-se que mais de 60% dos imigrantes interestaduais que chegaram a algum dos aglomerados urbanos da CR, em 2010, tinham entre 15 a 29 anos (Anexo 47). Por outro lado, observando apenas a migração realizada no âmbito da Cidade-Região Paulista, observa-se que os movimentos migratórios intrarregionais (os de mais longa distância neste contexto) são mais envelhecidos do que aqueles realizados no espaço intrametropolitano. Uma das hipóteses que justificaria este comportamento é que a migração ocorrida no espaço intrametropolitano é realizada por indivíduos no começo do ciclo de vida familiar que, em geral, não possuem os mesmos ativos e condições das famílias que apresentam um ciclo vital familiar mais avançado.

De fato, alguns estudos sobre mobilidade residencial, como aqueles realizados por Myers (1990) e Cunha (2015b), demonstram que as famílias no início do ciclo vital geralmente tendem a se localizar nas áreas periféricas das grandes aglomerações, devido às restrições financeiras, falta de acúmulo de ativos, etc. Neste contexto, estes autores mostraram que os movimentos migratórios em direção às periferias metropolitanas, em geral, são feitos por famílias mais pobres (expulsas das centralidades) que estão em busca por moradia, e no início da formação das famílias. Em contrapartida, pode-se pensar que os movimentos migratórios intrarregionais seriam realizados por famílias em melhores condições financeiras e com maior acumulo de ativos o que poderia implicar um perfil mais envelhecido.

É interessante notar que a única região que destoa desse comportamento da migração intrarregional é a Região Metropolitana de São Paulo. Ou seja, percebe-se que os imigrantes que chegaram a esta região, nos três quinquênios analisados, são mais rejuvenescidos do que aqueles que migraram no espaço intrametropolitano da RMSP. Esta constatação permite supor que as ofertas laborais e educacionais oferecidas pela grande metrópole sejam um dos pilares para explicar tal comportamento. Já os imigrantes intrarregionais, que se direcionam aos outros aglomerados urbanos, tenderam a ser mais envelhecidos do que os migrantes intrametropolitanos. De fato, como visto anteriormente, a RMSP foi demarcada por um processo de redistribuição espacial da população muito intenso em direção a alguns aglomerados urbanos que compõem a CR-Paulista. Esta averiguação sugere que os emigrantes originários na metrópole paulistana e que se direcionaram a outras

aglomerações da CR, eram mais envelhecidos do que os imigrantes intrarregionais que escolheram a RMSP como destino.

Por fim, um outro fato notável é o envelhecimento populacional de algumas regiões metropolitanas, tais como a RM da baixada santista. A RMBS, nos três censos analisados, concentrava o maior percentual de imigrantes intrarregionais com idade superior a 60 anos, em 2010, o percentual imigrantes pertencentes a este grupo etário foi de 21%. Todavia, este fato ainda não justifica o envelhecimento populacional que caracteriza o município de Santos, tal como foi observado no estudo de Cunha e Farias (2017). Para estes autores, o elemento explicativo para o envelhecimento populacional do município de Santos seria, a evasão da população jovem em direção aos municípios periféricos da própria RM.

Visto que, por vezes, a decisão de migrar passa pela esfera da família, e que também alguns movimentos migratórios tendem a ser realizados por indivíduos sozinhos, enquanto outros são realizados pelo núcleo familiar, torna-se interessante analisar os movimentos migratórios na cidade-região, segundo o estado conjugal do responsável pelo domicílio (Tabela 13). Como se verá, constata-se que o estado conjugal muda de acordo com a escala em que se realiza o movimento, em outras palavras, alguns movimentos migratórios são mais propensos a serem realizados em certas etapas do ciclo vital de cada família ou do curso de vida do indivíduo já que a estrutura de incentivos e constrangimentos também impacta diferencialmente segundo a fase de cada núcleo familiar (CUNHA, 2015b) ou do curso de vida do indivíduo.

Ao analisar o estado conjugal (Anexo 48), observou-se que o percentual de chefes que viviam em união na Cidade-Região Paulista, entre o período de 2000-2010, passou de 70% para 65%; em contrapartida, o número de pessoas que declararam viver sozinhas saltou de 30% para 35% no mesmo decênio. De acordo com Alves e Cavenaghi (2012), as razões que explicam o declínio no número de pessoas vivendo em companhia dos cônjuges tem sido a própria redução no número de uniões, bem como o significativo aumento no número de divórcios. Este declínio no número de uniões também é um fato notável entre os migrantes e “não migrantes”. Entretanto, ao contrastar estas duas categorias, percebe-se que não existem diferenciais significativos entre elas, isto é, no ano de 2010, aproximadamente 65% dos chefes migrantes e “não migrantes” declararam viver em companhia do cônjuge.

TABELA 13 – Distribuição percentual dos chefes de domicílios “não migrante” e imigrante de “data- fixa” segundo estado conjugal e modalidade migratória. Regiões Metropolitanas e aglomerados

urbanos da Cidade-Região Paulista, 1991, 2000 e 2010173

Fonte: IBGE (Censos Demográficos 2000; 2010).

Todavia, este diferencial entre migrantes e “não migrantes” apresenta distinções, quando comparado por modalidades migratórias. Por exemplo, observa-se que o percentual de imigrantes interestadual (62%) e intraestadual (58%) que declararam estar em união, no censo de 2010, foi inferior ao percentual de chefes “não migrantes” em união (Anexo 48). Por outro lado, a percentagem de imigrantes intrarregionais (64%) e intrametropolitanos (71%) que estavam em união no censo de 2010, foi superior àquela declarada pelos chefes “não migrantes”. Em suma, o que os dados sugerem é que a migração intrametropolitana possui um caráter mais familiar, em relação às outras modalidades migratórias. Esta constatação também pode ser observada para todas as regiões metropolitanas e aglomerados urbanos da cidade- região, tal como pode ser verificado através da Tabela 13. Por exemplo, aproximadamente 50% dos indivíduos que migraram para a Região Metropolitana de São Paulo no período 2005-2010 declararam não estar vivendo em companhia do cônjuge no ano de 2010. Em

173 A distribuição percentual dos chefes por estado conjugal para todas as modalidades migratórias encontra-se

no Anexo 48. Também, sublinha-se que, devido a mudanças na pergunta sobre o estado conjungal do individuo nos censos de 2000 e 2010, não foi considerado nesta tabulação o dado apresentado no censo de 1991, apenas o computo sobre estado conjugal nos anos de 2000 e 2010, pois estes eram passiveis de ser compatibilizados.

2000 2010 2000 2010 2000 2010 Em União 69,0 62,9 76,1 70,8 60,5 51,2 Sozinho 31,0 37,1 23,9 29,2 39,5 48,8 Total 4.094.737 5.304.457 193.928 163.630 22.453 25.180 Em União 73,9 68,5 77,3 75,3 74,3 66,6 Sozinho 26,1 31,5 22,7 24,7 25,7 33,4 Total 495.098 704.045 21.272 21.562 28.824 23.220 Em União 73,9 60,9 70,2 66,8 66,1 61,0 Sozinho 26,1 39,1 29,8 33,2 33,9 39,0 Total 495.098 420.282 17.678 16.485 23.518 27.297 Em União 71,5 66,6 73,7 69,8 71,4 66,6 Sozinho 28,5 33,4 26,3 30,2 28,6 33,4 Total 432.287 578.007 18.131 17.941 18.694 14.758 Em União 74,7 69,4 77,8 73,7 75,7 72,6 Sozinho 25,3 30,6 22,2 26,3 24,3 27,4 Total 334.669 462.464 11.736 12.728 20.972 19.383 Em União 74,8 69,3 81,2 75,6 75,5 70,5 Sozinho 25,2 30,7 18,8 24,4 24,5 29,5 Total 462.208 621.133 12.417 10.639 25.330 22.910 AU's Estado Conjugal RMSP RMC RMBS RMVPLN RMS Aglomerados Urbanos

contrapartida, mais de 70% dos migrantes intrametropolitanos de data-fixa da RMSP declararam estar em união no mesmo quinquênio.

De fato, há de se ressaltar que o conjunto de caracterizações apresentado para os migrantes na presente sessão, não se refere ao momento em que o indivíduo realizou o movimento migratório em direção à região de residência atual, mas são concernentes as características apresentadas no momento do recenseamento. Portanto, a condição de união não permite esclarecer se o chefe do domicilio migrou em companhia de seu cônjuge, ou se contraiu união após a migração. Contudo, como a migração de data-fixa se relaciona aos movimentos migratórios que aconteceram cinco anos antes da data de referência do censo demográfico, usa-se algumas características da data do censo como proxy para o momento da migração.

Prosseguindo a análise sobre as características demográficas dos imigrantes que circulavam na cidade-região de São Paulo, a TABELA 14apresenta a idade média dos casais174 por modalidades migratórias, para as regiões metropolitanas e aglomerados urbanos

da CRP. Mesmo considerando que o indivíduo possa ter contraído união após o movimento migratório, a idade média do casal pode indicar a etapa do ciclo vital familiar em que estas famílias se encontravam no momento da migração e, portanto, como demonstrado por Myers