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Da metrópole moderna às configurações territoriais contemporâneas

CAPÍTULO 1 – Da metrópole à metropolização do espaço

1.2 Da metrópole moderna às configurações territoriais contemporâneas

Como já anunciado na introdução do presente estudo, a formação de novos arranjos espaciais (ou de novas morfologias urbanas) se relaciona às crises cíclicas do capital. (HARVEY, 2013). Na realidade, Harvey (2001a) cria o termo spatial-fix para correlacionar os movimentos de acumulação do capital e suas crises de sobreacumulação a produção do espaço, sendo estes elementos indissociáveis. Harvey (2001a) associa a dimensão espacial, tão cara à geografia, aos estudos marxistas sobre o desenvolvimento do capital. Para o autor, o sistema capitalista – em uma relação que a priori é revestida de obviedade – desenvolve-se sob uma base espacial, ou seja, é através de uma base espacial que se dá a produção, o trabalho, as relações sociais, etc. Contudo, neste processo de produção do espaço, que vai sendo modificado pelo trabalho e pelas relações sociais, por vezes, o próprio espaço se torna um entrave para o desenvolvimento do capitalismo. Isso porque os fixos27 depositados em

26 O conceito de espaço de vida foi elaborado por Corgeau (1984; 1988) como aporte metodológico para análise

da distribuição espacial e relações de troca de um grupo de parentes residentes em diferentes unidades domésticas. O espaço de vida corresponde ao espaço material (físico) e imaterial (social, cultural) cujas características e práticas contêm a vida de indivíduos ou grupos26. De acordo com Corgeau (1988), o espaço de

vida seria o espaço onde o indivíduo realiza as atividades relativas à sua reprodução social e econômica (trabalho, lazer, compras, estudo, etc.).

27 De acordo com Santos (2007, p. 142), “os fixos são econômicos, sociais, culturais, religiosos, etc. Eles são,

entre outros, pontos de serviço, pontos produtivos, casas de negócios, hospitais, casas de saúde, ambulatórios, escolas, estádios, piscinas, e outros lugares de lazer. Mas se queremos entender a cidade não apenas comoum grande objeto, mas como um modo de vida, há que distinguir entre os fixos públicos e os fixos privados. Estes

uma base espacial também se tornam obsoletos para extração do lucro. Para resolver as diversas crises de acumulação, o capital cria novos arranjos espaciais (rearranja-se espacialmente), sendo que este movimento é denominado por Harvey (2001a) como fix.

Em outras palavras, o fix é o contínuo movimento do capitalismo para resolver suas crises internas através da expansão e reestruturação geográfica. O spatial-fix, seria a busca por novos mercados, novas localizações, infraestrutura, novas formas de produzir e até mesmo um novo exército de reserva de trabalhadores. Pode-se interpretar que a globalização é a versão contemporânea do capitalismo em busca de um spatial-fix. Portanto, argumenta-se que as novas morfologias urbanas seriamuma nova escala privilegiada para a acumulação capitalista em seu estágio atual, um novospatial-fix (HARVEY, 2001a) coerente com o regime de acumulação em voga e suadinâmica. Neste sentido, este tópico visa compreender as transformações ocorridas na metrópole moderna e a ascendência da metrópole contemporânea. Para tanto, serão resgatados alguns processos inerentes à formação da dita metrópole-fordista-keynsiana e suas relações com o ciclo de acumulação vigente, bem como os entraves que esta formação passou apresentar nos momentos de crise do capital para o processo de acumulação. Por fim, serão discutidos os processos relacionados à formação da chamada cidade-região.

A constituição da metrópole moderna no capitalismo industrial

Como ressaltado, cada ponto da linha do tempo possui um regime de acumulação em voga, o qual é caracterizado por um processo produtivo, relações de trabalho e sociais inerentes ao regime de acumulação28 vigente (LIPIETZ, 1989), bem como pela formação de arranjos-espaciais que fomentam o sistema de acumulação de cada período (HARVEY, 2001a). Sobre esta relação entre processos produtivos e a produção do espaço, Moura (2009, p. 21) argumenta que qualquer atividade produtiva no espaço “implica uma ação sobre a superfície terrestre, que sempre está se recriando em novas formas, de tal maneira que produzir é produzir o espaço”. Esta produção do espaço é realizada a partir do momento em que o homem se apropria da primeira natureza e a modifica com ferramentais técnicos peculiares a cada temporalidade (SANTOS, 2002). Quanto ao modo de produção capitalista,

são localizados segundo a lei da oferta e da procura, que regula também os preços a cobrar. Já os fixos públicos se instalam segundo os princípios sociais, e funcionam independentemente das exigências do lucro”.

28 De acordo Lipietz (1989) os regimes de acumulação compreendem um modelo de “realocação sistemática do

produto, que administra, ao longo de um período prolongado, uma certa adequação entre as transformações das condições de produção e aquelas das condições de consumo” (LIPIETZ, 1989, p. 304).

sabe-se que este, em cada momento de sua história, é demarcado por um conjunto de técnicas, instrumentos de trabalho e produção que caracterizam o período de acumulação vigente.

Ademais, é preciso ressaltar que o desenvolvimento do capitalismo não ocorre apenas em uma superfície dotada de condições favoráveis para o seu florescimento, mas também em um ambiente geográfico heterogêneo29. A apropriação do espaço e sua transformação por instrumentos de trabalho em um determinado lugar são um dos pressupostos para o desenvolvimento geográfico desigual do espaço30, isto é, a distribuição dos instrumentos de trabalho e a apropriação do espaço pelo processo de acumulação são desiguais, já que esta transformação e a “produção dos valores de uso sociais ocorrem necessariamente em um lugar específico” (HARVEY, 2013, p. 494). Em outras palavras, pode se afirmar que todo processo produtivo necessita de uma localização e esta só pode ser superada com a desvalorização do capital empregado no lugar ou com mudanças nos processos de trabalho. Assim, na mesma medida que o capitalismo cria e recria paisagens através do trabalho e da produção, ele também “encontra barreiras dentro de sua própria natureza, que o obrigam a produzir novas formas de diferenciação geográfica” (HARVEY, 2013, p. 526), estas barreiras encontradas pelo capital são, por vezes, os próprios fixos31, tal

qual afirma Harvey (2003)32.

Por vezes, os próprios fixos de um determinado lugar tornam-se um entrave ao processo de acumulação e, neste sentido, uma das tendências encontradas pelo capital é

29 De acordo com Harvey (2013), “o capitalismo não se desenvolve em uma superfície plana dota da de matérias

primas abundantes e oferta de trabalho homogênea com igual facilidade de transporte em todas as direções. Ele está inserido, e cresce e se difunde em um ambiente geográfico variado que abarca grande diversidade na liberdade da natureza e na produtividade do trabalho” (HARVEY, 2013, p. 526).

30 O termo desenvolvimento geográfico desigual alude à diferenciação dos espaços e regiões frente ao

desenvolvimento do capitalismo (HARVEY, 2013).

31 De acordo com Milton Santos (2002), o espaço pode ser conceituado como um [...] “conjunto contraditório,

formado por uma configuração territorial e por relações de produção, relações sociais; e, finalmente, [...] o espaço formado por um sistema de objetos e um sistema de ações. Foi assim em todos os tempos, só que hoje os fixos são cada vez mais artificiais e mais fixos, fixados ao solo; os fluxos são cada vez mais diversos, mais amplos, mais numerosos, mais rápidos” (SANTOS, 2002, p. 110).

32 Sobre esta questão Harvey (2013) afirma que: “certa parcela do capital total fica literalmente ordenada/fixada

em termos de terra e na terra em alguma forma física por um período de tempo relativamente longo (que depende de seu tempo de vida física e econômica). Alguns gastos sociais (como educação pública ou sistema de assistência à saúde) também são territorializados e tornados geograficamente imóveis por empenho do Estado. A ordenação espaço temporal, por outro lado, é uma metáfora para um tipo particular de solução de crises capitalistas por meio do adiantamento do tempo e da expansão geográfica. Como e quando então esses sentidos material e metafórico colidem? A produção do espaço, a organização de divisões territoriais totalmente novas do trabalho, a criação de complexos de recursos novos mais baratos, de novas regiões com espaços dinâmicos de acumulação do capital e a penetração de formações sociais preexistentes por relações sociais e arranjos institucionais capitalistas (como regra de contrato e formas de gerenciamento da propriedade privada) proporcionam importantes maneiras de absorção e excedentes de capital e de trabalho. Essas reorganizações e reconstruções com frequência ameaçam, contudo, os valores já fixados no lugar (incorporados à terra) mais ainda não realizados. Trata-se de contradição incontornável e aberta a uma interminável repetição, porque as regiões também requerem capital fixo em infraestruturas físicas e ambientes construídos para funcionar com eficácia” (HARVEY, 2013, p. 98-99).

expandir seu processo de acumulação para outras áreas, onde possua mercado de trabalho e consumidor para que possa realizar a acumulação. Ainda de acordo com Harvey (2013), o que se observa é a constante criação e recriação de configurações regionais mitigadoras de acumulação e desvalorização rápidas. Em síntese, nota-se uma tendência cíclica de valorização e desvalorização do lugar, que se relaciona aos problemas de superacumulação do capital, o que obriga “constantemente os capitalistas que estão dentro de uma região a estender suas fronteiras ou simplesmente mover seu capital para pastos mais verdejantes” (HARVEY, 2013, p. 528). É neste movimento de superacumulação/acumulação que os arranjos espaciais se formam, ou seja, quando ocorre uma concentração ou dispersão geográfica do processo produtivo. Portanto, os arranjos espaciais ou a criação de localização se relacionam às formas de reprodução do capital.

Sobre esse processo de reprodução do capital, Harvey (1981) pondera que este se reproduz e circula em três circuitos de acumulação inter-relacionados. O primeiro, denominado circuito primário, caracteriza-se pela produção capitalista de mercadorias e investimentos na área de produção de bens de consumo. É neste circuito que se obtém o lucro através da extração da mais valia, seja por aumento expressivo nas jornadas de trabalho (mais- valia absoluta), ou através da extração da mais valia relativa (aumento da produtividade devido a inovações tecnológicas ou/e mudanças nas formas de organizações do trabalho). Sublinha-se que é neste circuito que o capital manifesta sua primeira contradição que se relaciona ao ímpeto de alguns capitalistas irem contra aos interesses da própria classe e, a partir de uma superprodução, tem-se a tendência de sobreacumulação, a qual ocasiona uma queda na taxa de lucros. Entretanto, é preciso ressaltar que a tendência de sobreacumulação também pode ocorrer a partir de uma queda nas oportunidades para investimentos produtivos. Já no segundo circuito (secundário), a acumulação ocorre através de investimentos no ambiente construído e em capital de consumo33, denominados por Harvey (1981) de capital fixo. Deste modo, o capital fixo é empregado mais diretamente na reprodução das estruturas da esfera produtiva, e o fundo de consumo é responsável pela reprodução da força de trabalho. Devido ao longo período que os investimentos do circuito secundário levam para dar retorno e ao fato de que, geralmente, são de maior escala, os capitalistas tendem a investir menos que o necessário nesta infraestrutura física (apesar dela ser fundamental para o fluxo

33 Os investimentos em ambiente construído seriam aqueles relacionados aos bens de capital usados como

suporte ao processo produtivo – nomeados por Harvey (1981) como ambiente construído para a produção, e que incluem, por exemplo, a infraestrutura física para a produção. Já os investimentos em capital de consumo seriam os investimentos na criação de um ambiente construído para consumo, ou seja, corresponde a um conjunto de bens e estrutura física que dão suporte ao consumo em massa.

do capital). Por esta razão, há a tendência à sobreacumulação no circuito básico (em que a mais-valia seria instantânea) e ao subinvestimento no setor secundário. Por fim, no setor

terciário estariam alocados os investimentos na produção de ciência e tecnologia, bem como os gastos relacionados à regulação e à manutenção da força de trabalho (gastos sociais).

Como já mencionado, em relação a estes três circuitos, Harvey (1981) salientaque, no circuito primário, aloca-se a primeira contradição do sistema capitalista (a do declínio nas taxas de lucro ocasionado por uma superprodução) e que, em momentos de crise deste circuito, muitos capitalistas alocam os seus investimentos no ambiente construído34. Porém, cabe ressaltar que o retorno lucrativo no ambiente construído demanda um tempo maior, e a passagem de investimentos de um circuito para o outro não exime o sistema de suas crises, já que estas são inerentes ao sistema capitalista. Tais crises representam períodos de inflexão da história econômica e são consideradas tempos de quebra de paradigmas, ou seja, de desmantelamento de modelos que gradativamente são substituídos por novos modos de produção, de organização do trabalho e da relação deste com o capital, de criação de novos ferramentais técnicos para o desenvolvimento do trabalho, do fazer a vida, entre outros. Salienta-se que, são nos momentos de crise, que ocorrem transformações nas formações espaciais, no ambiente construído e principalmente no processo de reprodução do capital.

Destaca-se que as Condições Gerais de Produção (CGP)35 são preferencialmente produzidas nos circuitos primários e secundários, sendo estas necessárias para a acumulação do capital, principalmente no capitalismo industrial. Tais condições vão desde um conjunto de infraestruturas básica, que são imprescindíveis principalmente para a produção industrial, até o conjunto de regulações trabalhistas, os centros de consumo, bem como as áreas residências destinadas aos trabalhadores (HARVEY, 1981). Portanto, a urbanização e a formação das grandes cidades sintetizam as condições gerais de produção, pois a cidade reúne em um único ambiente todos os requisitos necessários para a reprodução do capital. De acordo com Topalov (1979), os aparatos vitais às indústrias são considerados externos a elas devido à baixa lucratividade e por isso torna-se a dever do Estado produzi-los e geri-los. Consequentemente, o ambiente urbano permite “que se exclua da esfera do capital os setores não-rentáveis necessários à produção” (TOPALOV, 1979, p. 25).

34 Para Harvey (2013), ambiente construídopode ser conceituado como um sistema de recurso vasto,

humanamente criado, compreendendo valores de uso incorporados na paisagem física, que pode ser utilizado para a produção, a troca e o consumo.

35 De acordo com Lencioni (2007), o conceito “condições gerais de produção está em franco desuso, como se ele

não tivesse mais nada a dizer. De origem no pensamento de Marx, foi objeto de investigação e reflexão nos anos 70 do século XX, sobretudo relacionado à questão urbana. Porém, com a diminuição da influência do pensamento marxista esse conceito ficou de certa forma, esquecido”.

É nesta perspectiva que a formação de grandes aglomerações urbanas, principalmente a metrópole, vincula-se ao processo de industrialização e a concentração destes meios produtivos nestes espaços. A grande aglomeração urbana do período industrial desenvolvimentista forneceu as “condições territoriais indispensáveis para a instalação da grande indústria, para a organização do mercado consumidor e para o alojamento da classe trabalhadora” (MEYER, 2000, p. 5). Além do mais, esta aglomeração passou a ser caracterizada e constituída por fluxos, tais como fluxo de pessoas, de capitais, mercadorias e informações. A metrópole industrial que se conformou no século XX “assimilou e potencializou as inovações introduzidas pela Revolução Industrial participando de forma intensa da ‘revolução ininterrupta da produção’”. Ou seja, a aglomeração urbana do período industrial desenvolvimentista “materializou a modernização36imposta pela pressão de um

crescimento sem trégua exigido pelo capitalismo industrial” (MEYER, 2000, p. 5).

Para Carlos (2013), os lugares da metrópole fordista37se qualificam como os

espaços da infraestrutura e são inerentes ao desenvolvimento de diversas atividades e propiciam a realização do lucro, como já reiterado. Entretanto, é preciso diferenciar as metrópoles que, no século passado, desenvolveram-se sob égidedo fordismo central, daquelas que se estruturaram no âmbito do fordismo periférico. Neste contexto, como será visto no capítulo dois, da mesma forma que o regime de acumulação fordista nos países periféricos possui uma incompletude, seus impactos no processo de metropolização também são incompletos. A metrópole periférica já nasce explosiva pela própria dinâmica demográfica da população, em particular em função dos grandes fluxos migratórios de origem rural. De fato, a expropriação do trabalho no campo também possui especificidades nos países periféricos, sendo que o êxodo do campo ocorreu de forma muito intensa em poucas décadas (em especial nos anos 1960 e 1970). Portanto, faz-se necessário diferenciar a metrópole fordista dos países centrais da dos periféricos.

Assim, o crescimento de muitas das aglomerações urbanas acompanhou a desenvolvimento da industrialização e dos meios de produção, uma vez que, como visto anteriormente, a aglomeração urbana, e principalmente a aglomeração do tipo metropolitana, é benéfica para acumulação do capital, pois esta sintetiza, em um único espaço, as condições gerais de produção necessárias para acumulação e reprodução do trabalho. Entretanto, a concentração destas condições em uma localidade tem um efeito duplo, ou seja, ao mesmo

36 Grifo nosso.

37 No Capítulo 2 será discutido com mais profundidade porque o fordismo no subdesenvolvimento é considerado

por Lipietz (1989) periférico. Ademais, serão analisadas, também, as especificidades da constituição das metrópoles e da reestruturação produtiva no caso brasileiro.

tempo em que ela foi necessária à acumulação durante o desenvolvimento do capitalismo industrial, a condensação de CPG’s em um espaço fomentou ainda mais os efeitos de aglomeração urbana (LONJKINE, 1981). Em suma, a propagação do urbano e a formação de grandes arranjos espaciais, tais como as metrópoles, criaram um ambiente propício ao desenvolvimento do capitalismo industrial devido às externalidades positivas38 geradas pela concentração das atividades econômicas. Cabe ressaltar que o desenvolvimento das economias de aglomeração teve seu conflito na expansão da própria atividade produtiva, como também da propriedade privada no espaço, já que as tendências de formação de aglomeração possuem limites físicos e sociais. De acordo com Harvey (2013, p. 529), “os custos de congestionamento, a rigidez crescente no uso das estruturas físicas, o aumento dos aluguéis e a absoluta falta de espaço superaram em muito as economias de aglomeração”.

Para Castells (1983), a explosão urbana eclodiu juntamente com o crescimento industrial, porém esta tendência à concentração foi acompanhada pelo aumento da precariedade do urbano e das moradias. Foi no sentido de superar as deseconomias de aglomeração que a dispersão geográfica dos sistemas produtivos, que ocorreu no final da década de 1970, bem como a criação de novos arranjos espaciais se tornaram um fato intrínseco ao capital para superar suas próprias crises de acumulação. O que se observa é que “nem todas as formas de desenvolvimento geográfico desigual e a expansão espacial diminuem os problemas de superacumulação. Naverdade, as configurações espaciais têm tanta probabilidade de contribuir para o problema quanto de resolvê-la” (HARVEY, 2013, p. 541). Em outras palavras, se num determinado momento, estes arranjos são relevantes à acumulação, em outros se tornam um entrave, principalmente em momentos de superacumulação. Assim, a forma espacial vigente se torna obsoleta, tornando-se então necessário a constituição de novas territorialidades para o capital. Contudo, Harvey (2013) pontua que a dispersão produtiva também possui limitantes:

38 Alguns exemplos de externalidades positivas geradas pela aglomeração são: redução dos custos com

atividades vinculadas à logística, proximidade e surgimento de atividades complementares a determinado nicho produtivo, difusão do conhecimento e impulso a renovação, adensamento de mercado de trabalho, entre outros. Contudo, as forças aglomerativas podem se comportar como uma parábola, atingindo um ponto máximo, e a partir de então proporcionando deseconomias de aglomeração. Como as atividades industriais são, sobretudo, urbanas, tais movimentos estão essencialmente ligados ao processo de expansão populacional e econômica das cidades.

A circulação de capital se torna cada vez mais prisioneira das infraestruturas físicas e sociais imóveis criadas para apoiar certas classes de produção, certas classes de processos de trabalhos, arranjos distributivos, pautas de consumo etc. As quantidades cada vez maiores de capital fixo e os tempos de rotação cada vez mais longos na produção impedem que o capital se mova sem inibições. Em poucas palavras, o crescimento das forças produtivas atua como uma barreira à rápida reestruturação geográfica exatamente da mesma forma que constitui um obstáculo à dinâmica da acumulação futura ao impor o peso morto dos investimentos passados (HARVEY, 2013, p. 431).

Portanto, o próprio ambiente construído (ou circuito secundário) possui a tendência de se tornar obsoleto na medida em que o capital fixo se torna uma barreira para acumulação. É neste sentido que as vantagens locacionais se tornam um atributo dos lugares: do mesmo modo que alguns empresários obtêm lucros diferenciais a partir da maior produtividade advinda da tecnologia, outros os auferem devido à localização privilegiada. Ou seja, “o ímpeto à maximização de lucros resulta numa constante realocação das firmas, que abandonam lugares pouco competitivos e se aglomeram em outros” (MAGALHÃES, 2008, p.