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AS CARACTERÍSTICAS DA CONJUGALIDADE NA CONTEMPORANEIDADE

Segundo Jablonski (1998), o sucesso de alguns relacionamentos se deve ao companheirismo existente entre os cônjuges, o qual decorre de um amor companheiro e não romantizado. A relação baseada em princípios de companheirismo entre os cônjuges é fundamental para o sucesso dos relacionamentos conjugais do século XX, pelo fato deste autor entender que este tipo de relacionamento atende melhor às exigências da vida conjugal moderna. Muito embora os cônjuges entendam que para o sucesso conjugal o sentimento de amor por si basta na relação conjugal, pois este sentimento é considerado pelos cônjuges como sendo única responsável pela união e consequentemente à perpetuação conjugal (JABLONSKI, 1998).

Ainda, segundo o mesmo autor, essa percepção dos cônjuges em acharem o amor romântico como único responsável pela perpetuação da união conjugal, vem contribuindo para a crise das relações conjugais do século XX, pois o amor romântico não sobrevive às exigências conjugais e este seria substituído pelo companheirismo entre os cônjuges, muito embora os cônjuges não entendam esta transição. No entanto segundo Bauman (2003), a crise das relações conjugais não se deve porque os cônjuges não entendem a passagem do amor romântico para o amor companheiro, mas pelo fato das pessoas não desejarem uma relação baseada em companheirismo, mas sim, desejarem as emoções que decorrem do amor romântico, e quando os cônjuges não mais satisfazem os desejos há a possibilidade de trocar por outro, e esta ausência de satisfação dos desejos seria o responsável pelas dissoluções conjugais, no que se refere aos sentimentos responsáveis pela perpetuação conjugal.

No que se refere aos modelos de conjugalidade Morgan (1818/ 1881 apud ENGELS, 1995) entende que as características conjugais são produtos do sistema social vigente, surgindo para atender as demandas sociais de cada época. Um exemplo destes produtos criados pela sociedade é o modelo hierárquico de conjugalidade, que se aproxima da organização familiar do patriarcado, devido à delimitação e a diferenciação dos papéis conjugais perante os cônjuges. Neste modelo de conjugalidade a identidade paterna é quem detém o poder nas tomadas de decisões e no sustento familiar (LAGO et al., 2004). Estas características

conjugais ainda predominam no século XX, embora com menos força social, pois ocorreram inúmeras mudanças no repertório conjugal desde o século XVI, quando o modelo patriarcal de conjugalidade foi criado pela sociedade (ARIÈS, 1981).

Ainda, sobre os modelos de conjugalidade, esses vem se adaptando desde a civilização humana, e é admissível que venha se aperfeiçoando até que se chegue à igualdade social entre os dois gêneros com o advento da modernidade conjugal (MORGAN 1818/ 1881 apud ENGELS, 1995). O modelo igualitário de conjugalidade criado pela sociedade moderna talvez venha corroborar com a previsão de Morgan em 1818/ 1881 (apud ENGELS, 1995) citado acima, com a chegada da igualdade entre os gêneros e ocupar o lugar do modelo hierárquico de conjugalidade, pois, é uma das modalidades de conjugalidade do século XX, que tem como premissa a igualdade entre os gêneros (SALEM, 1987). Sendo assim, pode-se dizer que as características da conjugalidade se estabelecem a partir de concepções historicamente construídas e permeadas pelos valores sociais, conforme previsto por Morgan 1818/ 1881 (apud ENGELS, 1995).

Segundo Velho (1995), os valores tradicionais não perdem suas características diante das ideologias individualistas, a sociedade por natureza produz alternativa e cria novos modelos sociais e nos modelos de conjugalidade não poderia ser diferente, pois, no modelo igualitário de conjugalidade se mantém a crença do sentimento amoroso e a exclusividade dos cônjuges (monogamia), característicos dos antigos modelos de conjugalidade, muito embora o sentimento amoroso seja mais recente do que a exclusividade entre os cônjuges. O modelo igualitário de conjugalidade se diferencia dos antigos modelos de conjugalidade referente à hierarquia dos papeis de gêneros por não compartilhar da realidade conjugal preconizada pelos grupos sociais, principalmente no que se refere aos distintos papéis destinados aos gêneros (SALEM, 1987). No entanto, Matos (2000) entende que, na dinâmica interativa conjugal, as diferenças de papeis, as escolhas, as privacidades devem ser mantidas na relação conjugal, que na maioria das vezes é desbancada por alguns modelos de conjugalidade como nos modelos igualitários, pois em pesquisa a autora pode identificar que os cônjuges se sentiam muito mais satisfeitos justamente por reconhecerem as diferenças e poderem oscilar na autoridade, e principalmente por não haver essa necessidade de mutualidade de deveres a serem cumpridos como acontece com os parceiros igualitários.

A exclusividade no modelo igualitário de conjugalidade é percebida pelos cônjuges como uma característica conjugal importante à relação conjugal, pois percebem a fidelidade como sendo provinda do sentimento de amor, não havendo a necessidade de uma relação extraconjugal, isso corrobora com o que foi mencionado no início da fundamentação teórica de que o sentimento de amor diminui as possibilidades de relações extraconjugais. Quando há traição esta é percebida como um sinal de que a relação está sendo insatisfatória conjugalmente, necessitando que a relação seja discutida pelos cônjuges, ao mesmo tempo em que traição é sanada mediante sua confissão, isto conforme reza o contrato social estabelecido pelos cônjuges desse modelo de conjugalidade (SALEM, 1987).

Segundo Borges (2006), o modelo igualitário de conjugalidade possui características próprias que propiciam o fracasso conjugal, devido ao fato dos cônjuges valorizarem demais os aspectos individualistas, como - a satisfação das necessidades afetivas e o impulso sexual, em detrimento a outras características de satisfação conjugal, como exemplo o companheirismo entre os cônjuges, característica fundamental para o sucesso conjugal na visão de Jablonski (1998) com a idéia do “amor companheiro”. O problema do modelo igualitário de conjugalidade é que quando a satisfação conjugal e o impulso sexual não são satisfeitos, isto é motivo suficiente para que fracasso conjugal ocorra, devido ao sentimento de completude que rege esse modelo de conjugalidade (BORGES, 2006). Pode-se pensar que essa valorização individualista dos aspectos: efetivo/ sexual vem contribuir para compor novas características da conjugalidade nos séculos seguintes, pois em outros momentos da história da conjugalidade a valorização individualista (HEILBORN, 1992) foi considerada pela sociedade como uma característica conjugal irrelevante na construção dos modelos de conjugalidade para o sucesso conjugal, se é que o sucesso conjugal foi pensado em algum momento da história conjugal no passado.

Segundo Heilborn (1993), as características do modelo igualitário de conjugalidade proporcionam aos cônjuges momentos de intenso aprazimento conjugal, devido à satisfação dos anseios conjugais. Mas, segundo Salem (1987) fazer da díade uma unidade conjugal, é um desafio aos cônjuges, porque o cônjuge deve atender suas necessidades e ao mesmo tempo reconhecer as exigências do cônjuge.

Percebeu-se com a pesquisa, que as características de conjugalidade se modificaram no decorrer dos séculos para atender as necessidades sociais de cada época. Pode-se dizer que todas as características mencionadas contribuíram e contribuem para a existência da conjugalidade, devido à abertura das diversidades conjugais, mas se percebe que uma das características sobre a conjugalidade se mantém em todas as épocas, sendo qual for o modelo de conjugalidade, este continua sendo o lugar onde os filhos encontram diretrizes para se orientar na vida quando adulto (WAGNER; LEVANDOWSKI, 2008), e este lugar se faz importante principalmente quando é um ambiente propício ao desenvolvimento psicológico dos filhos. A mesma idéia édefendida por Mosmann et al. (2006), pois estes entendem que a experiência relacional na família de origem presenciada pelos filhos terá implicações nas relações conjugais, principalmente se a experiência relacional na família for conflituosa replicando o modelo conjugal dos pais quando os filhos se tornarem adultos.

A seguir serão apresentadas as conseqüências de uma relação insatisfatória.