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O que define um relacionamento satisfatório?

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA ANA CLAUDIA DE MELO

O que define um relacionamento satisfatório? Um estudo sobre a conjugalidade na base de dados do Scielo.

Palhoça 2009

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ANA CLAUDIA DE MELO

O que define um relacionamento satisfatório? Um estudo sobre a conjugalidade na base de dados do Scielo.

Relatório de pesquisa apresentado na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II, oferecido pelo curso de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de Psicólogo.

Orientadora: Profª Alessandra d’Avila Scherer, Msc

Palhoça 2009

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ANA CLAUDIA DE MELO

O que define um relacionamento satisfatório? Um estudo sobre a conjugalidade na base de dados do Scielo.

Palhoça, 18 de maio de 2009.

__________________________________________________ Orientadora e Profª Alessandra d’Avila Scherer, Msc.

Universidade do Sul de Santa Catarina

____________________________________________________ Profº Leandro Castro Oltramari, Dr.

Universidade do Sul de Santa Catarina

____________________________________________________ Profª Maria Angela Giordani Machado,Msc.

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Aos meus irmãos, em especial aos meus pais que embora enfrentado os desafios da vida a dois permanecem juntos há 34 anos.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a minha orientadora do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) Alessandra d’Avila Scherer, que me acolheu não medindo esforços para a realização desta pesquisa.

Agradeço a professora Maria do Rosário Stotz, assim como também agradeço ao coordenador do Curso de Psicologia Paulo Roberto Sandrini que possibilitaram a orientação da professora Alessandra; e aos acolhimentos psicológicos durante o processo de produção do conhecimento científico.

Agradeço a minha querida banca de qualificação composta pelos professores – Leandro Castro Oltramari e Zuleica Pretto que contribuíram para o aperfeiçoamento quando este ainda era um Projeto de Pesquisa; e consequentemente à conclusão desta graduação.

Agradeço a professora Deise Maria do Nascimento que, como sempre prestativa aos seus alunos pode contribuir com a fundamentação teórica trazendo autores relevantes á construção desta pesquisa.

Agradeço ao engenheiro Vamblê Guilherme Pinheiro dos Santos pela construção dos gráficos, os quais contribuíram na visualização da análise de dados, assim como também agradeço a pessoa que se tem demonstrado um grande amigo Geraldo Mollick Brandão.

Agradeço aos meus colegas de orientação do TCC - Josiane, Angela, Alexandre e ao querido Rudmar, que mesmo estando na mesma situação de orientação me davam força e coragem para concluir a graduação.

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“Viver a dois é uma arte”. (MATOS 2000, p.180)

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RESUMO

Satisfação conjugal é um conceito subjetivo, complexo e indefinido, pois a cada estudo realizado os pesquisadores definem diferentes conceitos de satisfação conjugal. Por isso, esta pesquisa teve por objetivo compreender os conceitos de satisfação conjugal publicados na base de dados do Scielo - Scientific Electronic Library Online, onde são disponibilizados periódicos científicos brasileiros, sendo alguns da área da Psicologia. Os periódicos pertinentes ao tema foram analisados numa perspectiva social, aos quais, se pode tratá-los de forma qualitativa. As variáveis consideradas de satisfação conjugal publicadas na base de dados mencionada formaram categorizações como – dupla carreira, ritual de passagem, autonomia, igualdade/ gênero, instituição, situação financeira, habilidades interpessoais e sentimento de amor. Os autores identificados nessa pesquisa divergiram em relação à prática de crença religiosa influenciar na satisfação conjugal, no entanto, os autores convergiam em relação à situação financeira, às habilidades interpessoais e o sentimento de amor influenciarem na satisfação conjugal. A apresentação e análise dos dados foram realizadas com a utilização de figuras, tabelas e gráficos, a fim de retratar principalmente as páginas da base de dados do Scielo pesquisadas, devido ao cunho bibliográfico desta pesquisa. Observou-se que dos 8 (oito) periódicos selecionados, somente 3 (três) faziam relação da satisfação conjugal com a saúde mental dos cônjuges, muito embora de forma vaga, mas mesmo assim pode-se perceber que a saúde mental esta relacionada aos aspectos sociais. Também se observou que os periódicos pesquisados em Psicologia que mais produziram conhecimento científico referente ao tema conjugalidade foram aqueles relacionados aos periódicos em Psicologia: Reflexão e Crítica, Psicologia em Estudo e Estudos de Psicologia (Natal).

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Página principal - Scielo.

Figura 2 – Lista alfabética de periódicos por área – Scielo.

Figura 3 – Busca de periódicos da Psicologia por descritores – Scielo. Figura 4 – Artigos selecionados por descritores.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Freqüência de periódicos encontrados por descritores. Gráfico 2 – Periódicos selecionados.

Gráfico 3 – Categorizações do 1º objetivo específico – variáveis de satisfação conjugal.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Periódicos selecionados à pesquisa.

Tabela 2 - Categorização das variáveis de satisfação conjugal.

Tabela 3 - Categorização das variáveis de satisfação conjugal relacionadas com a saúde mental dos cônjuges.

Tabela 4 - Categorização das variáveis de satisfação conjugal – divergência. Tabela 5 – Categorização das variáveis de satisfação conjugal – convergência. Tabela 6 - Periódicos contendo variáveis de satisfação conjugal.

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LISTA DE SIGLAS

BIREME - Centro Latino-Americano e do Caribe de Informações em Ciências da Saúde

Dr. – Doutor (a)

FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

Msc – Mestrado

PSF – Programa de Saúde da Família PSM – Programa de Saúde mental SC – Santa Catarina

Scielo - Scientific Electronic Library Online TCC – Trabalho de Conclusão de Curso

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SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO...13 1.1 PROBLEMÁTICA ... 14 1.2 OBJETIVOS ... 18 1.2.1 Objetivo Geral ... 18 1.2.2 Objetivos Específicos... 19 1.3 JUSTIFICATIVA ... 19 2. MARCO TEÓRICO ...23

2.1 AS FACES DA SAÚDE MENTAL ... 23

2.2 O QUE É SATISFAÇÃO CONJUGAL? ... 26

2.3 AS CARACTERÍSTICAS DA CONJUGALIDADE NA HISTÓRIA ... 33

2.4 AS CARACTERÍSTICAS DA CONJUGALIDADE NA CONTEMPORANEIDADE ... 38

2.5 AS CONSEQUÊNCIAS DA INSATISFAÇÃO CONJUGAL... 41

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 44

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA... 44

3.1.1 Método ... 44

3.1.2 Fontes de informação ... 44

3.2 INSTRUMENTO E PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS ... 46

4 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS ...51

5 ANÁLISE DE DADOS ...55

5.1 VARIÁVEIS CONSIDERADAS DE SATISFAÇÃO CONJUGAL PELOS AUTORES... 57

5.2 A SATISFAÇÃO CONJUGAL E AS RELAÇÕES COM A SAÚDE MENTAL ... 68

5.2.1 As faces da Saúde Mental para esta pesquisa ... Erro! Indicador não definido. 5.3 DIVERGÊNCIAS IDENTIFICADAS NAS VARIÁVEIS INFLUENTES À SATISFAÇÃO CONJUGAL ... 72

5.4 CONVERGÊNCIAS IDENTIFICADAS NAS VARIÁVEIS INFLUENTES À SATISFAÇÃO CONJUGAL ... 73

6. CONCLUSÕES ...76

REFERÊNCIAS ... 80

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1. INTRODUÇÃO

A idéia dessa pesquisa partiu da experiência do Estágio Curricular Obrigatório denominado no projeto de Time da Mente, que é um Projeto de Extensão constituído por alunos e professores da Universidade do Sul de Santa Catarina - UNISUL, sendo este projeto vinculado à disciplina do Núcleo Orientado em Psicologia e Saúde I/ II do Curso de Psicologia. Esse projeto mediante o estágio possibilitou por em prática os conhecimentos adquiridos em sala de aula.

O estágio foi realizado no Centro de Saúde I do bairro Bela Vista do município de São José/ SC no Programa de Saúde Mental (PSM), ao qual pertence o referido Projeto de Extensão. O PSM se caracteriza por ser um atendimento de Atenção Básica a população, sendo este vinculado ao Programa de Saúde da Família (PSF) que tem como objetivo o atendimento a pacientes com diagnóstico de Transtorno Mental juntamente com seus familiares. A partir da experiência nesse campo de estágio foi possível perceber que os aspectos conjugais também são importantes à Saúde Mental, pois se percebeu que os pacientes ficam desestabilizados quando enfrentam conflitos conjugais, prejudicando o tratamento destes, conforme foi percebido durante os atendimentos psicológicos.

A expressão saúde mental tem muitos significados na área da saúde. Conforme Lancetti; Amarante (2006) a saúde mental estaria relacionada à idéia de campo profissional que envolve uma grande área do conhecimento científico; áreas como da medicina, da psicologia, da antropologia e entre outras áreas. Sendo a equipe da saúde formada por: psicólogos, terapeutas ocupacionais, psiquiatras e entre outros, que na prática se responsabilizam pelo cuidado das pessoas cobertas pelos Programas de Saúde Mental. Esses vários saberes reunidos irão abranger a dimensão biológica, psicológica e social (LANCETTI; AMARANTE, 2006) dos pacientes que ali freqüentam, contribuindo para uma melhor intervenção nos fenômenos psicológicos.

Ainda, segundo Lancetti; Amarante (2006) a saúde mental como idéia de campo profissional tem sido considerada mais eficaz no tratamento de doentes mentais. Com a experiência no referido campo de estágio, pode-se perceber que a recuperação dos pacientes com diagnóstico de Transtorno Mental vai além das práticas profissionais realizadas. Sendo que, a recuperação dos pacientes do PSM

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envolve também a participação dos cônjuges. Acabando esses, por participar mesmo que de forma indireta, no tratamento do cônjuge adoecido.

Diante disso, objetivou-se compreender os diferentes conceitos de satisfação conjugal publicados em periódicos da área da Psicologia, na base de dados Scielo (Scientific Electronic Library Online), sendo esta uma biblioteca eletrônica que abrange periódicos científicos brasileiros. O Scielo é resultado de um projeto que tem como parceria a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informações em Ciências da Saúde (BIREME), que tem como objetivo tornar acessível à literatura científica brasileira a quem delas necessitar (MENEGHINI,1998).

Para isso, realizou-se uma pesquisa de cunho bibliográfico, localizando as variáveis de satisfação conjugal publicadas nos últimos doze anos de pesquisa, correspondente ao ano de 1997 a 2008, incluindo o primeiro semestre de 2009. Como meio de fundamentar esta pesquisa, se buscou as características conjugais, o conceito de saúde mental, assim como o próprio conceito de satisfação conjugal na visão dos autores.

Muito embora a satisfação conjugal tenha sido negligenciada pelas sociedades antigas, pelo fato da satisfação conjugal ser uma característica da modernidade, neste dado momento histórico é percebida como importante à perpetuação conjugal e à saúde mental dos cônjuges, isto quando a perpetuação se fizer necessária à felicidade dos cônjuges, principalmente daqueles em que a saúde mental já está comprometida, como é o caso dos pacientes que freqüentam o PSM.

1.1 PROBLEMÁTICA

A união conjugal no seu estado mais saudável tem sido entendida por alguns pesquisadores como a forma que os gêneros têm de compartilhar a sexualidade e os afetos. Assim como se caracteriza por ser o espaço onde as diversas formas de amor se expressam e se realizam de forma positiva (MATOS, 2000). No entanto, a união conjugal no seu estado patológico pode ser movida por um sentimento de solidão daquele que se sente sozinho e deseja ser completado

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(MCGOLDRICK, 1995b), ao invés do desejo de compartilhar os afetos com alguém como é entendido pela autora Matos (2000) citada acima.

Uma das responsáveis pela perpetuação conjugal é a satisfação (BAUMAN, 2003). Quando um dos cônjuges ou o casal percebe que a relação esta sendo insatisfatória, esta acaba por muita das vezes interrompendo a relação. E isso ocorre pelo fato dos cônjuges entenderem que satisfação está relacionada ao sentimento de amor, pois não entendem que a insatisfação pode decorrer de outros fatores como – situação financeira, ausência de diálogo, companheirismo e entre outras, e não necessariamente porque o amor acabou. E isso se deve pelo fato dos cônjuges negligenciarem os momentos monótonos e de dificuldades que envolvem a relação conjugal (BAUMAN, 2003). Até mesmo porque, segundo Jablonski (1998) “manter uma relação, como é o casamento, com todas as suas implicações e complicações, baseado apenas neste sentimento mágico, é como querer construir um castelo em cima de uma pedra... de gelo (p.86)”.

Outro problema referente aos relacionamentos de modo geral, é que as relações afetivas envolvem perdas aos indivíduos (BAUMAN, 2003) e, umas dessas perdas se referem às tomadas de decisões. Pois, essas não podem ser mais definidas individualmente, como normalmente ocorria antes do compromisso conjugal (MCGOLDRICK, 1995b). Esse comprometimento com o outro muitas vezes abala psicologicamente o indivíduo, devido à perda da individualidade nas escolhas mediante a identidade conjugal.

De acordo com alguns autores tem se percebido por parte dos cônjuges a procura pela satisfação conjugal, assim como também se concorda com alguns autores sobre os riscos que envolvem as relações conjugais. Por isso procurou-se compreender o conceito de satisfação conjugal, devido a sua abrangência conceitual. Esta se deve pelo fato da satisfação conjugal envolver diferentes percepções do que seria considerada uma relação conjugal satisfatória (MOSMANN et al., 2006). Necessitando assim com essa pesquisa identificar os conceitos de satisfação conjugal publicados em periódicos da Psicologia.

Muito embora o casamento venha sendo considerado por alguns pesquisadores como uma instituição falida (PEREIRA, 2003), os dados eletrônicos do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) tem registrado nos dados civis de 2007, que houve um aumento de 2,9% na taxa de casamentos do registro de 2007 (916.006) em relação aos registros de 2006 (889.828). Nota-se segundo os

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dados do IBGE, que as pessoas possivelmente percebem num primeiro momento a união conjugal como sendo importante à vida pessoal, ou talvez porque negligenciem os desafios da vida a dois (BAUMAN, 2003).

Em contraposição ao casamento se tem o divórcio. Esse corresponde à interrupção da vida conjugal, o qual acaba por produzir desequilíbrios psicológicos não somente aos cônjuges, mas aos filhos também. Esse desequilíbrio psicológico ocorre devido às mudanças advindas com o divórcio. Mudanças estas que podem envolver tanto perdas, quanto ganhos á família desfeita (CARTER; MCGOLDRICK, 1995), pois se entende que um ambiente de conflito prejudica não somente a saúde mental dos cônjuges, mas torna-se um local insalubre ao desenvolvimento natural dos filhos.

Esta interrupção da vida conjugal vem sendo registrada pelos dados do IBGE. Esses indicam que no Registro Civil de 2007, foram computados no ano de 1984 - 30.847 divorciados e no ano de 2007 – registrados 179.342. Neste período, correspondentes há 23 anos, foram registrados em 2007 - 148.495 divórcios a mais em relação ao ano de 1984. Estes dados sobre as dissoluções conjugais corroboram com a idéia de Jablonski (1998), que percebe “a crescente fragilidade do vínculo matrimonial em nossa época (p. 10)”.

Ainda sobre os dados das dissoluções conjugais, essas podem indicar que as relações não estão sendo satisfatórias o suficiente para se perpetuar a relação conjugal, assim como poderá também estar contribuindo para o sofrimento mental dos cônjuges, caso haja interesse de uma das partes em continuar a relação. No entanto, entende-se como Carter; Mcgoldrick (1995) que a dissolução conjugal possa em muitos casos trazer benefícios à família, principalmente se não houver mais o interesse dos cônjuges em manterem a relação.

Gottman (1998) em referência à causa dos insucessos conjugais faz uma crítica aos cientistas sociais, pois este autor aponta como causa do elevado número de divórcios mudanças sociais perante a redefinição dos papeis sexuais tais como: transformações jurídicas, aos quais facilitaram a dissolução conjugal, a independência financeira das mulheres perante o homem, entre outras causas. No entanto, não explicam porque alguns casamentos perduram durante anos e outros se desintegram em tão pouco tempo de convivência conjugal. Talvez porque não haja “[..] respostas simples para esses questionamentos (JOHNSON, AMOLOZA &

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BOOTH, 1992; KARNEY & BRADBURY, 1995; AMATO, JOHNSON, BOOTH & ROGERS, 2003 apud MOSMANN et al., 2006, p.2)”

Ainda, segundo Gottman (1998), as causas que precedem os divórcios na maioria das vezes correspondem à violência, ao desrespeito, à hostilidade e aos abusos psicológicos delegados ao próprio parceiro conjugal. Entende-se também que as violências físicas ou verbais não se limitam somente aos cônjuges, estas atingem direta ou indiretamente os filhos. Segundo alguns autores assuntos conflituosos discutidos perante os filhos podem promover desajustes mentais e na menor ou maior das hipóteses podem limitar a capacidade natural do desenvolvimento dos filhos, tais como – complicações na formação da maturidade emocional, refletindo principalmente quando os filhos se tornarem adultos, interferindo na interação com outros (AYLMER, 1995). Sendo assim, a presença constante dos filhos nas cenas de conflitos entre pais e mães pode dar início a uma série de psicopatologias já na tenra idade.

Percebe-se que as relações conjugais sofreram transformações sociais não sendo mais tão reguladas por valores sociais como era antigamente, mas sim por valores pessoais como se tem percebido, ao qual acaba por culpabilizar o sujeito pela manutenção da relação conjugal (MATOS, 2000). Por isso, é tão importante saber o que propicia à satisfação conjugal, com a realização desta pesquisa. O mesmo é percebido por Bozon (2003), sobre os valores pessoais no regulamento da relação conjugal, o autor entende que “a importância da subjetividade na construção do casal contemporâneo tem sido frequentemente enfatizada (p.155)”.

Durante o processo de dissolução conjugal, o divórcio acaba por liberar sentimentos hostis prejudicando a saúde emocional não só dos cônjuges, mas dos filhos também. A liberação se sentimentos hostis e o prejuízo à saúde emocional decorrem porque no processo normal do ciclo familiar os filhos planejam e têm sonhos em relação aos pais, assim como os pais têm em relação aos seus cônjuges, aos quais, acabam sendo interrompidos pelo divórcio.

O processo de divórcio requererá da família a elaboração de um luto devido a perda dos sonhos, sendo que, este poderá durar dois anos para o reestabelecimento emocional dos envolvidos (AHRONS, 1980 apud CARTER; MCGOLDRICK, 1995). Entende-se esse tempo como um dos maiores problemas a serem enfrentados pela família.

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Por isso se percebe que muitas vezes ocorre medo aos divorciados de investir em relacionamentos futuros (CARTER; MCGOLDRICK, 1995), devido ao tempo que se leva para o reestabecimento emocional. O papel dos psicoterapeutas nesses casos se faz ainda mais importante justamente, porque ajuda os integrantes da família a solucionarem os conflitos perante a experiência do divórcio.

Perante os dados que demonstraram a relevância desta pesquisa, leva-se em consideração a perpetuação conjugal como fator de contribuição ao equilíbrio emocional dos cônjuges e filhos, e a sua dissolução como uma das responsáveis pelo desgaste emocional, surgimento de Transtornos Mentais (PEÇANHA; RANGÉ, 2008). A perpetuação conjugal se faz ainda mais importante na recuperação dos pacientes que freqüentam o PSM, devido à desestabilização emocional perante os conflitos conjugais fazendo ressurgir os sintomas, aos quais já estavam em remissão. Para isso, é preciso compreender o que causa satisfação numa relação conjugal, e assim poder minimizar os efeitos desgastantes da insatisfação conjugal.

Diante do acima exposto, em que foram apresentados dados que expressam à problemática com relação à importância da satisfação conjugal, é pertinente responder à seguinte pergunta do problema de pesquisa: Quais os conceitos de satisfação conjugal publicados em periódicos da Psicologia na base de dados eletrônico – Scielo?

A seguir serão apresentados os objetivos desta pesquisa, aos quais se pretendeu alcançar.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

Compreender os conceitos de satisfação conjugal publicados em periódicos na base de dados eletrônico – Scielo.

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1.2.2 Objetivos Específicos

a) Identificar as variáveis de satisfação conjugal apresentados nos periódicos de Psicologia;

b) Verificar se os periódicos selecionados sobre a satisfação conjugal estão relacionados à saúde mental dos cônjuges e a forma como apresentam tal relação;

c) Averiguar se há convergências nos conceitos de satisfação conjugal apresentado na base de dados;

d) Averiguar se há divergências nos conceitos de satisfação conjugal apresentado na base de dados.

A seguir será apresentada a relevância dessa pesquisa, ao qual se pretende trazer questões que indicam a emergência deste estudo.

1.3 JUSTIFICATIVA

Entende-se que os profissionais da saúde que se deparam constantemente com queixas conjugais nos atendimentos clínicos não devem restringir-se aos conhecimentos construídos pela sociedade sobre o que define um relacionamento como sendo satisfatório (HERNANDEZ; OLIVEIRA, 2003). Mesmo entendendo que os modelos de conjugalidade surjam para atender às demandas sociais (MORGAN1818/ 1881, apud ENGELS, 1995) e para satisfazer os desejos dos indivíduos. Isso se deve pelo fato da satisfação conjugal envolver diferentes percepções de satisfação, ou seja, dependerá de cada sujeito para este entendimento, por isto é importante que os profissionais entendam que há diferenças de percepções sobre a satisfação conjugal evitando assim, as conseqüências da insatisfação conjugal.

Como uma das conseqüências da insatisfação conjugal se tem o divórcio. Este é considerado o maior rompimento dentro do ciclo familiar, e isto se devem pelo

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fato dos cônjuges e filhos levarem mais ou menos três anos para o restabelecimento emocional dos envolvidos (HETHERINGTON, 1980; AHRONS, 1980 apud PECK; MANOCHERIAN, 1995). No entanto, Homes; Rahe (1967 apud PECK; MANOCHERIAN, 1995) entendem que o maior rompimento dentro do ciclo familiar se refere à morte de um dos cônjuges e não ao divórcio, entendendo que o divórcio vem em segundo lugar no que tange ao sofrimento psíquico.

Mesmo considerando que o divórcio seja o maior rompimento dentro do ciclo familiar, se entende que na maioria das vezes a dissolução conjugal é considerada como solução à recuperação da saúde mental da família. Mas, assim como Bauman (2003) entende-se que o sucesso, se faz importante na vida do indivíduo devido ao “[...] conforto espiritual que ele [...] traz: faz ressurgir, ainda que de forma circular, a fé na regularidade do mundo e na previsibilidade dos eventos, indispensável a nossa saúde mental (p. 18, grifo nosso)”, entende-se que no contexto familiar o sucesso conjugal também se faz importante na saúde mental dos cônjuges e dos filhos.

Muito embora os dados a seguir não sejam precisos sobre filhos educados somente por um dos cônjuges, é pertinente mencioná-los com o intuito de serem produzidas novas pesquisas sobre o impacto da ausência de um dos cônjuges sobre a saúde mental dos filhos. Estes dados indicam, que meninas quando educadas longe da figura paterna possivelmente têm maior dificuldade em estabelecer laços com figuras masculinas. Em relação aos meninos, estes podem apresentar comportamentos extremamente masculinizados devido á ausência da figura materna (ROMER 1981 apud MCGOLDRICK, 1995a). No entanto, Hartman (1987, apud MCGOLDRICK, 1995a) entende que meninos ou meninas quando criados por figuras femininas desenvolvem habilidades colaborativas, talvez pelo fato da mãe passar a maior parte do tempo com eles e solicitar ajuda nos afazeres domésticos, contribuindo assim para um melhor desempenho colaborativo.

Entende-se que os cônjuges quando resolvem ampliar a relação conjugal é porque desejam construir uma família e proporcionar aos filhos um desenvolvimento harmonioso, feliz e principalmente familiar, muito embora essa previsibilidade às vezes fuja do controle dos pais, quando há a necessidade da dissolução conjugal, e esta acaba por contribuir, mesmo que de forma indireta com o sofrimento psíquico de toda família. O mesmo é percebido por Jablonski (1998). Este entende que “a fragilidade do casamento contemporâneo [...] repercutem não

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só na vida das pessoas diretamente envolvidas na dissolução do vínculo matrimonial, mas na dos eventuais filhos do casal (p. 9)”. Isto corrobora com que dizem psiquiatras e psicólogos, que os sintomas giram em torno dos momentos de estresse vivenciados pela família, atingindo filhos e cônjuges (HOFFMAN, 1995).

Diante do exposto se percebe a relevância deste estudo, o qual se propôs produzir conhecimento científico sobre as várias percepções de satisfação conjugal e suas relações com a saúde mental, trazendo informações relevantes na construção de relacionamentos felizes e, consequentemente, indivíduos mais saudáveis. Para isso foi preciso identificar na base de dados do Scielo, o que faz uma relação ser considerada satisfatória para os cônjuges. Essa pesquisa além da relevância científica, trouxe subsídios importantes aos psicoterapeutas e profissionais afins (MONTEIRO, 2001) acerca das características que influenciam na satisfação conjugal e a importância desta na saúde mental dos cônjuges e filhos, ampliando o conhecimento científico acerca desta temática.

Sendo assim, essa pesquisa se justificou devido às diferentes percepções conjugais sobre a satisfação conjugal divulgados no meio eletrônico, e a carência de pesquisas relacionando satisfação conjugal com a saúde mental. Percebendo-se que o estado de felicidade decorrente da satisfação conjugal é um importante fator à manutenção da conjugalidade e da saúde mental dos cônjuges e filhos. Por outro lado, entende-se que a insatisfação pessoal com a relação conjugal tem implicações no processo de adoecimento da família, devido ao desprazer causado pela infelicidade conjugal, sabendo-se desde já que viver juntos ou separados sempre envolve riscos e ansiedades àqueles que se aventuram nos relacionamentos conjugais (BAUMAN, 2003).

Na literatura se tem observado a preocupação dos pesquisadores em definir a satisfação conjugal (MOSMANN et al., 2006). Isso talvez explique a inquietude por parte dos pesquisadores em tentar identificar o maior número possível de variáveis influentes na satisfação conjugal, e poucas pesquisas sobre o impacto da satisfação à saúde mental dos cônjuges (SCORSOLINI-COMIN; SANTOS, 2009).

Espera-se que um melhor entendimento sobre o conceito de satisfação conjugal contribua nas intervenções clínicas quando os psicoterapeutas forem solicitados nas psicoterapias individuais e de casais, pois, há um numero expressivo de casais que sofrem com a insatisfação conjugal. Pois, se sabe que as

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características da conjugalidade se modificam com o progresso da sociedade (ENGELS, 1995), transformando o que se chamava de família tradicional (GOLDENBERG, 2005) exigindo a satisfação de novas necessidades conjugais.

A seguir será apresentado o marco teórico, o qual serviu de fundamento a esta pesquisa.

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2. MARCO TEÓRICO

2.1 AS FACES DA SAÚDE MENTAL

Segundo Szasz (1984), o conceito de doença mental é semelhante aos entendimentos dos atos de feitiçaria do século XV. Segundo o mesmo autor, o conceito de doença mental serve para o “mundo contemporâneo”, com a mesma função que servia a feitiçaria no século XV, isto é, interpretavam os fenômenos psicológicos conforme as funções morais e políticas da época. A mesma idéia sobre o conceito de saúde mental é percebida por Filho (2001), esta só tem sua realidade numa sociedade que a reconhece como tal, pois, o homem constrói seus movimentos e instituições com o intuito de dar conta das ocorrências sociais, como foi o caso das interpretações sobre os fenômenos psicológicos realizadas pela Inquisição no século XV, a qual castigavam aqueles que eram acometidos pelos Transtornos Mentais, pois estes comprometiam a ordem religiosa/ política, devido à possessão demoníaca, como era o entendimento do Transtorno Mental neste século.

Somente no século XX a doença mental é nomeada como tal. Esse interesse da medicina pelos ditos “insanos” vem se diferenciar das práticas de feitiçaria - em termos de organização e da prática para o entendimento e tratamento ao doente mental. Dentre os procedimentos realizados estavam a internação, a hospitalização e principalmente a exclusão social, devido ao sujeito “possuir” uma psicopatologia (FILHO, 2001). Segundo Tenório; Rocha (2006), “[...] a psicopatologia é, por definição, aquilo do psíquico que aparece como dissonante do normal e só por isto especifica o sujeito (p. 57)”. Neste século as atenções estavam voltadas para as manifestações das doenças mentais, e nas formas de contê-las, nem se pensava ainda em saúde mental nesta época (RIBEIRO, 1996).

Segundo Ribeiro (1996), com o surgimento da Psicologia, da Psicanálise e das áreas afins, como a Psiquiatria, veio-se configurar o que se sabe hoje por Saúde Mental. Ainda segundo o autor, Hipócrates considerado o pai da medicina em 460 A. C., foi o primeiro filósofo a identificar as causas das doenças mentais fora da

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leitura mística fazendo o uso da razão dos gregos. Outros também foram os filósofos que procuraram entender a doença mental fora de uma perspectiva mística como Platão, Aristóteles e Asclepíades. Este último considerava a doença mental como uma perturbação emocional.

Sendo assim, o pensamento científico/ racional vem substituir a crença de possessão demoníaca pela doença mental. Seu tratamento deverá se fazer em asilos, muito embora, o tratamento ao doente mental ainda continuava sendo com requintes de crueldades como no século XV, como foi o caso das lobotomias frontais (remoção da parte do cérebro responsável pelo distúrbio mental) e do uso de choques-elétricos para aliviar o sintoma psicótico. Os loucos eram resguardados da sociedade nos porões das Santas Casas, juntamente com pessoas que perturbavam a ordem social como criminosos, condenados, bêbados e entre outras delinqüências (RESENDE, 2000).

O médico Phillippe Pinel (1793) foi considerado um revolucionário no que diz respeito ao tratamento dos doentes mentais, pois este libertou os doentes mentais dos enclausuramentos devido ao sucesso do tratamento “aos loucos”, promovendo a reforma das instituições psiquiátricas e a assistência ao insano (RIBEIRO, 1996). Ainda segundo Ribeiro (1996), no século XIX outra linha de pensamento vem contrapor a Psiquiatria, que atribuía a doença mental somente a causa biológica. Essa é percebida como de ordem psicológica, surgindo a Psicologia enquanto ciência, se desligando assim da área da filosofia a qual pertencia, pois, os filósofos eram quem especulavam as dores da alma. Sendo assim, a Psicologia é reconhecida como uma ciência a parte da filosofia, tendo contribuições principalmente com as publicações de Gustav Fechner como “Elementos de Psicofísica” (1801-1887). O objeto de estudo da Psicologia não era a psicopatologia, mas o conhecimento das atividades mentais, tendo sua maior contribuição sobre a compreensão das enfermidades psíquicas pelo médico austríaco Sigmund Freud (1856-1939).

Segundo Ribeiro (1996) com os avanços no estudo das psicopatologias (doenças mentais), a intervenção medicamentosa foi ocupando espaço nas intervenções dos doentes mentais. Após essa consolidação outra corrente vem questionar as formas de tratamento, lançando mão da interdisciplinaridade para as ações em saúde mental, propondo trocar a ação curativa pela preventiva, cujo modelo foi criado por Gerald Caplan, conhecida como Psiquiatria Comunitária ou

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Modelo Preventivo em Saúde Mental. Ainda segundo o mesmo autor, a Psiquiatria Comunitária questiona as intervenções psiquiátricas e propõe um modelo ambulatorial à população de baixa renda que sofre com Transtornos Mentais.

A equipe do modelo preventivo em Saúde Mental conta com uma equipe interdisciplinar com psiquiatras, psicólogos clínicos, assistentes sociais, enfermeiras, entre outros, pois esta entende que o tratamento deve ter uma visão holística do paciente (RIBEIRO, 1996). Sendo assim, o termo Saúde mental foi substituído pelas ações custodiais e pelo termo psiquiátrico, oferecendo serviços de prevenção à doença mental. Segundo Saraceno (1997), “a desinstitucionalização consiste em trabalhar a realidade e a cultura institucional (manicômio) e suas conseqüências: violência, miséria, isolamento, falta de dignidade, injustiça e ampliação da enfermidade institucional [...] (p. 32)”.

A expressão saúde mental tem muitos significados, mas segundo Lancetti; Amarante (2006) saúde mental está relacionada à idéia de campo profissional que envolve uma grande área do conhecimento, pois suas ações são interdisciplinares. Os vários saberes que envolvem a saúde mental são: a medicina, psicologia, antropologia e entre outros saberes. A equipe é formada por: psicólogos, terapeutas ocupacionais, psiquiatras que na prática se responsabilizam pelo cuidado das pessoas cobertas pelos programas de saúde mental. Estes vários saberes irão abranger a dimensão bio-psico-social (LANCETTI; AMARANTE, 2006). Muito embora a doença mental ainda seja entendida excessivamente como somente de causa biológica (KOIFMAN, 2001). Isso se deve, segundo Rolland (1995), porque a doença de modo geral, possui diferentes percepções de entendimento dependendo do grupo que a enquadra, estas podem possuir classificações biológicas, psicológicas e sociais ou até mesmo reunir alguma dessas classificações.

Segundo Capitão et al. (2005), “os aspectos emocionais podem ser precedentes do desencadeamento de problemas físicos, bem como enfermidades causadas por agentes orgânicos também podem desencadear reações emocionais diversas (p. 77, grifo nosso)”. Ainda, segundo o mesmo autor, “a saúde não se resume à ausência de doença e ao bem-estar físico, mas a um estado multidimensional que envolve três domínios: a saúde física, psicológica e social (p. 81)”.

Nas classificações biológicas segundo Rosen (1994, apud TRAVERSO-YÉPEZ, 2001), este grupo “[...] prioriza o orgânico e propõe que toda ou desordem

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física pode ser explicada por alterações no processo fisiológico resultante de lesões, desequilíbrios bioquímicos, infecções bacterianas ou virais e similiares (p. 50).” No entanto, já no início do século XX, Freud entende que o surgimento dos sintomas decorre de conflitos emocionais, os quais não mostravam nenhuma causa física significativa (TRAVERSO-YÉPEZ, 2001).

Segundo Traverso-Yépez (2001) numa perspectiva social sobre a doença, o autor entende que esta não se reduz a uma simples causa orgânica, mas também está relacionada com as características de cada contexto sócio-cultural. Para o autor, o que existe é uma ordem de significações sociais construídas que influenciam o uso que cada um faz de seu corpo, experimentando os estados de saúde e doença. Isso corrobora com a idéia de Crochík (1998), este autor entende que “o método para se estudar a subjetividade deve ser, portanto, o que leva a procurar no indivíduo as marcas da sociedade. Ou seja, dizer que o indivíduo é mediado socialmente, não significa que ele seja afetado externamente pela sociedade, mas sim que se constitui por ela [...] (p. 4)”. O mesmo é entendido por Capitão et al. (2005) em relação aos aspectos sociais do adoecer, o autor entende que a saúde numa perspectiva social engloba boas habilidades interpessoais, bons relacionamentos e atividades socioculturais.

No que se refere aos aspectos psicológicos, Capitão et al. (2005) entendem que a “[...] saúde psicológica engloba [...] a capacidade de pensar de forma clara e objetiva, possuir uma auto-estima adequada e consciência de bem-estar (p. 81)”. Ainda, segundo o mesmo autor, a Psicologia como um campo de saber destinado à saúde deve intervir nas três dimensões do indivíduo, objetivando o estado completo de bem-estar físico, mental e social.

A seguir serão apresentadas pesquisas sobre as variáveis de satisfação conjugal na visão de alguns autores.

2.2 O QUE É SATISFAÇÃO CONJUGAL?

Segundo Mosmann (2006) “existe uma busca em entender o que determina um relacionamento conjugal bem-sucedido, e no meio acadêmico,

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diversas pesquisas têm sido realizadas com tais objetivos (p. 2)”. Estas pesquisas tem relacionado variáveis como responsáveis pela satisfação conjugal – a intimidade comunicativa e a excitação física (HERNANDEZ; OLIVEIRA, 2003), a influência da família de origem (WAGNER; FALCKE, 2001), a experiência da maternagem (SOTTO-MAYOR; PICCININI, 2005) o amor e a sexualidade (BOZON, 2003) e entre outras variáveis que serão descritas ao longo deste capítulo. Assim como também houve controvérsias sobre a influencia das variáveis identificadas na satisfação conjugal. Seguem então, as variáveis responsáveis pela satisfação conjugal à fundamentação teórica desta pesquisa.

Em pesquisa sobre os componentes do amor que melhor se relacionavam com a satisfação conjugal os autores Hernandez; Oliveira (2003) puderam identificar como variáveis responsáveis pela satisfação conjugal, tanto para homens quanto para mulheres, a intimidade comunicativa entre os cônjuges, seguido da variável de excitação física. Para alcançar essas duas variáveis que se relacionariam à satisfação conjugal, os autores utilizaram como instrumento de coleta de dados a Escala de Componentes de Amor de Critelli et al. (1986), que é constituída por cinco componentes de satisfação conjugal: dependência romântica, intimidade comunicativa, excitação física, respeito e compatibilidade romântica. Observa-se através dos resultados alcançados na pesquisa destes autores, que os componentes de satisfação conjugal - respeito, dependência e compatibilidade romântica os quais pertencem a esta escala, foram considerados pouco influentes à satisfação conjugal. A variável de comunicação também é percebida por Walsh (1995) como influente na satisfação conjugal, pois segundo o autor, a comunicação favorece a expressão de medos, expectativas e a revisão de papeis na relação conjugal. No entanto, Alvarenga (1996) entende que a comunicação vai para além de uma variável importante na satisfação conjugal, pois a autora percebe que o homem é um ser relacional, que se desenvolve justamente porque faz trocas com o meio, dando base até mesmo à existência da humanidade.

Com os estudos de Wagner; Falcke (2001) sobre a influência da família de origem no manejo dos relacionamentos conjugais, estes autores puderam identificar que há uma tendência dos comportamentos adquiridos na infância durante a convivência com os pais se repetirem na fase conjugal. Isto é, se os relacionamentos com os pais durante a infância foram baseados em conflitos, estes comportamentos poderão se repetir na fase adulta nas relações conjugais. A mesma

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idéia é defendida por Carter; Mcgoldrick (1995). Estes entendem que questões emocionais não resolvidas vivenciadas no seio familiar poderão ser obstáculos em relacionamentos futuros.

Os autores Sotto-Mayor; Piccinini (2005), em um estudo sobre a relação entre satisfação conjugal e a depressão causada pela maternagem, identificaram que a presença do filho recém nascido pode estar associada ao estresse em determinadas famílias. Os pesquisadores puderam perceber que um dos fatores mais freqüentes associados à causa da depressão materna é a dificuldade que os cônjuges têm em administrar o tempo com a chegada do novo membro familiar, o que acarretaria estresse e insatisfação. A insatisfação conjugal experimentada pelos cônjuges decorrentes da maternagem e o estado depressivo da mãe, se deve ao enorme tempo que a mãe desprende para cuidar do bebê, sendo assim a mãe estaria menos disponível para exercer o papel de mulher, de dona de casa e aos próprios cuidados. Essa falta de tempo e de dedicação integral ao bebê prejudicaria a satisfação conjugal e a saúde mental da mãe (SOTTO-MAYOR; PICCININI, 2005). Porém, Santos; Schor (2003) puderam identificar em estudo sobre as vivências da maternidade na adolescência, que a experiência desta pode ser gratificante devido aos sentimentos que decorrem da maternagem, como – autonomia, maturidade e competência para lidar com as tarefas junto ao bebê, estando estas satisfeitas com a experiência da maternagem.

Ao que parece não somente as mães sofrem com a maternagem (SOTTO-MAYOR; PICCININI, 2005), pois segundo Cowen; Cowen (1985, apud MCGOLDRICK, 1995a) “a transição a paternidade é tipicamente acompanhada por uma diminuição geral na satisfação conjugal [...] (p. 43)”. No entanto, Menezes; Lopes (2007) descartam que a maternagem e a paternagem possam prejudicar a satisfação conjugal. Esses autores entendem que não é a transição à parentalidade que gera a crise conjugal, mas a qualidade da relação conjugal anterior à transição parental que irá determinar o conflito conjugal ou não. No entanto, os mesmo autores entendem que os casais com maior envolvimento afetivo sofrem menos com as mudanças decorrentes da chegada do primeiro filho, pois conseguem preservar a qualidade da relação conjugal, diferente dos casais que possuíam um maior distanciamento conjugal.

O período de maior satisfação conjugal é entendido por Mcgoldrick (1995) somente nos primeiros anos de união conjugal, pois este entende que a união

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conjugal precede a fase de namoro. O namoro é considerado pelo autor como a maior fase de satisfação entre os parceiros, por isto fica tão fácil negligenciar as dificuldades a dois que só aparecerão mais adiante. No entanto Wallerstein; Kelly (1980, apud PECK; MANOCHERIAN, 1995) descobriram que a satisfação ocorre mesmo é depois do divórcio, estes autores possuem relatos de que o cônjuge que tomou a decisão do divórcio traz na fala que se sente muito mais satisfeito estando sozinho do que quando estava casado.

Segundo Bozon (2003) em estudo sobre a construção do casal contemporâneo, o autor pode perceber como variáveis responsáveis pela satisfação conjugal, duas variáveis importantes - o sentimento de amor e a atividade sexual. Essas ênfases no amor e na sexualidade se devem à importância que se tem dado aos valores pessoais em detrimento aos valores religiosos, institucionais e sociais na construção do casal. O mesmo é entendido por Good; Berger (1963; 1988 apud Bozon, 2003), pois “a importância da subjetividade na construção do casal contemporâneo tem sido frequentemente enfatizada (p. 155)” Entende-se por subjetividade aqueles aspectos inerentes ao sujeito. O mesmo é entendido por Jablonski (1998) sobre a crise das instituições, este autor entende que a “própria instituição do casamento atravessam momentos difíceis (p. 15)”.

Segundo Jablonski (1998) “a religião tem sido ao longo dos tempos uma poderosa força norteadora dos valores da família (p. 33)”. Muito embora o mesmo autor entenda, que “de modo geral, os autores são unânimes em apontar o declínio da religiosidade, principalmente após a modernização e a industrialização (p. 34)”. Ainda segundo Jablonski (1998), este tem entendido que as novas gerações vêm experimentando uma religião mais pautada em princípios pessoais do que aqueles pregados pelas instituições religiosas, até mesmo porque os cônjuges “[...] não aceitam fazer de suas uniões um calvário (p. 46)”, e isto se deve a flexibilização dos fiéis perante as normas religiosas como – uso de contraceptivos, relações sexuais antes da união conjugal, os papeis exercidos pela mulher moderna na sociedade, entre outras flexibilizações das normas religiosas. Segundo Berger; Luckmann (1995) as instituições possuem caráter controlador da conduta humana as quais estabelece “[...] padrões previamente definidos de conduta, que se canalizam em uma direção por oposição às muitas outras direções que seriam teoricamente possíveis (p. 80)”. (BERGER; LUCKMANN, 1995)

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O problema dos relacionamentos conjugais se deve a instabilidade do sentimento de amor que não sobrevive ao tempo e acaba por afetar significadamente a vida sexual dos cônjuges, sendo que, a atividade sexual tem sido considerada importante à satisfação conjugal, pois, segundo Bozon (2003), “a centralidade da sexualidade na existência do casal contemporâneo é incontestável (p.155)”. O mesmo é percebido por Mcgoldrick (1995b), pois os autores têm percebido a importância da atividade sexual na satisfação conjugal, sendo esta muito mais desejada pelos homens do que pelas mulheres. Os homens dão mais importância à resposta sexual de suas esposas na relação, sendo que as mulheres percebem como importantes na relação conjugal a capacidade dos maridos em se darem bem com seus familiares e amigos.

Buscando entender como são processadas as transformações sociais, Jordan et al. (2005), puderam perceber como forma de satisfação conjugal aquelas relações flexíveis as normas e crença sociais sobre o casamento, estes autores entendem que o modelo de casamento histórico familiar limita as mais diversas formas de se viver à vida a dois. Mas, ao que parece segundo Burke, (1976 apud MCGOLDRICK, 1995b) essa flexibilidade das normas e crenças vem causado insatisfação conjugal principalmente aos homens, devido á ascensão no status feminino, pois a mulher não dependendo mais do homem para se sustentar fica propensa ao divórcio caso não mais estiver satisfeita com a relação conjugal.

Um tipo de relacionamento que flexibiliza as normas e crenças sociais sobre o casamento, é a igualdade entre os sexos. Trabalhos como os de Centers; Raven; Rodrigues (1971, apud JABLONSKI, 1998) “apontam o fato de que a maioria quase absoluta dos estudos [...] indica os casamentos igualitários como os geradores de maior satisfação e felicidade [...] (p. 152)”. No entanto, segundo Ferber, (1979 apud MCGOLDRICK, 1995b) há evidencias de que o cônjuge normalmente se realiza através da “sub-realização”, isto é, bem sucedido somente um dos cônjuges, não há espaço para dois bem sucedidos, sendo assim praticar a igualdade dos sexos será quase uma proeza ao casal. Esta idéia é entendida por Mcgoldrick (1995b) como ideal de cultura, pois é considerado normal que o homem tenha uma posição superior ao da mulher em todos os sentidos. E isso explica porque pesquisas apontam que muito embora o relacionamento seja algo que deva ser temido aos homens, estes melhoram sua saúde mental após o casamento, diferente das mulheres casadas que apresentam mais patologias do que as

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solteiras, talvez pelo fato do casamento ainda trazer mais benefícios ao homem (MCGOLDRICK, 1995b).

Segundo Simon (1995) uma das freqüentes queixas femininas as seus parceiros conjugais está relacionada à falta de poder pessoal na relação conjugal, devido à relutância masculina em dividir o poder com a esposa, pois o papel da mulher, segundo o discurso masculino, é o de apoiar o homem. Isto se deve à cultura ao qual o homem está inserido, pois esta delega o poder à figura masculina, e estes não entendem o porquê das mulheres se queixarem tanto. Sendo que, muitas vezes o terapeuta pode não se dar conta da depressão da esposa quando esta se queixa de seu parceiro (SIMON, 1995), pois o terapeuta também poderá estar impregnado pelas normas sociais. Minuchin (1995) entende muito bem estas queixas, e descobriu que as famílias lidam melhor com os conflitos emocionais quando são flexíveis na hora de transferir o poder a outrem. No entanto, quando as mulheres conseguem ser flexíveis aos padrões tradicionais, estas se sentem culpadas, pois cresceram escutando que estes padrões comportamentais femininos são de sua obrigação (MCGOLDRICK, 1995a). Isso se deve segundo Matos (2000) porque, “[...] quando ‘escolhemos’ nossos (as) parceiros (as) e estabelecemos um vínculo amoroso, definimos, concomitante e publicamente, uma posição de gênero e outra posição moral, que trazem tanto a marca do cultural/social quanto a [...] subjetiva (p. 18)”.

Segundo Imber-Black (1995) “eventos e transições normativos de ciclo de vida, tais como casamento, nascimentos e morte, são frequentemente assinalados por rituais (p.131)”. O cerimonial como ritual de passagem ao casamento indica um movimento significativo numa estrutura conjugal, assim como na vida de seus familiares também, este chega até ser entendido por Imber-Black (1995) como ritual terapêutico. Ainda segundo o mesmo autor, o cerimonial pode contribuir nas relações conjugais pelo fato destas se tornarem uma boa oportunidade no apaziguamento conjugal nos momentos de conflito familiares e reduzir a ansiedade dos cônjuges frente à mudança (IMBER-BLACK; 1995). Muito embora Imber-Black (1995) entenda também, que os preparativos do matrimônio precipitam momentos de elevado estresse. Segundo Friedman (1995) em relação ao ritual ser terapêutico à família o autor pode entender após 20 anos de experiência com terapia familiar que:

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[...] a abordagem de uma família aos rituais de passagem não apenas pode torná-los jornadas mais fáceis, como também as crises que esses eventos precipitam tornam-se oportunidades de ouro para induzir a mudança em padrões de relacionamento disfuncionais, [...] (p.112).

Segundo Peck; Manocherian sobre o impacto do divórcio nas mudanças do ciclo de vida familiar (1995) os autores puderam entender que “[...] o divórcio [é] a solução para a insatisfação conjugal (p. 291)”. Ainda segundo os autores, a insatisfação se deve a vários fatores associados, tais como – relacionamentos aos quais os cônjuges apresentam pouca idade (NORTON; GLICK, 1976 apud PECK; MANOCHERIAN, 1995), grau de instrução (LEVINGER, 1976 apud PECK; MANOCHERIAN, 1995), salário/ desemprego (ROSS; SAWHILL, 1975, apud PECK; MANOCHERIAN,1995) e o nível socioeconômico (NORTON; GLICK, 1976 apud PECK; MANOCHERIAN,1995). Muito embora estes autores percebam que o peso da variável de nível socioeconômica na satisfação conjugal venha diminuindo com o passar do tempo. No entanto para Jablonski (1998) “é impossível não levar em consideração o contexto socioeconômico (p.18, grifo nosso)”.

Essas diferentes variáveis de satisfação se devem à percepção de cada cônjuge sobre o que de característico na relação conjugal influenciaria na satisfação conjugal (MOSMANN et al., 2006). Isso explicaria a indefinição no conceito de satisfação conjugal e o elevado número de pesquisas realizadas sobre esta temática, assim como a inquietude dos pesquisadores em identificar o maior número possível de variáveis que definiriam uma relação satisfatória (MOSMANN et al., 2006).

No entanto, é importante ressaltar segundo Jablonski (1998) “[...] o fato de que, curiosamente, alguns fatores que são considerados importantes como forças que levam à separação não são vistas no seu inverso como fatores que levem à criação de uma relação estável e harmoniosa (p.235)”. O mesmo serve para as variáveis que levam a satisfação conjugal, sendo que seu inverso não poderá ser considerado de insatisfação conjugal.

A seguir serão apresentadas as características da conjugalidade na história pode-se perceber que num dado momento da história o sentimento de amor entre os cônjuges foi considerado irrelevante à união conjugal.

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2.3 AS CARACTERÍSTICAS DA CONJUGALIDADE NA HISTÓRIA

A satisfação como atributo à conjugalidade é uma característica recente no século XX. Pois, encontra-se na literatura que no Brasil os estudos sobre as relações entre satisfação e conjugalidade se iniciaram nas primeiras décadas do século XX, na tentativa de superar a idéia do sentimento de amor destinado somente à relação extraconjugal (ABOIM, 2006). Pois, segundo Jablonski (1998) “[...] a paixão era vista ora como um tormento, ora como um jogo, mas naturalmente fora do casamento (p. 72)”. A superação da idéia do sentimento de amor destinado somente a relação extraconjugal acabou exigindo maior satisfação às relação conjugais legítimas, com a escolha do cônjuge através do sentimento de amor (ABOIM, 2006). Porque, segundo Jablonski (1998), nas sociedades antigas “[...] os casamentos eram arranjados levando-se em consideração interesses familiares de base socioeconômica, era natural que esses arrebatadores sentimentos [...] paixões [...] ocorressem fora das uniões legítimas (p. 72)”.

O sentimento de amor como causa da união conjugal vem contribuir para a fidelidade conjugal entre homens e mulheres na sociedade, causando satisfação conjugal principalmente às mulheres, pois a infidelidade conjugal acometia-as mais as mulheres do que aos homens, pelo fato da infidelidade ser permitida a eles em século passados. A fidelidade provinda do sentimento de amor ao cônjuge, acabou por estabelecer as relações chamadas de monogâmicas (ENGELS, 1995), devido à característica conjugal da exclusividade entre os pares no século XX. A fidelidade entre os cônjuges também foi considerada em um momento da história conjugal, como característica importante pela sociedade na transmissão da herança aos filhos legítimos, excluindo a possibilidade de filhos de relações extraconjugais no direito da herança familiar (ENGELS, 1995).

Juntamente com a conquista da fidelidade conjugal surgiu o direito de divórcio, ao qual, caberia aos cônjuges desfazerem do vínculo conjugal, caso não estivessem mais satisfeitos com a relação conjugal (ENGELS, 1995). Podendo-se perceber que o sentimento de amor é um importante fator na prevenção da infidelidade, e consequentemente, na satisfação conjugal, mas não a única, pelo fato da relação conjugal envolver outras características conjugais importantes à manutenção da relação (MAGALHÃES; FÉRES-CARNEIRO, 2003).

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As mudanças ocorridas na sociedade tiveram contribuições das ideologias, que aconteciam na tentativa de respeitar a liberdade e o desejo do indivíduo nas escolhas sociais, estas vieram se refletir também nos papéis conjugais (TRIGO, 1989). Podendo-se pensar que cedeu lugar a construção de novos modelos conjugais na sociedade moderna, transformando as relações de gênero nas convivências conjugais. Conforme Velho (1995, p.232), “as ideologias individualistas são variadas e complexas, mas, enquanto conjuntos expressam e produz um novo quadro de valores que se opõem a ordem hierárquica tradicional”, isto, com o intuito de atender as novas demandas sociais.

Uma dos movimentos sociais ocorridos no século XX (1960/ 1970) foi o movimento feminista que se iniciou na Europa e nos Estados Unidos, e logo depois veio repercutir também no Brasil (GOLDENBERG, 2001). O movimento feminista vem se organizar frente à insatisfação da divisão sexual de trabalho, reivindicando igualdade nos papéis sociais na esfera pública e também na privada, modificando as características conjugais tradicionais e a insatisfação conjugal da mulher perante o papel social estabelecido (JABLONSKI, 2007).

O homem como único provedor e a mulher como única responsável pela manutenção do lar e da criação dos filhos vem sucumbir lugar a dois provedores do lar, devido à participação da mulher na renda familiar (JABLONSKI, 2007), o que acabou por contribuir para o declínio das desigualdades sociais entre homens e mulheres perante o movimento feminista. Percebe-se que a participação da mulher na renda familiar contribuiu não somente para o declínio da desigualdade social entre os gêneros (ENGELS, 1995), mas, também para o apaziguamento das situações geradoras de conflitos e tensões (VELHO, 1995) que também podem prejudicar a satisfação conjugal, devido a esta desigualdade social perante a contribuição na renda familiar.

Segundo Goldenberg (2001), as conquistas feministas com o redimensionamento dos papéis sociais tanto na esfera pública quanto na esfera privada, isto é, dentro e fora do lar, vem afetar significantemente a saúde da mulher moderna. Pode-se pensar que, embora os movimentos feministas tenham produzido autonomia e independência às mulheres, proporcionando satisfações no âmbito social e conjugal, as exigências modernas possivelmente acabaram por afetar a saúde das mulheres num todo, devido ao excesso de trabalho nas duas esferas, o que acabou também por contribuir para o desgaste conjugal e consequentemente à

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insatisfação conjugal, ou seja, se ganha de um lado e perde-se de outro ou vice-versa.

Uma das conseqüências das mudanças sociais perante os papéis conjugais foi à opção dos cônjuges em abdicarem da procriação (MACFARLANE, 1990). A necessidade dos cônjuges de procriarem foi uma importante característica da conjugalidade do século XVI (ARIÈS, 1981). Essa liberdade por escolher não ter filhos, deve-se ao fato dos cônjuges se bastarem na relação conjugal não necessitando de mais um membro familiar, pelo fato dos cônjuges estarem satisfeitos um com o outro, não atendendo as antigas características da conjugalidade dos séculos anteriores com a presença de filhos. Neste momento se percebe a presença do filho irrelevante à satisfação conjugal, sendo que, esta em um dado momento histórico foi responsável pela noção de família na sociedade (ARIÈS,1981). No entanto Matos (2000) percebe a abdicação da procriação pelo fato das mulheres possuírem outras possibilidades além da maternidade, como: o acesso a educação e ao trabalho remunerado por exemplo.

A sexualidade no século XX além dos fins de procriação como era em séculos passados, agora é percebida como algo ligado ao prazer individual até mesmo podendo ser praticado antes e fora da relação conjugal. Embora mudanças sociais tenham ocorrido no cenário da conjugalidade, como é o caso da liberadade sexualidade no século XX, o respeito pelo desejo do indivíduo nas escolhas tanto conjugais quanto individuais ainda não são suficientes à satisfação conjugal, pois já se tem consciência segundo alguns autores, de que as relações conjugais possuem características além dos sentimentos amorosos os deveres cotidianos (MAGALHÃES; FÉRES-CARNEIRO, 2003). O sucesso conjugal não depende somente da presença do amor entre os cônjuges, envolve outras necessidades exigidas pelo meio conjugal tais como – o companheirismo, a segurança financeira, as responsabilidades, o respeito, enfim, todas as variáveis que implicariam na manutenção e consequentemente na satisfação das diferentes necessidades de cada um dos cônjuges na relação (LEITE; MASSAINI, 1989). No entanto, Matos (2000) percebeu durante o processo de análise com seus pacientes, que na relação conjugal a confiança, o cuidado com o outro e a responsabilidade fazem mais diferença numa relação bem sucedida do que aquelas pautadas no dever e nas obrigações cotidianas como é entendido por Leite; Massaini (1989).

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Segundo Jablonski (1998), “o amor permanece quase que como a única razão para se casar (p. 71)”. No entanto, o mesmo autor entende as pessoas quando pedidas que avaliassem suas relações ao longo do tempo consideraram variáveis de peso como responsáveis pela satisfação conjugal o amor e o companheirismo, e ao longo da convivência conjugal a estabilidade e a segurança financeira. Pode-se pensar a partir da idéia que o amor romântico serve apenas como impulso à conjugalidade, mas não a mantém, pois com o decorrer da convivência conjugal, outras necessidades de satisfação vão adquirindo importância perante a satisfação conjugal, cedendo lugar à idéia de um amor mais companheiro perante as dificuldades cotidianas (GIDDENS, 1993). No entanto Bauman (2003) percebe que nas relações as pessoas procuram à satisfação imediata como ocorre com os bens de consumo, isto se deve pelo fato da satisfação conjugal ocorrer em longo prazo, pois o desejo é algo que precisa ser cultivado, e no mundo de “velocidade e aceleração” não haveria tempo para se construir o “amor companheiro” de Jablonski (1998). Ainda, segundo Bauman (2003), as pessoas preferem relações pautadas na veemência das emoções, podendo as pessoas serem trocadas quando não satisfazem mais seus parceiros. Mas, Matos (2000) entende que as variáveis segurança financeira e a felicidade decorrentes das emoções fortes não precisam se opor conforme os autores acima citados expõem, estas podem se juntar e contribuir à satisfação conjugal.

Outra característica da conjugalidade foi à idéia do amor romântico que surgiu no século XVIII (KORFMANN, 2002) propondo sentimentos novos às relações conjugais, as quais se baseavam nos ideais da literatura romântica sobre a relação amorosa, pois até o século XV a concepção de família estava pautada na realidade social e moral, como já foi citado, mais do que na relação sentimental amorosa dos cônjuges (ARIÈS, 1981). Isso corrobora com a idéia de Jablonski (1998). Este autor entende que “em termos históricos, quando os jovens começaram a se ver livres para escolher seus pares, o amor começou a se impor como critério ou bússola para nortear as preferências conjugais (p. 84)”.

O amor romântico como característica da conjugalidade veio contribuir significantemente para as características da relação conjugal no século XX e consequentemente à crise conjugal. Pois, segundo Jablonski (1998) “[...] a própria sociedade passa a criar nos indivíduos uma expectativa impossível de ser alcançada ao tornar sinônimos amor e casamento [...] (p. 84)”. O surgimento da idéia do amor

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romântico na conjugalidade vem afetar principalmente a mulher, pois esta qualidade do amor tem como características em sua composição além do sentimento de amor - o espaço doméstico, a submissão da mulher ao homem, pois esta contribuiria à experiência da paixão (RIBEIRO, 2007), à idéia de que o amor é único e para sempre, a criação dos filhos com a noção de maternagem entre outras, aos quais são considerados características dos ideais da literatura romântica.

A valorização dos afetos destinados à mulher perante a idéia do amor materno, filial e conjugal (GIDDENS, 1993; TRIGO, 1989) acabou por valorizar a figura feminina no meio social, contribuindo para o declínio do poderio do chefe de família no século XIX, conhecido como modelo patriarcal de família. E, ao homem afetou de um modo que caberia na relação conjugal fazer somente o uso da razão na tomada das decisões familiares, cabendo as mulheres o uso das emoções.

Segundo Jablonski (1998), o processo de passagem do amor romântico para o amor companheiro na relação conjugal, ocorre devido à diminuição da idealização que um cônjuge tem sobre o outro, pois o amor romântico se caracteriza pela projeção dos ideais do enamorado a outrem (FREUD, 1996). A idealização de um cônjuge sobre o outro vai diminuindo através das convivências conjugais, pelo fato dos cônjuges ainda não se conhecerem realmente e de não estarem cientes das novas exigências do meio conjugal, que se caracteriza por ser diferente da fase de namoro (JABLONSKI, 1998).

Essa consciência poderá acontecer brevemente com o convívio conjugal perante as dificuldades cotidianas, a partir de então se exige dos cônjuges um amor ainda mais companheiro do que aquele da fase de namoro, devido às novas exigências conjugais contribuindo para as dissoluções conjugais.

A seguir serão apresentadas as características da conjugalidade na contemporaneidade, ao qual se percebeu outras formas de se relacionar conjugalmente.

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2.4 AS CARACTERÍSTICAS DA CONJUGALIDADE NA CONTEMPORANEIDADE

Segundo Jablonski (1998), o sucesso de alguns relacionamentos se deve ao companheirismo existente entre os cônjuges, o qual decorre de um amor companheiro e não romantizado. A relação baseada em princípios de companheirismo entre os cônjuges é fundamental para o sucesso dos relacionamentos conjugais do século XX, pelo fato deste autor entender que este tipo de relacionamento atende melhor às exigências da vida conjugal moderna. Muito embora os cônjuges entendam que para o sucesso conjugal o sentimento de amor por si basta na relação conjugal, pois este sentimento é considerado pelos cônjuges como sendo única responsável pela união e consequentemente à perpetuação conjugal (JABLONSKI, 1998).

Ainda, segundo o mesmo autor, essa percepção dos cônjuges em acharem o amor romântico como único responsável pela perpetuação da união conjugal, vem contribuindo para a crise das relações conjugais do século XX, pois o amor romântico não sobrevive às exigências conjugais e este seria substituído pelo companheirismo entre os cônjuges, muito embora os cônjuges não entendam esta transição. No entanto segundo Bauman (2003), a crise das relações conjugais não se deve porque os cônjuges não entendem a passagem do amor romântico para o amor companheiro, mas pelo fato das pessoas não desejarem uma relação baseada em companheirismo, mas sim, desejarem as emoções que decorrem do amor romântico, e quando os cônjuges não mais satisfazem os desejos há a possibilidade de trocar por outro, e esta ausência de satisfação dos desejos seria o responsável pelas dissoluções conjugais, no que se refere aos sentimentos responsáveis pela perpetuação conjugal.

No que se refere aos modelos de conjugalidade Morgan (1818/ 1881 apud ENGELS, 1995) entende que as características conjugais são produtos do sistema social vigente, surgindo para atender as demandas sociais de cada época. Um exemplo destes produtos criados pela sociedade é o modelo hierárquico de conjugalidade, que se aproxima da organização familiar do patriarcado, devido à delimitação e a diferenciação dos papéis conjugais perante os cônjuges. Neste modelo de conjugalidade a identidade paterna é quem detém o poder nas tomadas de decisões e no sustento familiar (LAGO et al., 2004). Estas características

Referências

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