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Capítulo III – Sobre a relação entre as ciências naturais e as ciências sociais: do

3.5. As ciências naturais nas relações internacionais

A forma como determinados campos das ciências naturais influenciaram teóricos das relações internacionais – do cientificismo à metáfora – poderia ser abordada a partir de diversos marcos ao longo da história da disciplina, ou mesmo antes de sua institucionalização. À primeira vista, a o papel desempenhado pelo

behaviorismona elaboração de teorias e métodos do “realismo científico”, típico do

segundo grande debate, soa como a alternativa mais promissora.

O núcleo duro do behaviorismo consiste em primar pelo estudo do comportamento, isto é, de um elemento passível de descrição e observação empírica, em detrimento de qualquer referência a elementos considerados intangíveis – como a

Não será desenvolvida aqui uma análise minuciosa sobre a história do behaviorismo. Como ilustração, é possível afirmar que Ivan Pavlov, mediante sua teoria dos reflexos condicionados, fora o fundador dessa corrente – a qual, contudo, teve um programa de pesquisa mais especificado apenas a partir dos estudos de John Watson.

Watson não apenas cunhou o termo “behaviorismo”, como também propôs uma abordagem de ordem metodológica, tendo em conta que o autor não chega a negar a existência de processos mentais, mas tão somente postula uma mudança de foco com respeito aos objetos de pesquisa da psicologia: se até então a ênfase era no estudo de sentimentos e pensamentos, a partir de Watson a pesquisa científica passa a ser identificada somente com aquilo que é passível de observação empírica, encontrando no comportamento a realidade objetiva por excelência.

Burrhus Skinner, por sua vez, pode ser considerado como o expoente do behaviorismo radical, para o qual importa desenvolver um modelo de ciência (e não apenas um método) capaz de explicar o comportamento humano sem recorrer a noções internalistas – leia-se causas internas psíquicas:

“A objeção aos estados interiores não é a de que eles não existem, mas a de que não são relevantes para a análise funcional. Não é possível dar conta do comportamento de nenhum sistema enquanto permanecemos inteiramente dentro dele; finalmente, será preciso buscar forças que operam sobre o organismo agindo de fora.” (SKINNER: 2007, 37).

Nesse contexto, Skinner pressupõe o controle e a determinação do comportamento, de modo a permitir a aplicação de métodos científicos experimentais e quantitativos em seu estudo: “As técnicas matemáticas e experimentais usadas para descobrir e expressar uniformidades são propriedade comum da ciência em geral. Quase todas as disciplinas têm contribuído para esta fonte de recursos, e todas as disciplinas se servem dela.” (SKINNER: 2007, 17). Com isso, pretende descrever, e até certo ponto prever, as ações de indivíduos e de grupos.

É certo que, no âmbito das relações internacionais, a formação do realismo científico se deu não somente a partir da contribuição behaviorista, mas também de outras áreas cognitivas, como a cibernética. De qualquer modo, importa que, como resultado, gerou-se uma crítica ao recurso à história verificado no realismo clássico, considerado excessivo pelos neorrealistas – e inclusive desnecessário, nas versões

mais radicais –, acompanhada da defesa dos métodos quantitativos no estudo da política internacional, a fim de identificar seus “padrões comportamentais” e explicá- los de forma objetiva.

O projeto “Correlatos da Guerra”, desenvolvido a partir do ano de 1963, na Universidade de Michigan (MINGST: 2009, 9 e segs.), é um caso interessante que permite perceber a aplicação do behaviorismo nos programas de pesquisas em relações internacionais.

Resumidamente, o cientista político David Singer e o historiador Melvin Small buscaram definir padrões generalizados que pudessem ser encontrados em qualquer guerra. Para tanto, iniciaram a pesquisa com ampla coleta de dados sobre conflitos internacionais entre 1865 e 1965, com relato de baixas superior a 1.000. Em seguida, codificaram os dados conforme magnitude, gravidade e intensidade dos eventos. A partir do material obtido e classificado, Singer e Small desenvolveram hipóteses específicas, com a expectativa de que as relações então delineadas pudessem levar a uma teoria capaz de explicar a ocorrência da guerra e, com pretensões similares à tradição behaviorista, prever comportamento futuro semelhante173.

Não obstante a influência do behaviorismo nas relações internacionais, a análise que se segue concentra-se na genealogia do conceito de balança de poder174, visto que, muito embora tenha sido formado e crescido a partir de analogias com o mecanicismo – e mesmo da postulação de relações mais diretas –, trata-se de uma ferramenta analítica ainda presente no pensamento contemporâneo: “Attempts to understand international relations in terms of the balance of power can be tracked back to more than five hundred years and no other theoretical concept can boast this length of provenance.” (LITTLE: 2007, 3). Com efeito, o recurso à noção de balança

173 Conforme aponta Mingst, o projeto careceu de uma série de deficiências, inclusive de ordem

metodológica: “Os bancos de dados do Correlatos da Guerra examinam todas as guerras internacionais, independentemente de diferentes contextos políticos, militares, sociais e tecnológicos. Portanto, embora as generalizações extraídas possam ser provocativas, é preciso uma descrição mais rica para realmente explicar os diferentes padrões entre guerras do final do século XIX e guerras do início do século XX.” (MINGST: 2009, 10).

174 O termo “balance of power” é traduzido para o português comumente como equilíbrio de poder,

balança de poder ou mesmo balanço de poder. Aqui, as possíveis traduções serão utilizadas como sinônimas, sem entrar no mérito de qual correlato em português seria mais adequado, partindo da constatação de que todas as traduções mencionadas são amplamente utilizadas na literatura nacional sobre o tema.

de poder é perceptível não somente no realismo clássico (Hans Morgenthau) e no neorrealismo (Kenneth Waltz), mas também nos escritos de autores da escola inglesa (Martin Wight e Hedley Bull, dentre outros).

Com relação à análise da utilização do conceito de balança de poder como instrumento explicativo da política internacional, a literatura é consideravelmente ampla, razão pela qual foi necessário operar a seleção que se segue.

Os textos de BLACK (1983) e ANDERSON (1970), ainda que com objetivos diversos, concentram-se nas teorias da balança de poder do século XVIII, cuja relevância decorre justamente do embasamento científico-natural que então é conferido ao conceito – movimento este que, na verdade, havia iniciado já no século anterior. LITTLE (2007), por sua vez, dedica-se ao estudo dos principais modelos de balança de poder após a Segunda Guerra Mundial, partindo, contudo, de um conceito mais elaborado de metáfora como forma de justificar sua sobrevivência até os dias de hoje.

Finalmente, a obra de SHEEHAN (1996) é a que possui maior relevância para os propósitos dessa pesquisa, na medida em que o autor, ao articular teoria e história, põe à mostra as raízes da balança de poder, ressaltando o papel desempenhado pelo recurso à física no que se refere ao fortalecimento teórico e à vasta disseminação do termo entre políticos e pesquisadores de relações internacionais. Igualmente, seu trabalho contribui para a dissolução de muitos preconceitos ainda existentes neste campo de conhecimento, como a associação apriorística entre balança de poder e realismo, a ser abordada adiante.

Não há dúvidas de que o princípio da balança de poder foi central ao estudo e à prática da política internacional nos últimos séculos, tendo em vista que não apenas guiou as ações de política externa dos governos, mas também forneceu uma estrutura para as explicações de alguns dos padrões recorrentes em relações internacionais – o que justifica, em parte, a pluralidade de significados que o conceito possui.

Nesse sentido, Michael Sheehan aponta dez definições de equilíbrio de poder que, apesar de algumas diferenças, possuiriam um ponto em comum: o fato de que o equilíbrio de poder envolve uma distribuição específica de poder entre os estados de modo que nenhum deles singularmente considerado, ou por meio de uma aliança,

venha a possuir uma quantidade de poder que seja irresistível perante os demais (SHEEHAN: 1996, 4).

Em seu entendimento, a polissemia do termo configura, ao mesmo tempo, sua força – pois permitiu seu uso continuado ao longo do tempo – e sua fraqueza – pois impediu uma compreensão mais aprofundada de seu sentido, não raro levando à confusão entre as dimensões descritiva e prescritiva da balança de poder.

Um dos pontos mais importantes de sua obra reside na crítica à relação entre equilíbrio de poder e realismo. Isto porque há uma tendência, senão um lugar- comum, em se associar o conceito como fruto exclusivo da tradição realista. De forma sintética, Sheehan destaca que a imagem realista das relações internacionais seria baseada no choque contínuo entre estados que buscam manter sua autonomia e aumentar sua riqueza e poder em um ambiente de anarquia. Seguindo esse raciocínio, a balança de poder seria uma característica inevitável do sistema internacional e, ao menos na visão do realismo clássico, isso se deveria à imutabilidade e à característica belicosa da natureza humana.

O principal problema é que o realismo clássico projeta uma imagem particular das relações internacionais a partir da seleção de evidências históricas do passado juntamente com o recurso a autores clássicos específicos (Hobbes e Maquiavel) para sustentar sua visão. Ocorre que essa seleção é feita de forma tendenciosa (SHEEHAN, 1996: 7). Basta, para tanto, recordar o exemplo do jusnaturalismo moderno, abordado no início do capítulo: se, por um lado, Hobbes identifica o estado de natureza com uma guerra de todos contra todos, por outro lado, Locke desenvolve uma concepção do estado de natureza bem mais elaborada, no qual o estabelecimento de relações econômicas decorrente do surgimento da moeda antecede mesmo a formação do estado pelo contrato social.

Existem inúmeras outras críticas que poderiam ser indicadas sobre o realismo clássico (definição dos conceitos de poder, soberania nacional etc.), mas a principal preocupação de Sheehan a este respeito consiste em descolar o conceito de equilíbrio

de poder da tradição realista e sustentar que sua utilidade não pressupõe uma adesão

No que se refere às origens intelectuais e ao desenvolvimento inicial do equilíbrio de poder, Sheehan diverge de David Hume e refuta a tese que associa a balança de poder à Antiguidade. Isto porque as ações tomadas pelas cidades-estados gregas, que poderiam ser consideradas análogas ao comportamento adotado em um sistema de equilíbrio de poder, não eram feitas de modo consciente para atingir esse objetivo175.

Citando Wight, sustenta o autor que o mundo grego não possuía todos os pré- requisitos para a emergência de um sistema de equilíbrio de poder, quais sejam (SHEEHAN: 1996, 27):

(i) Estados soberanos que pudessem organizar seus recursos humanos e territoriais de forma contínua e efetiva.

(ii) Sistema diplomático capaz de fornecer um fluxo regular de informações.

(iii) Entendimento, em um nível suficiente, sobre a existência de interesses comuns entre eles.

Em outras palavras, para Sheehan, a balança de poder não é uma característica inevitável das relações internacionais ao longo de toda sua história, senão que um desenvolvimento decorrente da emergência do moderno sistema de estados.

Assim, a Paz de Westfália (1648) seria o divisor de águas do longo processo que fez com que o equilíbrio de poder se tornasse o princípio central norteador das relações internacionais europeias nos séculos XVIII e XIX. Ao refutar as aspirações do papado de recriar um império cristão unificado, ao por um fim às guerras de religião e ao reconhecer formalmente o conceito de estado soberano, a Paz de Westfália teria estabelecido as condições para que o equilíbrio de poder pudesse ser aceito como um fator determinante na conduta da política externa dos países europeus (SHEEHAN: 1996, 37 e 38).

175 Ademais, haveria certo viés na referida associação, tendo em conta que “Hume was writing in the

mid-eighteenth century at a time when Britain’s policy of maintaining a European balance of power was domestically controversial and Hume was seeking the support of antiquity for the policy he himself favoured.” (SHEEHAN: 1996, 25).

Merece destaque aqui o fato de o conceito de equilíbrio de poder ter florescido no final do século XVII, marcado pelo fascínio com os avanços da física, promovidos por Newton e antes por Kepler, Galileu e Copérnico. Conforme exposto, a visão do universo como um maquinário matematicamente ordenado, proporcionada pela física, de certo modo serviu para o entendimento da balança de poder como a

mecânica da política de poder176.

Sob um ponto de vista mais amplo, pode-se dizer que e a expressão se fortaleceu nesse período por uma crise generalizada, decorrente da fragmentação da ordem religiosa medieval.

A Renascença, a Reforma e a Revolução científica, cada qual a seu modo, contribuíram para gerar uma crise de autoridade, na medida em que implicaram uma nova visão de mundo que rompia com a hierarquia do holismo medieval, criando uma concepção inovadora sobre o indivíduo e seu lugar no mundo, transformações estas que coincidem com o surgimento de novos estados, dotados de soberania com tendências gradativas rumo à secularização. De todo esse turbilhão, político e social, científico e filosófico, decorre a associação entre modernidade e equilíbrio de poder:

“The scientific revolution produced a wealth of metaphors and a fascination for the mechanics and balance. [...] With the Renaissance and the Reformation, the orderly structure and perspective of the medieval European world steadily disintegrated. Renaissance humanist thought broke with the rigid divisions of medieval society and initiated trends towards individualism and secularism. The dominance of the church was broken, a process accelerated by the onset of the Reformation which shattered the unity of Christendom. New states emerged, engaged in a steady process of centralizing power” (SHEEHAN: 1996, 44- 45).

É de se notar, contudo, que a contribuição de tais movimentos, embora decisiva, pouco tem de contínua, sendo não raro paradoxal. Antagonismos existem tanto entre os eventos em questão – basta lembrar as polêmicas entre Erasmo de

176 Martin Wight, inclusive, reconhece a importância do mecanicismo, não obstante eventuais

limitações de sua aplicação à política internacional: “O equilíbrio de poder é o princípio daquilo que poderia ser chamado de ‘a mecânica da política do poder’; e a metáfora mecanicista é útil para descrever relações internacionais, contanto que não suponhamos que ela esgota tudo de importante que pode ser dito a respeito de tais relações.” (WIGHT: 2002a, 167). Hans Morgenthau, por sua vez, ainda que evidencie inequivocamente o teor metafórico da afirmação que profere, compara o equilíbrio de poder com o equilíbrio de uma balança dotada de um “balanceador”, cuja ação seria guiada exclusivamente pela posição relativa dos pratos, independentemente de seus conteúdos (MORGENTHAU: 2003, 366 e segs.).

Rotterdam e Martinho Lutero, relativas ao papel do livre-arbítrio na salvação e à visão otimista do ser humano, como exemplos de dissonâncias entre Renascimento e Reforma – quanto no interior de cada um deles – a Revolução científica por exemplo, em momento algum representou um processo linear que, passando por Nicolau Copérnico, Giordano Bruno e Johannes Kepler, desembocou em Galileu Galilei.

Assim, Galileu ainda sustentava o movimento circular, quando Kepler já advogava a órbita planetária elíptica. Este, por sua vez, era incapaz de conceber um Universo infinito tal como proposto por Giordano Bruno, cuja fundamentação sustentava-se em argumentos antes místico-religiosos que propriamente científicos. Nesse contexto, a representação proposta por Danilo Marcondes mostra-se bastante elucidativa:

“[...] o pensamento moderno em sua gênese não constitui um todo orgânico, um pensamento uniforme ou homogêneo, sendo o resultado de diferentes contribuições, muitas vezes contraditórias, de pensadores em diversos campos do saber. Forma-se, assim, um mosaico que, visto a distância pelo olhar retrospectivo da história da filosofia, apresenta uma imagem que possui maior unidade do que se examinado de perto, quando o encaixe das peças não é tão nítido.” (MARCONDES: 1998, 154).

Realizando um parênteses na abordagem histórica, Sheehan diferencia o equilíbrio de poder como política (elemento prescritivo) do equilíbrio de poder como sistema (elemento descritivo), tendo em conta que, em seu entendimento, a confusão destes dois planos foi parcialmente responsável pela polissemia e imprecisão do termo.

Enquanto política, a balança de poder procura reforçar a criação e preservação de uma situação de estabilidade, incluindo ações que impliquem confronto de potências no sentido de prevenir que uma delas torne-se dominante em relação às demais. Enquanto sistema, a balança de poder implica interdependência: um conjunto de estados, autônomos sob o ponto de vista do poder e de suas políticas, que se encontram tão inter-relacionados de modo a tornar provável a reciprocidade do impacto de suas ações:“The first meaning may be seen as the logic of the balance of power response to a ‘Hobbesian’ international relations, while the latter reflects the ‘Grotian’ version of the concept.” (SHEEHAN: 1996, 53).

Sobre o equilíbrio de poder como política, Sheehan identifica algumas técnicas: alianças, recurso à guerra, separação e compensação, dentre outras. Essas

técnicas podem ser divididas em duas categorias básicas: políticas para fortalecimento do próprio poder e políticas para o enfraquecimento dos demais estados. De qualquer modo, chama atenção o autor para o fato de que, enquanto política, a balança de poder só pode ser produzida por meio de atos conscientes por parte dos governantes dirigidos a tal fim, traduzidos na política externa de seus países.

Sobre o equilíbrio de poder como sistema, Sheehan enfatiza o papel da

emergência nas análises sistêmicas, de modo que o equilíbrio de poder é visto mais

como resultante de um processo do que um objetivo buscado pelos atores estatais. Em outras palavras, o comportamento dos estados seria regulado antes pela natureza do sistema do que propriamente pelas decisões de seus governantes.

De fato, a visão da balança de poder como um sistema autoregulador foi continuamente reforçada pelas analogias e metáforas utilizadas no tratamento teórico do conceito, especialmente (mas não somente) nos séculos XVII e XVIII, e.g., precisão mecânica de um relógio, ou as revoluções dos corpos celestes em nosso sistema solar (ANDERSON: 1970, 189-190).

Seja no sistema solar ou na balança de poder, a ordem estaria subjacente: da mesma forma que os planetas então recém descobertos – Urano em 1781 e Netuno em 1846 – mostravam-se sujeitos às mesmas leis que regulavam os demais planetas, os novos estados que surgiam na Europa se encaixariam imediatamente nos respectivos lugares dentro do sistema, obedecendo aos mesmos princípios que regulam a posição e as ações dos estados já existentes (SHEEHAN: 1996, 80-83).

Sheehan ressalva, contudo, que durante o período clássico (1700-1918) os estados normalmente não confiavam o bastante nos estudos que defendiam um equilíbrio de poder automático, preferindo adotar concepções de um equilíbrio “manualmente operado”, isto é, um equilíbrio buscado conscientemente pelos governantes, tendo em conta que a balança de poder, nas palavras de Palmer e Perkins, não é “[...] um presente dos deuses ou algo que ocorra acidentalmente.” (apud: SHEEHAN: 1996, 83). Com efeito, os estudos sobre a balança de poder, principalmente ao longo do século XVIII, foram marcados por questionamentos do tipo:

“Was the balance of power something which emerged naturally and inevitably within a system of competing states once that system had reached a certain level of maturity? Was it therefore more or less independent of human foresight and volition, in some sense a natural phenomenon? Did the compulsions of the struggle for power affect states rather in the way that gravitation was now known to affect bodies in the physical world? Or was the balance something which ought to exist, something to be striven for by man?” (ANDERSON: 1970, 188-189).

Sem dúvida, o século XVIII foi um dos períodos com maior número de escritos sobre a balança de poder. Ao mesmo tempo, o conceito recebeu nessa época especial atenção por parte da diplomacia europeia. Tanto foi assim, que Hans Morgenthau considerou o século XVIII como a era de ouro da balança de poder (MORGENTHAU: 2003, 358-359).

Um fator fundamental para que isso pudesse ocorrer foi a ausência do nacionalismo como elemento determinante da política externa. Trata-se, entretanto, de uma afirmação por contraste: ao contrário do século XVII, o século XVIII não foi