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2ª PARTE: CONTEXTUALIZAÇÃO METODOLÓGICA E PROCEDIMENTOS DE INVESTIGAÇÃO

3. CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

3.1. As circunstâncias da pesquisa

Para operacionalizarmos o nosso estudo, tal como já referimos, o grupo amostral foi constituído por 12 (doze) professores de Língua Portuguesa para alunos surdos em duas EREBAS localizadas em duas Cidades do Norte de Portugal, assumindo, portanto, a perspectiva bilíngue de educação de alunos surdos. Esse número resultou dos contatos e visitas previamente realizadas, bem como do acordo e do parecer dos diretores das escolas. Portanto, soubemos da disponibilidade para investigação nesses locais, tendo aceitação e interesse em contribuir para a pesquisa, bem como autorização para tal.

A nossa amostra coincidiu, também, com o universo dos docentes que satisfaziam os critérios de seleção: professores de Língua Portuguesa como segunda língua (L2) de alunos surdos nas EREBAS do nosso estudo.

Após a autorização do Ministério da Educação, protocolo nº0253600001, a coleta dos dados aconteceu, quase que integralmente, durante os meses de novembro e dezembro de 2011; fevereiro a março de 2012; dezembro e janeiro de 2013. No contato individual com cada professor, foram explicados os objetivos da pesquisa, os instrumentos que seriam utilizados e a finalidade deste trabalho. Nessa ocasião, foi entregue o Termo de Consentimento Informado para que o entrevistado o lesse e assinasse-o, depois de ter afirmado que compreendeu tudo que constava no referido instrumento. O pesquisador comprometeu-se, ainda, em manter sigilo a respeito da identidade dos participantes, assim como de sua instituição de ensino.

As entrevistas ocorreram no próprio ambiente de trabalho, nos intervalos das aulas, ou em momentos que foram indicados pelos participantes, uma vez que procuramos atender à conveniência deles. Elas foram audiogravadas e

171 transcritas integralmente, buscando retratar as possíveis contribuições para o desempenho escolar do aluno surdo a partir da interpretação dos entrevistados. Os participantes consentiram na transcrição posterior, exceto uma professora do 1° Ciclo da EREBAS B, em uma das cidades do Norte de Portugal, que preferiu responder por escrito no próprio guião de entrevista da pesquisa, preservando, assim, a integridade dos enunciados produzidos. E duas professoras do 1° ciclo da EREBAS A, que nos responderam por escrito e enviaram por correio eletrônico.

Inicialmente, tivemos muitas dificuldades devido à ausência de registros de localização dos professores bilíngues nas instituições, horários e turmas em que eles exerciam sua atividade, visto que não havia em Portugal professores bilíngues, consequentemente, não os encontraríamos nas duas cidades escolhidas para o desenvolvimento da pesquisa doutoral. Houve, então, a necessidade de realizar as entrevistas exploratórias, que nos forneceram alguns indicadores com os quais buscamos trabalhar, procurando as informações necessárias para compor o universo da amostra doutoral que poderiam, de fato, compor a pesquisa.

Como mencionamos no início deste trabalho, tínhamos interesse em saber como esses professores percebiam a própria participação na aprendizagem e comunicação dos surdos, uma vez que nos colocávamos diante de graves problemas que se têm constituído objeto de reflexão por parte da maioria dos profissionais que lida com o grupo, especialmente se forem considerados os resultados efetivos que atingem esse aluno em relação ao domínio dos conteúdos ministrados nos diversos níveis de ensino.

Assim, fizemos com esse quantitativo/número de participantes para darmos seguimento ao aprofundamento e à reflexão no estudo em relação ao ensino de Língua Portuguesa como segunda língua para alunos surdos. Além disso, voltamos a referir que esse foi o número total de professores de Língua Portuguesa para alunos surdos disponíveis nas duas Escolas de Referência para a Educação Bilíngue Alunos Surdos (EREBAS), na qual a pesquisa foi realizada.

A chegada dos alunos surdos à Escola parece ter destacado ainda mais os resultados obtidos pelos professores. Devido a isso, sentimos a necessidade de conhecer melhor em que condições a proposta bilíngue

172 adotada era implementada, destacando a figura do professor de Língua Portuguesa, trazendo os relatos sobre as condições de sua participação na construção desse processo.

A entrevista representa um dos instrumentos básicos para a coleta de dados, um instrumento utilizado em pesquisas das Ciências Humanas e, quando assumida como uma prática discursiva, segundo Pinheiro (2000:186), é tida como uma “ação contextualizada, por meio da qual se produzem sentidos e se constroem versões da realidade”.

Segundo Bogdan & Biklen (1994:134), nas entrevistas semiestruturadas, fica-se com a certeza de obter dados comparáveis entre os vários sujeitos. Conforme esses autores, quando alguém diz algo a outrem, não é possível considerar apenas esse dizer, mas a relação existente entre esses interlocutores e a situação no contexto concreto, que é de significativa importância, considerando-se que:

(...) o sentido é produzido interativamente e a interação presente não inclui apenas alguém que fala e um outro que ouve, mas todos ‘os outros’ que ainda falam, que ainda ouvem ou que, imaginariamente, poderão falar ou ouvir. É sob esse ângulo que o diálogo amplia-se, incluindo interlocutores presentes e ausentes (idem:194).

Tendo isso em vista e partindo do princípio de que o investigador deve ter claro o tipo de informação que pretende obter, bem como os modos mais apropriados para recolhê-la (Albarello, Digneffe, Hiernaux, Maroy, Danielle & Saint-Georges, 2002; Bogdan & Biklen, 1994; Bardin, 1989; Flick, 2005), utilizamos os seguintes instrumentos de recolha dos dados:

a) a entrevista semiestruturada que, no nosso estudo, assumiu particular importância, já que a maior parte da informação necessária para a compreensão da problemática que aqui nos ocupa foi recolhida por meio dela. Tivemos perguntas predeterminadas, porém abertas, buscando favorecer o aspecto dialógico no momento da entrevista (anexo o guião de perguntas), a qual dá condições ao entrevistado de discorrer livremente sobre o tema proposto;

b) análise documental, por meio da qual procuramos recolher informação importante – quer para a organização, quer para a realização das entrevistas –, como também documentos oficiais que

173 embasam o programa de inclusão na perspectiva bilíngue na educação de alunos surdos em Portugal.

Os dados foram tratados de forma a ressaltar as principais ideias expressas pelos participantes da pesquisa, para daí podermos reuni-las com o objetivo de conhecer a posição dos professores sobre o contexto do processo de ensino-aprendizagem da língua portuguesa do aluno surdo, circunscrito ao contexto do nosso estudo, assim como a sua participação nesse processo.