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2ª PARTE: CONTEXTUALIZAÇÃO METODOLÓGICA E PROCEDIMENTOS DE INVESTIGAÇÃO

CATEGORIAS NÚMEROS DE PROFESSORES DE LP PARA ALUNOS SURDOS

Com conhecimento e ciência do significado da Proposta Educacional

Bilíngue para alunos surdos 7 (P1, P5, P8, P9,P10, P11 e P12) Sem conhecimento nem ciência do

significado da Proposta Educacional

Bilíngue para alunos surdos 5 (P2, P3, P4, P6 e P7)

TOTAL 12

Em relação ao Quadro 2, relativo ao conhecimento e à ciência do significado da Proposta Educacional Bilíngue, foram feitas as seguintes perguntas aos 12 (doze) professores de LP: O que significa a Proposta Educacional Bilíngue para alunos surdos? E qual conhecimento tem a respeito?

Dos 12 (doze) professores de LP, 7 (sete) – P1, P5, P8, P9, P10, P11 e P12 – tinham conhecimento a respeito da Proposta Educacional Bilíngue para atuar com alunos surdos em sala de aula. É o que podemos constatar nas falas transcritas a seguir.

191 P1: “Significa acreditar que a proposta bilíngue é a forma correta de se trabalhar com os alunos surdos, respeitando assim o nível de literacia do aluno surdo em Língua Portuguesa, bem como conhecer a Língua Gestual Portuguesa que deve ser a primeira língua desses alunos”.

P5: “A criação formal do ensino bilíngue veio dar suporte institucional e legal a práticas de ensino que já vínhamos experimentando, sempre e quando possível, e pelas quais lutávamos já há vários anos. Todos os que trabalham com alunos surdos sabem da necessidade de usar um meio de comunicação eficaz e que normalize o mais possível a apropriação dos conteúdos pelas crianças surdas. Quando o processo ensino-aprendizagem decorre na língua natural dos alunos, tudo se encaminha para o sucesso educativo das crianças. Daí ser minha convicção que é esta a proposta educacional mais adequada a estes alunos”.

P8: “Significa trabalhar a Língua Portuguesa (LP) como segunda língua (L2) e a Língua Gestual Portuguesa (LGP) como 1ª língua”.

P9: “Significa trabalhar com duas línguas que se completam”.

P10: “É saber trabalhar em sala de aula com duas línguas e, portanto, transmitir conhecimento para os alunos surdos na Língua Gestual, permitindo assim dar respostas a meninos que não tinham respostas, porque o ideal é que o Professor que está em sala de aula de Língua Portuguesa saiba a Língua Gestual”.

P11: “Significa trabalhar numa proposta educacional levando em consideração a Língua Gestual Portuguesa (LGP) como primeira língua e a Língua Portuguesa (LP) como segunda língua na modalidade escrita sempre que é possível”.

P12: “Significa ver finalmente consagrado na lei o que a minha experiência e conhecimentos indicavam como melhor forma de ensino e educação de surdos”.

A pesquisa adotou, como aparato teórico, o seguinte posicionamento: a proposta educacional bilíngue como caminho de acesso à aquisição da Língua Portuguesa (LP) como segunda língua (L2) para alunos surdos. Daí termos estabelecido, como um de nossos objetivos específico, conhecer o posicionamento dos professores de LP em relação ao ensino da Língua Portuguesa (LP) como segunda língua (L2) para atuar em sala de aula com alunos surdos.

Esse posicionamento, conforme podemos verificar a partir da leitura das falas acima transcritas, advém do conhecimento e da ciência do significado da Proposta Educacional Bilíngue. É o que percebemos de forma muito clara e sucinta na fala de P12: “Significa ver finalmente consagrado na lei o que a minha experiência e conhecimentos indicavam como melhor forma de ensino e educação de surdos”.

192 Outras falas também sinalizam o conhecimento e a ciência do significado da Proposta Educacional Bilíngue por parte desses 7 (sete) professores e julgamos que vale a pena destacar alguns trechos de algumas dessas falas transcritas a fim da ratificarmos a nossa constatação: “Significa acreditar que a proposta bilíngue é a forma correta de se trabalhar com os alunos surdos...” (P1); “A criação formal do ensino bilíngue veio dar suporte institucional e legal a práticas de ensino que já vínhamos experimentando, sempre e quando possível, e pelas quais lutávamos já há vários anos.” (P5).

Nessas falas, verificamos a segurança quanto ao acatamento da Proposta. Essa segurança decorre tanto do conhecimento que esses professores têm dessa Proposta como da ciência do que ela significa. E, para nossa satisfação, essa associação entre conhecimento e ciência parece ser anterior ao fato de essa Proposta ter-se tornado legal, até porque, como podemos perceber na fala de P5 – “... pelas quais lutávamos já há vários anos.” –, era esse o desejo de quem sabe bem o que significa a proposta educacional bilíngue como caminho de acesso à aquisição da Língua Portuguesa (LP) como segunda língua (L2) para alunos surdos.

Essa luta em prol da realização desse desejo também está presente na fala de uma das participantes (PE) da entrevista exploratória. Nesse depoimento, podemos observar a posição dos profissionais da Educação quanto ao Despacho 7520 e, em seguida, ao Decreto-Lei n° 3/2008. Vejamo-lo, então.

“O 7520 foi assim uma porta aberta, uma janela aberta para entrar ar fresco para dentro de um sistema que estava abafado pelo 319. Quer dizer, na minha carreira houve dois momentos muito felizes, não é em termos pessoais, é em termos da educação de surdos, que foi o início das propostas que eram aprovadas logo, a formação com os suecos para todos os professores, mesmo para aqueles professores que não eram especializados. E depois foi o 7520 e a entrada dos formadores surdos nas escolas e dos intérpretes, acho que foi um passo em frente o 7520. A própria Direção Regional mudou a atitude para conosco, passou a apoiar a nossa forma de trabalhar e houve uma aproximação dos responsáveis da DREN à Escola de Paranhos. O reconhecimento da LGP como língua na Constituição foi um marco importantíssimo, embora, na prática, a utilização da LGP já fosse um facto no dia a dia das escolas onde funcionavam núcleos de alunos surdos. Desde o início da década de 80 que tínhamos recebido alguma formação nessa área, já dada por adultos surdos. Mas o reconhecimento oficial contribuiu, com certeza, para a publicação do Despacho 7520/98 de 6 de Maio. [...] Sempre que as escolas organizam turmas de surdos baseando-se no Decreto-Lei n° 3, sem qualquer contacto com ouvintes, é menos enriquecedor. [...] Pessoalmente acho que o Decreto- Lei nº 3, embora defenda uma perspetiva bilíngue, tem muitas falhas, há coisas no Decreto-Lei 3 de

193 que eu não gosto nada. A escola intitula-se bilíngue, mas é só o rótulo, porque os professores não dominam a língua gestual, há alunos que ainda não a dominam e uma coisa muito grave que está a acontecer é que estão a agora admitir formadores de LGP ouvintes”.

Segundo Rebelo (2013), o que legitima em Portugal claramente a filosofia Bilíngue para a Educação dos surdos é o Decreto-Lei n° 3/2008, de 7 de janeiro, que

institui a criação das EREBAS, determinando igualmente a introdução de áreas especificas no currículo dos alunos surdos e tendo, pois, a LGP como primeira língua (L1) e a Língua Portuguesa como segunda língua (L2). No entanto, os alicerces do projeto educativo bilíngue só foram reforçados em 2011, com a homologação do Programa de Português Língua Segunda (PL2) para alunos surdos, para os Ensinos Básico e Secundário. Sabemos que é hoje uma evidência que a LGP deve ser a primeira língua dos alunos surdos, mas tal constatação não desvirtua a importância da LP como língua de acesso à relação com o mundo ouvinte.

Por outro lado, em relação a 5 (cinco) dentre os professores de LP entrevistados (P2, P3, P4, P6 e P7), observamos quanto essa proposta ainda é pouco analisada e compreendida, o que implica dificuldades na execução desse trabalho. Em outras palavras, esses professores não têm o necessário conhecimento e ciência do significado da Proposta Educacional Bilíngue. É o que revelam os fragmentos extraídos de entrevistas abaixo registrados.

P2: “É um grande desafio para mim, para quem nunca teve nenhum tipo de formação na área do bilinguismo, especificamente com alunos surdos. É uma grande dificuldade tendo em conta que sou eu que elaboro todo o material, os alunos não têm manual escolar, uma vez que o manual escolar dos alunos do 5° ano, dos alunos ouvintes, não se adapta às características dos alunos surdos e, portanto, acaba por me dar um trabalho enorme que eu de alguma forma ocupo meu tempo todo com eles.”

P3: “É muito difícil. No início eu fazia as coisas, os materiais para eles, pensando como ouvinte, e os exercícios não chegavam até eles porque eles não pensavam como eu, o nível das atividades era elevado e é muito complicado trabalhar nessa situação porque não tenho conhecimento do que é o mundo da surdez”.

P4: “Não tenho conhecimento, sou professora de Língua Portuguesa, não especialista. E tenho intérprete na aula, a intérprete traduz e eu sou a professora de Língua Portuguesa. Mas sei que são

194 dois mundos, duas línguas. A educação bilíngue será o respeito pela idiossincrasia das duas línguas. Mas eu não sinto nenhuma necessidade em saber a Língua Gestual Portuguesa”.

P6: “Conhecimento é muito pouco e nas minhas aulas sempre conto com a ajuda da intérprete de LGP”.

P7: “Eu fazer uma proposta? É melhor ser bilíngue do que unilíngue. Fui colocada cá e não tenho qualquer conhecimento para trabalhar com alunos surdos. Meu contato com os alunos surdos são três horas semanais em três tempos de quarenta e cinco minutos”.

Percebemos, nas falas de P2, P3, P6 e P7, a dificuldade em relação à Proposta Educacional Bilíngue devido, conforme registramos anteriormente, à falta de formação específica para trabalhar com alunos surdos. Essa falta é ratificada nas seguintes declarações: “É um grande desafio para mim, para quem nunca teve nenhum tipo de formação na área do bilinguismo, especificamente com alunos surdos...” (P2); “...é muito complicado trabalhar nessa situação porque não tenho conhecimento do que é o mundo da surdez” (P3); “Conhecimento é muito pouco...” (P6); “[...] Fui colocada cá e não tenho qualquer conhecimento para trabalhar com alunos surdos.” (P7).

Por conta dessa falta de conhecimento e, portanto, de ciência do significado da Proposta Educacional Bilíngue, dois dos professores de LP acima indicados declaram sobrecarga de trabalho, executado também com dificuldade. Isso fica explícito nos seguintes trechos: “[...] É uma grande dificuldade tendo em conta que sou eu que elaboro todo o material [...] e, portanto, acaba por me dar um trabalho enorme que eu de alguma forma ocupo meu tempo todo com eles.” (P2); “[...] No início eu fazia as coisas, os materiais para eles, pensando como ouvinte, e os exercícios não chegavam até eles porque eles não pensavam como eu, o nível das atividades era elevado...” (P3).

Entretanto, observamos, na fala de P4, certo “descompromisso”: “sou professora de Língua Portuguesa, não especialista. E tenho intérprete na aula, a intérprete traduz e eu sou a professora de Língua Portuguesa. [...] Mas eu não sinto nenhuma necessidade em saber a Língua Gestual Portuguesa”. Um descompromisso que é apenas sugerido na fala de P6 – “Conhecimento é muito pouco e nas minhas aulas sempre conto com a ajuda da intérprete de LGP” – que transfere, de certa forma, essa responsabilidade para o intérprete.

195 Contudo o que nos chamou mesmo a atenção foi o depoimento da Professora de Língua Portuguesa não especialista (P4) na Educação de alunos surdos que, embora saiba haver duas línguas envolvidas na Educação Bilíngue de alunos surdos e que os alunos deverão ser imersos nas duas línguas assim como o Professor de Língua Portuguesa, não sente a necessidade de saber a primeira língua dos seus alunos, a língua natural, a LGP. P4 tem 3 alunos surdos com nível B1 em Proficiência em Língua Portuguesa e são alunos surdos que fazem boa leitura labial, são surdos oralizados. P4 tem a ajuda do intérprete em LGP em sala de aula.

Conforme Artigo 23° do Decreto-Lei n°3/2008, entende-se por Educação Bilíngue de Alunos Surdos que a Educação das crianças e jovens surdos deve ser promovida em ambientes bilíngues que possibilitem o domínio da LGP (Língua Gestual Portuguesa), o domínio do Português escrito e, eventualmente, falado, competindo à escola contribuir para o crescimento linguístico dos alunos surdos, para a adequação do processo ao currículo e para a inclusão escolar e social.

O artigo 23° do Decreto-Lei n°3/2008 expõe claramente que: A educação Bilíngue de Alunos Surdos deve ser promovida em ambientes bilíngues (grifo

nosso), o que significa que os alunos surdos devem ter contato com a sua língua natural, a LGP, e a LP na modalidade escrita, como também que os professores devem ser fluentes na LGP, comunicando-se assim com os alunos surdos.

Essa questão acima citada corrobora o que Quadros (1997) constatou por meio de pesquisas, a partir da década de 1980, em relação ao bilinguismo para alunos surdos: o significado da proposta bilíngue é considerar a língua gestual como 1ª língua do aluno surdo e como 2ª língua a língua majoritária da comunidade em que ele está inserido.

E, sobre essa compreensão, assim se colocou uma das Professoras da entrevista exploratória (PE):

PE: “Defendo para as crianças surdas uma educação bilíngue, mas sem qualquer visão fundamentalista: língua gestual como língua primeira e língua portuguesa como língua segunda, na sua componente escrita, mas também, sempre que possível, oral”.

Nesse caso, a Língua Portuguesa passa a ser vista como uma segunda língua, como uma língua instrumental, cujo ensino objetiva desenvolver no aluno habilidades de leitura e escrita. Mas, para isso, os professores de Língua Portuguesa

196 também deverão ser fluentes em LGP, mas os relatos dos Professores de LP entrevistados revelam que eles não têm ainda proficiência em LGP para atuarem com seus alunos. Exemplo disso é a seguinte fala:

P4: “Acho que há uma ‘guetização’ enorme para mim que não sou especialista. Penso que isso deva ser visto e aqui os ouvintes não falam a Língua Gestual. Existe uma oposição entre ouvintes e os surdos. Não sou especialista e dou aulas aos alunos surdos com o apoio do intérprete”.

Contudo a formação do professor não é o único desafio. Há também o problema da falta de condições para o trabalho com os alunos surdos. É o que observamos no seguinte fragmento do relato de PE (Professora da entrevista exploratória):

PE: “Para que a metodologia bilíngue possa ter êxito, é necessário dar atenção especial ao grupo etário dos 0 a 3 anos. Com a colaboração de formadores surdos, desde que é detetada a surdez, o acesso à leitura e escrita deve ser feito ainda no pré-escolar. Muitas vezes entram para a escola tarde, cada vez turmas maiores, que é uma coisa que não está a resultar! Nós chegamos a ter turmas de 7, 8 alunos no máximo e agora fazem turmas de 15 com a maior das facilidades, e não é mesma coisa”.

Portanto, sabe-se que a implementação do modelo de educação e ensino bilíngue em Portugal é hoje uma realidade em nível paradigmático, no entanto, em relação à sua aplicação e execução, há ainda um longo caminho a percorrer para que esse modelo de educação alcance o sucesso tão almejado por todos os profissionais que trabalham em prol do sucesso educacional e social dos alunos surdos.

Entretanto, cabe ressaltar que todas as discussões sobre educação bilíngue no mundo estão impregnadas de questões políticas, sociais e culturais, as quais não serão aqui consideradas em função de a presente pesquisa limitar-se apenas a identificar as estratégias pedagógicas utilizadas pelos professores de LP no processo de ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa (LP) como segunda língua (L2) para alunos surdos em duas EREBAS no Norte de Portugal.

Para Silva (2011), a proposta bilíngue é, sem dúvida, relevante e possível de acontecer, mas não pode continuar esperando que, um dia, o aluno surdo venha a ouvir e todos os problemas linguísticos sejam resolvidos. Faz-se urgente a mudança ideológica de toda a sociedade, porém é também utópico acreditar que isso acontecerá em pouco tempo. Ainda segundo Silva (2011), percebe-se, contudo, a

197 cada dia, que os alunos surdos vêm dominando sua língua e tendo acesso ao conhecimento. Isso vai dos seus direitos linguísticos garantidos por lei (Lei 1/97 artigo 74° h) à ocupação de seus espaços na sociedade como cidadãos plenos, com direitos e deveres.

Contudo, para que nos aproximemos do êxito da Proposta Educacional Bilíngue, em nossa pesquisa buscamos identificar se há motivação por parte dos professores de LP para o trabalho com alunos surdos. É, então, sobre isso que passamos a discorrer, registrando, incialmente, um quadro-síntese e, posteriormente, analisando as informações inseridas nesse quadro.

Quadro 3. Motivação para trabalhar com alunos surdos

CATEGORIAS NÚMEROS DE PROFESSORES DE LP PARA ALUNOS SURDOS

Existe motivação para trabalhar com

alunos surdos. 9 (P1,P5, P6, P7, P8, P9, P10,P11 e P12) Não existe motivação para trabalhar

com alunos surdos. 3 (P2, P3 e P4)

TOTAL 12

Duas questões propostas aos professores de LP pretenderam conhecer as motivações deles em relação ao trabalho com alunos surdos: como começou a trabalhar com esses alunos e os motivos pelos quais fez esta opção. Algumas respostas apontam demandas institucionais: substituição de colegas, nomeação após concurso público ou contrato emergencial, inclusão de alunos surdos atendendo às especificações do Decreto-Lei n°3/2008. Nesses casos, 3 (três) Professoras de LP (P2, P3 e P4) enfatizaram que trabalhar com alunos surdos não se constituiu em uma opção pessoal, mas imposição institucional devido à demanda de alunos surdos e necessidade da Escola.

No Quadro 3, acima exposto, verificamos que o número de professores de LP (nove) motivados para trabalhar com alunos surdos é surpreendente, visto que os dados evidenciam que a motivação está associada ao conhecimento e à fluência da Língua Gestual assim como à experiência com alunos surdos em sala de aula.

Dos 9 (nove) professores de LP (P1, P5, P6, P7, P8, P9, P10, P11 e P12) entrevistados que afirmaram existir motivação para trabalhar, 5 (cinco) são do 1° Ciclo (P5, P8, P9, P10 e P12), têm habilitação em LGP e são especialistas em

198 surdez. Uma professora (P1) foi a criadora do Programa Projeto-Escola de Literacia junto com o Coordenador na EREBAS A; e 4 (quatro) professores de LP são do 2° e 3° ciclos (P1, P6, P7 e P11). Dois professores de LP, P6 e P7, afirmaram ter motivação para trabalhar com alunos surdos, apesar de não terem formação específica na Educação de alunos surdos e ser a primeira vez que têm contato com alunos surdos, pois apenas têm experiência no ensino de língua estrangeira (Português/Francês e Português/Inglês). Duas professoras de LP, P1 e P11, possuem pós-graduação para atuarem com alunos surdos (Especialização, Mestrado e Doutorado).

Segundo o dicionário Aurélio Buarque de Holanda (1990), “motivação” significa ação ou efeito de motivar, despertar o interesse, incentivar, estimular. Se a causa maior for sempre a favor do melhor aprendizado dos alunos surdos, proporcionando qualidade ao desenvolvimento global, reafirmamos que isso, sim, é a real motivação para os 9 (nove) professores de LP; caso contrário, serão meros funcionários de uma repartição com preocupação central em exercer sua função e cumprir horários. Nos fragmentos de entrevista abaixo transcritos, percebemos que há motivação.

P1: “Sinto-me bastante motivada para trabalhar as questões que envolvem os alunos surdos porque vamos, (...) estar a fazer o que acreditamos e é o melhor caminho”.

P5: “A possibilidade de participar num projeto de trabalho em que acredito e ter o privilégio de trabalhar com uma equipa de eleição”.

P6: “Estou sempre a aprender, o meu conhecimento é pouco e nas minhas aulas sempre conto com a ajuda da intérprete. Os alunos surdos gostam de nos ensinar os gestos e também gosto de aprender com eles. Embora seja meu primeiro ano que leciono aqui nesta Escola de Referência”.

P8: “Gosto da forma de trabalhar que permite criar, ver soluções e ajudar”. P9: “Eu gosto porque é diferente”.

P10: “A primeira motivação foi mesmo dar respostas a meninos que não tinham respostas e eu comecei a trabalhar no Ensino regular e fui me apercebendo que havia algumas crianças surdas perdidas nas aldeias sem respostas e fui procurando um caminho até chegar aqui nas crianças, sendo o meu primeiro contato. Podemos transmitir um pouco de conhecimento, teorização. Gosto muito de trabalhar com esses alunos. É bastante motivante permitir coisas que de outras formas não seriam possíveis para eles. É o ideal que o professor que está na sala de aula de Língua Portuguesa saiba a Língua Gestual Portuguesa. Deveria ter mais professores.”

199 P11: “Comecei na época do oralismo com muito entusiasmo e vontade para trabalhar com alunos surdos”.

P12: “O que me motiva é trabalhar num projeto que faz sentido e em que acredito”.

Estamos vendo, a partir dos relatos acima expostos, que a motivação do professor de LP para trabalhar com alunos surdos está associada ao conhecimento que tem a respeito da Proposta Educacional Bilíngue. Ou seja, constatamos que conhecimento e fluência em LGP para preparar uma boa didática influenciam muito no aprendizado da Língua Portuguesa. Além de conhecer as necessidades de aprendizagem do aluno surdo por meio de informações visuais, por exemplo, obtém bons resultados, segundo informações colhidas nas entrevistas com os 9 (nove) professores de LP motivados para trabalhar com alunos surdos. Desses 9 (nove) professores de LP motivados, 2 (dois), P6 e P7, sentem-se motivados para atuarem com alunos surdos, apesar da falta de formação específica na Educação Bilíngue de Alunos Surdos.

Segundo dados colhidos na entrevista exploratória com uma das participantes,

PE: “... pelo menos na escola em que eu estava havia, pelo contrário, uma grande curiosidade da nossa parte, uma grande vontade de aprender com eles”.

Vemos, então, que, naquela época, havia motivação, empenho, esforços em busca de bons resultados e melhoria para que os alunos surdos fossem bem vistos e