• Nenhum resultado encontrado

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 As Mudanças do Trabalhador e do Processo de Trabalho

2.1.4 Na Idade Moderna – o Capitalismo

2.1.4.1 As Corporações de Ofício

Nas cidades já se desenvolviam atividades diversas de forma artesanal. Os aprendizes produziam junto com o mestre artesão nas chamadas corporações de ofício.

A concorrência dos servos fugitivos que não cessavam de afluir às cidades, o vínculo da propriedade em comum com um determinado trabalho, a necessidade de edifícios comuns para a venda de mercadorias e a consequente exclusão de pessoas não qualificadas de tais estabelecimentos, a oposição de interesses entre os diferentes ofícios, a necessidade de proteger o trabalho aprendido a duras penas e o fim da organização feudal, foram as causa que levaram os trabalhadores de cada ofício a se unirem em corporações (Marx, 1987: 79).

“Cada trabalhador das corporações devia estar apto a executar todo um ciclo de trabalhos e preparado para fazer tudo o que pudesse produzir com suas ferramentas” (Marx, 1987: 81).

As regras dessas corporações eram bastante rígidas, tanto em relação ao como produzir, como em número de integrantes. O mestre mantinha com seus aprendizes uma relação patriarcal, influindo em sua vida particular e organizando o trabalho como melhor lhe aprouvesse.

Os servos que chegavam do campo uniam-se a alguma dessas corporações, ou passavam a condição de trabalhador diarista, integrando a plebe da cidade.

As corporações de ofício não tinham como objetivo a extração da mais-valia ou a obtenção de lucro. O objetivo era a produção pela produção, uma vez que:

...o capital nessas cidades era um capital surgido naturalmente, que consistia em habitação, ferramentas e em uma clientela natural e hereditária; transmitia-se de pais para filhos como capital irrealizável devido ao incipiente comércio e à escassa circulação. Este não era como o moderno, um capital avaliável em dinheiro, que pode ser investido indiferentemente, mas era um capital diretamente ligado ao trabalho determinado do possuidor e dele inseparável; era, portanto, nesse sentido, um capital corporativo (Marx, 1987: 81).

As associações de mercadores nas cidades livre da Europa … tinham uma ideia limitada sobre a aquisição de propriedade. Elas fixavam o preço e a quantidade de sua produção para meramente reproduzir sua maneira de viver, sem intenção de adquirir propriedade a mais do que precisavam para preservar uma vida estável (Rifkin, 2012: 233).

2.1.4.2 A Burguesia

Um importante passo foi dado para o desenvolvimento da divisão do trabalho quando houve a separação nítida entre a produção e o comércio nas cidades de formação recente, o que já acontecia em cidades transmitidas por um período anterior.

O intercâmbio entre as cidades ampliou-se e as burguesias locais formaram a “classe burguesa”, absorvendo em si todas as classes possuidoras dos meios de produção e proletarizando/marginalizando as que não os possuiam.

Foram os comerciantes e fabricantes que tendo em suas mãos capital acumulado passaram a agir como capitalistas, contratando trabalhadores para produzir em oficinas mediante o recebimento de salários e apropriando-se da produção. Assim, “... a produção capitalista só começa realmente quando um capital particular ocupa de uma só vez, um número considerável de trabalhadores, quando o processo de trabalho amplia sua escala e fornece produtos em maior quantidade” (Marx, 1985: 370).

O resultado obtido da ação de vários trabalhadores que trabalham em conjunto é o resultado do trabalho social médio. Não da soma da força de trabalho de cada um, mas da média das forças empregadas. Ao se trabalhar em conjunto, “uma parte dos meios de produção é utilizada em comum no processo de trabalho” (Marx, 1985: 373), diminuindo o valor do capital constante em cada mercadoria.

2.1.4.3 A Cooperação

A cooperação, ou “... forma de trabalho em que muitos trabalham juntos, de acordo com um plano, no mesmo processo de produção ou em processos de produção diferentes, mas conexos ...” (Marx, 1985: 374), permite o barateamento do custo da mercadoria, redução da composição orgânica do capital e uma produção maior de valores de uso.

A cooperação que surgiu em meados do século XV foi a primeira forma através da qual o capitalismo se manisfestou, assim como o antagonismo entre o capital e o trabalho.

A cooperação dava-se de duas maneiras, quando “... eram concentrados numa oficina, sob o comando do mesmo capitalista, trabalhadores de ofícios diversos e independentes, por cujas mãos têm que passar um produto até o seu acabamento final ...” e quando “... o mesmo capital reúne ao mesmo tempo, na mesma oficina, muitos trabalhadores que fazem a mesma coisa ou a mesma espécie de trabalho ...” (Marx, 1985: 386).

O trabalhador é dono de sua força de trabalho e precisa vendê-la ao capitalista para sobreviver. O capitalista é dono dos meios de produção e lhe interessa expandir seu capital. Com isso, o processo de trabalho passa a ter um duplo aspecto: “processo de trabalho social para produzir um produto e processo de produzir mais-valia9” (Marx, 1985: 381).

As relações entre o trabalhador e o empregador mudaram: da relação patriarcal estabelecida nas corporações, emerge a relação monetária entre o trabalhador e o capitalista, ou seja, o trabalhador deixa de ser artesão para ser assalariado.

2.1.4.4 A Manufatura

A organização em cooperação simples, onde o trabalhador realizava o processo de trabalho por inteiro, evolui para a manufatura, onde cada trabalhador realizava uma parte do processo produtivo.

A produção continuou sendo feita da mesma maneira, porém foi dividida em partes e cada uma dessas partes passou a ser feita por um trabalhador que nela se especializa. O trabalhador ainda é o elemento base do processo, mas é um trabalhador “parcial”.

A expansão da manufatura absorveu grande parte da mão-de-obra ociosa, ainda fruto do desmoronamento do sistema feudal. A produtividade aumentou pela

9 Segundo Marx (1985), mais-valia é o que o trabalhador produz em trabalho excedente, ou seja, o que ele

produz em uma jornada de trabalho além do necessário à sua sobrevivência e que é apropriado pelo dono do capital.

diminuição dos “tempos mortos”10, pela especialização e aperfeiçoamento do trabalhador ao realizar uma só tarefa e pela utilização crescente de ferramentas.

A percelarização e especialização do trabalho implicaram na parcelarização e especialização das ferramentas utilizadas pelo trabalhador, uma vez que:

...o acréscimo da produtividade deve-se então ao dispêndio crescente da força de trabalho num dado espaço de tempo, isto é, a intensidade crescente do trabalho, ou a um decréscimo do dispêndio improdutivo da força de trabalho ... a produtividade do trabalho depende não só da virtuosidade do trabalhador, mas também da perfeição de suas ferramentas. (Marx, 1985: 391).

A redução do tempo de trabalho necessário para a produção de mercadorais era um dos objetivos da manufatura.

Na divisão do trabalho existiam tarefas mais complexas e menos complexas. Isso permitiu que os trabalhadores fossem classificados em mais ou menos hábeis, recebendo idferentes remunerações. A desqualificação do trabalhador parcelar e o fato dele ser facilmente substituído no processo de trabalho fizeram com que o salário real sofresse redução.

O trabalhador foi perdendo progressivamente o controlo e conhecimento do processo de produção como um todo, a posse definitiva dos meios de produção e os frutos do próprio trabalho. Tudo isso foi sendo transferido para o capitalista.

10 “... o trabalhador parcelar permanece ocupado com tarefas da mesma natureza durante toda a jornada de

trabalho, evitando mudanças de postos de trabalho, de posição para trocar de operação ou ainda reduzindo as trocas de instrumentos de trabalho ...” (Ruas, 1986: 14).

A expansão do comércio possibilitou um grande avanço na produção e na acumulação do capital móvel e o Estado contribuiu de forma contundente para a viabilização das manufaturas, proibindo a exportação e importação de determinados produtos, criando taxas alfandegárias, regulamentando o comércio, favorecendo monopólios, fazendo tratados e guerras.