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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 As Mudanças do Trabalhador e do Processo de Trabalho

2.1.7 A Terceira Revolução Industrial TR

No início do século XXI, popularizam-se tecnologias capazes de gerar energia a partir do sol, dos ventos, da queima de resíduos. Energias renováveis, praticamente inesgotáveis e novas formas de armazenar essas energias uma vez que são produzidas de forma intermitente. E a WWW – World Wide Web, Rede de Alcance Mundial ou Internet, que conecta pessoas em todos os lugares do mundo, lateralizando o poder (Rifkin, 2012).

A arquitetura econômica engloba hoje empreendimentos típicos da Primeira e Segunda Revolução Industrial e também empresas e comércio on-line.

A economia está globalizada e a estrutura predominante é a de suporte a produção baseada no petróleo e seus derivados, com grandes empreendimentos, que exigem grandes concentrações de capital e emissores de gases de efeito estufa.

A sustentabilidade do planeta e consequentemente dos seres humanos e outras espécies que habitam a Terra está ameaçada pela superutilização dos recursos naturais e pelas consequências das mudanças do clima.

Os Governos e a sociedade civil de diversos países há muito vem buscando alternativas para a equação entre o aumento constante da população e a diminuição dos recursos disponíveis da natureza.

Rifkin (2012) utilizou o termo “entropia”, criado em 1868 pelo cientista alemão Rudolph Clausius para se referir à energia que não é mais aproveitável, para explicar o que acontece com a energia usada nos processos de produção.

Os combustíveis fósseis tem alta entropia, ou seja, depois de queimados não podem ser reutilizados e se esgotam. Já os ventos são uma fonte de energia de baixa entropia, não gerando “resíduos” após sua utilização e não se esgotam.

Assim, o Produto Interno Bruto ao invés de ser interpretado como a medida da riqueza que um país gera a cada ano, “é mais uma medida da energia temporariamente inserida nos bens e serviços à custa da diminuição das reservas de energia disponíveis e um acúmulo de resíduo entrópico … é o custo interno bruto” (Rifkin, 2012: 222).

A economia clássica não abordou essa perspectiva, de sorte que acreditavam que o progresso material, fruto da atividade económica, não teria limites.

A crise económica de 2008, que levou ao estouro da bolha imobiliária dos Estados Unidos e afetou o setor financeiro, alastrando-se em seguida para diversos países da União Europeia como crise das dívidas soberanas, levou a um grande repensar sobre como efetuar a transição para uma Terceira Revolução Industrial, ou para uma economia pós-petróleo.

A ideia de que o preço crescente dos combustíveis fósseis não mais impulsionaria uma economia globalizada, face aos custos crescentes do transporte intercontinental, preconiza uma nova economia continentalizada.

Rifkin (2012: 58) apresenta os cinco pilares que devem ser estabelecidos simultaneamente para sustentar a Terceira Revolução Industrial:

i) mudança para a energia renovável;

ii) transformação do patrimônio imobiliário de cada continente em microgeradores de energia para coletar energias renováveis no local;

iii) emprego do hidrogênio e outras tecnologias de armazenamento e toda infraestrutura para armazenar energias intermitentes;

iv) uso da tecnologia da internet para transformar a rede elétrica de todo o continente em uma rede de compartilhamento de energia que age como a internet; e

v) efetuar a transição da frota de transporte para veículos movidos a células de combustíveis ou elétricos que podem comprar e vender a eletricidade em uma rede de eletricidade interativa, continental e inteligente.

Em maio de 2007, o Parlamento Europeu aprovou uma declaração formal, compromentendo os Estados-membros da União Europeia a uma Terceira Revolução Industrial.

O NAFTA, Acordo de Livre Comércio da América do Norte (EUA, México e Canadá) ainda tem o foco nas energias derivadas do petróleo. Apesar disso, há diversas infraestruturas de TRI montadas nos EUA, principalmente parques eólicos e solares e indústrias de alta tecnologia com base na internet. O Canadá, por sua vez, tem um firme compromisso com a defesa vigorosa de questões ambientais e de desenvolvimento sustentável.

A ANSA Mais Três – Associação das Nações do Sudeste Asiático (Indonésia, Malásia, Filipinas, Singapura, Tailândia, Brunei, Myanmar, Vietnã, Laos, Camboja, China, Japão e República da Coréia) assinaram, em 2007, um acordo para embasar a criação de uma infraestrutura de energia e estabelecer as bases de uma economia de TRI em todo o território asiático.

A União Aficana foi criada em 2002 por 54 nações do continente africano, com o objetivo de acelerar a integração política e socieconómica do continente. Em 2008, a União Africana e a União Europeia firmaram uma parceria para promover o desenvolvimento de energias renováveis e criar um plano diretor de eletricidade para a África.

A UNASUR - União das Nações da América do Sul (Bolívia, Chile, Equador, Colômbia, Peru, Brasil, Uruguai, Paraguai, Argentina, Guiana, Suriname e Venezuela) foi criada em 2008. A energia foi colcoada como prioridade, comprometendo as nações- membro a criar uma infraestrutura continental para partilhar energia, com desenvolvimento da abundante energia renovável do continente.

Percebe-se a ideia comum dos blocos continentais em relação ao comprtilhamento de energia e desenvolvimento das fontes de energia renováveis.

Rifkin (2012: 209) define alguns aspectos da mudança de paradigma trazida pela Terceira Revolução Industrial:

O antes inquestionável crescimento econômico ilimitado, deu lugar a ideia de desenvolvimento econômico sustentável. A abordagem convencional, centralizada, de

cima para baixo para organizar a atividade ecnómica que caracterizou a Primeira e a Segunda Revolução Industrial, baseadas em combustíveis fósseis, está sendo questionada pelos novos modelos de organização colaborativa e distribuída que acompanham a Terceira Revolução Industrial. A venda de bens em mercados que era considerada uma prática sacralizada tem sido parcialmente abalada pelo acesso partilhado a serviços comerciais nas redes de fonte aberta. Os mercados nacionais e a governança do Estado-nação, que já foram o meio espacial para toda a atividade económica, estão cedendo aos mercados continentais e governos continentais. O resultado é que a forma como muitas disciplinas do curso de economia são ensinadas hoje se torne cada vez mais irrelevante para explicar o passado, entender o presente e explicar o futuro.

A transição entre os modelos económicos pressupõe que algumas gerações trabalharão ainda em uma economia mista, ou seja, com aspectos industriais tradicionais e com aspectos colaborativos.

Este estranhamento entre modelos econômicos sobrepostos já foi apontado por Singer e Machado (2000: 47), referindo-se ao sistema capitalista como:

… envolvendo diversos modos de produção. É capitalista, porque o modo de produção capitalista é econômico e socialmente predominante. Junto a ele atuam, lado a lado: i) trabalhadores por conta própria que formam a produção simples de mercadorias; ii) empresas públicas e privadas sem fins de lucro; iii) produção para auto-subsistência nos lares e, iv) cooperativas autogestionárias.