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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 As Mudanças do Trabalhador e do Processo de Trabalho

2.1.5 Na Idade Contemporânea a Revolução Industrial

2.1.5.1 Taylorismo e Fordismo

A segunda onda de transformações produtivas (Segunda Revolução Industrial – 1860 d.C. a 1900 d.C.) foi impulsionada pela descoberta de novos materiais e tecnologias, como o aprimoramento do processo de transformação do ferro em aço14, a substituição do vapor pela eletricidade e a descoberta do motor à combustão, entre outros fatores.

O carvão como fonte geradora de energia passa a dar lugar ao petróleo e seus derivados e o telágrafo cede lugar a outros meios de comunicação, como o rádio, o telefone e a televisão.

Se na Primeira Revolução Industrial as empresas ferroviárias, têxteis e os grandes grossistas e retalhistas se sobressaíram, a Segunda Revolução Industrial foi a vez das companhias de petróleo, fabricantes de automóveis, empresas de telefonia, grandes construtoras e empresas do setor financeiro.

A produção em massa de bens de consumo foi possível devido aos novos modelos de produção sistematizados pelo engenheiro norte-americano Frederick

14 O processo de Bessemer foi o primeiro processo industrial de baixo custo para a produção em massa de

aço a partir de ferro gusa fundido. O processo foi nomeado em homenagem ao seu inventor, Henry Bessemer, que registrou uma patente do mesmo em 1855 d.C. O processo é um avanço de uma prática conhecida na China desde 200 d.C. O príncipio desse processo é a remoção de impurezas do ferro pela oxidação com ar soprado através do ferro fundido. A oxidação inclusive aumenta a temperatura da massa de ferro e a mantém em estado fundido.

Winslow Taylor (taylorismo) e pelo empresário norte-americano Henry Ford (fordismo).

O Taylorismo ou Gerência Científica baseava-se em quatro princípios:

1. Princípio do Planejamento: o critério individual do operário, a improvisação e o empirismo deve ser substituído por métodos planejados e testados; 2. Princípio do Controlo: consiste em controlar o trabalho para se certificar de que o mesmo está sendo executado de acordo com o método estabelecido e segundo o plano de produção; 3. Princípio da Preparação dos Trabalhadores: consiste em selecionar cientificamente os trabalhadores de acordo com suas aptidões, prepará-los e treiná-los para produzirem mais e melhor, de acordo com o método planejado e em preparar máquinas e equipamentos em um arranjo físico e disposição racional. Pressupõe o estudo das tarefas ou dos tempos e movimentos e a Lei da Fadiga15; 4. Princípio da execução:

consiste em distribuir distintamente as atribuições e as responsabilidades para que a execução do trabalho seja o mais disciplinado possível. (Delgado de Carvalho, 1959: 25).

A Gerência Científica foi “um empenho no sentido de aplicar os métodos da ciência aos problemas complexos e crescentes do controlo do trabalho nas empresas capitalistas em rápida expansão” (Braverman, 1983: 82). Assim, a ideia era racionalizar e padronizar os processos produtivos de trabalho, de modo a aumentar ao máximo a produtividade da mão-de-obra e subordinar o controlo da produção ao dono do capital.

Trabalhando em fábricas como operário, foi através da prática e da observação que Taylor procurou uma maneira ótima16 de realizar cada tarefa. Estudando pormenorizadamente cada uma delas, estabeleceu exatamente o tempo e o modo como deveriam ser executadas.

15 Necessidade de repouso periódico visando à recuperação muscular do trabalhador.

16 “...todo o trabalho que um operário pode fazer sem dano à sua saúde, em um ritmo que pode ser

O trabalho foi reorganizado de forma que cada trabalhador deveria se especializar em uma única e mesma tarefa, o que provocou a fragmentação do processo de trabalho em diversas unidades, que deveriam estar sicronizadas espacial e temporalmente, já que, embora cada parte do produto fosse confeccionada separadamente por cada trabalhador, no final da linha produtiva este deveria ser recomposto em sua unidade.

O taylorismo teve como proposta não somente padronizar, fragmentar e sincronizar a atividade produtiva, mas também o seu agente, o trabalhador. Rompeu definitivamente o embaraço que representava a influência que o trabalhador ainda exercia na fábrica, quando separou “as fases de planejamento, concepção e direção de um lado, das tarefas de execução, de outro” (Rago, 1986: 19).

Agora, os trabalhadores já não podiam fazer o que ele chamou de marca passo natural, ou seja, fazer o trabalho de forma propositadamente mais lenta, pelo maior salário que o patrão estivesse disposto a pagar.

Se por um lado a homogeneização científica do trabalho proposta pelo taylorismo proporcionou o aumento da produtividade de forma a “garantir ao capitalismo um novo ciclo de acumulação sem precedentes” (Pochmann, 2001: 55), também possibilitou a formação de uma consciência de classe, estimulada pelas péssimas condições de trabalho e de vida dos trabalhadores fabris (Castel, 2008).

É nesse momento que se organizam as primeiras greves, ocupações nas indústrias e a formação de partidos políticos inspirados nas ideias socialistas, contrapondo-se à ordem política e social vigente.

No mesmo sentido, durante a segunda metade do século XIX e a maior parte do século XX, o cooperativismo se difunde e adquire considerável poderio económico. As grandes cooperativas singulares e federadas empenham-se na disputa dos mercados com grandes conglomerados capitalistas e acabam assimilando seus métodos de gestão. No caso das cooperativas de consumo, a administração passa a ser dominada por profissionais assalariados e os sócios ficam frequentemente reduzidos à condição de meros clientes.

Henry Ford utilizou-se dos pressupostos tayloristas de parcelarização das tarefas e separação entre a concepção e execução do processo de trabalho e introduziu a linha de fluxo, caracterizada como correias transportadoras entre os postos de trabalho, mantendo os trabalhadores fixos em seus postos e reduzindo enormemente os “tempos mortos” gastos com o deslocamento entre uma máquina e outra.

Os avanços obtidos na produtividade do trabalho possibilitaram a produção em massa e em escala mundial.

Mais do que isso, a principal contribuição de Ford foi sistematizar a relação entre produção em massa e consumo em massa, propondo uma nova concepção para a força de trabalho, onde o trabalhador passa paulatinamente a ser concebido como

produtor e consumidor das riquezas socialmente produzidas, tornando-se um agente dinamizador da economia capitalista.

“Ford preconiza a concessão de salários elevados para desenvolver a produção em massa, pelo consumo em massa. Assim, o fordismo ultrapassa o simples domínio da organização do trabalho e corresponde a uma lógica particular de crescimento no nível macroeconómico” (Benko, 2000: 236).

Os desdobramentos dos pressupostos tayloristas-fordistas propiciaram o surgimento dos grandes oligopólios, baseados na produção e consumo em massa, dos quais a montadora de veículos de Henry Ford, com sede nos Estados Unidos, é um exemplo.

Os Estados Unidos, que em 1900 haviam produzido 4,3 mil carruagens sem cavalo, ao preço médio de mil dólares a unidade, produziram, 11 anos depois, quase 35 mil automóveis pela Ford Motor Company, ao preço médio de 780 dólares cada carro. Em 1921, a produção de automóveis chegou a 1,2 milhões de veículos, ao preço médio de 380 dólares cada (Pochmann, 2001: 57).

Esse processo de desenvolvimento de inovações tecnológicas e organizacionais estendeu-se para outros setores da economia e para outros países, propiciando desenvolvimento económico e, ao mesmo tempo, ações políticas de mobilização por parte dos trabalhadores industriais.

Dessa forma, os governos dos Estados capitalistas começaram a atender paulatinamente as exigências sociais da classe trabalhadora, resultando na elaboração de sucessivas estratégias regulatórias entre capital e trabalho, intermediadas pelo Estado. “Na falta de condições objetivas e de estratégias para transformar o sistema que os

oprimia, a classe trabalhadora aproveitou os impactos e outras condições objetivas e subjetivas para abraçar no seio do próprio sistema a causa dos direitos sociais” (Shons, 1999: 33).

A fim de garantir as condições necessárias para alavancar o desenvolvimento industrial, o Estado passa a encarar a questão social como área pública e se transforma para exercer esse papel, intervindo cada vez mais nas relações de trabalho.

A crise económica das décadas de 20 e 30, que produziram a estagnação conhecida como a Grande Depressão17 e levou a desregulamentação das relações económicas internacionais, pautou a necessidade de ampliação do Estado “como forma de evitar o aprofundamento da crise e impulsionar o desenvolvimento capitalista sobre novas bases” (Pochmann, 2001: 14).

O Estado assume, então, um papel mais amplo que o de agente interventor e regulador da atividade económica: parte dos excedentes do setor produtivo é canalizada para o Estado que os utiliza para financiar bens e serviços públicos, vindo ao encontro do paradigma keynesiano de implantar o Estado de Bem Estar Social (Welfare State), com o objetivo de enfrentar as consequências sociais resultantes do sistema (Reis, 1997).

17 Com o fim da Primeira Guerra Mundial, os países europeus encontravam-se devastados, com a

economia enfraquecida e com forte retração de consumo. Os Estados Unidos lucraram com a exportação de alimentos e produtos industrializados aos países aliados no período pós-guerra. Como resultado disso, entre 1918 e 1928 a produção norte-americana cresceu de forma estupenda. A economia europeia posteriormente se restabeleceu e passou a importar cada vez menos dos Estados Unidos. Com a retração do consumo na Europa, as indústrias norte-americanas perderam mercado. A queda dos lucros, a retração geral da produção industrial e a paralisação do comércio resultou na queda das ações da bolsa de valores e mais tarde na quebra da bolsa.

Tal influência do Estado possibilitou aumentar o consumo coletivo, através da elevação do padrão salarial na forma de renda direta e indireta:

... com o avanço do planejamento e a capacidade provisional exercida pelo Estado, bem como o estímulo à área social (educação, saúde, lazer, transporte), à ciência e investigação e à produção (investimento produtivo e financiamento), houve singularidade no funcionamento da economia de mercado. O consumo do trabalhador, por exemplo, passou a ser valorizado através da ampliação das formas de rendimento, tendo o salário direto acompanhado a produtividade, os encargos sociais financiado as despesas com aposentadoria e qualificação e o salário indireto atendido aos gastos de saúde, educação, transporte e habitação (Pochmann, 2001: 15).

A segunda revolução tecnológica, por meio de suas contradições, possibilitou a vigência de um sistema que associou progresso económico e social, permitindo que, com o fim da Segunda Guerra (1945), dada a necessidade de reconstrução dos países afetados, um grande contingente de trabalhadores fossem absorvidos pelo mercado formal de trabalho, com direitos assegurados.

Assim, os 30 anos que se seguiram de 1945 até 1975, foram conhecidos como “anos gloriosos” ou Era de Ouro.

Tal modelo começou a apresentar sinais de crise ao fim da década de 60, a qual se intensificou no início da década de 70, quando as economias de mercado passam a apresentar estagnação ou redução do ritmo de crescimento económico (e, consequentemente do lucro), configurando um período de depressão.

O estopim foi o aumento do preço do petróleo promovido pela OPEP – Organização dos Países Produtores de Petróleo, conhecido como “choque do petróleo”,

que se estendeu aos preços dos demais produtos dos quais o petróleo e seus derivados integravam a cadeia de produção e transporte,

2.1.5.2 Toyotismo

Para superar essa nova crise estrutural foram mobilizadas estratégias para a “implementação de um amplo processo de reestruturação do capital, com vistas à recuperação do seu ciclo reprodutivo” (Antunes, 1995: 35).

Essa reestruturação passa, mais uma vez, por uma onda de transformação produtiva, onde as novas tecnologias como a microeletrônica, a robótica, os novos materiais e fontes de energia são rapidamente generalizados por diversos setores económicos, transformando novamente a forma de organização da produção e do trabalho (Pochmann, 2001).

A incorporação de novas tecnologias agora visa superar a rigidez dos processos produtivos com base no modelo taylorista-fordista amparado pelo Estado do Bem Estar Social.

De fato, a resposta instintiva das forças capitalistas à crise de lucratividade (esgoramento das contratendências à baixa taxa de lucro) é duplamente decisiva: de um lado, trata-se ... de desvalorizar a força de trabalho reduzindo todos os componentes dos custos de sua reprodução (desindexação e regulação concorrencial na formação dos salários, revisão em baixa dos salários indiretos, supressão das garantias de emprego e de tudo que é considerado entrave à liberdade do trabalho, etc). E de outro lado, trata- se de utilizar as virtualidades tecnológicas da automação como suporte material a fim de remodelar a organização do trabalho, os processos de produção, os sistemas de gestão e a qualidade dos produtos, ou mesmo a norma social de consumo” (Benko, 2000: 22).

O modelo de produção desenvolvido no Japão após a Segunda Guerra Mundial pelo engenheiro japonês Eiji Toyoda e o especialista em produção Taichi Ohno, conhecido como “toyotismo18”, caracterizava-se pela “produção flexível” à demanda, com o objetivo de produzir mais, com menos custo e menos mão-de-obra.

Segundo Wood Jr. (1992), nos anos 50 Toyoda passou alguns meses em Detroit, conhecendo a indústria automobilística norte-americana, baseada no modelo fordista de produção, onde o fluxo normal é produzir primeiro e vender depois, quando já há um grande estoque disponível. As fábricas gigantescas e o tamanho dos espaços disponíveis, a quantidade de estoques e o alto número de funcionários impressionaram Toyoda.

Para ele, tal modelo de produção não poderia ser desenvolvido no Japão arrasado do pós-guerra. Em relato à sede da Toyota, diz que seria necessário desenvolver uma nova organização do trabalho, mais flexível, que permitisse produzir uma maior variedade de produtos, que exigisse menor concentração de estoques e pudesse ser implantado em um país com mercado pequeno, capital e matéria-prima escassa, sem possibilidade de importar tecnologia e pouca probabilidade de exportação (Wood Jr., 1992).

O toyotismo, oposto ao taylorismo-fordismo que sustentou a acumulação dos capitais no período anterior, baseia-se na automatização da produção, trabalho em

18 Modelo de produção que se consolidou na empresa Toyota no Japão e posteriormente se expandiu para

outros setores produtivos e para várias partes do mundo, como Itália, Estados Unidos e América Latina (Antunes, 1996).

equipa, administração por estresse19, flexibilização da mão-de-obra, gestão participativa, controlo de qualidade, subcontratação e just-in-time20.

A busca pela eliminação do desperdício e aumento da produtividade são uma obsessão neste modelo e no Japão a qualidade total e a eliminação do desperdício passaram a ser ensinadas nas escolas, formando cidadãos com essas habilidades e permitiu que o país desenvolvesse produtos de alto padrão e se inserisse no competitivo mercado de países centrais.

No modo de produção automatizado, parte do que era feito pelo homem passa a ser feito pela máquina, eliminando postos de trabalho e como a produção é feita de acordo com a demanda, utiliza um número mínimo de trabalhadores, que são constantemente demandados a cumprir metas de produção cada vez mais desafiadoras.

Benko (2000) descreve as “flexibilidades” do modelo toyotista em diversos aspectos: 1) flexibilidade dos equipamentos utilizados na produção, permitindo adaptação rápida para atender as flutuações da demanda; 2) flexibilidade dos trabalhadores, que através de suas múliplas habilidades e competências tem aptidão para trabalhar em diferentes funções do processo produtivo (polivalentes); 3) flexibilidade das leis que regem os contratos de trabalho; 4) flexibilidade da classe trabalhadora para

19 De acordo com as vendas é estabelecido um objetivo de produção para cada dúzia de trabalhadores que

forma um grupo de trabalho. Ohno disponibiliza apenas 90% dos recursos que deveria normalmente oferecer e desafia os operários a atingir a produção necessária. Estes, por sua vez, discutem entre si e descobrem maneiras de vencer o desafio. Porém, Ohno retira novamente outra porcentagem de recursos e, assim, sucessivamente – isso para mostrar que se trata de um sistema permanente. Na Toyota, os trabalhadores chamam isso de “sistema Oh! No!” (do inglês Oh! Não!), em vista do rigor desse sistema de produção (Gounet, 2009).

20 Just-in-time ou estoque zero foi uma alternativa aos custos atribuídos ao armazenamento de estoques,

negociar as condições de trabalho e os salários; 5) flexibilidade das organizações para atuarem sem a limitação da regulamentação pública que limita a liberdade de ação.

Os governos das economias capitalistas passam a aderir a padrões de regulação social inspirados no suporte teórico neoliberal, que pressupoe um Estado mínimo.

O trabalhador “central” da era toyotista, que executa as funções consideradas essenciais dentro da fábrica, deve possuir um conjunto de habilidades específicas e ser altamente qualificado para operar as máquinas automáticas, mas deve também estar apto para atuar nas diferentes fases da produção e saber trabalhar em equipa.

Esse trabalhador “polivalente” ou “multifuncional” tem todas as suas atividades racionalizadas, o que implica em potencializar ao máximo a sua capacidade produtiva, alterando de maneira qualitativa e quantitativa o uso de sua força de trabalho. Ele tem maior estabilidade no mercado de trabalho e recebe bons salários diretos e indiretos, está mais inserido no processo e continuamente se reciclando.

Já o grupo maior, composto pelos trabalhadores subcontratados, tercerizados, informais ou trabalhadores em tempo parcial, não possuem quase nenhuma qualificação, estão submetidos a contratos de trabalho por tempo determinado e não têm direitos assegurados.

Ocorre a precarização das relações e das condições do trabalho que, juntamente com o desemprego estrutural impulsionado por esse novo modelo, tem

determinado os extensos processos de exclusão social nas sociedades capitalistas (Reis, 1997).

A precarização das relações de trabalho também significa um retrocesso na ação sindical, em relação às conquistas do período taylorista-fordista, gerando um sindicalismo acrítico de participação e negociação (Antunes, 2010). Emergem os sindicatos patronais.

Um avanço maior do toyotismo em relação ao taylorismo-fordismo foi que:

… se o fordismo expropriou o savoir-faire (saber fazer) do operário para a esfera da gerência científica, para os níveis de elaboração, o toyotismo tende a re-transferí-lo para a força de trabalho, mas o faz visando a apropriar-se crescentemente da sua dimensão intelectual, das suas capacidades cognitivas, procurando envolver mais forte e intensamente a subjetividade operária (Antunes, 2004: 347).

Tal apropriação ocorre de diversas formas, uma vez que as sugestões oriundas dos trabalhos em equipa, dos círculos de controlo de qualidade, enfim, do chão de fábrica, são recolhidas e absorvidas pelas empresas, uma vez analisadas e sendo comprovada a sua exequibilidade e vantagem lucrativa para o capital (Antunes, 2004).

O processo de apropriação toma ainda outra dimensão quando “parte do saber intelectual do trabalho é transferido para as máquinas informatizadas, que se tornam mais inteligentes” (Antunes, 2004: 39).

Para que isso ocorra é preciso que haja um “envolvimento interativo”, uma “anuência” do trabalhador, que é obtida quando ao operário da fábrica toyotista é

“permitida” uma maior participação nos projetos que nascem das discussões dos círculos de controlo de qualidade.

E essa apropriação é dinâmica e ininterrupta, diferente da ocorrida no modelo taylorista-fordista, que contou com uma apropriação inicial do “saber fazer” e levou a montagem da linha de produção inflexível.

Outro aspecto dos avanços do toyotismo refere-se à apropriação pelo capital do tempo livre do trabalhador, ou da vida fora do trabalho. Isso se verifica, entre outros exemplos, quando o trabalhador usa seu tempo livre para “qualificar-se melhor” ou “preparar-se melhor” para conseguir trabalho, ou quando:

… parte importante do tempo livre do trabalhador está crescentemente voltada para adquirir empregabilidade, palavra-fetiche que o capital usa para transferir aos trabalhadores as necessidades de sua qualificação, que anteriormente eram em grande parte realizadas pelo capital (Bernardo, 2001 apud Antunes, 2004: 46).

Assim, segundo Antunes (2010), diversas manifestações de estranhamento (entfremdung, ou seja, alienação, separação) atingiram, além do espaço de produção, ainda mais intensamente a esfera do consumo, a esfera da vida fora do trabalho, fazendo do tempo livre, em boa medida, um tempo também sujeito aos valores do sistema produtor de mercadorias.