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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 As Mudanças do Trabalhador e do Processo de Trabalho

2.1.3 Na Idade Média – o Feudalismo

5 A grande propriedade rural passou a diversificar a produção de gêneros agrícolas, além da criação de

animais e da produção artesanal, deixando de produzir para o mercado, atendendo suas próprias necessidades.

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Principais Reinos Bárbaros: Reino dos Vândalos (Península Ibérica), Reino dos Ostrogodos (Península

Se a decadência do Império Romano (século V d.C.) criou as condições necessárias ao surgimento do feudalismo, sua consolidação ocorreu no século IX d.C., com o término do Império Carolíngio.

A Igreja Católica era ela própria, uma grande proprietária de terras e, se em um primeiro momento apoiou o poder centralizado no rei, com o enfraquecimento do Império Carolíngio passa a apoiar o poder descentralizado dos senhores de terras e o feudalismo se consolida.

A sociedade feudal era composta por três “estamentos”, ou grupos sociais com status fixo: nobreza ou senhores feudais, clero e servos da gleba ou camponeses.

Os camponeses vinculavam-se aos senhores feudais para produzir os meios para sua subsistência e em busca de proteção contra as hordas invasoras, mas pagavam pesados tributos pela utilização das terras. Prestavam serviços na terra do senhor (manso senhorial, onde se situava o castelo e os bens do feudo) e davam a ele parte do que era produzido nas terras que tinham para seu cultivo (manso servil), as quais também eram de propriedade do senhor feudal. O manso comunal era composto de pastos, florestas e bosques e utilizado para caça e coleta (Souza, 2003).

Segundo Pirenne (1982: 39), as principais obrigações dos servos consistiam em:

- Corvéia: trabalho compulsório nas terras do senhor em alguns dias da semana; - Talha: parte da produção do servo deveria ser entregue ao nobre;

- Banalidade: tributo cobrado pelo uso de instrumentos ou bens do feudo, como o moinho, o forno, o celeiro e as pontes;

- Capitação: imposto pago por cada membro da família (por cabeça);

- Tostão de Pedro ou dízimo: 10% da produção do servo era paga à Igreja, utilizado para a manutenção da capela local;

- Censo: tributo que os vilões (pessoas livres, vila) deviam pagar, em dinheiro, para a nobreza;

- Taxa de Justiça: os servos e os vilões deviam pagar para serem julgados no tribunal do nobre;

- Formariage: quando o nobre resolvia se casar, todo servo era obrigado a pagar uma taxa para ajudar no casamento, era também válida para quando um parente do nobre iria casar;

- Mão Morta: pagamento de uma taxa para permanecer no feudo da família servil, em caso do falecimento do pai da família; e

- Albergagem: obrigaçao do servo em hospedar o senhor feudal.

Os senhores feudais, por sua vez, tinham com os reis uma relação de suserania e vassalagem7. Os reis doavam títulos territoriais e os senhores feudais, em retribuição, lhes juravam fidelidade e prestavam ajuda militar. Um nobre feudal podia também estabelecer relações de suserania e vassalagem com outros nobres, doando-lhes parte de suas terras e recebendo em troca prestação de serviços de seu interesse.

O clero era formado pelos integrantes da Igreja Católica. Eram os homens instruídos da época, visto que a Igreja manteve o que restou do conhecimento intelectual da antiguidade clássica, após a perda de acesso aos tratados científicos originais em grego, em virtude das invasões bárbaras. O clero, além do “apoio espiritual”, exercia grande poder político sobre uma sociedade bastante religiosa, para a manutenção do

status quo vigente.

Assim, a Teologia católica influenciou o pensamento económico da Idade Média. Havia uma ideia de “moderação” na conduta humana, o que levava às

7 Suserano era aquele que “cedia” terras ao vassalo e deste recebia diversas obrigações (mão-de-obra,

concepções de justiça nas trocas e, portanto, de justo preço e justo salário. “O justo preço é aquele bastante baixo para poder o consumidor comprar (ponto de vista económico), sem extorsão e suficientemente elevado para ter o vendedor interesse em vender e poder viver de maneira decente (ponto de vista moral)” (Hugon, 1995: 51). Similarmente, o justo salário é aquele que permite ao trabalhador e sua família viver de acordo com os costumes de sua classe e de sua região. A cobrança de juros em empréstimos não era permitida. Havia, portanto, julgamentos de valor na conduta económica, ou seja, a Filosofia e a Teologia dominavam o pensamento económico.

O modo de produção feudal foi dominante durante a Idade Média, reconhecida como o período que vai desde a queda do Império Romano do Ocidente (476 d.C. – século V) até a queda do Império Romano do Oriente (1.453 d.C. – século XV).

Ao longo do tempo, a insatisfação dos servos pela intensificação da exploração motivou inúmeras lutas com os senhores feudais e fugas em massa para as cidades, que também buscavam sua independência.

Por volta de 1.100 d. C. inicia-se uma revolução que combinou renascimento urbano e comercial, ampliação de culturas e fronteiras agrícolas, crescimento económico, desenvolvimento intelectual e grandes evoluções tecnológicas.

Começa um forte movimento de tradução de documentos em língua árabe e grega, que tornam o conhecimento do mundo antigo novamente disponível para os eruditos europeus. São abertas novas escolas ao longo de todo o continente e por volta

de 1.200 d.C. são fundadas as primeiras universidades – Paris, Coimbra, Bolonha e Oxford (Delgado de Carvalho, 1959).

Com as inovações no campo, a produção agrícola teve um aumento significativo e surgiu a necessidade de comercialização dos produtos excedentes e um aumento da circulação monetária, o que valorizou a importância social das cidades.

Muitas cidades Europeias (burgos) tornaram-se livres das relações servis e do predomínio dos nobres. Por motivos políticos, os "burgueses" (habitantes dos burgos) recebiam frequentemente o apoio dos reis, que muitas vezes estavam em conflito com os nobres.

O restabelecimento do comércio com o Oriente e o desenvolvimento das grandes cidades começou a minar as bases da organização feudal, na medida em que o aumento da demanda de produtos agrícolas para o abastecimento da população urbana eleva o preço dessas mercadorias, permitindo aos camponeses maiores fundos para a compra de lotes de terras, liberando-se de suas obrigações junto ao senhor feudal.

Tais acontecimentos contribuíram para o declínio do feudalismo europeu no final do século XIII, extinguindo-se totalmente na Europa Ocidental por volta de 1.500 d.C. Em partes da Europa central e oriental, porém, alguns remanescentes resistiram até meados do século XX.

A Escola Mercantilista dominou o pensamento económico da época (final do séc. XV a início do séc. XVIII) e tinha como pressupostos a riqueza das nações baseada

na quantidade de metais preciosos (ouro e prata - metalismo) que possuíssem, balança comercial (exportações – importação) favorável, e Estado forte com o papel de incentivar e proteger a produção nacional (Souza, 2003).

As grandes navegações e a fundação de colônias nas terras descobertas por diversos países europeus levaram ao estabelecimento do “pacto colonial”, o que propiciou uma forte transferência de metais preciosos das colônias para as metrópoles:

Por meio desse “pacto”, todas as importações da colônia passaram a ser provenientes de sua metrópole, assim como todas as suas exportações seriam destinadas a ela exclusivamente. A metrópole monopolizava também o transporte dessas mercadorias. Para maximizar os ganhos, ela fixava os preços de seus produtos em níveis mais altos possíveis; inversamente, a fixação dos preços de suas importações eram os mais baixos. Segundo Celso Furtado, esse “pacto” deu origem ao subdesenvolvimento contemporâneo, porque implicava em uma sangria permanente de riquezas que fluíam para as metrópoles (Souza, 2003: 10).

A reforma religiosa liderada por João Calvino no início do séc. XVI (calvinismo), em oposição à “moderação” nos hábitos defendida pela Teologia católica, exaltou o individualismo, a atividade económica e o êxito material, dando grande impulso à economia. Enriquecer não constituía mais um pecado, desde que a riqueza fosse obtida honestamente e pelo trabalho. A cobrança de juro e a obtenção de lucro passaram a ser permitidas. Entre os protestantes, o verdadeiro pecado veio a ser a ociosidade, quando a mente desocupada passa a se ocupar do mal (Soares, 2003).

Em oposição ao pensamento mercantilista, surge a Fisiocracia, escola liderada pelo médico francês François Quesnay (1694-1774), autor da obra “O Quadro Económico”, em que analisa as variações do rendimento de uma nação. Para “os

economistas”, como passaram então a ser chamados, a sociedade é formada pelas classes produtiva (agricultores), pela classe dos proprietários de terras e pela classe estéril, compreendendo, esta última, todos os que se ocupam do comércio, da indústria e dos serviços. A agricultura era considerada produtiva por ser o único setor que gera valor. A indústria e o comércio constituem desdobramentos da agricultura, pois apenas transformam e transportam valores. Pregavam a livre circulação de bens e a liberdade total para empreender, como uma maneira de desenvolver a economia. O pensamento fisiocrático era, portanto, liberal, traduzindo-se na famosa divisa laissez-faire, laissez

passer... (deixai fazer, deixai passar ...) (Souza, 2003).