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1. A PRODUÇÃO CANAVIEIRA NO TRIÂNGULO MINEIRO: da

1.4. Da metodologia da pesquisa: os caminhos metodológicos

1.4.2. As diferentes fontes de pesquisa: acadêmicas, técnicas e oficiais

Quando a intenção é demonstrar os passos para construção da pesquisa, devemos recapitular do início do curso de doutorado em 2015 até o seu final, e os passos que foram planejados até sua conclusão. O planejamento é uma etapa muito importante e nele deve conter os momentos de leituras, reflexão, debates, pesquisa teórica e empírica. Nem sempre o trabalho acadêmico saí como planejado, novas discussões podem aparecer. No caso do setor sucroenergético é muito comum o surgimento de novas questões ao longo do debate. O setor é dinâmico e o momento atual de crise no país afeta essa estrutura, e assim, novos elementos vão surgindo. No passado havia a preocupação com os boias- frias cortadores de cana, atualmente a preocupação é em relação ao emprego desses sujeitos. Havia uma preocupação em relação às queimadas, e agora com a mecanização presente que afeta o trabalho. O debate era em torno da expansão da fronteira agrícola – que ainda ocorre, e a migração de grupos canavieiros para essas novas áreas e agora nos deparamos com a migração do capital externo, dos grupos estrangeiros adentrando o setor. Essas questões colocadas são apenas exemplos de algumas mudanças que ocorreram no setor sucroenergético ao longo dos anos, mas que não mudaram totalmente sua estrutura, apenas a transformaram. O que estamos considerando é a importância de nos prepararmos para a compreensão de novos elementos que surgirão ao longo do tempo.

Neste primeiro momento da pesquisa, os dados apresentados ao longo da tese são oriundos de fontes secundárias, relatórios econômicos e pesquisa de campo. Segundo Martins (2016), nem sempre a pesquisa imaginada é possível, embora reconhecer esta característica seja doloroso inicialmente, pois se trata justamente do questionamento das

convicções acadêmicas. Isto revela que a pesquisa também é um autoquestionar, esta talvez, seja a maior tarefa dos procedimentos metodológicos. (MARTINS, 2016, p. 62- 63).

Podemos considerar que nossa tese iniciou-se a partir do momento de revisão do projeto de pesquisa. Apesar de haver discussões sobre a pesquisa em momentos anteriores a esse, como em disciplinas e nos debates com o orientador, essas situações foram fundamentais para repensar o projeto e finalmente dar início a pesquisa de fato, esta que está no papel. Estes momentos foram um ensaio para as etapas seguintes, de leituras, reflexões e redação.

A estrutura do trabalho foi pensada de forma a considerar os títulos das seções, dos itens e subitens. Também foram delimitados o objetivo, os temas/conceitos importantes e as pretensões de cada seção, assim como a metodologia e fazendo uma relação com a seção seguinte até as considerações finais. Quando se tem uma estrutura pensada fica mais fácil visualizar a pesquisa e encontrar os pontos falhos, bem como determinar até que ponto a pesquisa finaliza, pois novos elementos sempre irão surgir e cabe ao pesquisador julgar quais serão importantes comparecer no debate. A pesquisa precisa finalizar, o debate muitas vezes nunca se esgota.

O levantamento de dados foi um passo fundamental para a pesquisa e o mesmo foi realizado a partir de pesquisa bibliográfica (ou de fontes secundárias) apresentada no item anterior e pesquisa documental (ou de fontes primárias) que estão restritas a documentos.

No quadro 3 apresentamos as fontes dos dados, nossa pesquisa documental, que exigiu uma busca e qualificação desses dados, analisando as fontes, checando a veracidade da informação e muitas vezes confrontando-as com outras fontes. Basicamente nossos dados são relacionados ao agronegócio canavieiro em nível nacional e estadual e nas informações relacionadas às usinas, aos grupos econômicos aos quais estas usinas pertencem e aos dados de produção, das safras.

Quadro 3: As fontes da pesquisa (2000-2018)

Dado(s) Fonte(s) Anos

Agronegócio canavieiro

União da Indústria de Cana-de-Açúcar – UNICA União dos Produtores de Bioenergia - UDOP Companhia Nacional de abastecimento - Conab

2015 a 2018

Agronegócio canavieiro de MG

Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais

Sindicato da Indústria da Fabricação do Álcool no Estado de MG

Sindicato da Indústria do Açúcar no Estado de MG - SIAMIG

2015 a 2018

Levantamento das usinas no país

União dos Produtores de Bioenergia - UDOP Portal NovaCana

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA

2018

Produção/ Safras/Preço da Terra

Produção Agrícola Municipal – PAM (IBGE) UNICADATA

Companhia Nacional de abastecimento – Conab Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais - EMATER

2017

Usinas/ Grupos de MG

Sites das empresas

Jornal Valor Econômico – VALORDATA

Sindicato da Indústria do Açúcar no Estado de MG - SIAMIG 2015 a 2018 Grupos estrangeiros presentes no TM/AP (Bunge, Biosev-LDC, Dow-chemical, Adecoagro, British Petroleum, ADM, Infinity Bio)

Site das empresas

Portais relacionados ao setor sucroenergético Relatórios Anuais

Demonstrações Financeiras Individuais e Consolidadas

Relatório da Administração Notícias veiculadas pela mídia

Artigos, teses e dissertações relacionadas a temática

2000 a 2018

Estrangeirização DATALUTA A partir de

2013 Org.: CAMPOS, N. L., 2017.

Os dados levantados para a pesquisa correspondem ao período do doutorado e alguns são anteriores a este momento, coletados durante a pesquisa de mestrado. Destacamos a importância dos dados fornecidos pelos órgãos reguladores do setor sucroenergético como, UNICA, UDOP, CONAB, SIAMIG, dentre outros, pois são através deles que realizamos a análise da atual conjuntura econômica do agronegócio canavieiro no país. Essas entidades nos fornece dados sobre a produção canavieira em nível nacional e estadual. O UNICADATA é uma área do site da UNICA dedicada ao fornecimento de dados e estatísticas técnicas e econômicas atualizadas sobre o setor sucroenergético. Nele podemos acompanhar as safras, a produção, os preços, as cotações e o consumo dos combustíveis, além da importação e exportação. Assim como o portal

UNICA, o jornal Valor Econômico possui o VALORDATA que apresenta os indicadores das commodities agrícolas e as fusões e aquisições em nível global, da América Latina e do Brasil.

O levantamento do número de usinas em Minas Gerais foi feito a partir de três fontes: a União dos Produtores de Bioenergia – UDOP, o Portal NovaCana e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA. Essas fontes nos fornecem a informação, mas nem sempre estão atualizadas. Assim, foi feito uma confrontação das informações no qual foi constatado as usinas que não estão mais em operação no estado. Dentre essas usinas, três pertencentes a grupos estrangeiros em Minas Gerais fecharam recentemente. A Usina Cabrera Energética, localizada em Limeira do Oeste e adquirida em 2008 pelo grupo ADM em parceria com o ex-ministro da Agricultura do Brasil, Antônio Cabrera, teve venda anunciada em março de 2016, para a CMAA. As transações foram concluídas em julho de 2016, após a aprovação pelos órgãos reguladores. (NOVACANA, s/d).

As outras duas usinas pertenciam ao grupo Infinity Bio Energy e foram criadas em 2006. Quatro anos depois, em 2010, tornou-se parte da Tinto Holding, do grupo de energia e infraestrutura Bertin, que adquiriu 71% dos ativos da companhia, passando a controlá-la. A companhia totalizava seis usinas nos estados da Bahia, do Espírito Santo, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. No entanto, decorrente ao processo de recuperação judicial, que corre desde 2008, apenas três ainda estavam operando até o início do primeiro semestre de 2015: Usinavi, em Naviraí (MS); Ibirálcool, em Ibirapuã (BA); e Disa, em Conceição da Barra (ES). Em julho de 2015, a companhia pediu autorização para a venda de três de suas seis unidades, o arrendamento das usinas restantes e uma renegociação com os credores de uma dívida estimada em mais de R$ 1,9 bilhão. (NOVACANA, 2015/2017).

Após o levantamento dos grupos estrangeiros presentes no estado de Minas Gerais, determinamos os cinco grupos Adecoagro, Louis Dreyfus (Biosev-LDC), British Petroleum (BP), Bunge e Dow-chemical/Mitsui como agentes da pesquisa.

Figura 2: Logomarcas dos grupos estrangeiros atuantes no setor sucroenergético de Minas Gerais a partir da década de 2000

Org.: CAMPOS, N. L., 2018.

Ao todo, são oito usinas com participação estrangeira no estado, divididas entre esses sete grupos. A Bunge possui 3 usinas, todas localizadas no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba. Das oito usinas, três não pertencem a essa mesorregião: a usina Monte Alegre do grupo Adecoagro, localizada no município de Monte Belo mesorregião Sul/Sudoeste de Minas, a usina Biosev-Lagoa da Prata, localizada no município de Lagoa da Prata mesorregião Central Mineira e a Bambuí Bioenergia, uma empresa da Petrobrás em parceria com o grupo francês Total, localizada em Bambuí (Oeste de Minas). Esses agentes serão apresentados de forma detalhada na seção seguinte, cujo objetivo é analisar a expansão do agronegócio canavieiro na mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, que se tornou um espaço atrativo para o capital externo.

Outro ponto importante na construção da metodologia é o uso das técnicas e instrumentos para coleta de dados (que conforme a Professora Vera Lucia Salazar Pessôa salientou em aula) devem estar em sintonia com o tema e problema da pesquisa. Segundo Pessôa (2012),

[...] a geografia, ao longo de sua trajetória, tem contribuído para desvendar a realidade. Conceitos e categorias ora são resgatados e colocados em discussão, ora formulados para que a realidade geográfica deixe de ser vista apenas pelo lado da observação e descrição e passe a ser interpretada por outras técnicas de pesquisa transportadas, muitas vezes, de outras áreas do conhecimento. Tanto a pesquisa quantitativa quanto qualitativa têm sido importantes recursos para esta análise. E uma não exclui a outra. O importante é a definição, pelo pesquisador, dos

instrumentos a serem utilizados para responder às indagações propostas em consonância com o método de interpretação. (PESSÔA, 2012, p. 8).

Por se tratar de uma pesquisa qualitativa, não existe uma regra precisa que deve ser seguida. O pesquisador é livre em suas escolhas quanto ao foco e ao planejamento do estudo. Conforme foi salientado em aula, na disciplina de metodologia científica, o foco e o planejamento devem surgir por um processo de indução, de conhecimento do contexto e das múltiplas realidades construídas pelos participantes.

Em nossa pesquisa, o planejamento se deu em torno de uma estruturação do trabalho acadêmico, que a partir dos temas e da definição do objeto de pesquisa, facilitou uma visualização geral dos conjuntos da tese e delimitação das técnicas que foram utilizadas na pesquisa. Não podemos fugir da observação como técnica de coleta de dados, pois o pesquisador é muito mais um telespectador que um ator. Nela o pesquisador permanece alheio a situação pesquisada a fim de analisar os fatos ou fenômenos estudados. A coleta de dados deve ser precedida por uma imersão do pesquisador no contexto a ser estudado, e essa imersão pode ser por meio de pesquisa teórica, documental e/ou pesquisa de campo.

Geralmente, o trabalho de campo resume-se tão somente ao levantamento de dados empíricos, as demais fases, como por exemplo, levantamento de fontes históricas, a leitura e interpretação dos dados censitários não encontram um tratamento adequado neste campo disciplinar. Para nós, trabalho de campo refere-se a todas aquelas atividades necessárias para compor o esqueleto, a carne e o sangue da pesquisa. Portanto, a necessidade do trabalho de campo se amplia, dado a seu grau de abrangência conforme estamos pontuando. (MARTINS, 2016, p. 63).

Como bem salientado por Martins (2016), a pesquisa de campo vai além de uma incursão ao campo para a coleta de dados empíricos junto aos agentes determinados. As pesquisas teóricas e documentais também podem ser consideradas uma pesquisa de campo por coletar informações fundamentais que poderiam não ser obtidas de outra forma. Os dados empíricos também são importantes por possuírem uma relevância no trabalho acadêmico. Eles muitas vezes nos trazem uma realidade diferente da imaginada e também podem trazer novos elementos ao trabalho.

A pesquisa de campo inicialmente foi pensada em obter informações dos três grupos, com visitas e realização de entrevistas nas usinas da região. Porém, esse primeiro contato não aconteceu devido à dificuldade de diálogo com as empresas e negativas em fornecer dados, com a justificativa de políticas rígidas sobre divulgação d informações

por serem empresas globais. Dado o ocorrido, partimos para outras estratégias de diálogo com outros agentes do setor.

A etapa da coleta de dados empíricos e incursão ao campo ocorreu entre julho e setembro de 2018. Os agentes participantes da pesquisa foram o Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool no Estado de Minas Gerais – SIAMIG, a empresa British Petroleum – BP, o Sindicato dos Produtores Rurais de Santa Juliana, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santa Juliana e funcionário da Bunge no município de Santa Juliana.

Num primeiro momento, foi estabelecido contato com a SIAMIG, o qual foi aplicado um questionário a fim de obter informações das usinas instaladas na mesorregião Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba e o setor sucroenergético de Minas Gerais. O questionário foi respondido parcialmente sob a justificativa de que não era permitido repassar informações individuais das associadas, sendo respondido apenas as questões gerais relacionadas ao setor.

Com a BP o procedimento e o resultado foram semelhantes ao da SIAMIG. Foi elaborado um questionário direcionado a empresa e a usina localizada em Ituiutaba e encaminhado a dois setores diferentes de gerenciamento da usina – o administrativo e o logístico. As informações obtidas foram de aspectos mais gerais como capacidade produtiva da usina e dados de produção, destino da produção no país e mão de obra.

Por fim, e como estratégia de obtenção de informações de um grupo estrangeiro, foi realizado uma pesquisa de campo no município de Santa Juliana, onde a Bunge tem uma unidade. Primeiramente realizamos contato com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município, no qual foi realizado entrevista autorizada com funcionário da usina. Houve visitas no Sindicato dos Produtores Rurais e prefeitura, que também forneceram informações pertinentes à pesquisa.

Como mencionado, há uma dificuldade no contato com os agentes da pesquisa, pois não há um interesse, sobretudo das empresas, em repassar informações específicas e que serão divulgadas em pesquisa, mesmo que algumas dessas informações sejam de acesso público. Foram feitos contatos com todas as cinco usinas, no qual foi enviado via e-mail uma carta de apresentação. A maioria não retornou a mensagem e as que responderam não manifestaram interesse.

Mesmo com as negativas, consideramos que os dados e informações adquiridos dos contatos obtidos, contribuíram com o desenvolvimento da pesquisa, trazendo novos elementos para o debate que envolve o setor sucroenergético mineiro e sua internacionalização.