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3. INTERNACIONALIZAÇÃO E AS NOVAS CONFIGURAÇÕES

3.3. A internacionalização no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba: os grupos

3.3.3. O grupo Dow-Chemical

A Dow é um grupo estadunidense que atua nos ramos de inovações e tecnologias através de produtos químicos, plásticos e agropecuários, baseados em princípios de sustentabilidade. Seu objetivo é oferecer variedade de soluções para problemas mundiais relacionados à utilização da água, a geração de energia renovável, a conservação de energia e o aumento da produção agrícola (DOW-CHEMICAL, 2018). A empresa possui 179 unidades fabris em 35 países. Por meio de suas indústrias, a Dow fornece produtos e soluções consideradas inovadoras para mercados em toda parte do mundo. O quadro 12 demonstra o que é produzido pelo grupo nos ramos de consumo, industrial e infraestrutura e embalagem.

Quadro 12: Ramos de atuação e produtos e soluções do grupo Dow-Chemical Consumo Industrial e Infraestrutura Embalagem

Bens de consumo Proteção de cultivos Silagem

Alimentos e bebidas Construção Cosméticos

Cuidado pessoal Eletrônicos e telecomunicações Alimentos e bebidas Cuidado com a casa Esporte e recreação Industrial

Higiene Energia Médico

Cuidado com a saúde Tintas e revestimentos Impressão Tintas e revestimentos Distribuição de energia e utilitários Produtos de varejo

Artigos esportivos Transporte Fonte: Dow-Chemical, 2018. Org.: CAMPOS, N. L., 2018.

Em 2015 o grupo anunciou fusão com a DuPont – empresa estadunidense com atuação semelhante, em produtos químicos, fibras, polímeros, produtos agrícolas, entre outros. Para que a fusão ocorresse, o que aconteceu em 2017, a Dow teve que vender ativos – parte do seu negócio de sementes de milho no Brasil. Segundo a empresa, “a transferência tem por objetivo ajustar os compromissos da Dow às exigências do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) envolvendo sua fusão prevista com a DuPont” (Exame, 2017). Com isso, o Cade aprovou a fusão das empresas condicionada a cumprimento de acordo com as partes que prevê uma série de desinvestimentos ao redor do mundo, que foram negociados com órgãos de defesa da concorrência de outros países e no Brasil. Com isso, formou-se a DowDuPont.

Entre esses compromissos está o desinvestimento de ativos relacionados a sementes de milho da Dow no Brasil, como a transferência de cotas em banco de germoplasma, centros de pesquisa, entre outros. (EXAME, 2017, s/p.).

Segundo reportagem do jornal O Globo, a fusão dessas empresas criará um conglomerado líder mundial na produção de agrotóxicos e sementes, desbancando a Monsanto (O GLOBO, 2017).

No Brasil, o grupo localiza-se nos estados de São Paulo, Bahia, Minas Gerais e Pará. Além dos segmentos anunciados, o grupo atua no setor sucroenergético de Minas Gerais, na usina Santa Vitória Açúcar e Álcool, situada no município de mesmo nome. A usina é subsidiária da Dow Química e ocupa uma posição de destaque na produção de cana da região. Ela possui capacidade de produção de 240 milhões de litros de etanol do tipo hidratado e 2,7 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por safra, em aproximadamente 40 mil hectares de plantação (DOW-CHEMICAL, 2018). Apesar da usina se chamar Santa Vitória Açúcar e Álcool, ela atua apenas na produção de etanol e energia (Pesquisa de campo – SIAMIG, 2018).

Suas lavouras compreendem a áreas localizadas nos municípios de Santa Vitória, Ipiaçú, Gurinhatã, Campina Verde, União de Minas e Limeira do Oeste, conforme mapa 7. Essas áreas também tiveram seus índices de produção elevados a partir de 2008 com a presença da usina Vale do São Simão, comandada pelo grupo paulista Andrade e que atualmente não está operando e em processo de recuperação judicial, e posteriormente em 2011 com a instalação da usina do grupo Dow.

Mapa 7: Municípios produtores de cana de açúcar pela Dow - Usina Santa Vitória e produção de cana (2000-2017)

Fonte: MAPA, UDOP, SIAMIG (2018); PAM-IBGE (2000-2017). Elaboração: CAMPOS, N. L., 2018.

Em 2011 foi criada uma joint venture entre a Dow e a empresa japonesa Mitsui para a produção de bioplásticos (“plástico verde”) na unidade Santa Vitória Açúcar e Álcool. De acordo com a revista Exame (2011), o acordo previa parceria com a brasileira Crystalsev, o que não chegou a se concretizar por causa da decisão da Santelisa Vale – controladora da Crystalsev – de rever suas operações. Com isso, foi firmado com a Mitsui que se tornou parceira com participação de 50% na operação de cana-de-açúcar da Dow em Santa Vitória. A parceria demandou um extenso projeto de construção na unidade com as operações iniciadas em 2013. Essas empresas já possuíam um histórico de parcerias, tendo formado também uma joint venture na Costa do Golfo americano para a construção de uma unidade de cloro-álcali em escala mundial. A joint venture formada entre essas empresas durou pouco tempo, sendo encerrada em 2015 com a saída da Mitsui. Todas as usinas estrangeiras da região são de atuação recente – da década de 2000, portanto, mais modernas em relação às primeiras instaladas do estado. À medida que a expansão canavieira acelerou na região, novos municípios foram inseridos nesta atividade. Como observado nos mapas das usinas e municípios produtores, o entorno das agroindústrias foi tomado pela cana, e territórios que antes não integrava o agronegócio canavieiro, passaram a contar com lavouras devido à demanda do setor sucroenergético da região. O Triângulo Mineiro já era tradicionalmente uma região voltada a agricultura e pecuária, e desde então, possui forte presença dos capitais externos em diferentes setores do agronegócio globalizado.

O que ocorreu desde o início do século XXI foi uma absorção dos territórios para a produção canavieira e a presença dos grupos estrangeiros reforçam uma expropriação do capitalista pelo capitalista, que transformam capitais pequenos em grandes capitais. Conforme Sposito e Santos (2012, p. 19), configura-se em um “processo que pressupõe apenas a alteração dos capitais já existentes e não está atrelado ao aumento da riqueza social ou aos limites da acumulação”. Com isso, as grandes empresas (multinacionais) passaram a ter um controle maior da estrutura de empresas nacionais que já eram consolidadas no país como uma empresa capitalista.

Observamos uma monopolização e controle do território como estratégia do processo de internacionalização, que tem intensificado a especialização produtiva desses territórios acionados para o cultivo da cana na região e consolidado o poder de empresas estrangeiras no setor sucroenergético.

Compreendendo a presença da internacionalização do setor sucroenergético da região, a próxima seção dedica-se às implicações sociais, econômicos e ambientais do

capital externo nestes territórios e os desdobramentos para novos debates que emergem, como o processo de estrangeirização de terras – “land grabbing”. É necessário investigar se existe a incorporação de territórios pelas multinacionais ou se o interesse é apenas voltado na acumulação de capital gerado pelas usinas brasileiras.

4. IMPLICAÇÕES DA INTERNACIONALIZAÇÃO DO CAPITAL SOBRE À