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4. ESTUDO 1: AS DISCIPLINAS INICIAIS DE PROJETO E SEUS

4.2. RESULTADOS

4.2.1. Distribuição das “disciplinas iniciais”: localização x tipos

4.2.1.1 As “disciplinas introdutórias” de projeto de arquitetura

Acerca das nomenclaturas das disciplinas introdutórias, verificou-se que nas grandes escolas igualmente ocorrem: cinco casos em que os títulos incidem diretamente sobre o aspecto projetual da disciplina, como ‘Projeto de Arquitetura 1’ (cursos diurno e noturno da UnB), ‘Atelier 1’ (curso diurno da UFBA), e ‘Oficina de Projeto 1’ (curso noturno da UFBA); nos outros cinco casos constam itens que aludem ao caráter preliminar da disciplina, como, por exemplo, ‘Fundamentos de Projeto’ (FAU-USP), ‘Concepção da Forma Arquitetônica 1’ (UFRJ) e ‘Introdução ao Projeto de Arquitetura 1’ (UFRGS). Verifica-se também que a palavra ‘projeto’ ocorre na maioria dos cursos, em sete casos (70% do total dentre as grandes escolas).

Nas demais instituições (médias/pequenas) com cursos de pós-graduação observa-se proporção semelhante àquela das grandes escolas, mas com predominância para os cursos (em número de dez, 59% do total) nos quais a disciplina introdutória de projeto nomeia-se simplesmente como disciplina de projeto, não possuindo acompanhamentos que indiquem o seu caráter inicial; em outros seis cursos (35%), ao contrário, há menções a esse respeito, como, por exemplo em ‘Fundamentos da Prática do Projeto’(UFPel) e ‘Laboratório de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo 1 – Percepção’ (UNESP-Bauru). Além de um caso em que o título (‘Espaço e Forma 2’ - UFRN) pouco explicita o caráter introdutório de projetação arquitetônica da disciplina. Sobre a ocorrência da palavra ‘projeto’, ela consta na grande maioria desse grupo de escolas, ocorrendo em quinze casos (88% do total).

Nas escolas sem cursos de pós-graduação observa-se ampla maioria de disciplinas introdutórias com nomenclaturas que evidenciam o caráter projetual diretamente (em dezessete casos, 63% do total), fato reforçado em razão de muitas estarem posicionadas fora do primeiro período dos currículos dessas escolas (70% do total). Nos outros dez cursos (37%), os títulos são acompanhados por itens como ‘estudos’ (UFT), ‘elementos’ (UEMA), ‘fundamentos’ (UNESP-Presidente Prudente) e ‘introdução’ (UDESC, UFRRJ, UFMS, entre outras). Nesse mesmo sentido, o vocábulo ‘projeto’ (além de ‘planejamento’) está presente em quase todas as escolas desse grupo (em 23 cursos, 85% do total).

Nessa perspectiva, constata-se que, nas escolas em que há pós-graduação, existe a tendência da disciplina introdutória de projeto inserir-se logo no primeiro período do curso, não havendo grandes preocupações em evitar-se a palavra ‘projeto’ de suas nomenclaturas. Já nas escolas sem pós-graduação, ao contrário, nota-se alguma tendência desta disciplina situar-

se fora do primeiro período, utilizando-se a palavra ‘projeto’ nas nomenclaturas de disciplinas mais distanciadas da origem do curso.

Sobre o conteúdo das ementas (cf. Anexo A), realizaram-se análises tendo como facilitadores os gráficos de análise de similitude gerados pelo software Iramuteq em razão do aspecto sintetizador do programa em apresentar simultaneamente os resultados acerca das palavras mais conectadas e maiores ocorrências de vocábulos. Porém, ressaltamos que as nossas análises não se basearam inteiramente nesses dados informáticos, sendo usados, na realidade, como elementos auxiliares para o exame das informações textuais das 54 ementas, inseridas conjuntamente em um dos três grupos pré-estabelecidos pela pesquisa, apresentados a seguir.

Antes, porém, apresenta-se uma visão geral de todas as ementas, vistas em conjunto na Figura 2. Nela observa-se análise de similitude conformada por um gráfico binucleado pelas palavras principais da disciplina em questão, conectadas fortemente: ‘projeto’ e ‘arquitetura’, tendo este último vocábulo apresentado maior quantidade de ramificações, dentre as quais são evidenciadas ‘estudo’, ‘representação’ (que posteriormente se liga à ‘gráfico’ e ‘expressão’), ‘programa’, ‘relação’, ‘processo’, ‘percepção’, ‘desenvolvimento’, e ‘forma’ (que, em seguida, se conecta à ‘função’). Além destas, a palavra ‘espaço’ aparece como a ligação mais importante, formando uma espécie de terceiro (sub)núcleo em torno do qual constam principalmente ‘análise’ e ‘organização’.

De acordo com esse primeiro apanhado estatístico, em torno do núcleo ‘arquitetura’ os segmentos de ementas mais representativos dessa composição vocabular melhor expressam-se em: “Desenvolvimento da criatividade através da percepção, estudo e pesquisa das formas, instrumento e técnicas de representação gráfica em Arquitetura. Práticas de croquis com ênfase em proporção, escala e expressão.” (Atelier 1, curso diurno da UFBA) e “Iniciação à prática do projeto de arquitetura: desenvolvimento de projetos (...) de complexidade tecnológica/funcional/programática elementar, considerando (...) aspectos humanos, sociais e físico-ambientais condicionantes da arquitetura: programa de necessidades (função/utilidade) (...). Métodos compositivos de interpretação e produção do espaço e da forma; sua percepção e descrição; metodologia de projetos de arquitetura. Objetiva introduzir o aluno no processo projetivo em arquitetura (...).” (Arquitetura 3, UNILA).

Em relação ao subnúcleo ‘espaço’, melhor exprime a ideia desse agrupamento de palavras o excerto da disciplina Projeto de Arquitetura 1, da UFAM: “Introdução da prática de elaboração de projetos a partir de problemáticas simples (...) permitindo abordar o processo de formulação de ideias e programas de arquiteturas e a sua expressão em termos

da organização do espaço. Tratamento da arquitetura na sua totalidade, considerados os aspectos humanos, ambientais, tecnológicos, funcionais e estéticos. Análise de espaços existentes e sua proposição.”

Figura 2 – Gráfico de similitude de todas as ementas das 54 disciplinas introdutórias de projeto de arquitetura.

Fonte: Dados gerados por Iramuteq.

No agrupamento nucleado por ‘projeto’ ocorrem principalmente os vocábulos ‘prático’ (que se liga a uma gama de itens diferenciados), ‘introdução’, ‘preliminar’, ‘exercício’, ‘desenho’, ‘arquitetônico’ e ‘linguagem’. Bem expressam esse sentido as ementas das disciplinas Oficina 2 (UFSJ) e Projeto de Arquitetura 1 (UnB), expostas respectivamente a seguir: “Introdução à prática projetual da arquitetura e do urbanismo. Introdução ao desenho de arquitetura (...). Desenvolvimento de linguagem própria para representação e expressão analógica e digital. Exercício de problematização e crítica espacial, introduzindo a

lógica estrutural (...).Objetiva consolidar a prática de integração de conteúdos (...)”; “Prática intensiva de projetos como resposta a situação arquitetônicas simples, predeterminadas, com acentuado compromisso com o urbano (...). Desenvolvimento em nível de estudo preliminar. Apresentação com ênfase no desenho à mão livre com perspectivas e maquetes”.

Mesmo que se expressem dois (ou três) núcleos importantes e bem conectados entre si, de forma geral, os conteúdos das 54 ementas vistos em conjunto apresentam pouca unidade em relação aos seus pormenores, fato observado através da pulverização das ramificações secundárias, frágeis na maioria dos casos.

A respeito das correlações entre os conteúdos dessas ementas com a hipótese defendida nessa tese – segundo a qual a academia pouco considera a bagagem que o alunado iniciante traz consigo – essa primeira verificação exibe alguns vestígios que provavelmente se confirmem como subsídio para tanto, haja vista o pequeno número de palavras relacionadas aos conteúdos que procuramos nas ementas. Dentre os vocábulos expostos no gráfico, as que melhor dão sentido a essa ideia são: ‘aluno’, que, apesar de estar em relativa evidência e conectada diretamente ao núcleo ‘arquitetura’, não se articula com outras palavras e não se ramifica; ‘percepção’, termo igualmente relevante na análise de similitude, mas que apresenta ramificações que pouco informam sobre o aspecto que esperamos; e ‘social’, que se apresenta pouco relevante.

Vistas separadamente em três grupos distintos e com enfoque pormenorizado sobre os textos dessas ementas observam-se dados mais elucidativos.

Nos dois primeiros agrupamentos, formados pelas escolas com cursos de pós- graduação stricto sensu, observa-se que no grupo das grandes escolas (com dez cursos no total) não constam explicitações sobre o conhecimento prévio do alunado iniciante nas ementas das disciplinas introdutórias de projeto de arquitetura, no entanto há importantes recorrências feitas aos elementos pré-existentes, tanto arquitetônicos, quanto principalmente urbanos. Ou seja, mesmo que o ementário não aponte se tais elementos fazem parte ou não do ambiente do alunado, eles se inserem num determinado universo vivo, complexo, não existindo clarificações sobre se está situado próximo à escola ou não. Traduzem este ideário as passagens: “(...) acentuado compromisso com o urbano. (...) considerados os aspectos ambientais, tecnológicos, funcionais e estéticos. Análise de espaços existentes e sua reproposição(...)” (UnB, cursos diurno e noturno); “(...) estudar o espaço de arquitetura e urbano dentro de uma visão sistêmica, em que se inter-relacionam aspectos sociais, espaciais, formais, funcionais, construtivos e ambientais; analisar projetos (...) identificando

conceitos e fundamentos projetuais e ampliando a repertorização para o projeto(...). Entende-se que a iniciação ao projeto deve partir de um problema concreto, em um espaço público aberto(...).” (UFRGS); “Sensibilização para prática de projeto de arquitetura e urbanismo. Desenvolvimento da habilidade de percepção individual e compreensão do espaço. Introdução ao exercício de projeto pela problematização de situações, proposição e execução de ideias (...)” (UFMG, curso diurno); “(...) A disciplina visa fortalecer a capacidade crítica e propositiva dos alunos, como futuros arquitetos e cidadãos. O curso tem como foco a compreensão do espaço construído da cidade, sua arquitetura e as possibilidades de sua modificação (...).” (FAU-USP).

Provavelmente devido ao pequeno número de ementas oriundas desse grupo de escolas, o gráfico decorrente da análise de similitude não expressou efetivamente essas especificidades consideradas pelo pesquisador, ocorrendo destaque somente aos ‘aspectos ambientais’ e ‘urbanos’. Outro fato curioso refere-se à palavra ‘projeto’, que se insere de maneira não muito relevante, mesmo que todas essas disciplinas visem o exercício projetual (cf. Anexo A). Provavelmente, em razão de estarem situadas no primeiro período de curso, as ementas tenham procurado amenizar a quantidade de ocorrências desse vocábulo (Figura 3).

Figura 3 – Gráfico de similitude de ementas de disciplinas introdutóriasde projeto (grandes escolas).

No grupo formado pelas 17 pequenas e médias escolas com cursos de pós-graduação, observou-se menção direta às questões relacionadas à hipótese somente na ementa da UFC: “Objetiva a elaboração de um projeto de arquitetura com base em um programa relacionado à vivência e à percepção empírico-intuitiva do aluno”. Em outros três casos desse grupo, assim como verificado em alguns cursos de grandes escolas, percebem-se referências tangentes a tais questões: “Conceito e definições de arquitetura desde a escala do edifício até a da cidade. Arquitetura como (...) produto social” (UFPB); “(...) temas básicos de caráter doméstico (...); considerar o tecido urbano e as particularidades locais como condicionantes do exercício projetual; explorar as questões ambientais, social, culturais (...)” (UEM); “Percepção da construção histórica da cidade. (...) Morfologia paisagística (...) Repertório conceitual” (UFSC). Acerca da análise de similitude, não foram evidenciadas tais características no gráfico apresentado na Figura 4, possivelmente em razão de formarem um conjunto minoritário de ementas (24% do total) que abarque essas questões.

Figura 4 – Gráfico de similitude de ementas de disciplinas introdutórias de projeto de arquitetura oriundas de pequenas/médias escolas com curso(s) de pós-graduação stricto sensu em AU.

Notam-se já nesta escala, porém, a formação de três núcleos distintos e traços referentes à pulverização dos vocábulos (conforme anteriormente observado na Figura 2), havendo maiores evidências de termos mais genéricos como ‘concepção’, ‘introdução’, ‘representação’, próprios desse tipo de disciplina.

Semelhantemente, nas ementas dos demais 27 cursos (de escolas sem programas de pós-graduação) encontrou-se apenas um caso em que a ementa explicita considerar o conhecimento do alunado: “A metodologia da disciplina de Introdução ao Projeto alia a bagagem cultural e o potencial criativo dos alunos (...)” (UDESC). Outras quatro ementas apresentam algum subsídio nesse sentido, mas não de forma efetiva. Respectivamente, na UFMT e UTFPR ocorrem indicações acerca de determinados contextos/universos nos quais as escolas se inserem: “Prática intensiva de projetos (...) cujos temas e programas sejam de (...) acentuado compromisso com as peculiaridades regionais”; e “Introdução das bases teóricas e práticas da metodologia da elaboração de projetos de arquitetura a partir da compreensão (...) de um contexto imediato”. Na UFAM há indicações acerca da “(...) prática de elaboração de projetos a partir de problemáticas simples que exprimam o cotidiano do ser humano (...)”. No caso do curso da UFCG os conhecimentos precedentes do alunado são mencionados, mas sem grandes explicitações sobre os mesmos: “Representa o momento em que o aluno primeiro se depara com o exercício projetual, tendo que manipular, além de conhecimentos prévios, como os de representação gráfica e de maquetes físicas, aqueles referentes à forma e a função no projeto”.

Quanto ao gráfico decorrente da análise de similitude formada pelas ementas desse terceiro recorte de escolas (Figura 5), verificam-se muitas semelhanças com o gráfico representado pelas ementas de todas as escolas (haja vista que este grupo compõe-se por 50% dos cursos pesquisados), dentre as quais destacamos: a pulverização das ramificações secundárias, a pouca unidade acerca dos pormenores, e a conformação elementar da conexão ‘forma-função’ ligada ao núcleo ‘arquitetura’. Acerca dos excertos levantados sobre a hipótese, constam no gráfico menções pouco significativas sobre os mesmos, já que apresentam-se relativamente pequenos os apontamentos sobre o conhecimento precedente do alunado e as especificidades do lugar.

Em suma, constam menções diretas à hipótese em apenas duas ementas, o que representa apenas 3,70% do total apurado, sendo uma relacionada ao segundo grupo (UFC) e uma ao terceiro (UDESC). Tangenciamentos à questão principal, relacionados indiretamente a ela, foram verificadas em doze ementas, 22,22% do total, oriundas de cinco cursos do

primeiro grupo (UFRGS, FAU-USP, UFMG e dois da UnB), três do segundo (UFPB, UEM e UFSC) e quatro cursos do terceiro grupo (UFMT, UTFPR, UFAM e UFCG).

Figura 5 – Gráfico de similitude de ementas de disciplinas introdutórias de projeto de arquitetura oriundas de pequenas/médias escolas sem curso(s) de pós-graduação stricto sensu em AU.

Fonte: Dados gerados por Iramuteq