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As drogas no desenvolvimento da infecção pelo VIH

3. VIH/Sida

3.11. VIH/Sida e Toxicodependência

3.11.1. As drogas no desenvolvimento da infecção pelo VIH

As drogas recentes mais significativas, e que foram introduzidas no passado Séc. XX são o Crack, Ecstasy, Crystal, e Viagra. O Crack assume um papel importante para a evolução do VIH, particularmente em algumas cidades dos E.U.A., contudo o ecstasy revela-se como substância ambígua neste contexto, tendo o seu consumo disparado na América do Norte, Europa e Austrália. Mais recentemente o crystal e o viagra também jogam um papel importante no progresso da infecção pelo VIH, particularmente entre a comunidade gay. (Fieldhouse, 2003)

O Crack é um potente derivado da cocaína, alguns estudos atribuem a grande evolução da infecção VIH em grupos de mulheres nos EUA, uma vez que estas assumem um alto consumo de Crack. Parece existir nos EUA casas de Crack onde estas mulheres praticam sexo em troca de mais Crack. Por outro lado é uma droga que estimula para a sexualidade com um grande número de parceiros. Também é comum encontrar além de VIH uma grande prevalência de outras infecções sexualmente transmissíveis, nestes consumidores. Investigações realizadas na Florida revelam que mulheres consumidoras de Crack têm em média mais de 5 parceiros sexuais por mês. (Schoenfisch 1993, cit. por Fieldhouse 2003) O mesmo autor chamou a atenção para o facto de existir risco de contágio de VIH por via oral, uma vez que os fumadores de Crack efectuam frequentemente sexo oral.

O ecstasy está relacionado com o sexo não protegido, facto comprovado por um grande número de estudos relativos aos comportamentos sexuais, particularmente em homossexuais. Um estudo realizado nos EUA e publicado em 2000 refere que os homens que consomem ecstasy estão mais atreitos a praticar sexo desprotegido. Neste estudo verificou-se que 57% dos homens tiveram pelo menos uma vez sexo desprotegido no ano anterior, tal percentagem sobe tendencialmente para aqueles que consomem ecstasy. Alguns consumidores de ecstasy referem que o uso desta droga provoca relaxação nas veias sanguíneas do pénis, dificultando a manutenção da erecção, como tal, conciliam com o fenómeno da anti-impotência, o viagra. Este passou actualmente a ser combinado com outras drogas como o ecstasy, sendo prática comum em alguns clubes gays. Por outro lado, muitos indivíduos VIH positivos sofrem de disfunção eréctil, logo pedem viagra aos seus médicos de família, sendo o viagra um medicamento de fácil acesso, mesmo por fontes ilícitas. Um estudo desenvolvido em Durban em 2000 concluiu que 83% dos homossexuais usaram viagra sem prescrição médica e que 63% combinaram o uso de viagra com outras drogas

recreativas. O uso de viagra neste contexto funciona como factor de risco para a contracção de VIH. Um estudo ainda mais recente realizado em S. Francisco na Califórnia, refere que 17% dos utilizadores de viagra combinam-no com poppers (amy/buty/nitrate) o que pode facilitar uma perigosa baixa na pressão sanguínea e ataque cardíaco. Sem dúvida o viagra, permite aos homens uma maior exposição sexual, tendo mais parceiros. (Fieldhouse, 2003)

A partilha de seringas provoca o risco de exposição e re-exposição ao VIH, como o perigo acrescido de introduzir outras infecções no organismo, ou até a eventualidade de ocorrer uma reacção de septicemia. Os consumidores de drogas injectáveis devem ser encorajados a parar com os consumos e substitui-los pela metadona, ou idealmente parar totalmente com os consumos. Pode ser extremamente difícil esta transição para o toxicodependente, particularmente se tal acontece imediatamente a seguir ao conhecimento do diagnóstico da positividade para VIH. (Alcorn, 2002) Sabe-se contudo que o uso de drogas é um dos factores mais importantes para a disseminação do VIH, particularmente quando se partilha o equipamento para injectar a substância. Um estudo realizado pelo programa NIAID em 2003 refere que o VIH pode sobreviver numa seringa usada pelo menos até quatro semanas. (NIAID Intramural AIDS Research Program, 2003)

Existe uma tendência para a evolução de Sida nos consumidores de drogas injectáveis. Em contraste, activistas australianos desenvolveram e divulgaram linhas de orientação, de uso seguro de drogas recreativas, para indivíduos com contagem de CD4 inferiores a 400. (Alcorn, 2002) Por outro lado, o uso de drogas injectáveis provoca maior resistência à terapêutica antiretroviral, o que sugere que indivíduos consumidores de drogas por esta via, podem apresentar dificuldades perante a eficiência da terapêutica antiretroviral. (Casquilho, 2002)

Alguns estudos sugerem que fumar não afecta directamente a progressão da infecção por VIH, tal como a diminuição de CD4 ou o aumento de replicação viral, contudo existem fortes evidências que aumenta o risco do desenvolvimento de certas infecções oportunistas (Elizabeth, et al., 2003)

Alguns autores afirmam que o consumo de poppers (nitritos inalados) provoca supressão no sistema imunitário. Investigações realizadas na Universidade de Arkansas revelam que indivíduos expostos diariamente a nitritos durante 45 minutos sofrem de sérias deficiências ao nível das funções das células T. Outros estudos apontam para o facto de que uma exposição crónica a inalação de nitritos, mesmo com

intervalos espaçados, é suficiente para produzir graves alterações na função linfocitária. Em humanos a inalação de nitritos voláteis, causa imunossupressão, particularmente na actividade das células natural born killer, seguida de uma ligeira recuperação, quando a droga deixa de ser inalada durante vários dias (Alcorn, 2002)

Por outro lado, muitas destas substâncias psicoactivas provocam indesejáveis interacções quando tomadas concomitantemente com a terapêutica HAART. Os inibidores de protease provocam interacções com o uso de outras drogas. Mesmo no caso de algumas drogas prescritas pelos médicos, as quais são usadas por um grande número de indivíduos VIH positivos, como a metadona, usada no tratamento de toxicodependentes. Uma droga de uso recreativo conhecida por GHB (gamma hydroxybuytrate) é extremamente perigosa quando associada a inibidores de protease. (Houyez, 1998)

A metanfetamina também provoca graves interacções quando associada aos antiretrovirais, esta é metabolizada por uma enzima específica, a qual é inibida pelo antiretroviral. Logo o medicamento atrasa o metabolismo da metanfetamina, podendo causar overdose. (Alcorn, 2002)

A maior parte dos antiretrovirais são metabolizados pela enzima P 4503A4, a mesma que processa o viagra. Consequentemente a conjugação dos antiretrovirais com o viagra pode promover altos níveis de viagra no sangue, provocando efeitos colaterais. Em 1999 foi reportado no jornal The Lancet o caso de um homem que morreu, tendo tomado viagra após a ingestão do inibidor de protease. Logo a conjugação de antiretrovirais e viagra deve ser realizada com níveis de viagra extremamente baixos, perto das 25mg. (Alcorn, 2002)

Foi estudada a interacção entre o AZT e a metadona, daí concluiu-se que a metadona aumenta os níveis de AZT, indivíduos que tomem as duas drogas só necessitam de tomar metade do AZT, para obter os mesmos efeitos antiretrovirais, tal também se aplicada a outros opiáceos. Existe muito pouca investigação sobre as interacções entre a metadona e outros nucleósidos como ddI, ddC e 3TC, contudo não foram identificados problemas perante a combinação destas drogas. (Fichtenbaum, et al 1998) Alguns médicos tomam precauções perante a combinação de inibidores de protease e anti depressivos, estimulantes ou opiáceos. (Fichtenbaum, et al 1998)

Tendo em conta todo este panorama parece existir evidências de que o uso recreativo de certas drogas pode causar danos significativos no sistema imunitário, potenciando igualmente a progressão da infecção pelo VIH, não é fácil distinguir os

efeitos e consequências de cada droga em particular, contudo elas podem directamente levar a insónias, má nutrição, perturbações na aderência à terapêutica antiretroviral, o que indirectamente tem implicações no decorrer a infecção por VIH. (Alcorn, 2002)

Um estudo desenvolvido em 2001 concluiu que o uso semanal de alucinogenios ou cocaína levaram à morte 370 homens VIH positivos em São Francisco. Por outro lado o uso de alucinogénios levou a uma progressão mais rápida da infecção por VIH. (Vittinghof, 2001 cit. por Fieldhouse, 2003)

A cocaína leva ao aumento da infecção por VIH nas células imunitárias o que promove a aceleração da destruição imunitária. O uso de crack também surge associado a uma significativa progressão clínica da infecção. A metanfetamina leva a uma replicação muito rápida do VIH no cérebro (Fieldhouse 2003)