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VIH Vírus da Imunodeficiência Humana

3. VIH/Sida

3.1. VIH Vírus da Imunodeficiência Humana

O VIH refere-se ao vírus da imunodeficiência humana, o qual surge associado à imunodeficiência símia (VIS) ou felina (VIF). Tal leva-nos a pensar que o vírus da imunodeficiência não é exclusivamente humano, mas pode surgir noutros animais. Sabe-se que o VIH (VIH-1 e VIH-2) tem origem em lentivírus desenvolvidos a partir de símios de algumas espécies do continente africano. Sendo um vírus que evoluiu muito rapidamente, o que provoca muitas replicações, as quais estão na base de diversas variantes, com características biológicas particulares. Talvez uma delas se tenha apresentado como extremamente patogénica para o homem após imensos anos de contacto. (Ouakinin, 2001)

Este vírus inclui-se no grupo dos retrovirus, logo é constituído por RNA. ácido ribonucleico) pertence ao grupo dos lentovírus o que define um curso gradual à doença. O RNA é transcrito em DNA na célula infectada como protovírus, inicia-se uma nova síntese de partículas de RNA que originam novos vírus. Tal fenómeno chama-se transcrição inversa e a enzima que realiza esta tarefa denomina-se transcriptase inversa. De acordo com o ciclo de replicação viral, o VIH insere-se na célula hospedeira por uma glicoproteína da sua membrana, a Gp120, ao receptor CD4, que se situa na superfície de algumas células, particularmente linfócitos e macrófagos.

A proteína viral Gp 41 permite que a membrana viral se funda com a da célula onde o genoma viral penetra. (Ouakinin, 2001)

A transcriptase reversa possibilita a cópia do VIH numa cadeia de DNA complementar (CDNA). Esta cópia ao entrar no núcleo da célula integra o genoma do hospedeiro por acção de outra enzima do vírus a íntegrase. Efectua-se a replicação viral quando a célula hospedeira é activada, surgindo novas partículas de RNA por transcrição do vírus. Surgem unidades funcionais a partir da protease viral, saindo da célula num invólucro proteico constituído a partir da membrana celular (Ouakinin, 2001).

De acordo com Ouakinin, (2001), o RNA do vírus é capaz de promover uma replicação viral em células activadas, pois codifica várias proteínas reguladoras. O que permite a rápida replicação do VIH, logo desde o inicio da infecção, verificando- se uma relação de equilíbrio entre a replicação do vírus e a produção de células CD4. Até que as células CD4 deixam de ser sintetizadas nos níveis adequados à resposta imunitária e o hospedeiro perde a sua imunocompetência.

O VIH é hoje conhecido pela sua capacidade de sobrevivência em diferentes meios ambientes e a evolução dos seus genomas que resultam de mutações, rearranjos e recombinações genéticas, que ocorrem durante o processo de transcrição inversa, é a causa responsável pelo grau de variação genética do VIH. (Ouakinin, 2001)

Foram até hoje identificados dois tipos de VIH: o VIH 1 e o VIH 2, o primeiro é o mais frequente em todo o mundo e o segundo foi inicialmente descoberto na África e é mais parecido com o vírus da imunodeficiência dos símios. O VIH-2 foi identificado em 1986 e está definido a diferenciação existente entre este tipo de vírus e o VIH-1, não só no que diz respeito à evolução da infecção, como no seu ciclo biológico. Na infecção provocada pelo VIH-2, a latência clínica é maior que a do VIH-1, podendo até ultrapassar os 20 anos, enquanto que a infecção pelo VIH-1 apresenta um período de latência situado entre os 10 a 12 anos. (Alcorn, 2002)

O continente africano é o mais afectado pelo VIH-1, apesar deste estar presente em todo o mundo. O VIH-2 está mais disseminado pelos países de África Ocidental, como o Senegal, Cabo Verde, Angola, Moçambique. Contudo também apresenta prevalência noutros países, particularmente naqueles onde ocorreram contactos estreitos com países africanos, como a Índia, Brasil, França e Portugal. (Lourenço, 2001)

Além do continente africano , Portugal é o único país que apresenta um número significativo de infectados pelo VIH-2, tal deve-se aos contactos efectuados com as ex. colónias em África Ocidental. O VIH-2 existe actualmente em 5% dos casos notificados em Portugal. Têm-se verificado o aparecimento de novas estripes de VIH, que advém de mutações associadas ao ciclo de replicação vírica, como de trocas genéticas entre VIH positivos que circulam em diferentes comunidades. A grande variabilidade de estripes condiciona a preparação de vacinas e até a eficácia terapêutica antiretroviral e desenvolvimento de novos medicamentos. (Fieldhause, 2003)

A infecção causada pelo VIH-2 parece ser menos patogénica que a causada pelo VIH-1. É mais difícil isolar o VIH-2 no sangue de indivíduos infectados, do que o VIH-1. A Imunodeficiência causada pelo VIH-2 demora muito mais tempo a desenvolver-se, e os indivíduos afectados ficam assintomáticos durante mais tempo e podem manter-se sem desenvolver altos níveis de vírus no sangue, por 15 a 20 anos depois da infecção. (Fieldhause, 2003) O VIH-2 não é tão facilmente transmissível, como o VIH-1, durante o período assintomático da infecção, existindo níveis muito baixos de vírus durante esta fase, o que explica o facto deste vírus ser menos explosivo no seu desenvolvimento. (Fieldhause, 2003) A menor patogénese do VIH-2 pode ser também explicada, pelo facto deste usar um conjunto mais alargado de co- receptores em conjunto com a molécula TCD4+, o número de cópias plasmáticas de ARN é menor do que o do VIH-1. Alguns estudos defendem a existência de anti- corpos neutralizantes, respostas citotóxicas das células T auxiliares contra antigénios VIH-2, tal como a reactividade cruzada entre antigénios VIH-1 e VIS. (Espada, & Victorino, 2001)

Um estudo desenvolvido no Senegal com prostitutas permitiu verificar que os indivíduos infectados com VIH-1 desenvolvem muito mais rapidamente a carga viral e surge um grande número de novos casos contaminados com VIH-1, por cada novo ano. Enquanto os infectados com HIV-2 desenvolvem a carga viral muito mais lentamente e o número de novos casos em cada novo ano era praticamente idêntico. A investigação demonstra que é necessário 5 anos para que o número de casos infectados com VIH-1 duplique e 31 anos para a duplicação dos casos infectados com VIH-2. O VIH-2 é mais dificilmente transmitido de mãe para filho, talvez devido à baixa carga viral existente. (Fieldhause, 2003)

Em 1994 foram identificados três grandes grupos genéticos relativos ao VIH, o M (major), o qual inclui os vírus dominantes na pandemia, O (outlier), que é um grupo divergente e o N (non-M, non-O), grupo não M nem O, este último mais recentemente descoberto. Verifica-se uma considerável variação genética entre estes três grupos, o grupo M divide-se em 12 sub grupos genéticos. Mais recentemente, foram identificados estripes virais resultantes de constantes recombinações entre estripes dos grupos M e O, a descoberta destas recombinações levou a uma nova classificação de VIH-1, o que demonstra o constante movimento evolutivo do VIH. (Pereira, 2001) Neste seguimento, Martins, (2001) assume de acordo com uma análise filogenética, que o grupo M pode subdividir-se em subtipos equidistantes sob o ponto de vista genético, logo podemos identificar nove subtipos: A, B, C, D, F, G, H, J e K. Tal significa que uma linhagem distinta, reconhecida e relacionada com um subtipo, não é contudo geneticamente distante para ser considerada um novo subtipo. Como tal, dentro do subtipo F encontramos duas linhagens distintas, que são consideradas sub-subtipo F1 e F2.

De acordo com Fieldhause, (2003) existem algumas variantes do VIH-1, as referências aos seus subtipos têm-se tornado mais frequentes na literatura científica. Estes subtipos predominam em diferentes partes do mundo e a ocorrência dos mesmos subtipos em países distantes abre pistas sobre a disseminação global do VIH. De acordo com o mesmo autor, estão identificados os seguintes subtipos de VIH-1: - Subtipo A - encontra-se em África Central;

- Subtipo B - existe nos países desenvolvidos, afectando particularmente os consumidores de drogas injectáveis e os homossexuais. É comum na América, Europa, Austrália e Tailândia. Continuando a contaminação deste subtipo, nos grupos indicados.

- Subtipo C - encontra-se na Índia, Brasil, Etiópia, Tanzânia, China e África do Sul, sendo actualmente o vírus mais difundido à escala mundial;

- Subtipo D - existe na África Central;

- Subtipo E - encontra-se na República Africana Central e na Tailândia;

- Subtipo F -verifica-se no Brasil, Roménia, República democrática do Congo; - Subtipo G - existe na República democrática do Congo, Gabão e Taiwan; - Subtipo H - encontra-se na República democrática do Congo e Gabão.

O grande número de variantes do VIH existente em África sugere que o VIH tem estado presente nos humanos nesse continente há mais tempo que noutras partes

do mundo. Por outro lado o VIS foi identificado em mais de vinte espécies diferentes de primatas africanos, tendo-se isolado pelo menos treze. De acordo com Ferreira, (2001), o VIH-1 está situado mais próximo do lentivírus dos chimpanzés, e o VIH-2 aproxima-se de outras espécies de macacos, como os mangabeys e os mandrillus. Formas recombinadas do vírus, entre diferentes subtipos, estão a aumentar grandemente nalgumas partes do mundo, especialmente na África Ocidental, onde a maioria das pessoas com VIH apresentam vírus descritos por recombinações AG, o que muitas vezes inclui secções de outros subtipos. O subtipo E consiste na recombinação entre o subtipo A e outro vírus. Foi classificado como uma forma de recombinação circular e assume o nome alternativo de CRF 01 - AE. (Fieldhause, 2003). Denota-se um aumento gradual de um número crescente de sequências que não se enquadram na nomenclatura padrão. Logo, as recombinações genéticas organizam novas estripes, que contribuem para o aumento e descontrole da doença. O fenómeno de formas de recombinação circular está na sua origem. Existem quatro formas de recombinantes em circulação: CRF01- AE (pertencia ao subtipo E), CRF02- AG, o qual existe em África central e ocidental; CRF03-AB, este circula geralmente em consumidores de drogas injectáveis e está presente em Kalininegrado e o CRF04-cpx, recombinação grega, que integra quatro subtipos - A, G, H, K. (Martins, 2001)

A existência destes subtipos representa a evolução do VIH, a qual é potenciada pela facilidade de deslocação, que leva aos contactos humanos cada vez mais frequentes e fáceis entre povos distantes. A evolução constante do vírus, tal como a sua constituição altamente diferenciada, com a existência de grupos M e O não permite a delimitação precisa do VIH e a detecção serológica ou até a consolidação de uma vacina. (Ferreira, 2001).

Seropositividade refere-se à infecção do Sistema Imunitário, o qual vai reagir pela produção de anticorpos contra o VIH. O organismo demora aproximadamente três meses reagir à infecção. Quando se encontram anticorpos significa que o indivíduo esteve em contacto com o vírus, embora não surjam sintomas da doença, o indivíduo seropositivo pode transmitir o vírus a outras pessoas, enquanto o vírus está alojado nos linfócitos T4. Este fenómeno denomina-se por seropositividade que pode manter-se por vários anos até que o vírus resolva multiplicar-se e destrua os linfócitos T4, deste modo aparecem as infecções, com as doenças oportunistas. Esta é que é a fase de SIDA, que significa um período avançado da replicação viral, que após a falência do sistema imunitário surge todo um conjunto de infecções.