• Nenhum resultado encontrado

As estratégias pedagógicas da educação popular

3 “BALÉ DOS CONCEITOS” NA FORMAÇÃO DO SER-SUJEITO-CRIANÇA: APORTES TEÓRICOS PARA UMA CONSTRUÇÃO HISTÓRICA E CONCEITUAL

6 A EDUCAÇÃO FILOSÓFICA FREIREANA COM CRIANÇAS

6.2. Elementos metodológicos na formação do ser-sujeito-criança

6.2.2. As estratégias pedagógicas da educação popular

Para estimular a compreensão dos temas de educação popular desenvolvidos nas aulas de filosofia, são utilizadas diferentes ferramentas e estratégias com a intencionalidade de tornar o ambiente mais lúdico e incitar a atenção, a curiosidade, a bisbilhotice e a participação dos (as) educandos (as) nos Encontros. É o que nos diz a Educadora C:

Utilizamos dinâmicas que são ou compartilhadas por outros membros do NEP ou encontradas em livros e sites, recursos lúdicos, materiais escolares como lápis de cor, canetinhas hidrocor, papel cartão, papel A4 e isopor11 e, por vezes, os educadores do NEP devem usar a criatividade tanto para elaborar os Encontros e a aplicação dos mesmos, até mesmo na hora de conduzir o Encontro. (Ed. C).

Além dos recursos encontrados em livros, sites, ou ao fazerem uso de materiais como lápis de cor, papel A4 e outros, a educadora assinalou o “uso da criatividade” dos educadores para fazer com que a aula tenha graça, seja alegre, pois não adianta ter tanto material à disposição das crianças e deixá-las sem condução quanto ao uso. É importante que elas saibam da intenção, dos alvos de se ter esses materiais.

Concomitante a esta linha, no que diz respeito às estratégias metodológicas, o Educador D proporciona outras táticas como o uso da roda de conversa, as contações de histórias, a apresentação de músicas e vídeos, as quais, nas observações que fez dos Encontros, são as metodologias com que as crianças mais se identificam, além do que, são repletas de conteúdos que contribuem para sua formação enquanto sujeitos.

As estratégicas pedagógicas mais usadas são as rodas de conversa, as contações de histórias, o uso de músicas, vídeos, a prática de desenhar e pintar a partir de alguma história ou música que colocamos para elas ouvirem, que as crianças tanto gostam12. O uso de histórias e vídeos é para que elas pensem por si, pensem no que ouvem e posteriormente pensem em suas ações dentro e fora da escola. (Ed. D).

Outra estratégia utilizada é considerada um princípio freireano: A pergunta.

O incentivo à pergunta, à imaginação, à curiosidade, à solidariedade são também mecanismos em que dissolvemos o filosófico e o pedagógico nas atividades. Dinâmicas também são usadas incluindo estes elementos. Sempre partindo da criança, com o intento de ajudá-las a serem autônomas, respeitosas, a conquistarem sua liberdade e emancipação. (Ed. D).

Como citado pelo Educador D, dinâmicas pedagógicas são utilizadas para que estes sujeitos possam desenvolver sua imaginação, curiosidade, solidariedade, autonomia, respeito e emancipação. Para isto, também se fazem importantes os usos do tema gerador e do Círculo Cultural Dialógico e Problematizador.

As palavras de Oliveira e Amador (2011, p. 75) descrevem o Círculo Cultural Dialógico e Problematizador como “um espaço de construção comunitária, democrático, crítico, dialógico, ético e político, em que se trabalhe pedagogicamente temas do cotidiano e as experiências de vida dos/ as educandos/ as”. E explicam que neste Círculo as crianças são

11 Grifo nosso. 12 Grifo nosso.

incentivadas a “perguntar, argumentar, pensar criticamente, investigar e propor soluções para seus problemas existenciais e sociais”. (p. 77).

Por sua vez, Andreola (1999, p. 71) declara que “os temas geradores constituem um excelente paradigma interdisciplinar, para a pesquisa, para a integração dos diferentes campos do saber científico e para a organização dos currículos escolares”. A partir das bases teóricas de Oliveira e Amador (2011) e Andreola (1999) para a Educadora L os Encontros pedagógicos e filosóficos com crianças são realizados da seguinte forma:

Os Encontros sociopedagógicos são sempre permeados pelo viés da educação popular freireana, na medida em que nos fundamentamos nos pressupostos teórico-metodológicos de Paulo Freire. Quanto a utilização das estratégias, trabalhávamos com tema gerador; pesquisa socioantropológica; o diálogo; a pergunta; o círculo cultural dialógico e problematizador – essa nomenclatura criada pelo NEP, mas foi inspirada nos círculos de cultura no qual Freire realizava suas ações de educação popular – Bem, pelo o que eu recordo eram basicamente estas estratégias, mas existiam outras porque nossos planejamentos eram flexíveis. (Ed. L).

O Educador S complementa que o Círculo Cultural Dialógico e Problematizador se constituía em um momento importante, mas simples de ser realizado, sendo que umas das ações era, antes dos Encontros serem iniciados, organizar as cadeiras em forma de círculos, para que todas as crianças no processo de formação, pudessem se ver, se ouvir.

Uma estratégia muito comum da educação freireana utilizada por nós era o círculo de cultura. Para nós ressignificado para o contexto do ensino de filosofia com criança e renomeado por círculo cultural dialógico-problematizador13. De fato, uma das primeiras ações nossas era reorganizar as carteiras ou apenas as cadeiras dos educandos para que pudéssemos começar o Encontro. (Ed. S).

A Educadora E nos relata que também faz uso de imagens, textos, gincanas, para que a aula se torne mais deleitável e diferente. Para ela, as imagens beneficiam a inteligência, principalmente no instante em que se realiza a articulação entre a imagem analisada e a realidade vivida. Ao empregar gincanas, incita-se a união, a cooperação, o conhecimento e a participação de todos no ambiente.

A exemplo temos discussões, problematizações entre alunos e educador, por meio de gincanas, preparações de livros pelos alunos com suas representações14, diálogos preparados por meio de temáticas levantadas a partir de indicações dos alunos, entre outras formas de trabalho que são realizados. Diálogo entre alunos e educador, atividades utilizando temáticas advindas de problemáticas percebidas entre os alunos, uso de textos, músicas, imagens, etc... (Ed. E).

13 Grifo nosso. 14

Grifo nosso. Esta construção de um pequeno livro foi realizada em 2015 com os alunos da quarta série, onde aprenderam a confeccionar um pequeno livreto no qual desenharam um personagem fictício que podia ser de origem animal, vegetal, humano ou industrializado e depois dizer o que pensavam sobre a ética.

A proposta freireana encharcada de diálogo e problematização e aplicada no ensino de filosofia com as crianças, aliada a essas brincadeiras, gincanas, imagens e outras estratégias favorecem a tomada de consciência da realidade pelas crianças. Com os textos, os (as) educandos (as) são estimulados a ler, a apreciar novas palavras, a se familiarizar com alguma história.

Algumas vezes em que se leva algum texto para as crianças, o Grupo GETEFF deixa com as crianças o material e sugere que mostrem para suas famílias, e que se possível peçam para ler juntos, com a intencionalidade de fazer com que estes sujeitos contem para seus responsáveis uma parte do que aprendem nos Encontros além de estreitar as relações entre pais e filhos.

Outro feitio que se pensa no momento da elaboração do planejamento é incluir como estratégia situações deleitáveis, estéticas, nas quais a vontade de aprender sejam afloradas, pois como destaca a Educadora M “as crianças também necessitam de condições bonitas de trabalho”.

Sempre procuro manter um ambiente dialógico na sala de aula, onde todos possam se sentir valorizados e suas particularidades acolhidas e compreendidas. As crianças também necessitam de condições bonitas de trabalho15, o que se inicia desde o plano de atividades e percorrem pela minha própria felicidade em estar com eles, até o término do horário de aula. E fazer-me interessante de ouvir, sempre procurando estimular a curiosidade das crianças. (Ed. D).

As crianças precisam se sentir sujeitos valorizados. Necessitam entender que suas respostas são válidas, que suas perguntas são atendidas com consideração. Carecem de sentir que são valorizados enquanto ser humano, ser valorizado nos sentimentos, nas vontades e ter a reciprocidade pelo carinho que demonstram.

Neste sentido, o ensino de filosofia com crianças e adolescentes objetiva: a) tornar o processo do desvelar educativo construtivo e democrático; b) viabilizar diversos processos filosóficos a partir do/ a educando/ a, de seus interesses, saberes e experiências e de seu imaginário; c) oportunizar ao indivíduo ser sujeito e concretizar sua emancipação frente às ideologias dominantes; d) preparar filosoficamente (gnosiológica, ética e politicamente) o/ a educando/ a para enfrentar os problemas de sua vida cotidiana, o convívio social e o exercício de sua cidadania. (OLIVEIRA; AMADOR, 2011, p. 75).

Neste aspecto, para Russo, Sgró e Dias (1999, p. 136) ao basearmos nossa prática em um enfoque de Paulo Freire é necessário “combinar pequenos passos com grandes objetivos e não esquecer os grandes objetivos por causas dos pequenos passos. É preciso ter paciência, mas não a de dóceis ovelhinhas, e sim uma paciência impaciente”.

Nas palavras de Freire (1997, p. 41), a paciência e a impaciência precisam ser vivenciadas numa constante tensão:

Há outra qualidade fundamental que não pode faltar à educadora progressista e que exige dela a sabedoria com que se dê à experiência de viver a tensão entre a

paciência e a impaciência. Nem a paciência sozinha nem a impaciência solitária. A paciência sozinha pode levar a educadora a posições de acomodação, de

espontaneísmo, com que nega seu sonho democrático. A paciência

desacompanhada pode conduzir ao imobilismo, à inação. A impaciência, sozinha, por outro lado, pode levar a educadora ao ativismo cego, à ação por si mesma, à prática em que não se respeitam as necessárias relações entre tática e estratégia. A paciência isolada tende a obstaculizar a consecução dos objetivos da prática, tornando-a “tenra”, “macia” e inoperante. Na impaciência insulada ameaçamos o êxito da prática que se perde na arrogância de quem se julga dono da história. A paciência só, se exaure no puro blá-blá-blá; a impaciência a sós, no ativismo irresponsável. A virtude não está, pois, em nenhuma delas sem a outra, mas em viver a permanente tensão entre elas. Viver e atuar impacientemente paciente, sem jamais se dar a uma ou a outra, isoladamente.

As palavras acima evidenciam que mesmo sendo a paciência uma virtude, ela não pode cair na acomodação. É necessário saber conciliar paciência e impaciência, mas jamais deixar que apenas uma domine o ser que há em nós. É importante sabermos em que momento agir, em que momento calar, e no trato com as crianças e adolescentes, entendermos qual é o melhor momento para intervir, não sendo coniventes com algumas posturas que denotem malvadez na sala de aula, e, também, não sendo permissivos demais. É como Freire (1996) aponta, precisamos sempre ser coerentes, aprender e viver a coerência.

Notamos a heterogeneidade de estratégias empregadas para que o ensino de filosofia com os sujeitos crianças num ponto de vista freireano tenha maior êxito. Isto ocorre porque o ensino é diferente de uma sala para outra, mesmo que esteja na mesma escola. As táticas, como citado pelos (as) educadoras (as), vão desde materiais didáticos, brincadeiras, o estímulo ao fazer dos (as) educandos (as), as relações éticas existentes até alcançar as famílias.

Documentos relacionados