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3 “BALÉ DOS CONCEITOS” NA FORMAÇÃO DO SER-SUJEITO-CRIANÇA: APORTES TEÓRICOS PARA UMA CONSTRUÇÃO HISTÓRICA E CONCEITUAL

6 A EDUCAÇÃO FILOSÓFICA FREIREANA COM CRIANÇAS

6.2. Elementos metodológicos na formação do ser-sujeito-criança

6.2.3. Avaliação sobre o ensino de filosofia

Ao procurarmos refletir sobre a perspectiva de avaliação, nos deparamos com uma importante interrogação de Barguil (2000, p. 107), “o que a avaliação educacional tem privilegiado: as respostas prontas – de preferência repetindo o que os outros já disseram – ou as perguntas inéditas – fruto da capacidade de indagar, condição necessária para se construir outros saberes?

É a partir do ponto em que se considera a avaliação como pressuposto essencial para se construir outros saberes que vamos nos concentrar, pois a avaliação é uma etapa fundamental do processo educativo. Diante disto, faz-se importante que qualquer educador (a), freireano (a) ou não se faça as perguntas: para que avalio o aluno? Aproveito instrumentos avaliativos para reforçar a subordinação, a repressão ou para saber como estão os meus alunos? Para reprová-los, ou para entender os motivos de não aprenderem tal assunto estudado?

Nas palavras de Freire, precisamos “lutar em favor da compreensão e da prática da avaliação enquanto instrumento de apreciação do que-fazer de sujeitos críticos a serviço, por isso mesmo, da libertação e não da domesticação”. (1996, p. 131).

Furlanetti afirma: “o ato de avaliar não é um diagnóstico onde se procura o mal, a doença, o que está errado, mas uma ação de acolhimento de reconhecer o que não sabemos para enfim buscar o conhecimento necessário que nos dará uma condição de vida melhor”. (2009, p. 120). Além disso, destaca que no ensino freireano a avaliação se dá principalmente de forma amorosa. Conforme a autora:

Ao propor as primeiras atividades para os educandos, estamos iniciando a avaliação, uma avaliação diagnóstica. Aquela que acompanha todo o processo e o avaliador está disponível a olhar seu educando tal qual ele está, seus saberes, sua vida e suas experiências, conhecer suas hipóteses de ser leitor e escritor. Um avaliador atento aos detalhes da fala, das atitudes de seu educando. Avaliar com disposição de acolher o outro no seu ser e no seu modo de ser, como o outro está e para a partir daí decidir o que fazer. Olhar o educando não com um pré-julgamento, um ataque ou uma defesa, porque este sim é um ato de exclusão. Um avaliador que é construído a partir do momento em que decide acolher: ouvir e ver como um ato de inclusão, como um ato de amor. (FURLANETTI, 2009, p. 116).

Assim, chegamos à ideia de que a avaliação envolve mais que dar notas, ele é um etapa em que se observa o (a) educando (o) enquanto tal sujeito que é. Sua fala, seu modo de ser, seus saberes, sua vida. E na compreensão educativa de Paulo Freire (2003, p. 126) a avaliação precisa partir de algumas ponderações, dentre elas, verificar se a aprendizagem realmente está sendo efetivada no âmbito em que a criança está.

A aprendizagem dos educandos tem que ver com as dificuldades que eles enfrentam em casa, com as possibilidades que dispõem para comer, para vestir, para dormir, para brincar, com as facilidades ou com os obstáculos à experiência intelectual. Tem que ver com sua saúde, com seu equilíbrio emocional.A aprendizagem dos educandos tem que ver com a docência dos professores e professoras, com sua seriedade, com sua competência cientifica, com sua amorosidade, com seu humor, com sua clareza política, com sua coerência.

Não é possível praticar sem avaliar a prática. Avaliar a prática é analisar o que se faz, comparando os resultados obtidos com as finalidades que procuramos avançar com a prática. A avaliação da prática revela acertos, erros e imprecisões. A avaliação corrige a prática, melhora a prática,aumenta a nossa eficiência. O trabalho de avaliar a prática jamais deixa de acompanhá-la.

A avaliação se dá a partir do diálogo, estabelecido na sala de aula, em uma perspectiva freireana. Furlanetti (2009, p. 122) argumenta que o diálogo é essencial para que se possa reelaborar o conhecimento, e simultaneamente refazer as relações entre educadores e educandos:

Buscamos através do diálogo compreender quem são nossos educandos para transformar a sala de aula em um ambiente adequado e estimulador a reelaboração e produção de conhecimentos contrapondo os ensinos autoritários, tradicionais, onde o conhecimento pronto e acabado não permite o diálogo. Precisamos tomar cuidado para que a educação não se torne um ato de depositar (educação bancária), mas que o educador numa relação horizontal se torne simultaneamente, educador e educando. A avaliação da aprendizagem na concepção do Educador D e das Educadoras L e C ocorre também em processo, alicerçada fundamentalmente na pergunta. Os seus pensares estão transcritos nas seguintes falas:

A avaliação é também processual, pois como supramencionado nossa realização depende do retorno das crianças. Assim, faz-se necessário o elo entre os Encontros, isto é, comparar e relacionar Encontros para poder avaliarmos. Geralmente nosso método é a pergunta. Pela pergunta, conduzimos as crianças a expressarem o que pensam, pela fala ou por um desenho, sobre uma dada história que contamos ou sobre uma letra de música, com o pano de fundo da filosofia: ética, estética, amor... E com isso vamos percebendo que elas têm algo a dizer sobre o que escutaram, que elas têm seus conhecimentos. Instigamos, então, o que elas expressam,para que pensem sobre o que expressam à luz do contexto em que vivemos. Notamos a aprendizagem de uma criança por um simples desenho que ela faz. Às vezes acontece de uma criança nos fazer um desenho instigante, profundo, retratando um pouco de sua vida.Então, avaliar uma criança requer muito cuidado, pois como disse, o foco está no ‘retorno’ que as crianças nos dão. Por outras palavras, quando sabemos que os Encontros estão marcando a vida desses pequenos, sabemos então que o processo de aprendizagem está tendo êxito. (Ed. D).

Para o primeiro e único ano que passamos com o quarto ano do ensino fundamental da escola Ida Oliveira posso dizer que, respeitando o desenvolvimento infantil, as crianças progrediram no quesito relações humanas, leitura de figuras e palavras e no quesito reflexão. (Ed. C).

Avalio como satisfatória. Quando atuei no GETEF era educadora de uma turma em Belém, essa turma tinha como docente a professora Maria que também era educadora- pesquisadora do NEP. Isso foi muito importante porque estabelecemos uma parceria, um trabalho conjunto que buscava favorecer a aprendizagem dos educandos, na tentativa de construir uma prática que vislumbrasse o desenvolvimento escolar e humano. Claro que existiam os limites...as dificuldades, mas acredito que conseguimos desenvolver um trabalho favorável com as crianças que de fato puderam aprender criticamente. (Ed. L).

Notam tanto os aspectos práticos da aprendizagem quanto os imateriais, isto é, tanto se está conseguindo escrever, desenhar, ler, conferir e outras habilidades solicitadas para a formação escolar, quanto aspectos que denotem a reflexão, a percepção e compreensão da realidade humana, ou seja, uma prática educativa e filosófica que contemple tanto o desenvolvimento escolar como o humano. Avaliação satisfatória e muita boa foram as palavras das Educadoras L e E. Esta última expôs que avalia principalmente se as crianças sentem prazer ao estarem nos Encontros e ao notar a mudança nas relações entre seus colegas e seus professores:

Muito boa, no sentido que sentem prazer em participar das atividades desenvolvidas em sala de aula, assim demonstram crescimento maturacional na convivência com educadores e alunos. (Ed. E).

Neste sentido, faz-se importante entender que a abstração e a apreensão dos temas trabalhados com as crianças são outros pontos que dois Educadores (D e S) destacaram. Não se trata de abstrair conceitos da história da filosofia estudadas pelos adultos, mas de entender as palavras e os significados das palavras levadas a elas. Como dizem:

O fator que mais observo é a abstração, a maneira com que eles conseguem identificar a essência de algum conto, por exemplo, para as suas vidas. A curiosidade e elaboração das indagações feitas por eles são também muito importantes, porque o que espero das crianças é o ato em si de filosofar e não de criar conceitos fechados sobre qualquer tema. (Ed. D).

De maneira geral, avalio a aprendizagem das crianças por meio da apreensão dos fundamentos dos temas discutidos que se desdobra nas reflexões feitas por elas sobre os temas, guardadas as devidas especificidades etárias. (Ed. S).

Nas palavras dos educadores e educadoras, advindas de práticas e teorias fundamentadas em Freire, notamos que a avaliação é um processo de construção e formação do ser-sujeito e, portanto, envolve questões éticas, sociais, existenciais que replanejam as ações educativas

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