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I. OS BASTIDORES DA PESQUISA 33

2. As etapas das pesquisas: bibliográfica, documental e empírica 35

O estudo aqui apresentado compreendeu duas etapas: a primeira constou de pesquisa bibliográfica, subdividida em composição do marco teórico e revisão da literatura, e a segunda em pesquisa de campo, na qual se inclui também o estudo documental. Cada momento destes se materializou por pesquisas específicas e com metodologias próprias, desvelando a tese como a somatória de vários trabalhos teórico-práticos.

A fase bibliográfica foi constante durante o estudo, mas apresentou etapas de aprofundamento em autores e questões específicas. Um desses momentos foi a construção

do marco teórico que, segundo Sautu et alli (2005), se refere ao conjunto de elementos conceituais que modelam a apreensão e a análise dos dados. Metodologicamente, este passo se constituiu em pesquisa nas seguintes obras de Bourdieu: “Questões de Sociologia” (2003), “Coisas ditas” (2004a), “Os usos sociais da Ciência” (2004b), “A economia das trocas simbólicas” (2007a), “Meditações pascalianas” (2007b) e “Razões práticas” (2007c), por serem textos introdutórios às noções de campo, habitus, illusio e autonomia. As reflexões, derivadas destas leituras e de outros textos de Bourdieu ou de debatedores, nacionais ou internacionais como Pinto (2000), Wacquant (2007), Catani (2004), Brito (2002) e Setton (2009) são apresentadas no terceiro capítulo.

Outro momento da pesquisa bibliográfica se constituiu na revisão da literatura, composta de estudo histórico sobre o sentido dos processos avaliativos e pela análise de pesquisas, teóricas e empíricas, que versavam especificamente sobre avaliação institucional. A pesquisa histórica sobre as diferentes práticas avaliativas utilizou livremente autores como Weber (2004), Marx (2003; s/d), Dias Sobrinho (2002; 2003) e Soeiro e Aveline (1982). A história da universidade também foi objeto de pesquisa e partiu das obras de Teixeira (1989; 1960), Oliveira (2006) Cunha (2003), Le Goff (1992) e Ullmann (2000). Do ponto de vista teórico sobre, especificamente, avaliação e autoavaliação os principais autores foram Dias Sobrinho (2000; 2002; 2003; 2004a; 2004b; 2005; 2008), que se constitui, no Brasil, como referência no debate sobre avaliação institucional, a enfocando a partir de uma reflexão ética, política e pedagógica, e Afonso (2001; 2003; 2005; 2007; 2009), que fornece a compreensão da avaliação das universidades articulada aos processos de regulação e regulamentação social, que têm nas novas relações entre Estado, mercado e sociedade sua gênese e dinâmica. Esses dois últimos autores compõem, na tese, o que Sautu et al (2005) denomina de teoria substantiva. Representam os autores que sustentam as categorias teóricas especificas sobre autoavaliação. Tais categorias são discutidas no capítulo IV e versam sobre a autonomia universitária e o Estado Avaliador.

A contribuição empírica deriva dos trabalhos de Gumbowsky (2003), Palharini (2000) e Lourenço (1998), que analisam os impactos da autoavaliação institucional nos cursos de graduação; Volpato (2007), Félix (1997) e Gomes (2006), sobre autoavaliação e ensino- aprendizagem no bacharelado em Direito; Pandolpho (2006), que discute a licenciatura em Biologia a partir da avaliação dos egressos, Costa (2007), sobre avaliação do desempenho docente no curso de Pedagogia, e Ferreira (1999 e 2000), que problematiza sobre estratégias de melhoria da qualidade nos cursos de graduação em Informática. As pesquisas empíricas foram selecionadas a partir da análise da produção sobre o tema avaliação institucional na pós-graduação brasileira, de 1996 a 2007. Além desta fonte, também se recorreu aos trabalhos apresentados no GT de Política da Educação Superior,

da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação (Anped), e aos anais do Congresso Nacional da Sociedade Brasileira de Computação.

Ainda na revisão da literatura, buscamos informações de livre acesso na internet e nos periódicos da Capes sobre a realidade da Educação Superior e das políticas avaliativas em outros países. A maioria dos textos está em espanhol ou em inglês. Foram selecionados textos de Portugal, Espanha, México, Argentina, Austrália e Países baixos – Holanda. As informações obtidas nessas fontes foram utilizadas no terceiro capítulo, em especial no item: Universidade, Estado e avaliação nas sociedades contemporâneas.

A forma que assumiu a pesquisa bibliográfica se justifica pela necessidade de compreender o campo discursivo da temática avaliativa em nosso país e fora dele, permitindo enquadrar o estudo realizado dentro dos movimentos de apreensão teórica da área. Essa etapa se justifica ainda pelo caráter construtivo e coletivo da Ciência, o que desvela o diálogo com as pesquisas já realizadas como fundamental à composição do olhar que se lança ao real, permitindo compreender o objeto de estudo por meio de outros autores e outras realidades; bem como identificar os conceitos correntes no cenário de pesquisa nacional e internacional, estabelecendo comparações e levantando categorias de análise.

Paralelo a pesquisa bibliográfica o trabalho de campo foi progressivamente delimitado e iniciado. Aliás, a vivência empírica permitiu que novos ângulos fossem incluídos e reconsiderados na revisão teórica. A pesquisa de campo foi realizada em três fases, tendo por início o estudo documental, pela seleção e análise de documentos governamentais e de outros ligados a instituição e aos cursos pesquisados. Como vários documentos selecionados extrapolavam a questão avaliativa, foram retiradas para análise apenas as referências e fragmentos textuais que versavam sobre o objeto da pesquisa ou fornecessem informações relevantes à compreensão deste.

A fase documental incluiu a análise da legislação pertinente aos processos de avaliação e autoavaliação institucional das IES. Muitos documentos foram levantados, tais como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, nº 9394/96), o Plano Nacional de Educação (PNE) e o documento base do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes). Além desses, outros documentos, em especial do Mec e do Inep, foram incluídos como pareceres e relatórios, elaborados na Gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e no mandato do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para que pudéssemos analisar a complexidade do objeto em uma perspectiva política e histórica.

Da instituição pesquisada foram objetos de análise o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI), o Projeto e o Relatório de Autoavaliação Institucional, o Regimento da Graduação, o Projeto e o Relatório da Avaliação de Cursos de Graduação da UFPA, entre outros. No tocante aos quatro cursos selecionados, o estudo documental incluiu a análise do Projeto-político Pedagógico, os relatórios de curso do Enade, Resoluções e portarias do

Mec, pareceres do Conselho Nacional de Educação (CNE) e das representações profissionais, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e o Conselho Federal de Engenharia, arquitetura e agronomia (Confea). Tais documentos auxiliaram na triangulação das entrevistas e observações, servindo para compreender a base jurídica que sustenta e condiciona as práticas avaliativas vividas no recesso institucional.

A segunda e a terceira fase do estudo empírico, no caso, a pesquisa exploratória e o campo efetivo, ocorreram na Universidade Federal do Pará (UFPA). É importante justificar que apesar da abrangência regional desta Ifes (ver mapa em anexo) o estudo se limitou ao

campus sede de Belém pelas limitações práticas e econômicas da pesquisadora.

Como a pesquisa qualitativa, enquanto escolha metodológica da tese, não se fundamenta na validade quantitativa, buscou-se superar os problemas de representatividade amostral pela organização de critérios que permitissem incluir na pesquisa os casos de maior relevância e riqueza analítica.