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III. AUTOAVALIAÇÃO NA UNIVERSIDADE: CONDIÇÕES HISTÓRICAS,

1. Caracterização da instituição pesquisada: a UFPA 187

A partir de 1950, com declínio da economia gomífera60 e em consonância com o disposto na Constituição Brasileira de 1946, que incluía o planejamento nacional entre as funções do Estado, o Governo Federal passou a realizar ações de modernização na Amazônia, considerada “atrasada” em relação ao eixo Sul-Sudeste. Entre as ações pós-50, que buscavam inserir a Região Norte no processo “desenvolvimentista brasileiro”, encontram-se as fundações do Banco de Crédito da Amazônia (BCA), da Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA)61 e a criação da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Assim, em 1957, seguindo a tendência de criação das universidades públicas nacionais, pela federalização de faculdades isoladas já existentes, o Governo Federal criou

60 No período de vigência dos “acordos de Washington” (realizados durante a Segunda Guerra Mundial com o

objetivo de restabelecer o patamar da borracha brasileira na pauta de exportação), o Governo Federal criou uma grande estrutura de apoio na Amazônia, destacando-se o Banco de Crédito da Borracha (BCB), fundado em 1942. Com o fim dos “acordos” e a desvalorização dos produtos gomíferos brasileiros no cenário internacional, o BCB perdeu importância e foi transformado em 1950 no Banco de Crédito da Amazônia (BCA) e inserido nas estratégias desenvolvimentistas. Em 1966, o BCA tornou-se o Banco da Amazônia (BASA). (CUNHA, 2004).

em Belém a primeira universidade da Região Norte, no caso a UFPA62, tornando permanente a Educação Superior na Amazônia Brasileira63.

Em sua experiência de um pouco mais de 50 anos esta Ifes expandiu consideravelmente sua área de atuação, se constituindo na maior instituição universitária da Região Norte, estando presente, desde 2003, em 115 dos 143 municípios que compõem o estado do Pará, por meio de suas atividades de ensino, pesquisa e/ou extensão, na modalidade presencial ou pela educação a distância (EAD). (CUNHA, 2004).

A distribuição espacial sobre o estado ocorre por meio de uma estrutura multi-campi, composta, em 2008, pela sede em Belém e mais nove unidades descentralizadas64. Essa estrutura acadêmica e administrativa possibilitou à UFPA, após 1980, exercer uma forte atratividade regional no interior do estado do Pará, pelo deslocamento de moradores dos municípios do entorno das cidades-sedes dos campi e pólos para cursar a graduação nesta Ifes. (Ver mapa em anexo).

Em relação à infraestrutura física a UFPA, segundo a sinopse estatística de 2008, conta com 12 Institutos, 05 Núcleos, 10 campi, 57 Pólos (entre presenciais e de EAD), 01 Escola de Aplicação e 02 Hospitais Universitários, tendo o ensino de graduação e pós- graduação como principal atividade. O corpo discente soma mais de 31.000 alunos, o que a posiciona como a 3º maior IES pública em número de matrículas, e a inclui entre as doze instituições brasileiras que apresentaram o maior número de alunos em 2008. (Cf. MEC/INEP, 2009).

Apesar da ampla estrutura multi-campi, os alunos da graduação presencial se concentram no campus sede da cidade de Belém, que apresenta 66% das matriculas, ficando os outros 34% de alunos matriculados divididos entre os campi, pólos e turmas temporárias (resultante de convênios e contratos com prefeituras interioranas). A partir da estrutura permanente dos campi regionais, a UFPA atende 26% das matriculas na graduação presencial, que correspondem a 6.272 alunos, conforme a tabela subsequente.

62 A criação da UFPA se deu por meio da Lei Federal nº 3191, de 2 de julho de 1957. Em sua organização foram

transferidas para a gerência do Governo Federal as faculdades de Medicina, Direito, Farmácia, Odontologia, Filosofia, Ciências e Letras, Ciências Econômicas, Contábeis e Atuariais e a Escola de Engenharia (CAMARGO, 1997). Em 2007, o campus do Guamá, em Belém, passou a ser denominado Cidade Universitária Professor José da Silveira Netto, em comemoração aos 50 anos da instituição.

63 Antes da fundação dessas Ifes, o que existia na Amazônia brasileira eram escolas ou faculdades isoladas.

Apesar de algumas tentativas no início do século XX, essas não lograram sucesso, por isso a criação da Escola Universitária Livre de Manaus, em 1909, e da Universidade Livre do Pará, em 1924, baseada em cursos avulsos, palestras e conferências, não pode ser considerada uma verdadeira experiência universitária (SOBRINHO, 2000).

64 Além do campus sede em Belém a UFPA possui ainda nove unidades descentralizadas (campi interioranos ou

regionais): Abaetetuba, Altamira, Bragança, Breves, Cametá, Castanhal, Santarém, Marabá e Soure. Cada unidade descentralizada é composta por diferentes faculdades, institutos e/ou núcleos.

Tabela 13. Demonstrativo de preenchimento de vagas e alunos matriculados – graduação e pós-graduação - UFPA, 1º semestre/2008.

Nível/modalidade/local Vagas Inscritos Ingressantes Seleção MatriculadosAlunos Graduação Presencial – Belém 3.474 27.993 3.694 16.078

Graduação Presencial – Campi 1.604 12.895 1.102 6.272

Graduação Presencial - Pólos 91 536 96 1.333

Graduação Presencial – Temporário 575 3.766 0 736

Graduação a Distância 700 7.161 20 1.098

Subtotal graduação 6.444 52.351 4.912 25.517

Especialização: presencial e a distância - - - 3.927

Pós-Graduação: Mestrado - - - 1.760

Pós-Graduação: Doutorado - - - 492

Subtotal pós-graduação - - - 6.179

Total 31.696

Fonte: elaborado a partir da Sinopse das atividades acadêmico-administrativas da UFPA: PROPLAN,2008. Nota: Vagas ofertadas e inscritos - baseados nos Processos Seletivos (Seriado e Especiais), realizados pela UFPA em 2008. Ingressantes - ingressos por meio de Processos Seletivos e outras vias, como transferência ex-oficio.

Como pode ser observado na tabela 13, apesar da concentração de vagas e matrículas na capital, a procura pelos cursos ofertados em Belém e os existentes nos campi descentralizados são proporcionais (em média 8 candidatos por vaga), o que demonstra que, no geral, esta instituição apresenta uma grande demanda em todo o estado do Pará.

Ainda conforme a tabela, apesar da procura ser proporcional as vagas ofertadas no interior são mais difíceis de serem preenchidas, tanto que, no vestibular de 2008, sobraram em torno de 500 vagas nos campi regionais. No caso do campus de Belém a situação foi outra, pois em 2008 ocorreu o ingresso de um pouco mais de 200 alunos para além das vagas ofertadas nos processos seletivos. A extrapolação se justifica pelo ingresso de alunos por outras vias diferentes dos processos seletivos, como as transferências.

Apesar do foco no ensino presencial, a UFPA também oferta turmas de educação a distância (EAD), as quais contavam, em 2008, com pouco mais de mil alunos matriculados, representando apenas 4,3% do total de matrículas na graduação. Todavia, a procura por esta modalidade, em média 10 alunos por vaga, é superior à dos cursos presenciais65.

Outra atividade de ensino importante desempenhada pela UFPA são os cursos de pós-graduação, entre os quais se destacam os cursos de especialização com 64% das matrículas. Os cursos stritu sensu respondem por 2.252 alunos, concentrados principalmente nos 38 cursos de mestrado, que somam 1.760 matrículas. O doutorado representa 492 alunos distribuídos nos 17 cursos ofertados em diferentes faculdades. A área de Ciências Biológicas é a que possui o maior número de cursos, no total de 6 mestrados e 6 doutorados, seguida da área de Ciências Humanas com 7 mestrados e 3 doutorados. (UFPA, PROPLAN, 2008).

65 Os ingressantes nas turmas de EAD até o momento do fornecimento dos dados contavam apenas em 20,

As diversas atividades de ensino, pesquisa e extensão desenvolvidas na UFPA estão a cargo principalmente do corpo docente, que se constituía, no primeiro semestre de 2008, de 2.121 professores, sendo 1.766 efetivos e 355 temporários, conforme a tabela a seguir.

Tabela 14. Quantitativo de docentes do ensino superior por tipo de vínculo, titulação e regime de trabalho – UFPA 2008

Titulação Tipo de vínculo Total Efetivo Temporário Substituto Visitante 20h 40h DE 20h 40h DE 20h 40h DE Graduado 14 17 38 - - - - - - 69 Especialista/Aperfeiçoado 19 78 109 - - - - - - 206 Mestre 35 96 547 - - - - - - 678 Doutor 9 64 740 - - - - - - 813

Titulação não informada - - - 24 327 1 - - 3 355

Total 77 255 1434 24 327 1 - - 3 2121

Legenda: DE – dedicação exclusiva

Fonte: elaborado a partir da Sinopse das atividades acadêmico-administrativas,UFPA: Proplan, 2008. A tabela 14 demonstra que 813 professores efetivos possuem a titulação de doutor, sendo esta titulação a de maior ocorrência, seguida dos mestres, que somam 678 professores. Juntos mestres e doutores representam 84% dos efetivos. Ainda neste grupo, a dedicação exclusiva é o principal tipo de vinculo, independente da titulação. Todavia, quanto maior a titulação maior o percentual de docentes efetivos com dedicação exclusiva. No caso dos temporários, a maioria apresenta contrato de 40 horas semanais.

Apesar da expansão vivida por esta Ifes a partir dos anos 90, o crescimento do corpo docente não foi proporcional ao aumento das matrículas, em virtude desses processos possuírem graus de autonomia diferenciados. Enquanto a expansão das matrículas pode ser considerada uma ação relativamente autônoma, pois a UFPA expandiu suas vagas, na década de 90, dentro de profundas restrições orçamentárias, a contratação de docentes para o quadro permanente da instituição depende do consentimento do Mec.

Em sua história de expansão a UFPA buscou construir um perfil de universidade regional, pautada no compromisso de diminuir o isolamento da academia em relação à Amazônia. Essa tentativa de se articular à realidade Amazônica é percebida, dentro do PDI (2003, p. 29) como parte da visão estratégica da instituição, pois esta busca firmar-se “como suporte de excelência para as demandas sociopolíticas de uma Amazônia economicamente viável, ambientalmente segura e socialmente justa”. Todavia, como demonstramos em outra pesquisa (CUNHA, 2004), as ações voltadas a consolidar este compromisso ainda são desarticuladas, ficando limitadas às atividades de ensino e aos raros projetos de extensão, se configurando como atitudes isoladas e esporádicas. Ainda assim, também como demonstramos, a pesquisa e o desenvolvimento da pós-graduação surgem como os caminhos mais promissores para a efetivação dos compromissos dialógicos desta Ifes com a realidade amazônica.

Em relação à gestão, a UFPA apresenta uma trajetória marcada por ações gerenciais, baseadas na lógica do planejamento estratégico e na centralidade das decisões no âmbito da Administração Superior, em especial na reitoria. (Cf. CUNHA, 2004; RIBEIRO; CHAVES, 2008). Esse quadro cria tensões entre a comunidade acadêmica e os gestores institucionais que podem ser observadas nos embates entre a Administração Superior e os integrantes dos diferentes campi em torno de temas fundamentais, como as estratégias de expansão.

Para concluir este tópico, importa destacar que apesar da estrutura burocrática da UFPA se caracterizar muitas vezes por um modelo gerencial, a comunidade acadêmica não é uma mera executora, pois faz valer seus capitais e trajetórias no recesso desta Ifes. (CUNHA, 2004; 2009). Assim, os cursos exercem sua autonomia relativa, criando um cotidiano institucional marcado pela pluralidade de trajetórias, que ora expressam as decisões coletivas desta Ifes e ora representam estratégias particulares, elaboradas no âmbito das unidades acadêmicas, das faculdades ou até no dia-a-dia da sala de aula, que desvela a UFPA, segundo um de nossos entrevistados (Fábio) ao resgatar Burton Clark, “como um modelo dístico, porque ao mesmo tempo em que é democrático é anárquico,

dentro de uma concepção de anarquia organizada [...] porque nós temos uma universidade que têm vários interesses”.

2. Autoavaliação Institucional na UFPA: a visão dos gestores e da CPA