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CAPÍTULO I O Acontecimento do ponto de vista médico-sanitário

2. As evidências da epidemia de benzenismo no COPEC em 1990 e 1991

O termo epidemia é utilizado para se referir aos fenômenos que comprometem a saúde de populações com caráter temporário ou provisório, significando a ocorrência de doença em um grande número de pessoas ao mesmo tempo (Rouquayrol e Almeida Filho, 1999). Do ponto de vista operativo, define-se epidemia como

uma alteração espacial e cronologicamente delimitada do estado de saúde- doença de uma população, caracterizada por uma elevação progressivamente crescente, inesperada e descontrolada dos coeficientes de incidência de determinada doença, ultrapassando determinado valor acima do limiar epidêmico estabelecido (Rouquayrol e Almeida Filho, 1999:126).

Tal definição, segundo estes autores, pressupõe o conhecimento controlado da situação de saúde da população. Para caracterizar uma epidemia é necessária a capacidade de percepção do evento cronológico por um observador externo, seja através da observação da sintomatologia, seja pelo reconhecimento por especialistas ou órgãos técnicos

“seguindo regras e preceitos cientificamente elaborados e precisamente convencionados” (Rouquayrol e Almeida Filho, 1999:126).

Com relação ao benzenismo, apesar da literatura científica brasileira alertar para o risco da exposição ocupacional ao benzeno desde os anos 40 (Carvalho, 1995), a caracterização de uma epidemia é, naquela ocasião, uma tarefa complexa, se observados os preceitos acima mencionados. Isso porque são recentes as experiências diagnósticas e de controle desse problema.

Somente a partir da década de 80 começam a surgir, no Brasil, os casos de leucopenia por exposição ao benzeno: primeiro, em 1983, na Companhia Siderúrgica Paulista - COSIPA, em Cubatão-SP, seguida, em 1985, da Companhia Siderúrgica Nacional - CSN-RJ em Volta Redonda, e em 1986, nas Indústrias Químicas Matarazzo-SP, para em 1990 se revelar no Polo Petroquímico de Camaçari-BA (Carvalho, 1995). A década de 80 é marcada por eventos que divulgam informações sobre o benzenismo entre trabalhadores e profissionais de saúde, destacando-se a campanha "Leucopenia: morte lenta", promovida pelo Departamento Intersindical de Saúde do Trabalhador - DIESAT- da CUT, em 1988, em São Paulo, a qual conta com a participação de 21 sindicatos de diversos estados. Ocorrem, também nesse período, eventos técnicos relevantes, como o "Seminário sobre

Toxicologia do Benzeno - Riscos e Meios de Controle", em 1983, e o "Simpósio de Leucopenia", em 1987 em São Roque-SP, os quais discutem os efeitos do benzeno sobre

o organismo humano e dos meios diagnósticos e de controle, até então, pouco conhecidos dos trabalhadores e dos técnicos das áreas de saúde e segurança do trabalho (Carvalho, 1995). No "Seminário Nacional sobre Exposição ao Benzeno", em São Paulo, em 1988, promovido pela Fundação Jorge Duprat Figueredo de Segurança e Medicina do Trabalho - FUNDACENTRO, órgão do Ministério do Trabalho voltado para estudos e pesquisas na área de saúde ocupacional, apresenta-se e discute-se uma proposta para a organização de estruturas de controle da exposição ao benzeno, definindo-se competências e responsabilidades (Carvalho, 1995). Desse modo, sindicalistas e técnicos da área de

saúde entram a década de 90 sensibilizados para esse assunto, porém, com pouca experiência e conhecimento sobre o mesmo.

Na Bahia, a situação epidemiológica das doenças ocupacionais no Pólo Petroquímico de Camaçari-Bahia já é preocupação do setor sindical desde 1985. Nesta ocasião, o benzenismo surge como problema de saúde levantado em estudo realizado pela FUNDACENTRO na Central de Tratamento de Efluentes (CETREL), do qual resulta a recomendação de afastamento de 12 trabalhadores com suspeita de mielopatia ocupacional. No entanto, tal recomendação não é acatada, tampouco as ações de avaliação e controle prosseguem naquela época (Entrevista 07, Anexo 6). Somente no ano de 1990, a sociedade baiana toma conhecimento da existência de uma epidemia por intoxicações pelo benzeno naquele Polo. Entretanto, o problema já é também, nessa ocasião, conhecido dos médicos atuantes nos sindicatos dos trabalhadores, os quais acompanhavam casos de suspeita de intoxicação pelo benzeno, além de outros problemas de saúde ocupacional.

Até o final da década de 80, são poucos os registros de casos de benzenismo, representando 0,1% do total de "acidentes de trabalho" no período, passando a 20% nos anos de 1996/97 (Rêgo e Pereira, 1997; BRASIL, 1997). Nessa década, em meio à mobilização social em torno da Assembléia Nacional Constituinte, redefinem-se as responsabilidades institucionais para com a saúde dos trabalhadores e surgem, no país, os Programas e Centros de Referência em Saúde do Trabalhador, nas Secretarias de Saúde, tal como o Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador - CESAT na Bahia, implantado em 1988. Esse serviço, no ano seguinte, 1989, viria a se deparar com os primeiros casos de leucopenia por exposição ao benzeno na Bahia.

A situação do benzenismo no Polo Petroquímico de Camaçari se configura como epidêmica quando técnicos da DRT desencadeiam um levantamento diagnóstico nas empresas do Polo que trabalhavam com benzeno, realizando uma busca ativa de casos, isto é, estabelecendo uma investigação epidemiológica com o objetivo de identificar a existência de outros casos de leucopenia relacionados à exposição ao benzeno, o que vem a aumentar subitamente o números de casos até então conhecidos.

Em meados de 1990, num período de três meses, duas mortes de trabalhadores do Polo ganham grande repercussão na sociedade baiana: um médico e um operador de processo,

ambos funcionários da empresa Nitrocarbono. Sendo então a Companhia Petroquímica do Nordeste (COPENE), a maior empresa nacional produtora do benzeno, situada no COPEC (dado de 1991), a emergência de casos de morte por patologias associadas ao benzeno dentre trabalhadores de empresas operadoras do produto, sugere tratar-se de um problema de extrema gravidade que requer ação imediata dos órgãos governamentais, para o controle das condições de operação das empresas (Entrevista 03, Anexo 6).

A ocorrência dessas mortes no COPEC significa, portanto, o desvendamento de uma realidade de saúde até então velada (Carvalho, 1995), seja para os técnicos dos órgãos governamentais com diferentes níveis de responsabilidade sobre a saúde dos trabalhadores, seja para a sociedade em geral. Dadas as condições de operação dessas empresas, esses casos são, desde aquela época, de algum modo esperados, uma vez que já acontecera em Cubatão, Volta Redonda e nos países industrializados. Trata-se, então, de desenvolver a capacidade diagnóstica, fazendo circular a informação entre os trabalhadores e técnicos das áreas de saúde e de segurança do trabalho para a assegurar a identificação de casos e o controle da situação.

A conjuntura política no estado da Bahia, na ocasião, é favorável ao desenvolvimento de ações institucionais dessa área, uma vez que, renovadas as forças políticas governantes, ampliara-se a sensibilidade governamental às demandas sociais. Também porque, o movimento sindical concretiza, nesta época, alianças internacionais, específicas da área da saúde do trabalhador, especialmente com instituições italianas dispostas a investir recursos para a implantação de serviços de atenção à saúde dos trabalhadores no Brasil. É nesse contexto que a Associazioni Italiana di Solidarietá fra i Populi (AISPO) apoia o governo estadual da Bahia, implantando o CESAT e enviando técnicos à Itália, para capacitação especializada nessa área.

As mortes ocorridas por anemia aplástica e leucemia, fortemente sugestivas de relação causal com a exposição ao benzeno, desencadeiam então um intenso processo de mobilização social que pressiona a DRT/BA a adotar uma estratégia de investigação da empresa Nitrocarbono, embora politicamente esse órgão fosse da confiança das empresas (Entrevista 03). Tais mortes indicam a gravidade da situação, demandando estudos que definam a magnitude do problema de intoxicação entre trabalhadores das indústrias do Polo. São então tomadas como casos índices de uma investigação epidemiológica realizada pela referida instituição, cujo relatório foi intitulado "Investigação de

Benzenismo no Complexo Petroquímico de Camaçari (BA): uma proposta de ação fiscalizadora", concluído em 1991.

Inicialmente a DRT determina a realização de hemogramas em 420 trabalhadores da empresa Nitrocarbono, onde as mortes ocorrem. Com o apoio do CESAT, realiza a investigação diagnóstica dos casos suspeitos, contando ainda com o apoio da FUNDACENTRO para a avaliação ambiental. Com base nos critérios então vigentes na Previdência Social, encontra como resultado da investigação 22 trabalhadores com suspeita de leucopenia por exposição ao benzeno, na referida empresa (DRT/MTb, 1991). Esse fato fortalece a suspeita do caráter epidêmico da doença, o que leva a DRT a buscar

substituir a óptica rotineira da fiscalização por um enfoque mais técnico e científico, visando respostas efetivas da atuação na perspectiva da melhoria dos ambientes de trabalho e consequentemente na redução de agravos de causa ocupacional (DRT/MTb, 1991:8).

Para aprofundar o conhecimento dessa realidade, realiza uma investigação epidemiológica nas empresas que compunham o ciclo do benzeno do Polo Petroquímico de Camaçari: a COPENE, produtora de benzeno, e as cinco consumidoras: Nitroclor, Ciquine, Deten, Nitrocarbono, Estireno. Toma também para estudo a Polibrasil, que utilizava o benzeno como solvente, a CEMAN (Central de Manutenção Industrial) e a Central de Efluentes Líquidos do COPEC – CETREL. São incluídos, nesse estudo, os trabalhadores das empreiteiras que atuavam nessas empresas, totalizando 11.937 trabalhadores, dos quais 7.356 são empregados diretos e 4.581 trabalhadores em empregos indiretos, através de empreiteiras. Numa primeira triagem investiga-se 100% desses trabalhadores, destacando 850 suspeitos, utilizando-se de hemogramas cujos parâmetros eram números de leucócitos igual ou inferior a 5.000 e de neutrófilos igual ou inferior a 2.500.

Numa segunda etapa, com o objetivo de ampliar a sensibilidade/validação do instrumento de triagem, os 850 trabalhadores são submetidos a três novos hemogramas, com intervalo de 15 dias e são avaliados os prontuários dos suspeitos, buscando-se de cada um deles a história ocupacional e a “série histórica” de exames hematológicos (Miranda et al, 1990). A avaliação, encaminhamento e conduta são então realizados e definidos em reunião que envolve médicos da DRT, das empresas, do CESAT e do sindicato dos trabalhadores, a

partir das quais se padronizam os modos de avaliação, classificação e conduta para os casos, estabelecendo-se um plano diagnóstico, avaliação ambiental e adoção de medidas de controle. Após a segunda triagem 216 trabalhadores (35% do total) mantiveram-se com valores leucocitários baixos (menor ou igual a 4.000) e neutrófilos igual ou menor a 2.000 ou série histórica com valores decrescentes. Estes são então definidos como casos, sendo notificados através da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) e os trabalhadores afastados das empresas (BAHIA, 1992).

O relatório final apresenta a distribuição de suspeitos e casos nas empresas estudadas, conforme descritos na Tabela 1 (Anexo 1). A percentagem de notificados é maior na Nitrocarbono (5%), seguida da COPENE (3,8%) e da Ceman (3,5%). O estudo mostra que em todas as empresas há casos de benzenismo, conforme os padrões diagnósticos estabelecidos em norma técnica do INPS de 1987 (INSS, 1993).

A avaliação ambiental que dá suporte à DRT/BA é então realizada pela FUNDACENTRO, em 1991, cujos resultados são apresentados no documento intitulado "Avaliação ambiental das instalações da empresa Nitrocarbono S/A, situada no Complexo Petroquímico de Camaçari" (BAHIA, 1992). Nesse estudo, a FUNDACENTRO desenvolve uma programação para avaliar a empresa Nitrocarbono em procedimento normal de operação e em parada de manutenção, e não encontra dificuldades para demonstrar concentrações de benzeno no ar muito próximo ao limite de tolerância de 8 ppm, estabelecido em lei naquela época9, mas já reconhecido internacionalmente com potencial carcinogênico (Entrevista 07, Anexo 6). Ademais, esse estudo constata 44,1 ppm de benzeno em operações de raqueteamento e outras de esgotamento de linha e conclui sobre a possibilidade de contaminação do setor administrativo, de refeitórios e das ruas fora da empresa, na ocorrência de grandes emanações de benzeno para a atmosfera e disseminadas pelo vento (BAHIA, 1992). Também a DRT levanta informações sobre a avaliação ambiental disponível em nove empresas (seis do ciclo benzeno e mais a CETREL, a CEMAN e a POLIBRASIL) e avalia seus programas de controle ambiental e biológico voltados para o benzeno. Observa a presença de indicações de níveis de benzeno acima do Limite de Tolerância

9A legislação brasileira considerava, nessa época, como limite de tolerância para concentrações ambientais de benzeno, até 8 ppm, conforme o Quadro 1, Anexo 11,a NR 15, da Portaria 3214/88, embora numerosos estudos já mostrassem aberrações cromossômicas e carcinogenicidade em expostos a valores em torno de 1 ppm (DRT,1991). A Portaria no 14 de 20 de dez./95, altera o Anexo 13 da NR 15, da Portaria 3214/78, criando um novo parâmetro para a avaliação ambiental - o Valor de Referência Tecnológica (VRT), definido em 1,0 ppm, que não exclui o risco à saúde como o anterior LT (Brasil, 1996).

(LT) estabelecido por lei na NR-15/CLT, em todas as empresas estudadas, encontrando valores entre 1.0 a 3.000 ppm. Registra ainda informações sobre vazamentos devido à situação precária das plantas e à heterogeneidade de equipamentos e métodos utilizados para avaliação ambiental, bem como dos laboratórios contratados para as análises de cromatografia, incluindo aqueles próprios de algumas empresas.

Dentre as nove empresas avaliadas, constata-se a ausência de programa de monitoramento ambiental para riscos químicos em três delas, incluindo a Ciquine e a Nitrocarbono. Nesta última, encontra-se a ausência de monitoramento mesmo durante as atividades de parada de manutenção, quando ocorre maior exposição dos trabalhadores aos produtos químicos, uma vez que estes entram em equipamentos para realizar reparos ou limpeza. Nessa empresa, em particular, são então encontrados valores acima de 100 ppm, enquanto na Ciquine encontram-se os mais altos índices, que variam entre 1,0 a 3.000 ppm, seguida da COPENE com 1,0 a 239 ppm (Tabela 2, Anexo1).

Portanto, a avaliação realizada por ambos os órgãos governamentais mostra que as empresas apresentam, naquela situação, valores elevados de concentração de benzeno no ar, com pouco ou nenhum controle.

Independente dessas medições, destacam-se as precárias condições dos equipamentos observadas na ocasião, como por exemplo válvulas não bem afixadas, deixando gotejar benzeno no chão. Não se trata pois, de medir benzeno no ar, partícula por milhão, pois as condições de contaminação ambiental se mostram a olho nu (Entrevistas 01 e 05). Observa-se também a entrada de trabalhadores em casas de medição totalmente contaminadas, com concentração de benzeno de 12 ppm, para fazer coleta de amostras de efluente, na CETREL, "quando a simples presença de um exaustor eliminaria essa

exposição" (Entrevista 05, Anexo 6).

Com relação ao controle biológico da exposição, realizado através da dosagem do fenol urinário, constata-se a ausência ou irregularidade na sua realização pelas empresas, como se vê na Tabela 3 (Anexo 1). Observa-se, na realidade, a ausência total de um programa de higiene industrial para o controle da exposição ambiental e da saúde, seja através da medição da concentração de substâncias no ar, seja através de um programa de controle da exposição individual (Entrevistas 05, 01, 02, 06, 03, Anexo 6).

Diante de tais resultados, as empresas do COPEC contratam um estudo intitulado "Estudo da exposição ocupacional ao benzeno e seus efeitos tóxicos", no final de 1991, que é realizado pela Fundação José Silveira, mediante contrato do Sindicato das Indústrias Petroquímicas e de Resinas (SINPER), que se propõe a fazer uma "abordagem

epidemiológica mais aprofundada (FUNDAÇÃO JOSÉ SILVEIRA, 1992). O estudo

pretende caracterizar melhor o problema e verificar a relação causal, uma vez que seus autores consideram que o estudo da DRT não era tecnicamente apropriado a esse tipo de conclusão (Idem). Esse estudo focaliza as seis empresas do ciclo benzeno e duas empresas fora desse ciclo e fora do Polo, tomadas como controle, e conta com financiamento das empresas e do governo estadual da Bahia, que repassa a essa instituição, um milhão de dólares (Entrevista 06, Anexo 6).

Contudo, em 1992, os resultados da pesquisa não refutam totalmente a relação causal e o Relatório da Fundação José Silveira identifica, em seis empresas, a existência de sete casos de doença hematológica grave, com cinco óbitos (três casos de linfoma, dois de leucemia, dois de anemia aplástica). Conclui também que o risco de ter hemopatia grave nas empresas que manipulam o benzeno é maior que naquelas tomadas como controle. Comparando populações de trabalhadores expostos e não expostos ao benzeno, o estudo estima a ocorrência de efeitos da exposição sobre a saúde. Como resultado, os trabalhadores das empresas expostas apresentam risco acima do esperado para desenvolverem leucemia e anemia aplástica. Os resultados evidenciam também que os riscos relativos de alterações hematológicas são elevados para eventos de leucopenia (3,5 a 6,2 vezes), neutropenia (2,2 e 1,7), anemia (4,8 a 7,9) e poligobulia (FUNDAÇÃO JOSÉ SILVEIRA, 1992).

Porém, o relatório desse estudo não divulga o nome das empresas onde os casos se localizam, embora identifique algumas áreas de trabalho com alto risco de exposição ao benzeno. Encontra nos efluentes de uma das empresas, quantidade de benzeno correspondente a 0,5% da quantidade total processada na planta (FUNDAÇÃO JOSÉ SILVEIRA, 1992). Esse estudo destaca os seguintes fatores como determinantes da exposição ocupacional do benzeno nas empresas processadoras dessa substância no Pólo: a utilização de tecnologia e processos industriais emissores de benzeno na atmosfera, selecionadas numa época em que a preocupação no Polo pelos efeitos tóxicos do benzeno é ainda relativamente pequena. Esses se expressam na forma de armazenamento de

benzeno nos tanques; na manutenção precedida de esvaziamento e drenagem de benzeno. O estudo aponta, ainda, como fatores determinantes, a deterioração da qualidade do processo e do ambiente e a obsolescência natural dos equipamentos (FUNDAÇÃO JOSÉ SILVEIRA, 1992:1.2).

Contudo, o estudo não faz avaliação ambiental direta, naquela ocasião, tal qual procede a FUNDACENTRO, mas utiliza informações das próprias empresas, "muito mal

compiladas" segundo observação de um engenheiro de segurança do trabalho

entrevistado (Entrevista 07, Anexo 6).

Além desses estudos de avaliação ambiental, encontra-se ainda o "NCB 91 REL RO2 - Avaliação da qualidade do ar na área da Nitrocarbono", realizado pela Ecológica, mediante contrato com a SEPLANTEC/CRA. Esse estudo detecta o benzeno em diversos pontos, com maiores concentrações nas imediações do separador de água e óleo API (1.3- 1.5 ppm). Na região do API (uma área de trabalho), encontra-se dentro da tubulação que conduz o efluente, a quantidade de 169 ppm de benzeno que é emitida na atmosfera,

"embora não ao nível respiratório" (BAHIA, 1992). Encontra valores de 0,07 a 0,24 ppm

de benzeno próximo à sub-estação e à biblioteca (BAHIA, 1992).

Os estudos da Fundacentro, da DRT/BA e da FUNDAÇÃO JOSÉ SILVEIRA avaliam as metodologias utilizadas pelas empresas para a avaliação ambiental e concluem, separadamente, que estas são distintas e às vezes inadequadas, ressaltando que não há programa de Higiene Industrial com uso de metodologia capaz de validar os dados obtidos.

A despeito disso, o estudo da FUNDAÇÃO JOSÉ SILVEIRA levanta a questão da influência do clima nos resultados, enquanto a DRT observa que a avaliação ambiental está dissociada de uma ação efetiva para a eliminação das fontes de contaminação (BAHIA, 1992).

Embora os estudos de avaliação ambiental não sejam inteiramente coincidentes, todos mostram a existência de contaminação ambiental (BAHIA, 1992). Em síntese, os quatro estudos concordam, segundo o relatório CESAT/SUS (1992), em que "houve e há

contaminação ambiental pelo benzeno, com conseqüente exposição ocupacional"

quadro epidêmico de agravos relacionados com a exposição ocupacional ao benzeno"

(BAHIA, 1992:9). Dessa afirmativa, o quadro revela

a gravidade da situação, uma vez que em apenas dez anos de implantação do Pólo foram identificados casos destas doenças, esperando-se que o número de casos aumente progressivamente, nos próximos anos, mesmo se eliminadas as fontes de contaminação (BAHIA, 1992:9).

O fato do Polo integrar muitas empresas é uma explicação para a contaminação do ar de toda a sua vizinhança, na ocorrência de vazamento de produtos, tornando expostos os diversos trabalhadores. Também não há, naquela ocasião, uma mentalidade voltada para a questão ambiental e apesar de já se encontrar tecnologia disponível em nível internacional, até então não aplicadas aos processos produtivos do COPEC.

De fato, a questão da contaminação ambiental não pode, nem deve, ser pensada apenas dentro dos limites geográficos de uma empresa, mas há que se levar em conta a distribuição espacial das empresas, suas vizinhanças e o comportamento do vento (Entrevistas 03 e 07, Anexo 6). Estes elementos contribuem assim para explicar os casos de leucopenia em empresas não processadoras do benzeno.

O relatório do CESAT/SUS (BAHIA, 1992) destaca as limitações metodológicas dos estudos realizados, considerando que estas, ainda que não invalidem os resultados alcançados, podem ter subestimado a magnitude do problema. Ressalta que o estudo da FUNDAÇÃO JOSÉ SILVEIRA deixa dúvidas sobre ao número total de trabalhadores efetivamente estudados e sua distribuição por empresas "expostas" e "não- expostas". Esse estudo informa que nem todas as empresas enviaram informações acerca da admissão/demissão de funcionários, acabando por excluir 5.505 trabalhadores do estudo retrospectivo dos parâmetros hematológicos. Esses fatos, segundo o relatório, influenciam na definição subestimada da magnitude do problema, mas ainda assim, revelam-se os elevados números de alterações hematológicas.

O mesmo relatório chama ainda a atenção para o fato de que os quatro estudos são realizados com metodologias diferentes e abordam números distintos de empresas, não

cobrindo a totalidade das indústrias do COPEC. Não são, portanto, conclusivos para a avaliação da exposição ocupacional em larga escala.

Contudo, os estudos da DRT/BA e da FUNDACENTRO servem de base para que