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Egressão da curva: "esfriamento" progressivo do assunto na mídia

CAPÍTULO II Epidemia na Cobertura Jornalística

1. Epidemia na narrativa jornalística

1.6. Egressão da curva: "esfriamento" progressivo do assunto na mídia

Durante o mês de janeiro de 91, as notícias tornaram-se escassas, voltando a aumentar levemente no mês de março do mesmo ano, graças às ações e reações frente aos resultados dos estudos e, especialmente, às promessas de investimento das empresas em controle ambiental.

O investimento de 100 milhões de dólares que o Polo faria em meio ambiente, especialmente na CETREL ganha as páginas do jornal AT em 23/03/91 e, no dia seguinte, este jornal informa que o Ministro do Trabalho veio apurar as denúncias, após a conclusão do relatório, constatando-se a falta de recursos para a DRT trabalhar (AT, 24/03/91).

No mês de abril de 91, novos casos vêm à tona, através dos estudos da DRT e da SESAB, ganhando visibilidade na mídia. São 118 casos de leucopenia na COPENE, dentre os 141 trabalhadores examinados (TB, 02/04/91) e 224 na CEMAN, dentre os 800 examinados, segundo os critérios de normalidade hematológica definidos em lei.

Contudo, a Previdência Social passa a considerar sadios trabalhadores leucopênicos, recusando-lhe o direito de afastamento do trabalho para investigação e para tratamento, mantendo-os, portando, sob exposição (JB, 03/04/91). Agrava-se, nesse momento, a situação dos trabalhadores que, ainda com dúvidas sobre seu diagnóstico, se vêem obrigados a retornar ao trabalho, cujo ambiente permanecia inalterado. Trata-se de uma medida da Previdência Social que visa conter seus custos com o afastamento do número inesperado de trabalhadores. Reintegrá-los ao trabalho é um modo de sanear as contas, devolvendo a responsabilidade às empresas para mantê-los ou demiti-los.

Sobre isso, os jornais AT e JB destacam que a CEMAN decidiu afastar 36 operários e investigar os demais, mas demitia 15 trabalhadores por dia, com anuência da Previdência Social, que os considerava sadios (AT, 02/04/91; JB, 04/04/91). Nesse momento, estar doente, ou sob suspeita de doença, passa a ser uma proteção contra as demissões, ficando o trabalhador sem escolha para a preservação de sua saúde. A TB, em 03/04/91, ressalta que a DRT avaliou a contaminação na COPENE, com o Sindiquímica e o CESAT, e que a empresa defendeu que a DRT não tinha conclusão sobre a origem da leucopenia dos 118 empregados (TB, 03/04/91), alimentando e respaldando desse modo a atitude da Previdência Social.

As ameaças (ou promessas) do sindicato dos metalúrgico, de entrar com ações judiciais contra as empresas do Polo, vieram a público através do JB (05/04/91), que destacou as empresas Caraíba Metais, a Alcan e a CEMAN como "as mais criminosas", justificando assim a posição do sindicato.

O consultor do Ministério da Saúde declara, nesse mesmo dia, que o problema está sendo supervalorizado, considerando-o mais de engenharia que de medicina e recomendando investigação e investimentos para o controle do mesmo (AT e TB, 05/04/91).

A despeito disso, a mobilização dos operários para reivindicar salários e saúde continua, em busca de uma solução imediata por parte da COPENE, ganhando a cobertura do JB

(JB, 10/04/90; JB, 11/04/91). A referida empresa responde então, no jornal TB, anunciando investimentos de 26 milhões de dólares para a proteção ambiental (TB, 13/04/91).

O JB publica também a avaliação do sindicato dos metalúrgicos sobre o risco de leucopenia causada por exposição a radiação nuclear na CEMAN (JB, 16/04/91), enquanto a TB ressalta o esquecimento das autoridade sanitárias sobre o assunto, cujas promessas não foram cumpridas. O jornal enfatiza a omissão do ministro e a falta de recursos dos órgãos públicos, atestado pela DRT que afirma fazer fiscalização "a duras

penas" e que os casos suspeitos já passavam de 2 mil (TB, 17/04/91).

A mobilização operária se volta, então, para alcançar mais amplamente a sociedade, através do lançamento da campanha nacional da CUT contra o uso do benzeno, em maio de 91. Esta repercute nos jornais (TB, 04/07/91; JB, 04/07/91; AT, 04/07/91), exceto no jornal CB, que silencia.

Nos primeiros dias dos meses de maio e junho, as notícias versam sobre palestras nas empresas sobre segurança e saúde no Polo, enfatizando o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e a tecnologia de avaliação ambiental (AT, 13/05/91). Abordam também os 228 milhões que seriam investidos em estudo do ambiente e saúde no Polo, em convênio com a Fundação José Silveira, envolvendo as seis empresas que operavam com benzeno (CB, 14/05/91; AT, 15/05/91; AT, 20/05/91; TB, 16/05/91; CB, 16/05/91; JB, 11/06/91).

Em maio de 1991, os jornais permanecem noticiando as ações dos trabalhadores, a exemplo do Congresso da categoria que avaliou a situação de saúde dos trabalhadores do COPEC e discutiu como enfrentar as empresas (AT, 24/05/91; AT, 26/05/91; TB, 27/05/91).

As ações das empresas, de natureza semelhante, tornam-se notícias nos jornais, tais como um encontro sobre proteção ambiental no Polo, com promoção do COFIC (TB, 25/05/91); os investimentos da Nitrocarbono em meio ambiente - 3,2 bilhões de seu orçamento (TB; 04/06/91; CB, 05/06/91); e as atividades do dia do meio ambiente (AT, 05/06/91).

O Ministério Público, segundo o JB e a TB, nessa ocasião, entra com ação contra a Nitrocarbono devido à contaminação pelo benzeno (JB, 06/06/91; TB, 06/06/91), a qual responde nos dias seguintes (TB, 07/06/91; AT, 09/06/91), negando que tivesse sido acionada.

No dia 11/06/91, o jornal AT publica a ameaça de greve dos trabalhadores petroquímicos e suas críticas ao convênio das empresas com a Fundação José Silveira, cujo investimento, da ordem de 100 milhões de dólares, seria aplicado em pesquisa de segurança e saúde no Polo, investimentos estes noticiados também no JB (11/06/91), TB (22/06/91) e AT (02/07/91).

A despeito disso, o problema da leucopenia crescia, sendo registrados na DRT 500 trabalhadores com suspeita dessa alteração hematológica, distribuídos em diferentes empresas (TB, 04/07/91). Os dados do relatório do Instituto Nacional da Saúde dos Trabalhadores - INST/CUT evidenciavam 11 trabalhadores afastados do trabalho da CETREL, por estarem leucopênicos (AT, 04/07/91). Essa notícia provoca a reação da CETREL, em 06/07/91, que nega o uso de benzeno no processo produtivo.

Sobre isso, o médico do sindicato declara no jornal AT que a situação é preocupante na COPENE. São 600 trabalhadores com alterações hematológicas, dos quais 215 são suspeitos de leucopenia e 63 estão afastados do trabalho (AT, 08/07/91). O jornal publica uma entrevista com um trabalhador da empresa, o qual relata o descaso com que foi tratado pela mesma (AT, 08/07/91).

Durante o período de um mês, os jornais silenciam sobre o assunto, voltando a se pronunciar no início do mês de agosto, noticiando uma sessão especial na Assembléia Legislativa (AL) para discutir o problema da leucopenia no Polo. Esse evento ganha a cobertura do CB que destaca um caso de leucopenia na Quimtex (empresa considerada sem risco), a qual reage afirmando que garantia a assistência ao trabalhador (CB, 12/08/91). O jornal faz uma longa matéria sobre as particularidades da leucopenia, incluindo os sintomas e os meios diagnósticos.

Nesse período, o assunto é ainda "aquecido" quando o jornal AT dá cobertura à contratação, pelas empresas do Polo, de um médico hematologista do sul do país, que questiona as referências da lei para o diagnóstico de leucopenia (AT, 13/08/91). Esse

jornal cobre também a reação de um médico do CESAT, que critica e contesta a interpretação do referido hematologista (AT, 13/08/91).

A decisão das empresas sobre o que fazer com os trabalhadores leucopênicos orienta-se então para a reintegração ao trabalho, mesmo de casos suspeitos, o que leva o Sindiquímica a fazer novas denúncias, publicadas nesse mesmo jornal na matéria "Sindicato denuncia reintegração forçada" (AT, 13/08/91). Nessa matéria evidencia-se que a interpretação do médico hematologista vindo do Sul do país contribui para a decisão da empresa, que reintegra às suas funções trabalhadores potencialmente doentes, considerando-os sadios. Os trabalhadores reagem refutando a "teoria sobre o benzeno" apresentada pelo médico paulista (AT, 15/08/91). Em 19/08/91, o jornal AT publica a contestação de uma trabalhadora sobre a posição do médico do Polo, com o título: "Demitida do Polo Petroquímico reivindica retorno ao emprego". Nesta matéria, a trabalhadora argumenta contra o médico, alegando que se os seus leucócitos fossem normalmente baixos, conforme a 'teoria' do médico, eles não teriam mudado de cifras após o afastamento da exposição. Destaca que teve diagnóstico de hiperplasia da série mielocística, que se normalizou após o afastamento do trabalho.

Na mesma ocasião, o jornal TB destaca o debate na Assembléia Legislativa (AL) sobre o benzeno (TB, 18/08/91), enquanto o CB publica que o número de vítimas de acidentes de trabalho crescia em todo o país (CB, 27/08/91), revelando que o debate já saíra dos meios médicos, para ressoar na sociedade.

Ao lado disso, a COPENE, principal empresa a utilizar o benzeno no processo produtivo, esforça-se para reduzir os conflitos gerados pelas denúncias de intoxicação, abrindo o debate com seus operários, através de uma campanha. Para livrar-se do "fantasma do

benzeno" a empresa lança um livreto intitulado "Um fantasma chamado benzeno" (TB,

29/08/91). Enquanto isso, os conflitos se acirram na CETREL, quando esta empresa demite 74 operários com estabilidade, incluindo alguns com leucopenia e retendo suas carteiras de trabalho, além de não pagar a indenização devida, sendo autuada pela DRT (AT, 05/09/91). A medida da empresa, segundo o Sindicato dos Trabalhadores de Água e Esgoto (SINDAE), visava forçar os trabalhadores mais necessitados a aceitar um acordo desfavorável. Esse sindicato denuncia também o "clima de guerra" que se instalara ao interior da empresa, com a presença de uma equipe de policiais civis "que estão de

insatisfação operária face às demissões. Dois dias depois, a CETREL responde a essas acusações, afirmando que as demissões já haviam sido homologadas pelo sindicato (AT, 21/09/91).

Ao lado de ações empresariais, governamentais e sindicais, o problema do vazamento de benzeno ressurge na imprensa quando a TB e AT publicam que o produto vazara a olhos vistos em uma tubulação que interliga algumas empresas no Polo, assustando trabalhadores do COPEC em passeata. A COPENE minimiza, então, a gravidade desse fato, afirmando que o vazamento não enchia meio copo, enquanto o sindicato dos trabalhadores pediu avaliação da DRT e do CRA, alertando que o fato explicava os casos de leucopenia em empresas que não processavam a substância (TB, 30/08/91; AT, 31/08/91). Os jornais TB e JB destacam então o protesto dos trabalhadores e a visita do ministro do Trabalho que é levado por estes a ver o vazamento (TB, 03/09/91; JB, 04/09/91).

A epidemia, nessa época, já tinha se imposto como uma realidade, demonstrada através das investigações da DRT e da SESAB quando, em 18/09/91, o JB publica que a DRT admite o 'surto' de benzenismo, na matéria "Benzeno tá matando trabalhador". No mesmo dia, o jornal TB divulga uma sessão especial da AL, em que esta pediu rigor no controle e os deputados decidiram investigar a situação (TB, 18/09/91). Em decorrência dessa investigação, o CB, em 19/09/91, informa que a Comissão da Assembléia Legislativa constatou 3.500 casos de contaminação pelo benzeno confirmados.

Contudo, algumas empresas continuavam negando a intoxicação de trabalhadores, a exemplo da CETREL (AT, 21/09/91). Enquanto isso, a epidemia de leucopenia no Polo repercute na sociedade, que passa a discutir os riscos do benzenismo na Semana Nacional de Segurança e Saúde do Trabalho, onde a Associação Nacional de Medicina do Trabalho - ANAMT conclama todos os setores ao entendimento e o Ministério Público recomenda não procurar culpados (AT, 25/09/91; TB, 28/09/91; CB, 02/10/91; JB, 23/10/91).

As denúncias dos trabalhadores sobre o descaso das autoridades e sobre a contaminação de operários no Polo são ainda ouvidas e publicadas no JB (JB, 19/11/91). Ao lado disso, os jornais TB e CB fazem a cobertura do seminário de hematologia para debater a doença ocupacional, organizado pelas empresas do Polo (CB, 23/11/91; TB, 29/11/91).

As últimas notícias na mídia, no período estudado, datam do dia 03/12/91, quando o jornal TB focaliza a ação de reintegração ao trabalho de operários leucopênicos, na empresa Nitrocarbono (TB, 03/12/91). Na mesma data, os jornais AT e JB destacam as denúncias do Sindiquímica sobre as dificuldades de trabalhadores doentes, após o corte da complementação salarial que estes recebiam da empresa Nitrocarbono. Ressaltam também o descaso das autoridades cujas promessas não foram cumpridas (AT, 03/12/91; JB, 03/12/91).

O jornal AT enfoca a suspensão, pela Nitrocarbono, da suplementação de verbas mensais a trabalhadores leucopênicos com a manutenção da assistência médica por mais um ano (AT, 03/12/91). Além disso, publica os resultados da DRT que mostram que dos 7.356 funcionários do Polo examinados 216 foram confirmados com leucopenia (AT, 03/12/91). Mostra ainda que os trabalhadores denunciaram as promessas não cumpridas dos ministros da Saúde e do Trabalho, assim como os critérios de alta do INPS a trabalhadores leucopênicos, devolvidos a ambientes de trabalho que não sofreram mudanças (AT, 03/12/91).