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AS FESTIVIDADES RELIGIOSAS BOLIVIANAS DE SÃO PAULO

O RÁDIO E AS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS 4.1 O RÁDIO COMO UMA EXPRESSÃO DE COSTUMES ORAIS

4.2 AS FESTIVIDADES RELIGIOSAS BOLIVIANAS DE SÃO PAULO

Ao cruzar fronteiras geográficas e culturais, o modelo em que se festejava e se oferecia presentes aos Deuses é posto em xeque em razão dos condicionamentos que o novo contexto sócio-cultural imprime às práticas festivas, engendrando, assim, um processo de (re) criação cultural, em que práticas, valores, tradições e crenças são resignificadas (SILVA, 2003 p.134)

Um dos principais pontos de preocupação nas pesquisas de Silva (1997, 2003 e 2005) é, justamente, o processo de resignificação pelo qual a cultura passa durante o movimento migratório dos bolivianos em São Paulo. Especificamente, o processo religioso, entendendo-o como um importante componente da cultura, faz-se corriqueiramente presente na obra do autor e servirá como o principal apoio teórico neste tópico de capítulo, pois tentamos participar de cerimônias religiosas privadas ilustradas em sua obra.104 Para o autor (2005), é indiscutível a “renegociação” dos preceitos e rituais que regem os momentos de festejos dos povos andinos, nesse caso os bolivianos, emigrados e situados dentro de uma sociedade receptora que não a original. Em nossa pesquisa de campo, para que se percebesse essa resignificação, foi necessário dividir os momentos festivos entre públicos e privados dos quais participam as comunidades de São Paulo105. Essa divisão não é meramente teórica, na prática ela existe e está muito presente na oralidade do povo quando o assunto é a religião como um componente cultural em mutação e, ainda, em contato com uma sociedade receptora compondo um cenário tipicamente marcado por processos migratórios. Tivemos condições de participar de vários eventos festivos religiosos na Capital Paulista, podendo perceber que os encontros públicos são mais condicionados e passíveis de negociações mais intensas, profundas, demoradas e, até certo ponto, problemáticas com as autoridades competentes ou com os parceiros apoiadores. Já nas comemorações privadas, mesmo sendo necessárias algumas negociações

104 O autor relata uma série de festejos religiosos ocorridos em São Paulo. Escolhemos um montante de seis cerimônias privadas, mas conseguimos participar somente de quatro delas.

105 Lembramos que a expressão “comunidades” não é mencionada no trabalho de Silva. O termo aqui em destaque está inserido na proposta apresentada por nós no primeiro capítulo.

com vizinhos brasileiros, por exemplo, o grau de ingerência externa é menor, tornando, na visão de alguns entrevistados, o ambiente mais parecido com o original da Bolívia. O rádio possui um papel de destaque na socialização desses encontros, divulgando e servindo de “ponto de apoio” para as comunidades envolvidas com ambas as ocasiões.

As cerimônias privadas às quais participamos foram a Festa de Finados, a Festa do Fim do Luto, a Ch’alla e a Festa do Batismo / Primeiro Corte de Cabelo (Rutucha). As cerimônias públicas em que estivemos presentes foram a Festa da Nossa Senhora de Copacabana, Festa da Virgem de Urkupiña e Aniversário de Independência da Bolívia, que tem como padroeira a própria Virgem de Copacabana, fazendo desse momento de celebração cívico-nacional, também, um momento religioso. Em todas essas festas consta o elemento religioso e todas apresentam, em maior ou menor grau, processos negociados que influenciam sua implementação, manutenção e, ainda, realização. A análise da experiência que tivemos será feita de forma a explicar cada uma dessas festas e nossa presença nelas, construindo elos com as entrevistas e analisando as respostas do questionário aplicado aos ouvintes das rádios e com as conversas informais que tivemos com os participantes dessas festas. Em meio a tudo isso, destacaremos como o fator rádio se manifesta e torna-se útil na realização desses momentos.

Assim como no Brasil, a Festa de Finados é celebrada na Bolívia no primeiro dia de novembro. Nessa ocasião, são montadas nas residências a “Tumba de los Muertos” ou o “Altar de Todos los Santos”, em memória da falecida pessoa. De acordo com a tradição andina e com o rito originalmente realizado no país de origem, o altar deve ser montado durante três anos consecutivos, a partir do ano do falecimento da pessoa. Se a pessoa tiver morrido no Brasil e os parentes estiverem no Brasil, segue o rito de três anos. No entanto, se o ente tiver morrido no Brasil e a família estiver na Bolívia, ou vice-versa, esse ato é ampliado e repetido por quatro ou cinco anos. Isso na fala de Vânia explica-se por: “El tiempo que el alma del muerto necesita para volver hacia donde nació. El muerto necesita regresar para encontrarse con la Pachamama en donde ella lo generó”. O altar consiste em oferecer ao morto um banquete com as comidas e bebidas que

ele apreciava enquanto vivo. Assim, a mesa, ao menos as que presenciamos, era abundante e farta, pois “su alma viene con mucho hambre”. Geralmente, o altar deve estar pronto às doze horas do dia primeiro, pois é nessa hora que as almas começam a chegar para comer os alimentos preparados para elas. Se a alma pertencer a um adulto, o cardápio é composto mais por pratos salgados que doces. Se a alma for de uma criança, o inverso ocorre. Os altares são montados em meio às máquinas de costura e, geralmente, são bem simples.106 Frutas, flores, velas, cigarros e cachaça são elementos comuns nos altares. Ao meio dia, após alguns minutos de oração em silêncio, faz-se a despedida do falecido. Cascudo (1988, apud. Silva op. cit.), apesar de falar de um contexto diferente, pois se reporta ao Sertão Brasileiro, explica que:

O meio-dia é a hora mais solene, misteriosa e sagrada do dia para as populações do interior brasileiro. Assim, o instintivo respeito sertanejo ao dia é um possível vestígio das crenças solares, articuladas com o culto das horas, pois a hora do meio do dia é o momento em que os anjos cantam glórias ao Senhor e, portanto, é o momento adequado para fazer-lhe pedidos pelos viajantes ou pelos que estão ausentes.

Na Bolívia, finalizadas as homenagens no âmbito familiar, o altar é desfeito e parte dos pães é levada ao cemitério, onde são colocados sobre o túmulo da pessoa morta para em seguida serem distribuídos entre os que visitarem. No Brasil isso assume um novo caráter, pois o morto pode não estar no Brasil e, assim, a cerimônia é feita simbolicamente dentro da própria oficina. Em seguida, independente de onde estejam, é servida chicha, uma espécie de bebida alcoólica à base de milho e também são servidas muitas cervejas, pelo que podemos observar. Ao final do ato, próximo do cair da tarde, o nível alcoólico dos envolvidos já está bem elevado. Notemos que, neste caso, há modificações na ritualística, dada à especificidade do quesito deslocamento geográfico, mas preserva-se a essência da ocasião convidativa para um gole a mais.

A Festa do Fim do Luto é outro momento de relações entre os vivos e os mortos. É um momento em que, caso a pessoa morta tenha sido casada, o (a) seu

106 Ao menos nas cerimônias nas quais participamos eram simples. Silva (2003) cita que há altares requintado e que obedecem a uma estrutura na qual é preciso ter um certo poder aquisitivo para fazê-lo, pois os alimentos e a riqueza de detalhes que apresentam custam caro.

(sua) parceiro (a) em vida está “liberado (a)” pra buscar outra companhia. Na Festa de Fim de Luto é realizada uma missa de nove dias, um mês, três meses, seis meses e, finalmente, ao final do período de luto que pode variar na Bolívia e no Brasil, a Festa do Fim do Luto, momento no qual, de acordo com Vânia: “El alma parte em paz definitivamente y podemos sacar el dolor de dentro de nosotros, pues no podemos cargar esse sentimiento por toda nuestra vida. Es um momento de alegria para los que se quedan aca”. O falecido tem um padrinho e, nessa Festa, o padrinho convida a todos os presentes, geralmente são os parentes mais próximos do falecido, para fazer uma reza em homenagem ao ausente e, em seguida, fazer um brinde, geralmente com uma bebida alcoólica, ao ente querido. Vale lembrar que nesse brinde regado a álcool, o primeiro gole é destinado à Pachamama. Após isso, o altar é retirado e desfeito pela última vez nos últimos três ou quatro anos. A festa marca a mediação e reprodução das relações entre vivos e mortos na perspectiva andina dos imigrantes radicados no mercado de confecção e costura de São Paulo. Uma questão interessante ressaltada por Vânia é que nesse momento, assim como nos próximos meses, os parentes não podem dançar entre si, indicando a abertura da família para novas alianças e relações.

A Ch’alla é uma cerimônia que ocorre com maior frequência no âmbito privado, mas é possível presenciá-la em ambientes públicos. Para fins de organização em nosso estudo, assumiremos que tal momento pertence somente ao campo das celebrações privadas, pois as de que participamos todas foram realizadas em um ambiente particular. Essa festividade no Brasil ocorre somente na terça-feira de carnaval e só faz sentido realizá-la, na fala do Pe. Mário Geremia, “se houver várias pessoas juntas para fazê-lo”. A cerimônia oficial na Bolívia leva de dois a três dias, pois com mais tempo se faz a ritualista várias vezes com resultados mais amplos. A Ch’alla consiste em borrifar os cômodos e cantos da casa com algum tipo de bebida alcoólica, podendo esta ser cerveja, vinho, cachaça, entre outros. Como geralmente os bolivianos radicados na base produtiva da cadeia de costura vivem no mesmo local onde trabalham, ou seja, nas oficinas de costura, elas também recebem essas borrifadas misturadas com

papéis picados chamados de mixtura e pequenos pedaços de doces para serem oferecidos à Pachamama.107 Participamos de duas ritualísticas dessas e, especificamente em uma delas, a presença de incenso era muito forte para “purificar” o ambiente. Fora todos esses apetrechos, há os “coetillos” que são bombinhas que explodem e dão mais alarde ao evento. Esse evento, na fala de Ruth Camacho: “Serve para abençoar” os cômodos da casa e pedir a tão sonhada prosperidade almejada desde a saída da Bolívia. A Ch’alla é isso. Em algumas ocasiões o pessoal da Pastoral pede para fazer a Ch’alla, substituindo o álcool por Água Benta. Costuma não ter muita adesão esse tipo de proposta, pois o uso do álcool está dentro da cultura, você consegue entender isso?”. A fala de Ruth reforça o que Canaviri havia dito na sessão anterior. Ou seja, Canaviri fala do uso e consequências sociais do álcool, já Ruth reporta-se à perspectiva cultural que o uso de bebidas alcoólicas confere à vida dos migrantes bolivianos.

O último momento privado observado por nós foi a Festa do Batismo / do Primeiro Corte de Cabelo (Rutucha). Os dois eventos ocorrem simultaneamente (batismo e corte de cabelo) reforçando os sincretismos existentes entre o catolicismo e as religiões autóctones andinas, equivalendo uma coisa à outra em sua respectiva religião. As duas perspectivas encontram-se em São Paulo e os imigrantes dividem a cerimônia do batismo de seus filhos nas duas perspectivas religiosas salientadas, sendo a primeira parte realizada na Igreja Católica e a segunda nas suas residências ou oficinas de costura. Na cerimônia realizada na igreja, pelo que podemos perceber, a presença dos convidados é baixíssima. Já na cerimônia interna, aparecem muitas pessoas, inclusive os padrinhos específicos de Rutucha. Ao ser questionado acerca desse fato, Silvia, esposa de Orlando, que nos hospedaram em algumas ocasiões e estavam batizando a pequena Elía responderam que:

La parte de la iglesia es una cuestión de estaremos en Brasil y lo hicimos también en Argentina cuando allá tuvimos nuestro primer hijo. La gente te exige eso. La iglesia, por apoyar a los inmigrantes, quiere

107 Não perguntamos o significado do papel picado, mixtura, mas a literatura afirma que tal prática é comum em outros rituais como a própria Rutucha, que significa uma alusão aos Deuses lançando benções dos céus sobre as cabeças e corpos de seus fiéis na Terra (Silva, 2005)

que sigamos los designios de ella. Para eso, hacemos las dos cosas. Los padrinos cristianos pueden ser cualquier persona, para nosotros. Pero los de la Rutucha son gente de nuestra estima y confianza.

Fica perceptível a hierarquização acerca das duas cerimônias. A perspectiva católica torna-se uma espécie de formalidade e satisfação perante a Igreja que, por intermédio da Pastoral do Migrante, trabalha com os problemas do dia a dia oferecendo suporte, ajuda e, até mesmo, abrigo, mas pede em contrapartida a adoção de alguns preceitos católicos. Silva (2003) destaca sempre certa resistência dos bolivianos à proposta da Pastoral, o autor destaca que muitos bolivianos, principalmente os mais próximos dos serviços oferecidos pela entidade, se sentem pressionados a dar essa contrapartida de “seguir a cartilha católica” em suas vidas.108 Em geral, o batismo na igreja é realizado no sábado pela manhã, a Rutucha é realizada no sábado a tarde, indo a festa noite adentro e, na ocasião em que estávamos presentes, sendo continuada no domingo. Os bolivianos, especificamente os do altiplano, acreditam que sem a cerimônia da Rutucha as crianças ficam vulneráveis a doenças de todas as espécies. A Rutucha consiste no primeiro corte de cabelo da criança, equivalendo- se ao batismo no catolicismo e isso ocorre por volta do primeiro ano de idade. Das festas observadas, essa foi a que mais nos chamou atenção por reforçar a ideia de que existem várias comunidades bolivianas e não somente uma. Os rituais dessa festa fortalecem os vínculos entre os membros das comunidades, estimulando relações de reciprocidade entre os membros dos diferentes grupos comunitários existentes na Capital Paulista. Isso é mais bem explicado durante as cerimônias fora da igreja, pois há cantos e bailes, reforçando o sentimento de

compadrio entre a família, os convidados e, principalmente, com os padrinhos de

Rutucha. Um ritual interessante nessa festa é o momento em que uma dança conhecida como “cueca” é dançada pelos pais e padrinhos da criança, brindando três vezes com diferentes tipos de bebidas. Na Bolívia, originalmente, em cada um dos brindes o garçom, ou pessoa que serve a bebida, atira ao chão com muita

108 Silva possui uma experiência muito importante, pois desempenhou papeis distintos dentro do que nos chamamos de coletividade boliviana. Além de respeitável pesquisador e sendo o prepulsor de sistematização da temática nos moldes acadêmicos, também foi Padre e atuante na Pastoral do Migrante.

força a bandeja com outros drinks e bebidas, causando um estrondo assustador. Na mesma cerimônia, ainda na Bolívia, o ato máximo da Rutucha é o corte de cabelo da criança a ser batizada, pois o padrinho de Rutucha é o primeiro a fazê- lo, cortando uma mexa de cabelo da criança e a presenteia com um animal de grande porte, significando o início do patrimônio daquela criança. No Brasil, para o primeiro ato, evita-se o barulho excessivo para não despertar a curiosidade ou, até mesmo, a ira dos vizinhos brasileiros, pois em muitos casos em uma festividade como essas, a polícia pode ser chamada e os desdobramentos podem ser complexos, pois muitos bolivianos que participam desses eventos não estão regulares no Brasil e uma simples inspeção policial facilmente identifica quem são essas pessoas. Isso acontecendo, são presos e sujeitos a deportação. No segundo ato, do corte de cabelo, ao invés do padrinho dar um animal, ele coloca sobre o cabelo cortado uma nota de dinheiro e os outros convidados seguem o exemplo. Isso ocorre dado ao fato da prática de doação de um animal ser comum somente no contexto rural no qual muitos dos que se encontram em São Paulo nasceram. Em São Paulo, para o Pe. Mário: “o símbolo de maior valor é o dinheiro em espécie ganho com a costura”. Essas modificações nas formas de se festejar marcam as estratégias criadas para a forma de reproduzir a cultura dentro de um novo ambiente escolhido para migração.

Partimos agora para observação e análise das festas públicas às quais tivemos acesso. Vale ressaltar que, se nas festas privadas nós participamos de uma por vez, nas públicas tivemos acesso a todas no mesmo dia, dado ao fato de serem realizadas simultaneamente em uma única data, facilitando a logística e participação das pessoas envolvidas nas celebrações em nome de Nossa Senhora de Copacabana, da Virgem de Urkupiña e da Independência da Bolívia. Faremos nossos apontamentos de forma a abranger todos esses festejos de modo a contemplar as especificidades e significados de cada um, independente de terem sido realizados conjuntamente. Vale iniciar salientando a relevância de cada uma das Santas homenageadas e dando breves informações sobre a Independência da Bolívia. A Virgem de Copacabana é a padroeira nacional da Bolívia e que foi instituída como tal em 1583, pertencendo a ela o título de

segunda santa mais antiga das Américas, perdendo somente para a Virgem de Guadalupe, louvada no México desde 1581 (SILVA, 2005). Saavedra (1991) destaca que a origem da Virgem deu-se às margens do Lago Titicaca, um lugar considerado sagrado pelos incas, onde estes adoravam o Sol, a Lua, assim como a divindade Copacabana, que deu nome ao lugar.109 A festa para a Virgem de Copacabana é a que reúne o maior número de participantes por ser a padroeira nacional, apesar de também possuir suas raízes no Estado de La Paz.

A Virgem de Urkupiña constitui-se numa devoção mais regionalizada de Cochabamba. No entanto, não menos importante em São Paulo, uma vez que o segundo maior contingente de imigrantes bolivianos provém daquele Estado. A origem da Santa foi na cidade de Quillacollo, próximo à cidade de Cochabamba. Segundo uma lenda oralizada e presente na memória de Quispe, um dos “hijos de Urkupiña” radicados em São Paulo, a história da Santa remonta ao momento em que uma criança estava pastoreando em uma região interiorana do país quando avistou uma senhora com uma criança nos braços, em cima de uma pedra em um monte. A mulher com a criança no colo ofereceu algumas pedras para a pastora e estas se transformaram em dinheiro, surgindo assim a tradição de retirar pedras daquela localidade com o intuito e crença de que aquelas pedras se transformarão em dinheiro ou bens materiais.110 As comemorações festivas para todas as ocasiões de festas públicas ocorrem durante o mês de agosto, sendo originalmente o início do mês reservado para Copacabana, o meio do mês para a Independência da Bolívia e o fim do mês para Urkupiña. Em São Paulo, pelos motivos já descritos, todas elas são realizadas no mesmo dia ou final de semana.

Silva (2003 e 2005) destaca que ambas as virgens fazem parte do sincretismo que envolve as religiões andinas com o cristianismo, referindo-se a elas como “festas marianas”. Os preparativos para essas festas de agosto começam muito antes dessa data. Em abril e maio, já há mobilização de boa parte dos bolivianos radicados em São Paulo para os festejos de agosto. As

109

Vale lembrar que o nome da mais famosa praia do Rio de Janeiro, Copacabana, veio da Bolívia, pois no início do Século XVII um viajante teria ido à Copacabana e trazido uma imagem da Virgem para pagar uma promessa. Assim, uma capela foi construída para a Santa às margens do mar, conferindo o seu nome àquela praia (SAAVEDRA, 1991).

Associações citadas anteriormente, principalmente a Associação Folclórica Brasil- Bolívia (AFOUBB), representada por Ruth Camacho, é, sem dúvida, a mais ativa e intensa associação a trabalhar durante esses meses, pois todas as dezoito fraternidades se preparam para os desfiles de agosto. Nos “pontos bolivianos” de São Paulo por onde se andar nessa época é possível participar, conhecer e assistir aos ensaios dos diversos grupos folclóricos, seus matizes e propostas culturais recriadoras da cultura boliviana em um novo contexto, o das imigrações internacionais. Vale destacar os contexto de alguns grupos e suas propostas artísticas. Um deles é o Grupo San Simon que dança Caporales, simbolizando os capatazes europeus que vigiavam o trabalho dos índios escravos na época colonial. Outra dança típica é a Morenada, dançada pela Grupo Kantuta Brasil, fraternidade mantida pela Associação da Praça Kantuta, sob direção do senhor Carlos Soto, popularmente conhecido como “Don Carlos”, que afirma que: