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17 -25 45% 25 - 35 47% 35 em diante 8%

Percebe-se, com isso, um público majoritariamente de pessoas com idade entre vinte e quarenta anos, com predominância de jovens entre vinte e trinta anos. Geralmente, isso pode ser uma marca das “migrações laborais”, pois tal faixa etária é a do imigrante representante das classes pobres de seu país, está no auge de suas forças físicas e que decide abandoná-lo, após ter tentado inúmeros caminhos no país de origem sem obtenção de sucesso e, para tentar a vida no exterior (PEIXOTO, 2001).

Questão 5:

Você nasceu em qual cidade da Bolívia?

La Paz 38% El Alto 35% Cochabamba 17% Oruro 6% Potosí 4%

Essa pergunta gera uma dupla interpretação. Geralmente o entrevistado, conscientemente ou não quando responde a essa pergunta, costuma omitir sua

cidade de nascimento oficial, relatando como cidade de nascimento a última cidade em que viveu, ou esteve, antes de migrar para o exterior. Geralmente essa última cidade é uma das principais do país, como La Paz ou Cochabamba. Apesar da pergunta ter sido formulada de maneira direta e tentando precisar o local de nascimento, é possível que os entrevistados como já dissemos, conscientemente ou não, omitam o seu real local de nascimento. Sabemos por relatos e pela literatura disponível que a origem dessas pessoas é do interior do país, não das capitais. As cidades bolivianas que “abastecem” São Paulo são, invariavelmente, La Paz e El Alto, com, tipicamente, a cultura Aymará predominante e, à reboque, a ancestralidade étnica Colla, que também se torna um fator aglutinador e divisor entre “nós” e “eles” quando se negocia a formação das comunidades. De forma mais detalhada tivemos trinta e seis pessoas que se diziam de La Paz, trinta e três de El Alto, dezesseis de Cochabamba, seis de Oruro e quatro de Potosí.

Questão 7:

Antes de sair da Bolívia escutava rádio com frequência diária?

100% 0%

A questão número sete diz respeito ao fato de, antes de sair da Bolívia, se o entrevistado ouvia rádio diariamente, se o ato de ouvir rádio era uma prática constante em sua vida. A resposta foi de forma unânime “sim”. Ou seja, os noventa e seis entrevistados assinalaram positivamente a essa questão. No momento em que estávamos aplicando o questionário e que chegávamos a essa questão e recebíamos um novo “sim” a cada resposta, imaginávamos que estávamos no caminho certo, pois, apesar dessa questão não ser o cerne das nossas hipóteses, ela trazia elementos indicadores muito sérios que poderiam

impactar diretamente nos nossos objetivos específicos que, por sua vez, trabalhariam para a comprovação das hipóteses por nós esboçadas.

Questão 8:

Quais eram as rádios ouvidas na Bolívia?

Fides 34% Latina 15% Andina 6% Los Leones 9% Hecho en Cocha 5% Outras 31%

Essa questão trata-se de uma estratégia futura de ter dados mínimos acerca de como era o “elo anterior” dessa cadeia cultural e étnica que utiliza o rádio em seu cotidiano em São Paulo. O intuito era já colher informações mínimas, mesmo que muito frágeis, para quem sabe, uma futura pesquisa mais aprofundada sobre o papel dessas rádios no cotidiano das pessoas quando estas ainda estão nas cidades principais do país.47 Além disso, colhemos com os ouvintes as sintonias dessas rádios e de posse dessa informação, potencialmente, teríamos condições facilitadas de sintonizá-las uma vez estando na Bolívia.

A questão quarenta e seis dizia respeito à percepção dos ouvintes quando o assunto era outros imigrantes. Diretamente queríamos saber se, na opinião dos ouvintes entrevistados, se a programação das rádios contemplava outros imigrantes latinos radicados em São Paulo e participantes de uma realidade similar à vivida pelos bolivianos radicados na costura. Unanimemente a resposta

47 Há indícios que as rádios na Bolívia, principalmente algumas da cidade de El Alto, favoreçam o tráfico de pessoas. Esse é um tema que pode ter desdobramentos com as rádios de São Paulo, mas, por enquanto, isso não é o alvo de nossas análises.

foi que sim. Podemos deduzir que, uma vez mais, o fator “nacionalidade” é insuficiente para explicar possíveis grupos e/ou comunidades que se formam a partir de afinidades outras. Nas questões quarenta e sete a quarenta e nove retomávamos o papel do rádio na perspectiva migratória de bolivianos para o Brasil. Tratava-se, na verdade, como havíamos dito, de temas complexos para falar com ouvintes e, principalmente, com radialistas.

Questão 50:

Você já precisou de algum serviço específico da rádio que você ouve ou conhece alguém que já precisou? Anunciar algo, por exemplo.

Sim 70% Não

30%

Questão 51:

Por esse serviço, você ou a pessoa que você conhece, teve que pagar?

Sim 57% Não

43%

Esses dois últimos gráficos, referentes às questões citadas, falam de práticas sistemáticas de cobrança de preços gerais, independente de qual é a rádio citada. O que nos falta saber é que tipo de serviço foi solicitado à rádio e qual foi o preço cobrado. Mas o que é um fato é a cobrança por serviços prestados pelas rádios às suas comunidades. Essas duas últimas questões põem fim ao

leque de informações ligadas ao rádio levantadas e sistematizadas em nossas pesquisas. No entanto, havia uma ultima pergunta que não estava diretamente relacionada ao rádio, mas que dizia respeito à percepção do ouvinte no que diz respeito à comparação, de forma geral, de sua vida na Bolívia com a vida no Brasil, indicando se houve melhora, piora ou se tudo permanece inalterado. As respostas ficaram assim:

Questão 53:

No Brasil, com relação à vida na Bolívia, você está?

Melhor 80% Pior 13% Igual 7%

De uma forma em geral, para a maioria dos nossos ouvintes, viver no Brasil está melhor do que viver na Bolívia. Acreditamos que, como o cunho da pergunta era generalista, as respostas possam ter sido influenciadas pelo aspecto econômico. Isso não é nenhuma surpresa, pois a marca desse fluxo migratório é o trabalho e, em uma economia maior que a do país de origem, as possibilidades de ganho financeiros e circulação de riqueza é mais ampla, mas não podemos esquecer que essa tal “circulação de riqueza” abre margem para uma circulação de exploração muito severa e acentuada em todas as cadeias produtivas, inclusive, a do mercado de confecção e costura de São Paulo. Aos sete por cento que sinalizaram que as coisas permanecem inalteradas com relação à vida na Bolívia, acreditamos que essas pessoas são as que ainda não completaram dois anos de Brasil e ainda não conseguiram ter uma folga em seus orçamentos. Os que sinalizaram pior, acreditamos serem os recém-chegados ou os que de forma alguma conseguiram “digerir” o significado do que Sayad (2008) chama de

Dessa forma, o perfil do nosso ouvinte já está suficientemente delimitado, explicado e recortado. Acreditamos, assim, que já temos elementos suficientes de quem é esse imigrante, de onde ele vem, de qual contexto estava inserido, de como o seu país possui peculiaridades marcadas, a partir de onde se observa, por avanços e/ou retrocessos e de como, principalmente, esse imigrante, que tem o rádio presente em sua trajetória, chegou à São Paulo. Dessa forma, as bases foram construídas para que possamos seguir em frente em nossa proposta de estudo.

CAPÍTULO 3

O RÁDIO ENTRE AS COMUNIDADES E A COLETIVIDADE BOLIVIANA