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COMO OS OUVINTES PERCEBEM O PAPEL DAS RÁDIOS NA FORMAÇÃO DAS COMUNIDADES

O RÁDIO ENTRE AS COMUNIDADES E A COLETIVIDADE BOLIVIANA 3.1 O COMUNITÁRIO COMO UMA INSTÂNCIA DO COLETIVO

3.4 COMO OS OUVINTES PERCEBEM O PAPEL DAS RÁDIOS NA FORMAÇÃO DAS COMUNIDADES

Até aqui nós já conhecemos o perfil desse ouvinte e questões ligadas ao seu passado. De agora em diante começaremos a averiguar e a ter indícios mais fortes como esse imigrante se percebe em São Paulo, sua localização social e como se organiza em grupos tidos como de iguais. Esses grupos tidos como iguais nada mais são do que os agrupamentos formadores de comunidades. Comunidades essas que podem, em algumas ocasiões, serem formadas ou receber membros de redes sociais impostas na chegada do migrante à São Paulo. Ou seja, recapitulamos que as redes sociais nem sempre são uma questão de escolha no momento de chegada, já as comunidades são formadas pela vontade expressa do indivíduo e aceitação deste pelo o grupo. Começaremos a conhecer, ainda mais, sua relação com as rádio bolivianas na Capital Paulista. As questões que seguem darão pistas mais objetivas acerca do ponto de vista do nosso ouvinte no tocante as rádios investigadas e suas relações na formação das comunidades.

Questão 13:

Na Bolívia, existe diferença em ser boliviano?

Sim 76% Não 16% Não Sabe 8%

Dos nossos noventa e seis entrevistados, setenta e três responderam que, mesmo na Bolívia, existem diferenças em ser boliviano, confirmando que ser boliviano, mesmo no país Natal não é a mesma coisa. Quinze, um percentual muito pequeno, disse que não, que ser boliviano é a mesma coisa e um número ainda menor, oito, disseram não saber ou nunca haver parado para pensar acerca

disso. As pessoas que responderam afirmativamente foram solicitadas para explicar um pouco melhor os motivos que as fazem crer que há diferenças em ser boliviano. O que podemos sinalizar é a repetição de algumas respostas como as diferenças regionais, principalmente altiplânicas, as classes sociais e a herança quéchua, aymará ou a herança europeia eram motivos suficientes para que acreditassem que ser boliviano não é a mesma coisa. Ou seja, para o senso- comum todos os nascidos na Bolívia são bolivianos. A tipificação dita por Schultz (1979) facilita essa compreensão para uma primeira abordagem, mesmo que esta seja superficial. No entanto, como nossa pesquisa tem caráter qualitativo, a incidência e repetição de respostas em certa direção não nos permite afirmar que todas as pessoas que nascem naquele país compartilhem de mesmas heranças e compreensões de mundo, pois apesar de terem nascido em uma mesma unidade geográfica, que não quer dizer muita coisa, pertencem e compartilham de mundos díspares.

Questão 14:

Você acha que, em São Paulo, há diferença em ser chamado de paceño ou de boliviano? Sim 48% Não 43% Não Sabe 9%

Aqui surgiu uma primeira questão mais complexa e desafiadora ao nosso trabalho e sistematização dos dados. Ao passo que na questão anterior ficava muito clara a certeza da maioria ao afirmar que o fato de ser boliviano não era a mesma coisa para todos os nacionais daquele país, nessa questão já percebemos

uma divisão mais clara, ou quem sabe uma dúvida maior acerca de como o entrevistado se percebe ou, ainda, não podemos descartar uma falha na formulação da questão. Mas independente de qualquer coisa, o que está posto é que essa questão extrapolou nossas perspectivas, e fazendo com que nosso questionário contemplasse um espaço maior para as explicações que vinham logo a seguir do “sim” ou “não”, pois se trata de uma questão repleta de “poréns” que causam uma complexidade tão grande quanto tentar entender os agrupamentos comunitários existentes dentro do universo maior. Por exemplo, os que responderam “sim”, na maioria das respostas, o traço comum que unia era o fato da identidade paceña e aymará virem antes da identidade nacional. No entanto, para os que responderam “não”, a explicação que alguns entrevistados devolviam ao questionário ou ao pesquisador era: para os patrícios havia sim diferença, para os paulistas, coreanos, judeus e outros, não.93 Algumas respostas dos entrevistados eram complexas para sistematização pois essas relações dependem de onde parte ou de quem faz a indagação.94

Questão 15:

Você acha que em São Paulo os imigrantes formam grupos menores a partir de afinidades comuns? Sim 82% Não 9% Não Sabe 9%

93 Estamos usando as expressões “paisano” e “patrício” não como sinônimos. Por “paisano” entendemos as relações estabelecidas dentro das comunidades. Por “patrício” entendemos as relações dentro da coletividade. Cada uma marca um grau distinto de aproximação.

Aqui a impressão que temos é que retomamos o curso que das questões que subsidiarão nossos objetivos específicos no intuito de confirmar nossas hipóteses. A próxima questão abrirá espaço para comentários comuns às questões quinze e dezesseis.

Questão 16:

Se você respondeu “sim” na questão anterior, quais são essas afinidades comuns para formação de grupos menores? (Pode marcar mais de uma

opção) Colla 12% Camba 11% Chapaco 11% Parentesco 11% Religião 11% Cidade de origem na Bolívia 11% Língua 11% Idade 11% Profissão 11%

As questões quinze e dezesseis apontam para uma organização que não obedece somente ao critério nacional, contando com fatores específicos e delimitados, mas não estanques, em que mais de um pode ser utilizado para a questão das formações comunitárias como, por exemplo, a somatória do parentesco com a perspectiva religiosa ou a região de procedência. Notemos que as tentativas de teorização da realidade são insuficientes e parciais para dar conta de tal complexidade. Oliveira (1976, pp.36-37), destaca que são as identidades sociais que se formam na interação do homem com o meio, tendo o conceito de etnia como algo genético ou não, pois elas são criadas e influenciadas pela ideologia que, necessariamente, nesse aspecto, necessita da validação grupal. Especificamente, a maioria marcou todas as questões, fizemos a contagem e dividimos por igual. E um sub-cruzamento deixaria a questão ainda mais

complexa, pois a identidade poderia ser montada com base em várias variáveis como: ser costureiro, paceño, aymará, costureiro e jovem, por exemplo.

Questão 17:

Em São Paulo, com qual dessas mídias você tem mais contato durante todo o dia?

Rádio 86% Televisão 8% Jornal Impresso 6%

Mídia e imigração se encontram aqui, com o ambasamento teórico e com a contextualização necessária para que se faça sua relação com a identidade e a cultura dos imigrantes bolivianos. Segundo Nunes (1993), a existência do meio está intimamente condicionada à existência de um receptor. Como suspeitávamos, o rádio aparece como o principal aporte para a comunicação que tem como base uma mídia eletrônica. Oitenta e dois ouvintes responderam “rádio”, oito responderam “Televisão” e seis responderam “Jornal Impresso”. Esses dados ainda são insuficientes para afirmação e comprovação de nossas hipótese, pois precisamos ainda averiguar a função do rádio em relação às manifestações culturais e identitárias, mas já são indicadores que a mídia rádio é relevante para os imigrantes bolivianos radicados no mercado de confecção e costura de São Paulo.

Questão 18:

Se respondeu “rádio”, qual dessas três rádios você acompanha diariamente? Você ouve alguma das seguintes rádios?

Rádio 1 49% Rádio 2 21% Rádio 3 30%

Especificamente, sabemos das fragilidades dessa questão, uma vez que há uma rotatividade recorrente na audiência da Rádio Número 1 e na Rádio Número 3. A primeira com cinquenta e dois ouvintes e a terceira com trinta e um alternam-se na preferência dos ouvintes, apesar destes afirmarem que têm preferência por uma delas de maneira mais direta. A questão é que, em algumas ocasiões, a Rádio Número 2 não vai ao ar por diferentes motivos, fazendo disso uma possível explicação para a audiência jovem possa também ouvir a Rádio Número 1. A Rádio Número dois é, nesse cenário, o espaço de audiência mais bem delimitado, pois tem como foco os adeptos do neopentecostalismo, compondo o número de vinte e dois ouvintes entrevistados em nossa pesquisa.

Questão 44:

Qual período você escuta a rádio?

Manhã 0% Tarde 0% Noite 0% Os três turnos 100%

Na questão quarenta e quatro nossa intenção era saber em quais horários os ouvintes mais acompanhavam a programação da rádio. No entanto, precisamos deixar claro que no momento da confecção do nosso instrumento de pesquisa nós não sabíamos da rotatividade da audiência ou, tampouco, das brechas temporais existentes na programação de algumas delas. Contudo, para a questão proposta, que tinha como enunciado em qual período do dia o ouvinte mais acompanhava a rádio, as respostas não se encaixaram em nenhuma das nossas previsões. Ou seja, havíamos deixado a possibilidade do ouvinte responder manhã, tarde e/ou noite. A resposta que mais ocorreu foi, “enquanto estou trabalhando”. Ou seja, o rádio fica ligado enquanto as pessoas estiverem trabalhando. Podemos concluir com isso que, durante os dias de trabalho, o rádio só não funciona enquanto os costureiros estão dormindo ou fora da oficina de trabalho, revelando como a mídia tem um papel de destaque nos dias dos imigrantes bolivianos em São Paulo.

Questão 41:

Você acha que em São Paulo há um universo maior de bolivianos que poderia ser chamado de “universo boliviano”? Esse universo maior seria

composto por bolivianos de todos os lugares da Bolívia e de todas as classes sociais, homens, mulheres, ricos, pobres, paceños potosinos, etc.

Dentro desse “universo boliviano maior” existiriam outros “universos bolivianos menores” onde essas “diferenças” se acomodariam para formar

novos micro-universos. Podemos afirmar isso?

86% 14%

Sim, há um universo maior que pode ser chamado de “universo boliviano” e existem universos menores nos quais as diferenças se juntam.

Não, não há “universos” ou “realidades” distintas. Todos os bolivianos têm a mesma forma de viver em São Paulo.

Os termos “universo boliviano” ou “universo boliviano maior”, para fins de ajustes, substituiremos por “coletividade” ou “coletividade boliviana”. Para o termo “universos bolivianos menores” ou “micro-universos”, os substituiremos por “comunidades” ou “comunidades bolivianas”. Essa é uma das principais perguntas que nos interessaria saber. A partir dela é que temos mais tranquilidade para perceber uma potencial confirmação do que buscamos em São Paulo. Ela reforça parte de uma das nossas hipóteses, faltando, somente, identificar qual o papel do rádio nessa questão. Especificamente, oitenta e três pessoas sinalizaram “sim”, já treze delas sinalizaram “não”. Lembramos que no gráfico o que conta é a porcentagem, já na redação são números puros extraídos do universo de noventa e seis questionários aplicados.

Questão 20:

Você acha que a rádio que você ouve ajuda nessa formação desses grupos menores, por exemplo, de paceños”, que existem dentro desse grupo maior

chamado “boliviano”?

Sim 93% Não

7%

Oitenta e nove ouvintes sinalizaram que “sim”, em contraposição a sete que responderam “não. Ou seja, os indícios de que as rádios favorecem na formulação e consolidação das comunidades começam a surgir e a tendência de referendar nossas hipóteses nesse aspecto inicia. Quando solicitávamos que relatassem como isso ocorria, a maioria das respostas reportava-se ao estilo de músicas e às peculiaridades das regiões de nascimento. A palavra etnia não foi pronunciada uma única vez da boca dos entrevistados, no entanto, o entendimento de tal verbete era facilmente reconhecido quando eles falavam acerca de sua ancestralidade comum e de costumes comuns estimulados pelas rádios em suas programações. Nesse aspecto, a Rádio Número 2, que é a evangélica, era muito clara nesse sentido, pois seus ouvintes sentiam-se muito bem representados, acolhidos e cuidados. Para confirmar essa impressão, basta ver os relatos de Rosa e Ruben, um dos casais com os quais, além de aplicarmos o questionário, tivemos condições de passar alguns dias. Essas duas respostas contidas nas duas últimas questões são suficientes para a confirmação por completo de nossas hipóteses.

Questão 21:

Você acha que a rádio que você ouve é uma rádio diferente das outras e que atende a você de uma forma particular? Ou seja, você e outros ouvintes

dessa rádio formam um grupo com um perfil diferenciado dos demais ouvintes das demais rádios?

Sim 85% Não

15%

Os números permanecem, praticamente, inalterados. Ou seja, o ouvinte acredita que a rádio que acompanha, salvo a questão da rotatividade que ocorre, também, pela fato dos locais de transmissão serem descobertos e os aparelhos e radialistas apreendidos, fala para ele especificamente. Ela contextualiza a vida do migrante e (re)cria um ambiente específico que analisaremos nos capítulos seguintes. Oitenta e dois ouvintes responderam “sim” e catorze responderam “não”.

CAPÍTULO 4

O RÁDIO E AS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS