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As fontes de tecnologia da empresa: interna ou externas

Discussão dos Resultados

5.3 As fontes de tecnologia da empresa: interna ou externas

Outra dimensão da estratégia tecnológica levantadas por Zahra (1996a e b) são as fontes de tecnologia da empresa, podendo ser elas internas (P&D realizada pela empresa) ou externas (compra ou licenciamento da tecnologia de outras empresas e alianças estratégicas). Quanto às fontes externas, os laboratórios da amostra foram submetidos a quatro perguntas: (i) A empresa possui parcerias de P,D&I com universidade e institutos de pesquisa estrangeiros? Se sim, quais? (ii) A empresa possui parcerias de P,D&I com universidade e institutos de pesquisa estrangeiros? Se sim, quais? (iii) A empresa possui parcerias de P,D&I com outras empresas farmacêuticas no Brasil? Se sim, quais? (iv) A empresa possui parcerias de P,D&I com outras empresas farmacêuticas no exterior? Se sim, quais?

144 Ao longo das entrevistas foi possível notar a grande importância das universidades, sobretudo, e institutos de pesquisa para a geração de inovação por empresas nacionais, especialmente as inovações radicais. Todas as empresas da amostra lançam mão das parcerias com universidades e institutos de pesquisa nacionais para o desenvolvimento de medicamentos a partir de novas moléculas121. No caso das inovações incrementais, as empresas desenvolvem com mais freqüência os projetos internamente, mas também adotam parcerias.

A Pintec 2005 igualmente destaca as relações entre a indústria farmacêutica, universidades e institutos de pesquisa. De acordo com a pesquisa, 40% das empresas fabricantes de produtos farmacêuticos da amostra consideram esse tipo de aliança de alta importância. Particularmente importante é a cooperação para a realização de P&D e ensaios para testes de produtos, que respondem por 2/3 das relações identificadas.

A importância das universidades no caso das inovações de maior alcance reside, em grande medida, na etapa de descoberta, resultante da pesquisa básica realizada pela academia. Além disso, tanto nas inovações radicais quanto nas incrementais, existe complementaridade de competências entre os dois tipos de instituição. Dentre as universidades parceiras de destaque estão as públicas e a abrangência nacional da cooperação. As empresas entrevistadas se referiram a parcerias com universidades pertencentes a 11 estados, além do Distrito Federal: Amazonas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo122.

A Cristália argumenta que a presença de mestres e doutores no seu quadro de funcionários e no Conselho Científico facilita a relação com as universidades. A empresa não inibe a pesquisa básica realizada pela academia, mas busca direcioná-la e torná-la mais objetiva.

No entanto, a relação universidade-empresa ainda apresenta gargalos. Uma crítica recorrente das empresas é que muitos dos projetos das universidades não visam o consumidor final, ou seja, a sociedade, que acaba não se beneficiando das descobertas da academia. Uma das razões apontadas para tal cenário é o fato da publicação

121 Com exceção do Helleva da Cristália, cuja etapa de descoberta foi realizada pela própria empresa. 122 UFMG e USP foram citadas quatro vezes; UFRJ, UFRGS e UNESP três vezes; UFAM (Universidade Federal do Amazonas), UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), Unifesp e Unicamp duas vezes; e UFCE, UFPE, UFPB (Universidade Federal da Paraíba), UFPR, UFSC, Universidade Federal de Feira de Santana, UnB, UECE (Universidade Estadual do Ceará), Univali (Universidade do Vale do Itajaí) e PUC- RS uma vez.

145 científica ser o objetivo central na universidade (em especial nas públicas), o que tem implicações adversas para a apropriabilidade.

Nas parcerias para P,D&I com outras empresas nacionais, destacam-se a aliança entre a Biolab e a Eurofarma, através da Incrementha, e da Biolab, União Química e Biosintética (Aché), por meio do COINFAR123.

A Incrementha tem como foco as inovações incrementais, como novas associações entre substâncias ativas conhecidas. A idéia da joint-venture era agilizar o processo de desenvolvimento de novos produtos em uma outra entidade (Incrementha), dado que as empresas, tanto a Biolab quanto a Eurofarma, já tinham seus portfólios saturados de muitos produtos. No caso do COINFAR, a cooperação entre as três empresas visa a inovação radical, fase inicial de um desenvolvimento técnico comum às três companhias.

Para Teece (1992), a cooperação consiste na troca de recursos humanos, tecnológicos e financeiros entre agentes diferentes e independentes, que podem ser concorrentes. A cooperação e competição são essenciais para o processo de inovação, especialmente em indústrias de alta tecnologia, por causa do grande aumento dos custos de P&D e da complementaridade dos ativos.

No caso do COINFAR, a tentativa de acesso a tecnologias complementares/novas para as empresas seria a principal justificativa para a aliança. Associando competências acumuladas pelos três laboratórios, e dividindo custos e riscos da atividade, poderiam se inserir em novos mercados para os três.

De todo modo, segundo o Dr. Márcio Falci, da Biolab, o COINFAR estaria agora em “compasso de espera”, mesmo após uma grande quantidade de investimentos e de estar com três produtos em fase adiantada de desenvolvimento. A interrupção seria função da falta de segurança legal para comercialização dos produtos. De acordo com o Dr. Falci, há no Estado de São Paulo uma lei, segundo a qual instituições do Governo, como o Butantan, não podem ceder ou vender direitos dos frutos da pesquisa do Butantan para que o COINFAR possa explorar, mesmo a joint-venture sendo co-titular das patentes. A aliança está aguardando o parecer da área jurídica do Estado para ver como esta questão será resolvida.

123 A primeira especificidade dessas alianças é o fato de serem compostas por concorrentes, uma prática bastante incomum, tanto no setor farmacêutico nacional quanto nas demais indústrias brasileiras. Os dados da Pintec 2005 mostram que as alianças tecnológicas mais freqüentes ocorrem com clientes e consumidores (41,6% das empresas consideraram essa parceria de alta importância), seguida da parceria com fornecedores (26,6% das empresas da amostra consideraram de alta importância) e, com bem menos incidência, com concorrentes (apenas 6,7% consideraram de alta importância).

146 Dr. Falci, comentando uma matéria publicada no jornal O Estado de São Paulo no dia 29 de março de 2009, afirma que:

A pesquisa de novos medicamentos, por si só, é uma atividade que requer grande investimento e traz no seu bojo elevado risco. No Brasil ele é muito maior. Hoje o governo criou uma política industrial para a área farmacêutica, fornece incentivos, via agências de fomento, ou seja, procura estimular a pesquisa e inovação. No entanto, não consegue remover os principais obstáculos criados pelo emaranhado legislativo, pela burocracia e pela visão muitas vezes ideológica de condições que exigem opções pragmáticas. Assim, não caminhamos e não se desenvolve a capacitação que o setor deve adquirir para aumentar nossa independência política e econômica em saúde.

A matéria dizia respeito ao pedido de demissão do Prof. Dr. Antonio Carlos Martins de Camargo, diretor do Centro de Toxinologia Aplicada (CAT)124 do Instituto Butantan há 8 anos, principal parceiro do COINFAR. Segundo o Prof. Camargo é “irreal fazer inovação no Brasil”. O obstáculo institucional enfrentado pelo COINFAR em relação ao CAT é discutido mais detalhadamente no box a seguir:

124 Inaugurado em 2000, o CAT é um dos 11 Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) da Fapesp. Foi criado para trabalhar em uma das áreas consideradas mais promissoras da biotecnologia: a busca de novos princípios ativos para drogas a partir de espécies da biodiversidade brasileira. Os cientistas do CAT procuram e estudam moléculas com potencial farmacológico produzidas por cobras, aranhas, escorpiões, lacraias e outros animais peçonhentos da fauna nacional (ESCOBAR, 2009).

147 Box – Entraves institucionais entre o COINFAR e o CAT