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Discussão dos Resultados

5.5 Decisão de Investimento em P&D

Neste tópico serão tratadas as decisões de investimentos em P&D dos laboratórios da amostra. Optou-se por um conceito mais amplo do que o proposto por Zahra (1996a e b), incluindo não somente as decisões quanto ao nível de gasto em P&D,

125 Outro ponto importante se refere à utilização das informações sobre os ensaios clínicos no marketing do produto, pois a comunidade médica tem mais aceitação de um medicamento quando são apresentados os ensaios clínicos demonstrando eficácia e segurança, a partir de uma pesquisa que seguiu os rigores científicos de boas práticas. Além disso, a linguagem técnica aproxima o médico da empresa, que passa a vê-la como um par, com o qual pode trocar informações sobre o produto em questão, concorrentes e até mesmo sobre os hábitos e a incidência da moléstia no seu conjunto de pacientes (MARANDOLA et al., 2004).

126 Angioegênese é a capacidade de crescimento de vasos sangüíneos em volta do tumor, enquanto a rediferenciação celular é responsável pela proteção utilizada pelas células para impedir mutações ao longo do tempo que podem formar novos clones de células neoplásicas (cancerígenas), aumentando o tumor ou gerando metástases (MARANDOLA et al., 2004).

149 mas também outros aspectos do investimento em pesquisa e desenvolvimento, igualmente importantes, como a existência de um departamento, laboratório e de uma equipe interna destinada à pesquisa, desenvolvimento e inovação. Uma dificuldade encontrada na pesquisa em relação à decisão do nível de gastos das empresas se refere à concepção das mesmas sobre P&D, já que não há uma definição consensual, o que implica numa dificuldade de comparação dos níveis de gastos apresentados. O quadro 5.1 ilustra tais dados.

Quanto à intensidade dos gastos em P&D, indicada pela porcentagem sobre o faturamento bruto, se sobressaem a Cristália, a EMS e, em seguida, a Biolab. Segundo esta base, a Aché estaria em último lugar. No entanto, considerando que se trata de um dos laboratórios nacionais mais bem posicionados no ranking brasileiro, em termos de faturamento, o valor investido pode superar os da Biolab e Cristália. Em termos de montante, o Aché afirma investir de R$ 18 a 20 milhões em P&D, enquanto a Biolab de R$ 15 a 20 milhões. Outro ponto de reflexão se refere à Eurofarma: a empresa investe 7% da receita líquida de vendas em atividades de P&D, ou seja, apesar da porcentagem ser alta, o montante a partir do qual ela investe também é menor127, uma vez que estão

deduzidas as devoluções e vendas canceladas, os descontos concedidos e os tributos sobre vendas (conceito de renda líqüida). No entanto, uma maior porcentagem sobre o faturamento bruto, quando o último é menor que de outras empresas, significa um esforço relativamente maior.

Se compararmos os esforços das empresas nacionais com o das multinacionais, tendo em mente que temos apenas 10 anos de proteção patentária, ainda há um grande gap. Os gastos nos EUA como porcentagem de vendas domésticas e totais alcançou 18,7% e 16,4%, respectivamente, em 2007 e, no caso das empresas da amostra, esse valor não supera os 7,5%. Isso sem contar que o montante a partir do qual as empresas dos EUA investem esses 18,7% ou 16,4% é muitíssimo superior ao dos laboratórios nacionais.

Uma dificuldade para a análise se refere à definição de investimentos em P&D pelas empresas da amostra. No triênio 2006-2008 a EMS investiu R$ 180 milhões em P&D, o que daria R$ 60 milhões por ano. É muito provável que neste conceito de P&D estejam incluídos todos os novos produtos (inovadores, similares e genéricos), como é o

127 Como será visto nos parágrafos a seguir, dentro dos 7% estão incluídos todos os novos produtos, não somente os inovadores.

150 caso da Eurofarma, que destinou R$ 50 milhões em 2008 a novos produtos (inovadores, genéricos, similares e veterinários) ou 7% da receita líquida de vendas.

Há a possibilidade de um paralelo com os dados da Pintec, apresentados no Capítulo 3, sobre os dispêndios relacionados às atividades inovativas, tendo como base a receita líquida de vendas. No caso específico das atividades internas de P&D (uma das formas de atividades inovativas), as 117 empresas produtoras de produtos farmacêuticos investem, juntas, mais de R$ 180 milhões, correspondentes a 0,7% da receita líquida de vendas de todas as empresas do setor, porcentagem certamente inferior a das empresas investigadas nesta dissertação. A diferença é sugestiva do baixo esforço das farmacêuticas multinacionais com investimentos de P&D no Brasil.

Em relação à existência de Departamentos de P,D&I internos à empresa, todas as empresas da amostra possuem alguma organização deste tipo, mas realizam neles diferentes atividades. A Medley foi a única que o classificou como de desenvolvimento, ou seja, sem atividades de pesquisa propriamente ditas. O Aché, apesar de não possuir um laboratório interno, afirma realizar atividades de pesquisa junto a universidades e prestadoras de serviços e tem a intenção de criar um laboratório visando internalizar etapas estratégicas, como o screening, que seria a busca por novas moléculas.

Para fazer uma análise a respeito da equipe interna de P,D&I é necessário observar que também não existe consenso entre as empresas com relação ao escopo da definição de equipe de P&D. As divergências podem ser uma das causas da grande diferença no número de profissionais em cada empresa. O Aché, por exemplo, apresentou como sua equipe de P&D os profissionais pertencentes ao Departamento de Pesquisa & Desenvolvimento, que inclui todos os projetos que requerem um desenvolvimento mais complexo. Seriam apenas seis pessoas, dois profissionais com pós-doutorado, dois mestres e dois com especializações. Em termos de formação, há biólogos, químicos e farmacêuticos.

Já a Biolab amplia o conceito, definindo sua equipe como composta pela Unidade de P,D&I de Itapecerica, pela Diretoria de P,D&I e uma parte da área de Novos Negócios, responsável pelos estudos de viabilidade. Na Unidade de Itapecerica há um total de 60 pessoas e na Unidade de São Paulo (Diretoria de P,D&I mais a área de Novos Negócios), 15 pessoas. Dessas 15 pessoas, dois são doutores, três são mestres e todos os demais têm MBA. São químicos, farmacêuticos, veterinários, biólogos, médicos e engenheiros. Já na unidade de Itapecerica, a grande maioria são químicos

151 (trabalhando dentro do laboratório, na parte analítica) e farmacêuticos. Catorze possuem pós-graduação, quatro são mestres e três possuem MBA.

No caso da Cristália o contingente seria ainda maior, totalizando 119 pessoas. Tais profissionais compõem as três divisões da área de P,D&I da empresa e o Núcleo de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação, que coordena as áreas citadas. O Núcleo envolve 58 cientistas, dos quais 30 são pós-graduados (com mestrado, doutorado ou pós-doutorado). Já o Departamento de Tecnologia Farmacêutica, que cuida da engenharia reversa, emprega 36 pessoas, todos com mestrado, doutorado ou pós- doutorado.

Na mesma linha, José Martins da EMS, afirma que sua equipe de P&D é composta por aproximadamente 200 pessoas, sendo o IIPF parte dessa equipe. Em termos de formação, a equipe interna de pesquisa da EMS é composta, em sua maioria, por graduados em farmácia e química, além de alguns biólogos. Já no IIPF, a maioria dos profissionais são mestres e doutores, graduados em biologia, química, farmácia e engenharia.

Já a Eurofarma e a Medley definem sua equipe de P&D de uma maneira mais próxima à do Aché. A Eurofarma determina sua equipe de P&D como a do seu laboratório de P&D, formada por cinco profissionais, entre farmacêuticos, médicos e biomédicos, todos com mestrado ou MBA, mas nenhum doutor. A equipe de P&D da Medley, por sua vez, é composta por quatro profissionais, entre farmacêuticos e engenheiros químicos, todos com mestrado e doutorado.

Dada a imprecisão para a comparação dos tamanhos das equipes de P&D, um dado importante se refere à qualificação do pessoal envolvido nas atividades em questão. Segundo dados da Pintec 2005, das pessoas ocupadas em atividades internas de pesquisa e desenvolvimento nas 1.211 empresas fabricantes de produtos farmacêuticos que implementaram inovações, 172 (14,2%) são pós-graduados, 778 (64,2%) possuem graduação e 191 (15,8%) tem somente o nível médio. Ou seja, tais informações mostram que as empresas da amostra da presente pesquisa estão um passo além, já que todos os profissionais das equipes de P&D são graduados e grande parte possui algum tipo de pós-graduação, seja mestrado, doutorado ou MBA. Destaque para a formação dos profissionais da Cristália e do Aché, que chegam a ter pós-doutorado.

Nota-se, portanto, a presença de profissionais com alta formação acadêmica atuando na indústria farmacêutica, o que não é uma prática comum em outros setores, mas, por outro lado, é de grande importância num setor onde a inovação é uma das

152 bases da dinâmica competitiva. Parece, porém, relativamente pouco expressiva, para esse padrão de inovação, a participação de profissionais com o mais alto nível de formação – doutorado e pós-doutorado – requerido para a pesquisa mais avançada.