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A Indústria Farmacêutica no Brasil

3.3 Caracterização Tecnológica

Neste item será feita uma análise do setor farmacêutico nacional, com o intuito de criar um quadro de referência para a situação atual da indústria. A fonte de dados utilizada para tal foi a Pintec (Pesquisa de Inovação Tecnológica), realizada pelo IBGE em 2005, sendo esta a mais recente publicação. As tabelas com os dados da Pintec 2005 estão localizadas no Anexo B.

A pesquisa levanta informações sobre distintos aspectos do processo de inovação tecnológica nas empresas brasileiras, que permitem a elaboração de indicadores nacionais e regionais, com comparabilidade internacional. Com efeito, a análise dos esforços inovativos e dos resultados obtidos, como também das fontes de informação utilizadas, dos arranjos cooperativos estabelecidos, dos obstáculos encontrados para o desenvolvimento das atividades inovativas, etc., podem constituir importantes ferramentas para as empresas definirem suas estratégias e para o desenho e instrumentação de políticas públicas (http://www.pintec.ibge.gov.br/).

A tabela B.1 nos mostra o total de empresas brasileiras fabricantes de produtos farmacêuticos da amostra, 622, e o total de empresas que realizaram inovações, 326 (53,4%), no período de 2003 a 2005. Das 326 empresas que realizaram inovações, 240 (73,6%) desenvolveram inovações de produto e 236 (72,4%) de processo. Das 240 inovações de produto, 189 (78,8%) eram novas para a empresa e 60 (25%) tratavam-se de produtos novos em nível nacional, dado que demonstra que grande parte das inovações realizadas por empresas farmacêuticas nacionais só o são para a empresa, além do fato das multinacionais instaladas no País não realizarem esforços inovativos significativos em nível nacional.

Já a tabela B.2 mostra o grau de novidade (produto novo somente para a empresa, para o mercado nacional ou para o mercado mundial) das empresas

94 farmacêuticas brasileiras que implementaram inovações de produtos. Das 183 inovações para a empresa, 86 (47%) são aprimoramentos de um produto já existente e os restantes 53%, tratam-se de produtos completamente novos para a empresa. No caso de produtos novos em nível nacional, 23 (46%) das 50 inovações são aprimoramentos de produtos já existentes, enquanto os outros são completamente novos para a empresa. E, por fim, em relação aos 7 produtos novos para o mercado mundial, 6 são completamente novos também para a empresa. Apenas 3,8% das inovações farmacêuticas de produto se enquadram nesta categoria de maior alcance. Embora modesto, esse percentual é bem superior ao da indústria em geral (1,2%).

Pensando ainda no grau de novidade das inovações, mas agora tendo como foco os processos, a tabela B.2 (continuação) mostra que dos 214 novos processos para as empresas, mas já existentes no setor farmacêutico brasileiro, 167 (78%) são aprimoramentos e os outros 47 são completamente novos para a empresa. No caso de processos novos para o setor, mas já existentes em termos mundiais, 80% das 20 inovações são melhorias de processos já existentes. Apenas dois processos são novos mundialmente, sendo um aperfeiçoamento de processos existentes e o outro integralmente novo. Novamente, embora pequena, a proporção dessas inovações mais abrangentes excede a média da indústria.

Discutindo os dispêndios relacionados às atividades inovativas, a tabela B.3 nos mostra os esforços das empresas pertencentes à indústria de transformação, tendo como base a receita líquida de vendas. Somando-se o P&D interno ao externo das empresas farmacêuticas, chega-se a 1,3% da receita líquida de vendas. Se considerarmos que os gastos em P&D como porcentagem das vendas totais, dos laboratórios localizados nos EUA pertencentes à PhRMA alcançaram 16,4%, é possível auferir que os dispêndios das empresas farmacêuticas nacionais e das multinacionais instaladas no Brasil é muito baixo, tanto em termos de porcentagem da receita líquida de vendas quanto em termos absolutos.

Em relação à formação dos profissionais ocupados em atividades internas de P&D (tabela B.4), a quantidade de pessoas que têm nível superior é maior se comparada aos que têm formação de nível médio, tanto no caso do total das indústrias de transformação quanto no caso da fabricação de produtos farmacêuticos. Em relação ao nível superior, 15,6% das pessoas ocupadas em atividades de P&D das indústrias de transformação têm pós-graduação, contra 18,1% no caso da fabricação de produtos

95 farmacêuticos. Apesar da superioridade do setor farmacêutico, o valor não pode ser considerado alto.

Tendo em mente as empresas que implementaram inovações e o impacto causado, no caso de fabricação de produtos farmacêuticos (tabela B.5), a relação dos impactos de alta importância sobre o total das empresas que realizaram inovações é maior no caso da melhoria da qualidade dos produtos (51%), o que pode estar relacionado a inovações incrementais/melhoria de medicamentos já no mercado, seguida pelo enquadramento em regulações relativas ao mercado interno (42%), que pode ser uma resposta das empresas às mudanças institucionais ocorridas no setor na década de 1990. Em terceiro lugar está a manutenção da empresa no mercado (39%), indicando que talvez as inovações implementadas pelas empresas nacionais não tenham grande alcance.

Sobre os métodos de proteção utilizados pelas empresas farmacêuticas que realizaram inovações, a tabela B.6 nos mostra que dos métodos por escrito, em 150 casos foram utilizadas marcas e em apenas 27 casos, patentes. O baixo número de patentes é compatível com o alcance restrito das inovações reportado anteriormente, já que essa forma de proteção pressupõe um escopo mais abrangente da inovação. Além disso, a freqüência muito maior do uso de marcas – maior até do que na média da indústria – indica que os ativos comerciais continuaram a apresentar grande importância para as empresas farmacêuticas brasileiras.

Das 326 empresas fabricantes de produtos farmacêuticos que implementaram inovações 52 possuem patentes em vigor, o que corresponde a apenas 16%, como mostra a tabela B.6.

Um aspecto importante em relação à implementação de inovações são as relações de cooperação com outras organizações. A tabela B.7 nos mostra que, no caso das empresas farmacêuticas, as relações de alta importância com outras organizações sobre o total é maior com as universidades e institutos de pesquisa (47%), mostrando a importância das instituições de ensino e pesquisa para o desenvolvimento de inovações no setor, apesar da existência de gargalos nesta relação que precisam ser superados. As relações com concorrentes responderam somente por 7% sobre o total. No entanto, importantes exceções de parcerias com concorrentes são o COINFAR e a Incrementha, discutidos mais à frente.

Um ponto de grande relevância para atividade de inovação se refere aos obstáculos encontrados para a realização da atividade em questão. A tabelas B.8 expõe

96 os problemas e obstáculos de alta importância enfrentados pelas empresas das indústrias de transformação que implementaram inovações, de acordo com a avaliação das próprias empresas. No caso das empresas farmacêuticas, a porcentagem de alta importância dos obstáculos no total das respondentes é maior no caso dos elevados custos de inovação (67,7%), seguida pelos riscos econômicos excessivos embutidos nesta atividade (47,4), o que pode ser explicado ao que chamaremos de “efeito massa crítica”, ou seja, as empresas brasileiras farmacêuticas possuem um porte muito inferior ao das multinacionais e um orçamento muito mais restrito, focando em projetos mais baratos, de menor risco, mas também muito menor potencial. Isso porque, diferentemente das multinacionais, não podem arcar com projetos mal-sucedidos resultantes de inovações radicais.

Não deixa de ser surpreendente que, num setor com forte presença de multinacionais e no qual o esforço tecnológico das multinacionais brasileiras é inequivocamente inferior ao das matrizes, que os respondentes da Pintec não apontem a centralização das atividades inovativas em outras empresas do grupo como um obstáculo relevante para o desempenho tecnológico. De todo modo, esse é um padrão de resposta encontrado na indústria como um todo.