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AS FORÇAS INTERNAS E A AÇÃO VIOLENTA DOS MILITARES

Thomas Skidmore (201⃰, p.251) afirma que: “A chave para entender a luta subsequente em torno da posse de Jango está numa análise dos sentimentos políticos dentro do Exército.” No que diz respeito às forças internas, passaremos a analisar a participação das Forças Armadas brasileiras no jogo do poder pelo controle do Estado. O que, segundo René A. Dreifuss (1981, p.23) trata-se de uma característica da instituição, que teria iniciado no Estado Novo. Todavia, essa participação no jogo político, segundo o mesmo autor, teria se alterado com o compartilhamento das ações militares, através da FEB na Segunda Guerra Mundial. A aproximação (aliança estreita) entre oficiais brasileiros e norte-americanos, que em muitos casos transformaram-se em amizades pessoais, teria feito com que vários

brasileiros voltassem “com novas ideias sobre desenvolvimento industrial e organização política do país.” Dreifuss afirma ainda que os oficiais opositores a Vargas conspiravam contra ele “a quem consideravam chefe de um regime neofascista”. (STEPAN apud DREIFUSS, 1981, p.23-27).

Outro fator importante nesse cenário político foi a mobilização dos trabalhadores que, “apesar de limitada, era temida pelas classes dominantes, pois poderia dar a Getúlio Vargas o apoio necessário para o estabelecimento de um executivo relativamente independente.” Condição rechaçada pelos industriais e pelas oligarquias, pois colocaria o presidente acima do controle das Forças Armadas. Previsão que teria feito com que Vargas fosse deposto pelo exército sob a vanguarda dos oficiais da FEB, em 1945, antes de conseguir consolidar a suposta estratégia de formar um novo bloco de poder. Ação que foi apoiada pelos industriais locais, pelas oligarquias, pelas classes médias e, por empresas multinacionais, que haviam renovado o interesse pelo Brasil. (DREIFUSS, 1981, p.27-28).

Foi durante o governo do marechal Eurico Gaspar Dutra que os norte-americanos e seus associados obtiveram a abertura ao seu capital em condições ainda mais favoráveis. Com a instalação da Comissão Mista Brasil-Estados Unidos, cujo objetivo era o “de estudar a situação brasileira e esboçar um programa de desenvolvimento econômico para o país.” Também neste governo foi implantada no Brasil a Escola Superior de Guerra (ESG), oficialmente criada por decreto presidencial, a 20 de agosto de 1949. E, para a qual, teriam acorrido oficiais anti-varguistas e pró-udenistas. Sua missão era a de preparar “civis e militares para desempenhar as funções executivas e conselheiras, especialmente naqueles órgãos responsáveis pela formulação, desenvolvimento, planejamento e execução da política de segurança nacional.”23 Entenda-se política de segurança nacional o combate aos

comunistas e a qualquer tipo de divisão interna que questionasse o sistema defendido pelos mentores da referida instituição. Portanto, empenhada, desde a sua criação na Guerra Fria, em conter o crescimento do Partido Comunista, que dera uma demonstração de força nas eleições estaduais de 1947, alcançando o quarto lugar entre os maiores partidos, em termos de voto popular e o terceiro em São Paulo. Resultados que colocavam o PC acima do PTB em termos organizacionais e ideológicos. (DREIFUSS, 1981, p. 29).

Segundo Alfred Stepan a ESG reunia um corpo docente ativo e importante centro de “‘conspiração defensiva’ contra o governo Goulart”. A ideologia dessa instituição teria sido “um fator relevante” no golpe civil-militar de 1964, como teriam afirmado 102 generais da

ativa e egressos da ESG, na época do golpe. De que estariam muito bem representados “entre os conspiradores ativos contra Goulart.” Stepan afirma ainda que: “Dos generais que se haviam diplomado na ESG, 60% eram conspiradores ativos, enquanto apenas 15% dos que não haviam frequentado a ESG se achavam entre os conspiradores ativos.” (STEPAN, 1975, p.135-137).

Em entrevista realizada em Brasília, em 18 de setembro de 1967, o general Golbery, considerado o “pai da ESG” teria afirmado que: “Como a ESG está organizada para analisar os problemas do país e encontrar soluções, é muito natural que, se um governo for fraco, a ESG se oporá a ele.” E segue: “Como os governos de Vargas, Kubitschek – o melhor deles – e Goulart eram fracos, é natural que a ESG estivesse intelectualmente contra eles. Nunca assumimos uma posição contra Jânio Quadros.” Porém, Stepan não define o que poderia ser um ‘governo fraco’ na opinião do general Golbery e, por extensão, da ESG. Já que o governo Jânio, em seus pouco mais de seis meses, teria renunciado. Convenhamos, muito pouco tempo para demonstrar ser um governo forte ou fraco. Cabe perguntar: se realmente tratava-se de um governo forte apoiado pela ESG, como deixa transparecer a afirmação de Golbery, por que Jânio Quadros renunciou? (GOLBERY DO COUTO E SILVA apud STEPAN, 1975, p.136).

A oposição militar sobre o governo Vargas recrudesceu em meados de 1953, com a dissolução da Comissão Mista Brasil Estados Unidos, que seguindo Jacob Gorender “pôs à luz a oposição do imperialismo norte-americano ao desenvolvimento da industrialização brasileira” e à reorganização do seu ministério, ao recorrer às classes trabalhadoras como grupo de pressão. Getúlio Vargas nomeou João Goulart como ministro do trabalho, que teria radicalizado na cooptação dos trabalhadores através dos sindicatos, agravando-se a polarização política e ideológica em torno de assuntos nacionais e trabalhistas. Essa fase culminara com o memorando dos coronéis, de fevereiro de 1954, que ocasionou a demissão de Goulart e do ministro da guerra Estillac Leal. Mas, a pressão militar, apoiada por empresários e pelo governo americano se manteve. O que teria levado Vargas a adotar uma posição política defensiva, diante da forte campanha desmoralizante e difamatória da imprensa, protagonizada por Carlos Lacerda e por políticos mordazes e agressivos. Fatores que teriam determinado o golpe de Estado e o suicídio do presidente, tal era o nível de pressão por que passava o seu governo. Getúlio Vargas deixou como seu herdeiro político João Goulart, cuja candidatura à vice-presidente da República, na chapa de Juscelino Kubitschek sofreu a tentativa de impugnação de grupos reacionários do empresariado e das Forças

Armadas, com o apoio do PSD. (GORENDER, 2014, p.19; BANDEIRA, 1977, p.32; (DREIFUSS, 1981, p.32).