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As funções psíquicas superiores como lastro dos comportamentos complexos

Os artigos apresentados, com vista ao estudo das funções psíquicas superiores em Vigotski, permitem-nos constatar que o autor teve como eixo central de análise a sua tese acerca da natureza social do psiquismo humano, visando demonstrar não apenas as propriedades específicas de que dispõe, mas, sobretudo, sob quais condições tais propriedades se desenvolvem. É no âmbito dessa análise que conferiu destaque às nominadas funções psíquicas superiores como categoria que passa a expressar as características distintivas do homem como ser pertencente ao gênero humano, que superou, por incorporação, o legado natural disponibilizado por sua espécie.

Consideramos que o objetivo central do estudo das funções superiores em Vigotski representa os intentos de explicar o psiquismo humano sem desgarrá-lo do mundo material, das objetivações culturais que, por um lado, se revelam como sua mais complexa produção e,

ao mesmo tempo, como o lastro decisivo de sua formação. Esse desafio, assumido por Vigotski, Leontiev, Luria e seguidores, lançou à psicologia desafios incomensuráveis, uma efetiva “revolução” do ponto de vista de seu objeto, método e, sobretudo, no âmbito político.

Explicitar a natureza social do psiquismo humano não equivale à afirmação da importância da sociedade na vida dos indivíduos – representa muito mais do que isso. Determina sabê-la expressa, interiorizada na personalidade humana, ou seja, demanda o reconhecimento de que as relações sociais de produção geram subjetividades, que expressam, em suas possibilidades e limites, a qualidade do pertencimento social de cada pessoa.

Contudo, como apontado na epígrafe desse estudo, o próprio Vigotski reconheceu a incompletude dos domínios teóricos em relação ao problema do desenvolvimento social do psiquismo:

[...] o próprio conceito de desenvolvimento das funções psíquicas superiores, que se aplica à psicologia da criança - a nosso juízo um dos conceitos mais importantes da psicologia genética – continua sendo dia após dia ambíguo e confuso. Não se tem estabelecido suficientemente os limites em relação a outros conceitos próximos e afins, seus contornos semânticos permanecem vagos e seu sentido ainda é pouco preciso (VYGOTSKI, 1995, p. 11).

A partir desse campo, que ainda nos dias de hoje permanece “ambíguo” e “confuso”, e recorrendo de maneira pontual aos artigos de autoria de Vigotski, O problema do desenvolvimento das funções psíquicas superiores; Análise das funções psíquicas superiores; Estrutura das funções psíquicas superiores; Gênese das funções psíquicas superiores buscamos, nesse momento da investigação, elementos que pudessem auxiliar a compreensão da “referida natureza social do psiquismo humano” em suas relações com a categoria “funções psíquicas superiores”, tendo em vista lançar luz ao estudo dessa categoria.

No primeiro artigo, a ideia nuclear explorada por Vigotski radica nos limites da psicologia tradicional no que tange aos domínios compreensivos da complexidade alcançada pelo psiquismo humano e, no contraponto, os avanços metodológicos presentes na psicologia histórico-cultural na explicação das atividades complexas, culturalmente formadas.

Como conquistas representativas dessa complexidade Vigotski se referiu à linguagem, leitura, escrita, representações e operações numéricas, cálculo, desenho, formação de conceitos e concepção de mundo, adjetivados indistintamente como processos e fenômenos, funções psíquicas e formas de conduta. De modo mais abrangente, em dois outros momentos do texto, o autor vinculou tais processos a complexas formas culturais de comportamento ou formas complexas e superiores de comportamento, bem como identificou desenvolvimento

cultural do comportamento e domínios de meios externos da conduta cultural e do pensamento, exemplificando como tal o desenvolvimento da linguagem, cálculo, escrita, pintura.

No bojo da crítica tecida pelo autor aos estudos que dicotomizam expressões “‘inferiores” e “superiores” do psiquismo, fez menção aos conceitos vontade (impulsiva/previsora), atenção (voluntária/involuntária), memória (lógica/mecânica), imaginação (criadora e reprodutora), sensação (superiores/inferiores) e pensamento (conceitual/figurativo), colocando em foco a complexidade do psiquismo humano e a necessidade de mudanças metodológicas radicais em seu estudo.

Evidenciando as diferenças fulcrais no curso do desenvolvimento de fenômenos naturais e fenômenos sociais e incluindo o psiquismo humano no âmbito dos segundos, estruturados fundamentalmente sob “leis históricas”, o autor postulou que apenas por essa via - a de uma “psicologia histórica”, o psiquismo humano poderia ser explicado em sua concretude. Restava como tarefa, portanto, a descoberta das referidas “leis” no campo da ciência psicológica.

Nessa direção, Vigotski afirmou como objeto de seu estudo as atividades complexas culturalmente formadas, destacando haver uma estreita relação entre o conceito de desenvolvimento das funções psíquicas superiores e o objeto de seu estudo. Deixa implícito, portanto, que se tratam de dois objetos distintos e relacionados e que o cerne de seu interesse, naquele momento, era a análise das formas complexas de comportamento.

Todavia, levando em conta essa relação (entre o conceito de desenvolvimento das funções superiores e seu objeto de estudo), indicou que ambos abarcam dois grupos de “fenômenos”, quais sejam: processos de domínio dos meios externos de desenvolvimento cultural: a linguagem, a escrita, o cálculo, o desenho e processos de desenvolvimento das funções psíquicas superiores especiais, dentre elas, citou atenção voluntária, memória lógica e formação de conceitos. Ao referir-se às funções superiores especiais, Vigotski destacou a inexistência de exatidão em suas delimitações.

Devemos registrar, ainda, que no artigo O problema do desenvolvimento das funções psíquicas superiores Vigotski não apresentou elementos que possam ser tomados como conclusivos acerca de quais sejam, afinal, as funções psíquicas superiores, exceto que: são formações culturais, implicam o domínio do homem sobre a natureza e sobre si mesmo e sustentam atividades complexas culturalmente desenvolvidas.

No artigo Análise das funções psíquicas superiores, Vigotski dedicou-se à questão do percurso metodológico de análise da formação e desenvolvimento dos comportamentos

complexos, destacando que no cerne do tratamento dispensado às funções superiores está a relação entre elas e as funções elementares, a serem tomadas como opostos confrontados interiormente e não como comportamentos que se opõem em manifestações exteriores. As categorias dialéticas de contradição e superação estão na base da referida relação. A dialética entre natureza e cultura se apresenta como ideia nuclear desse artigo.

No que tange ao uso da expressão funções psíquicas superiores, no artigo em pauta, as referências a elas aparecem como sinônimos de processos complexos, formas complexas ou culturais de comportamento, comportamento superior, forma superior e complexa de reação. As funções psíquicas elementares aparecem por referência a processos inferiores ou elementares, formas inferiores de conduta ou formas naturais de comportamento.

Coerentemente com as proposições metodológicas centrais do artigo, a expressão função foi, recorrentemente, substituída pela expressão processo, no qual o autor destacou reiteradamente a dialética existente entre as formas inferiores e superiores de comportamento como premissa metodológica para o estudo dos comportamentos tipicamente humanos.

Na busca de explicações acerca de tais comportamentos, a questão do método de investigação em psicologia assumiu destaque nas proposições vigotskianas, uma vez que, para o autor, a via lógico-formal mostrava-se insuficiente para a apreensão das diferenças qualitativas existentes entre o funcionamento comportamental primitivo e superior. Já na defesa dessa tese, voltou-se ao estudo da estrutura das funções psíquicas superiores.

Como o próprio título do artigo Estrutura das funções psíquicas sugere, o eixo de análise assumido por Vigotski reside na proposição do enfoque estrutural acerca do desenvolvimento cultural do psiquismo, pelo qual se opõe às posições que fracionam sua “geologia”, isto é, que o analisam por elementos meramente aglutinados. Nessa direção, cabe observar que a adoção do conceito de estrutura não se identifica com a adoção do modelo estruturalista.

Recuperando o preceito dialético da unidade contraditória entre formas culturais e naturais de comportamento, afirmou como dado decisivo o reconhecimento das formas superiores de conduta como superação das formas inferiores, naturalmente disponibilizadas. Colocando em destaque, literalmente, adjetivações contrárias em relação aos processos psíquicos (tais como superior/inferior, simples/complexo, natural/cultural, primitivo/desenvolvido), afirmou a impossibilidade de apreensão destes, senão, pela dialética que entre eles se institui.

No artigo em pauta, as expressões correlatas às funções psíquicas superiores adotadas foram: estruturas superiores, estruturas complexas, estruturas culturalmente formadas,

estruturas de tipo superior e formas superiores de conduta e, na contraposição, estruturas inferiores, estruturas primitivas, estruturas simples e formas inferiores de comportamento. Importava ao autor, sobretudo, a descoberta e a explicação do princípio que regula e promove o desenvolvimento das respectivas estruturas superiores pela transformação das primitivas. Partindo da fusão estímulo-resposta como traço essencial nas estruturas simples, e a superação da mesma como marca decisiva das estruturas complexas, Vigotski asseverou a mediação dos signos como “divisor das águas” entre elas, afirmando-a como dado de ruptura na fusão situação-ação e determinante das formas complexas de comportamento como formas mediadas, cuja manifestação mais decisiva é o controle volitivo tanto da situação quanto da ação. Restava, pois, a descoberta das origens da complexificação da estrutura psíquica, isto é, do emprego de signos, objetivo que conduziu Vigotski à análise da Gênese das funções psíquicas superiores.

Encontrou nas relações sociais entre os homens o nascedouro do emprego de signos, balizando na vida coletiva os princípios que regulam e explicam a conduta especificamente humana. Afirmou que toda função psíquica superior resulta da interiorização de funções externas, isto é, de funções sociais, em decorrência das quais as formas inferiores cedem lugar às formas superiores de comportamento. As formas inferiores, por sua vez, não “desaparecem”, mas assumem outra forma de existência, sintetizam-se em novos patamares, isto é, nas formações complexas.

O processo de internalização de signos despontou, assim, como princípio que tanto regula quanto explica os comportamentos culturalmente formados, tornando-se, para o autor, categoria central de análise do desenvolvimento e da aprendizagem. Estabelecendo entre esses fenômenos uma unidade dialética, defendeu a necessidade de identificação dos seus pontos de intersecção, mas, da mesma forma, do reconhecimento de suas diferenças. Postulou, enfim, a necessidade do reconhecimento de que todo desenvolvimento pressupõe aprendizagem, mas a recíproca pode não ser verdadeira, identificando o desenvolvimento com a promoção de mudanças na estrutura psíquica interna.

Consideramos que foi nesse artigo que Vigotski apresentou, de maneira mais sistematizada, uma caracterização das funções psíquicas superiores ao demonstrar que: a) o comportamento cultural é o resultado da intervenção da cultura em suas bases naturais; b) as funções complexas se instituem como sistema interfuncional; c) a atividade mediadora é a base estrutural das formas culturais de comportamento; d) o desenvolvimento cultural pressupõe unidade entre a formação das funções e domínio sobre elas, ou seja, pressupõe o controle interno da conduta com vista à consecução de seu objeto.

Entretanto, ainda que tenha se dedicado minuciosamente à análise da estrutura, gênese e desenvolvimento das funções psíquicas superiores, mais uma vez, não forneceu elementos precisos que esclareçam quais sejam, afinal, as funções psíquicas superiores, bem como não diferenciou o tratamento dispensado às expressões formas superiores ou complexas de conduta (e expressões correlatas) e funções psíquicas superiores. Diante disso, a nosso juízo, Vigotski demonstrou que seu interesse central, muito mais do que precisar um rol de funções psíquicas superiores, residia na busca de explicações acerca daquilo que promove o salto qualitativo do psiquismo humano em relação às demais formas, primitivas e legadas pelo desenvolvimento biológico das espécies.

Assim, consideramos confirmada nossa hipótese de que o autor não visou uma clara distinção entre cada função particular e suas expressões funcionais sobre a forma de comportamentos complexos culturalmente formados Porém, forneceu pistas importantes nessa direção ao asseverar que a cultura determina profundas transformações nas bases naturais do psiquismo, em um processo que pressupõe a superação, por incorporação, dos determinantes do substrato orgânico que, em última instância, são premissas da própria vida natural.

Não se trata, portanto, da existência de funções psíquicas superiores de um lado e elementares de outro, posto que o psiquismo humano não é uma estrutura edificada sobre duas colunas, sendo uma natural e outra social. Trata-se, pois, do reconhecimento de que a vida social engendra, do ponto de vista filogenético e ontogenético, dadas propriedades no psiquismo que retroagem objetivamente na própria vida social, na produção da cultura humana. Logo, entendemos que Vigotski se utilizou das expressões complexas formas culturais de comportamento, formas complexas e superiores de comportamento, processos complexos, formas complexas ou culturais de comportamento, forma superior e complexa de reação, estruturas superiores, estruturas complexas, estruturas culturalmente formadas, estruturas de tipo superior e formas superiores de conduta como sinônimos daquilo que, desprovido das condições sociais de formação, o psiquismo humano não conquistaria.

Destarte, como tal, podemos incluir uma vastíssima gama de ações humanas, que tem como traço essencial comum formar-se à base de interiorização de signos exteriores, desenvolverem-se por determinação da conversão dos mesmos em signos internos, isto é, em “ferramentas” psíquicas e se objetivarem na transformação da natureza, quer extrínseca quer intrínseca ao indivíduo. Dentre essas ações, incluímos a fala, a leitura, a escrita, o cálculo, o desenho, a pintura, a produção estética, ética, científica e tecnológica; enfim, nessa categoria se incluem todos os comportamentos resultantes das apropriações do acervo de objetivações humanas que são, por sua vez, produtos dos comportamentos humanos complexos.

Como produtos de tais apropriações, esses comportamentos, por um lado, atendem a um percurso de formação, daí que Vigotski também se referiu a eles por menção a desenvolvimento cultural do comportamento, atividades complexas culturalmente desenvolvidas e desenvolvimento cultural do comportamento em estreita unidade com os processos de aprendizagem e interiorização. Por outro, atendem aos objetivos de domínio da realidade cultural externa e interna, isto é, dos processos interpsíquicos e intrapsíquicos, referidos pelo autor como processos de domínio dos meios externos de desenvolvimento cultural.

Assim, no tratamento que Vigotski dispensou à natureza social do psiquismo humano, entendemos os “comportamentos complexos culturalmente formados” como representativos de uma categoria mais ampla, mais geral, em relação às “funções psíquicas superiores”. Nela se incluem as formas de comportamento, o percurso de sua formação e os papéis que assumem na vida individual e social. Quais são, então, as relações entre essa categoria mais ampla - representada pelos comportamentos complexos, e as funções superiores, posto que o próprio Vigotski sinalizou uma distinção entre elas ao afirmar, no artigo O problema do desenvolvimento das funções psíquicas superiores, que o interesse central de seus estudos na análise do desenvolvimento das funções superiores eram os referidos comportamentos?

Para responder essa questão, recorremos ao próprio método “inverso”, retomado por Vigotski a partir de Marx, ao prescrever que a compreensão de todo fenômeno deva se dar a partir de suas manifestações mais complexas, mais abrangentes e mais desenvolvidas para, então, delas abstrair seus constituintes essenciais e as leis que regem seu desenvolvimento. Nas suas palavras:

Só podemos compreender cabalmente uma determinada etapa de um processo de desenvolvimento – ou inclusive o próprio processo – se conhecemos o resultado ao qual se dirige esse desenvolvimento, a forma final que adota e a maneira pela qual o faz. Trata-se unicamente, por suposto, de transferir em um plano metodológico categorias e conceitos fundamentais do superior ao inferior [...] O caminho resulta mais fácil de compreender quando se conhece seu final; além do que, isso é o que dá sentido a cada etapa particular (VYGOTSKI, 1997, p. 262).

Entendemos que não por acaso Vigotski assumiu como objeto de seu interesse maior as “manifestações mais complexas, mais abrangentes e mais desenvolvidas” dos seres humanos, ou seja, tomou como ponto de partida no estudo das funções superiores os comportamentos complexos culturalmente formados, ou seja, a categoria mais ampla.

À luz dessa ideia, levantamos duas questões. A primeira diz respeito às propriedades materiais que o psiquismo humano deve dispor para alçar patamares tão complexos de conduta, ou seja, trata-se de compreendê-lo dotado de propriedades biológicas historicamente formadas, sem as quais a existência da própria vida social altamente desenvolvida seria impossível. Vigotski não esteve alheio a essa questão ao trazer à discussão a existência dos processos que denominou como inferiores ou elementares, formas inferiores de conduta ou formas naturais de comportamento. Entretanto, diferenciou sua atenção sobre eles ao postular a unidade contraditória entre formas culturais e naturais de comportamento, afirmando que as formas inferiores não “desaparecem” em um processo evolutivo, mas subjazem à formação das formas superiores. Essa contínua “luta entre opostos” representa a esteira do desenvolvimento psíquico, na qual os signos operam como instrumentos propulsores das transformações que essa tensão promove.

A segunda questão que destacamos refere-se à assertiva de Vigotski em relação ao fato de que as funções superiores implicam o domínio do homem sobre a natureza e sobre si mesmo e sustentam atividades complexas culturalmente desenvolvidas, ou ainda, que o desenvolvimento cultural pressupõe unidade entre a formação das funções e domínio sobre elas. Tais proposições, e outras nessa direção, sugerem, portanto, a atividade vital humana, consubstanciada em sua máxima expressão na qualidade de trabalho, como, ao mesmo tempo, base da formação do psiquismo humano e produto de seu desenvolvimento – dado reiterativo do que indicamos no capítulo 1 dessa pesquisa à luz de proposições de Leontiev e Luria, dentre outros.

Assim, o exercício das referidas funções liga-se, necessariamente, à construção da imagem do real, coloca-se a serviço da formação do reflexo psíquico da realidade, na ausência do qual é impossível ao homem o controle da natureza e de si mesmo. A construção da forma ideal do mundo pelo sujeito, isto é, de uma correspondência abstrata entre objeto e ideia, revela-se como condição primária para que o homem se localize na natureza e, a partir de então, provoque transformações tanto nela quanto em si próprio, isto é, revela-se condição fundante do trabalho.

Por consequência, os “comportamentos complexos” contêm, no significado dialético do termo, a imagem do real e os mecanismos psicofísicos requeridos à sua formação, do que resulta que sua dissecção deva conduzir ao reconhecimento de sua “estrutura interna”. No âmbito da análise dessa estrutura é que Vigotski, a nosso ver, aplicando o método genético- causal interligou o objeto de seu estudo, as atividades complexas culturalmente formadas, e o conceito de desenvolvimento das funções psíquicas superiores.

Ainda nessa direção, a exegese metodológica que o autor realizou acerca do referido desenvolvimento se desdobrou em outras proposições, a exemplo da dimensão estrutural do psiquismo humano, impeditiva de que se tomem as funções psíquicas, sejam elas naturais ou culturais, como “partes” autônomas que se somam em sua configuração. Nas proposições do psiquismo como sistema funcional que, por sua vez, sustenta atividades complexas culturalmente desenvolvidas, atribuiu à utilização dos signos o papel de célula mater dessa unidade sistêmica.

Diante do exposto, consideramos que a adoção da expressão funções psíquicas superiores na obra vigotskiana encerra uma proposição essencialmente dialética. Por um lado, “de cima para baixo”, como funções da vida social, da atividade que vincula o indivíduo às suas condições objetivas de existência assegurando-lhe a internalização dos signos culturais. Funções, portanto, que atendem a uma dinâmica interpessoal de formação e que não dependem do sujeito isoladamente. Por outro, “de baixo para cima”, como funções das bases materiais e ideais do psiquismo, da atividade intrapessoal graças à qual o reflexo psíquico da realidade se constrói. Entendemos que essa questão está na base da lei genética geral do desenvolvimento cultural proposta por Vigotski e referida anteriormente nesse estudo.

Nessa direção, e sem perder de vista a dialeticidade social-individual, dedicamo-nos,

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