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4 CONHECENDO O UNIVERSO DA PESQUISA: CONSIDERAÇÕES

4.2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA PESQUISA

4.2.1 As línguas na história do colégio

Em 1886, um grupo de imigrantes alemães do Rio Grande do Sul, que havia fundado em 1858 uma sociedade beneficente alemã, fundou uma escola para meninos. A escola era só para meninos filhos de imigrantes alemães e se localizava no centro de Porto Alegre, em salas alugadas da comunidade evangélica. Segundo Jacques (2013), em 1886, essa sociedade de grupo de imigrantes alemães abre o colégio para filhos dos imigrantes alemães, contemplando, na época, 70 meninos. Já nos primórdios, o colégio oferecia para os alunos um currículo para desenvolver competências e habilidades. Na escola, os professores preparavam os estudantes para que eles já com 14 anos tivessem uma boa fluência tanto na língua alemã quanto na língua portuguesa. No currículo, a escola oferecia a leitura, as quatro operações, a escrita, o ensino prático, o canto, o desenho, a geografia, a história universal, a história natural, as línguas alemã, portuguesa, francesa e inglesa, geometria, física, literatura e ginástica. A maioria das disciplinas naquela época era ministrada em alemão, justamente por ser a língua materna dos alunos. O português funcionava como uma língua estrangeira, mas as aulas de geografia, história natural e aritmética também eram ministradas em português nas terceiras e quartas séries do ensino primário.

Em 1895, os fundadores sentiram a necessidade de construir uma sede própria, devido ao aumento no número de alunos matriculados, para atender melhor as demandas espaciais (salas melhores, ambientes maiores) e devido à filosofia seguida pelos fundadores, que buscavam criar uma escola que oferecesse um ensino de

qualidade e preparasse o estudante com competência para a vida. Neste momento, a escola mudou a sua sede para a região norte de Porto Alegre.

Já em 1904 surge, segundo Jacques (2013), todo um movimento da sociedade alemã para criar uma escola de meninas (lembrando que, naquele período, eram escassas as escolas mistas no Brasil). Então, neste ano, foi criada a Mädchenschule, a escola só para meninas, para que elas também tivessem a oportunidade de aprender a ler, a escrever, a contar e, também, a conviver com outras meninas.

A escola de meninos e a escola de meninas funcionavam em prédios separados. As meninas ocuparam os prédios onde os meninos estudavam anteriormente, no centro da cidade, enquanto os meninos estudavam na zona norte. Ambos recebiam a mesma carga-horária de aulas e o currículo também era praticamente o mesmo nas duas escolas, formado pelas seguintes disciplinas: língua alemã (marcada por exercícios de leitura, de locução, ditados e gramática), português (que ocorria como uma disciplina separada, com breves noções sobre as palavras e a conjugação de verbos, exercícios de escritas e exercícios orais), francês, história bíblica, cálculos, geometria, história brasileira, história alemã, história natural, caligrafia (na qual era exercitado o alfabeto alemão “gótico”), desenho, música, canto e ginástica. Porém, somente os meninos tinham aula de inglês.

Conforme Jacques (2013), em 1929, a sociedade do grupo dos imigrantes alemães decidiu reunir os rapazes e as meninas em uma mesma escola, com turmas mistas, no mesmo prédio onde os meninos já estudavam. A partir de 1936, a escola introduziu o ginásio, até então existia somente o curso primário. Nessa época, o colégio passa a ter seu nome em língua portuguesa, mantendo sua identidade alemã através do prefixo “teuto”, presente no nome.

Entretanto, com a nacionalização compulsória do ensino em 1938, todo o currículo precisou ser revisto e a rotina da sala de aula sofreu grande impacto. Segundo Jacques (2015), a escola precisou se readequar, se adaptar a uma nova situação governamental exigida, pois, nesse momento, não somente o colégio, mas todas as escolas deveriam ajustar o seu currículo para que este realmente visasse desenvolver o espírito do nacionalismo. Nesse sentido, havia a preocupação com a formação de um indivíduo que atendesse os princípios das ordens governamentais.

Nesse contexto, surgem a determinação do ensino de (e exclusivamente na) língua nacional (português), a proibição de qualquer outra língua nas aulas e no pátio das escolas e a proibição da circulação de livros em língua estrangeira nos âmbitos

escolares. Isso acarretou transformações no colégio: houve a regulamentação dos feriados, das datas comemorativas e férias, do método de ensino e das práticas disciplinares. Surgiu uma versão nacionalizada em português dos periódicos, que eram os jornais anteriormente escritos na língua alemã com a participação dos estudantes nessas escritas. Inspeções por parte do Governo Estadual e Federal eram realizadas através de visitas e fiscalizações incisivas junto à escola, para averiguar se realmente a instituição estava cumprindo todas demandas que o governo exigia. Além disso, o estatuto da própria mantenedora teve que se adequar à língua portuguesa e, também, o nome da escola sofreu alteração nesse período de nacionalização: em 1942, a expressão “teuto” é extinguida do nome do colégio, que passa a adotar um outro nome em português.

Segundo Ermel e Jacques (2013), em 1962, a escola foi transferida para o bairro onde ela está localizada até hoje. Apenas em 1991, a língua alemã retornou ao currículo do colégio, como disciplina curricular a partir da 4ª série do primeiro grau. A partir do ano de 1996, o Centro de Línguas do colégio se tornou responsável pelas três línguas oferecidas, a língua alemã, a língua espanhola e a língua inglesa.

No que tange ao ensino de línguas estrangeiras, pode-se afirmar que o colégio vem dando uma maior importância à aprendizagem de línguas nos últimos anos. Como resultado disso, o Colégio se tornou, em 2010, a primeira escola de educação básica do Brasil a ser centro autorizado de exames de proficiência de língua inglesa de uma universidade da Inglaterra, dos níveis A1 ao C2 de acordo com o Quadro Comum Europeu de Referência para as Línguas14. De 2010 a 2017, 7514 estudantes

do 4º ano do Ensino Fundamental à 3ª série do Ensino Médio receberam certificados dos exames de proficiência, dos níveis A1 até o C2. Também na língua alemã, cada vez mais o colégio torna-se uma referência de ensino, com aplicação dos exames internacionais dos níveis A1, A2 e B1, oferecidos pelo Ministério da Cultura da Alemanha. Além disso, desde 2015, o colégio faz parte de uma rede internacional de colégios parceiros em língua alemã, o programa PASCH – Escolas: parceiras para o futuro, que apoia a aprendizagem da língua alemã nas escolas integrantes.

14 “O Quadro Europeu Comum de Referência (QECR) fornece uma base comum para a elaboração de

programas de línguas, linhas de orientação curriculares, exames, manuais, etc., na Europa. Descreve exaustivamente aquilo que os aprendentes de uma língua têm de aprender para serem capazes de comunicar nessa língua e quais os conhecimentos e capacidades que têm de desenvolver para serem eficazes na sua atuação. A descrição abrange também o contexto cultural dessa mesma língua. O QECR define, ainda, os níveis de proficiência que permitem medir os progressos dos aprendentes em todas as etapas da aprendizagem e ao longo da vida”. (CONSELHO DA EUROPA, 2001, p.19)

Nos últimos anos, o colégio incentivou a formação continuada dos professores, fomentando a sua participação em cursos e, também, em eventos internacionais. A escola, em parceria com um curso de idiomas, oferece curso de capacitação de uma universidade inglesa que certifica professores a ministrarem aula de inglês no mundo inteiro. Assim, os professores podem participar dessa formação continuada, que envolve atividades práticas e teóricas. Há, também, o curso para examinador autorizado do DSD I, denominado DSD Gold, do qual uma professora do colégio participou, além de cursos realizados fora do país, que outras professoras de alemão realizaram.

O colégio possui outra unidade de Ensino Fundamental que funciona desde 2006 e oferece bolsas integrais direcionadas a famílias de baixa renda. Nessa unidade, não é oferecida a língua alemã, o que impossibilitou a realização da pesquisa nessa unidade.

Na próxima seção, apresento como as línguas estão presentes atualmente no colégio e como o estudante pode atingir os níveis de proficiência a cada ano escolar. Para a elaboração da seção, utilizei como apoio a entrevista realizada com a coordenadora de línguas do colégio, além de anotações a partir de conversas informais com as professoras de línguas, bem como minhas próprias observações dentro do colégio.