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IV: IMPACTOS DAS POLÍTICAS MACROECONÔMICAS NO SISTEMA

4.1 AS MUDANÇAS NAS POLÍTICAS DE FINANCIAMENTO, DE PREÇOS E DE

As mudanças institucionais ocorridas na economia brasileira nas décadas de 1980 e 1990 afetaram a produção agrícola, tanto pelas políticas fiscais, como pela política monetária contracionista. Estas levaram à restrição do crédito agrícola, ao abandono da política de preços mínimos e ao sucateamento da política pública de assistência técnica. Apresentam-se a seguir os comportamentos das políticas de crédito, preços e apoio a produção agrícola entre as décadas de 1980 e 2000.

O crédito agrícola foi o principal instrumento utilizado pelo Estado para promover a modernização da agricultura brasileira ao longo das décadas de 1960 e 1970. A crise da dívida externa, no início dos anos de 1980, com a consequente diminuição da capacidade de financiamento do Estado, provocou mudanças profundas nas políticas de financiamento agrícola naquela década, com o abandono dos altos subsídios nos financiamentos. Esta nova realidade levou à redução drástica nos volumes do crédito tomado pelo setor agrícola ao longo da década de 1980, conforme pode ser visto na tabela 6. No ano de 1990 o volume de recursos utilizados no crédito agrícola foi de apenas 23,92% do montante utilizado em 1980, uma redução da ordem de 76,08%. No custeio, esta redução foi de 68,40%, nos investimentos, foi de 85,91% e para comercialização, foi de 86,28%.

Tabela 6: Evolução do Crédito Rural Segundo as Modalidades (em milhões de US$)

Custeio Investimento Comercialização Total Variação anual

1980 18.894,40 6.205,82 8.241,07 33.346,64 - 1981 16.981,52 4.427,70 7.521,19 28.939,20 (13,26) 1982 18.008,15 3.699,15 6.333,40 28.023,88 (3,16) 1983 13.147,47 3.575,10 4.421,27 21.154,41 (24,51) 1984 9.092,73 1.550,56 2.274,15 12.921,32 (38,92) 1985 13.100,86 2.388,00 2.935,26 18.425,96 42,60 1986 15.370,28 8.806,17 3.299,91 27.476,36 49,12 1987 15.196,42 3.703,80 2.761,61 21.659,67 (21,17) 1988 10.396,31 2.448,51 2.439,36 15.284,20 (29,43) 1989 11.161,74 1.466,74 1.325,79 13.955,66 (8,69) 1990 5.969,12 873,92 1.130,67 7.973,71 (42,86) 1991 6.763,92 699,26 764,25 8.226,61 3,17 1992 5.746,56 1.090,02 2.284,03 9.121,52 10,88 1993 4.355,35 1.610,54 1.868,26 7.833,37 (14,12)

Fonte: Bacen (apud, Leite, 1998, 65)

De 1983 a 1984, como mostra a Tabela 7, ocorreu uma redução na concessão de crédito, principalmente de investimento. De acordo com Goldin e Resende (1993), em 1984 a taxa real de juros do crédito rural tornou-se positiva, algo que não ocorria desde o ano de 1965, oficializando o esgotamento desse instrumento de política agrícola. Durante o governo Sarney houve uma retomada do crédito rural, com o aumento dos recursos da ordem de 42%

em 1985 e de 49,12% em 1986, porém nos anos seguintes registraram-se diminuições devido à restrição provocada pela crise fiscal e financeira do Estado brasileiro. No governo Collor houve uma forte redução dos recursos para o financiamento agrícola, da ordem de 42,86%. Também neste período, de acordo com Silva (1996), foi desmontada a maioria das instituições de apoio à agricultura, com destaque para a Comissão de Financiamento de Produção – CFP, a CIBRAZEM e a COBAL fundida à Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB). Além disto, ocorreu a extinção do Instituto do Açúcar e Álcool (IAA), do Instituto Brasileiro do Café (IBC), da Empresa Brasileira de Extensão Rural (EMBRATER) e do Banco Nacional de crédito Cooperativo.

A partir da edição do Plano Real, às medidas implantadas no governo Collor foram aprofundadas, passando o crédito rural, cada vez mais, a ser suprido através do mercado, ocorrendo a implantação de novos mecanismos de captação de recursos. De acordo com Gasques e Villa Verde (1996), as fontes introduzidas a partir de meados dos anos 80 são de caráter privado. Nessas novas fontes, embora representem iniciativas do governo federal, os recursos são captados no mercado. ―Deste modo, são fontes indexadas e com taxas de juros mais elevadas do que as fontes tradicionais, como o Tesouro e as exigibilidades, para as quais o governo fixa as taxas de juros máximas, que podem ser cobrado pelo sistema bancário oficial e privado‖ (GASQUES E VILLA VERDE, 1996). A tabela 7 mostra que durante a década de 1990 as fontes de recursos tradicionais passaram de uma participação de 74%, em 1990, para 60,94% em 2000. Dentre as novas fontes destacam-se a Poupança Rural, o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), o BNDS/FINAME e os Fundos Constitucionais.

Em 1996 foi criado o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF, fruto da reivindicação e da pressão exercida pelas organizações da agricultura familiar brasileira. O PRONAF foi concebido como resposta a uma demanda de promoção do desenvolvimento rural, e o crédito foi o alicerce sobre o qual se construiu. Como política pública, para um setor com dificuldades de acesso a financiamento direto no mercado e com necessidade de atenção especial das estruturas do Estado, acabou centralizando a maior parte dos recursos oriundos do Tesouro. O gráfico da figura 4 apresenta a evolução dos recursos aplicados pelo PRONAF no período de 1999 a 2007, tendo ocorrido neste período um crescimento do total de recursos liberados da ordem de 319%. No mesmo período, o crédito total cresceu 334%.

Fontes de recursos 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Fontes Tradicionais Recursos do Tesouro 26,7 24,18 22,97 26,67 27,11 19,70 3,48 1,5 1,66 0,11 0,02 Recursos Obrigatório 27,4 22,38 18,71 11,04 11,60 13,14 16,88 44,89 40,73 41,68 55,93 Recursos Livres 19,9 10,32 6,76 11,74 15,93 16,3 8,07 6,01 4,67 5,06 4,97 Novas fontes Poupança Rural 20,0 32,29 45,53 43,22 34,9 36,07 9,13 8,42 13,02 19,47 12,18 Fundos constitucionais 4,5 3,22 3,15 5,52 4,99 9,01 14,9 5,64 7,04 5,75 5,43

Recursos dos Governos Estaduais 0,1 0,12 0,07 0,10 0,26 0,36 0,26 0,18 0,18 0,13 0,10

Fundo de amparo ao Trabalhador – FAT 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 21,99 18,43 15,86 15,92 11,29

Fundo Extra-Mercado 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 13,93 6,66 1,11 0,00 0,00 Recursos Funcafe 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 3,6 5,54 5,00 1,66 Fundos de Commodities 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,11 0,05 0,06 0,07 BNDS/FINAME 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 3,38 4,06 4,67 6,26 INCRA/PROCERA 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,46 1,14 0,3 0,05 Outras Fontes 1,40 7,47 2,81 1,72 5,21 5,43 11,37 0,7 2,07 0,38 0,89 C3 Rural 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 2,86 1,46 1,12 Total Geral 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100

Figura 4: Evolução dos recursos aplicados pelo PRONAF (1999 a 2007). Fonte: MDA

Conforme visto, o crédito teve uma redução drástica nos volumes ofertados durante as décadas de 1980 e 1990. Nesse período se alteraram também as formas e as fontes de financiamento. Os preços dos produtos agropecuários, outra variável importante na determinação do comportamento da produção, teve tratamento diferenciado entre as duas décadas. Durante os anos de 1980, o fortalecimento da Política Geral de Preços Mínimos – PGPM foi a estratégia central do Estado para incentivar a produção agrícola. Ainda nesta década o câmbio esteve desvalorizado em relação à década de 1970, beneficiando também o setor de exportação, tendo estas duas políticas, o objetivo de fazer frente aos problemas do abastecimento do mercado interno e da geração de divisas através das exportações. Já a década de 1990 foi marcada pela abertura comercial, pelo câmbio valorizado e pela desregulamentação dos instrumentos de política agrícola.

As taxas de câmbio exerceram um papel determinante na queda dos preços agrícolas na década de 1990. A taxa de câmbio afeta a produção agrícola de duas formas. A desvalorização cambial aumenta a competitividade dos produtos no mercado internacional e, ao mesmo tempo, eleva o preço dos produtos importados, fazendo crescer o custo dos insumos que utilizam matéria prima importada. O inverso ocorre quando o processo é de

valorização cambial. De acordo com os estudos de Melo (1999), os preços agrícolas tiveram perdas significativas nessa década, tendo havido na maioria dos produtos aumento de produtividade, provavelmente vinculado à redução dos preços dos insumos importados.

Em fim, a década de 1990 marcou também o desmonte de outros instrumentos da estrutura institucional de apoio à agricultura, com destaque para a privatização do setor petroquímico da PETROBRÁS, a extinção da EMBRATER, abandono do Programa de Seguro da Produção Agropecuária - PROAGRO.

4.2 AS MUDANÇAS NA PRODUÇÃO AGRÍCOLA BRASILEIRA A PARTIR DAS