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CATARINENSE

As relações entre a agricultura familiar e as agroindústrias na região Oeste Catarinense serão descritas e analisadas ao longo deste trabalho, a partir do contexto em que essas relações interagem com o desenvolvimento econômico e social da região. Para tanto, o marco analítico desta dissertação se assenta em quatro referencias teóricas principais. Sendo as mesmas: a) as teorias sobre o processo de globalização da economia; b) as teorias dos desequilíbrios provocados pelo desenvolvimento quanto processo heterogêneo; c) as teorias que enfocam os aspectos endógenos do desenvolvimento e; d) a contribuição recente da literatura sobre o papel da agricultura familiar no desenvolvimento rural. Destacam-se, detalhadamente, a seguir cada uma dessas quatro referencias.

O conjunto de leituras e teorias sobre a globalização são o referencial teórico que nos permite descrever os processos econômicos regionais a partir do contexto em que os mesmos estão inseridos e com os quais interagem. Com possibilidade de olhar como esse processo externo influencia no desenvolvimento regional, bem como, a forma que os atores regionais reagem aos estímulos e ameaças externas. Para a descrição do processo de relação entre a agricultura familiar e as agroindústrias na região Oeste Catarinense torna-se fundamental entender as transformações vividas pelo sistema agroalimentar no processo de globalização, conforme visto na seção dois desse capítulo.

Neste contexto ficam as perguntas: como se relaciona o processo de integração da suinocultura às agroindústrias de carnes suínas, com o processo de reestruturação do sistema agroalimentar? Haveria outros caminhos a serem seguidos por agricultores e agroindústrias? Que aspectos negativos e positivos esse processo desencadeou no desenvolvimento regional? Estas questões estarão presentes ao longo desta dissertação como provocativas, por estarem no centro da discussão sobre a crise e a reestruturação do desenvolvimento do Oeste Catarinense.

Os trabalhos de Hirschman (1961), Myrdal (1957) e Perroux (1966) serão orientadores, na análise do processo de desenvolvimento da região Oeste Catarinense. De acordo com estes autores será descrito como o desenvolvimento da região Oeste Catarinense ocorreu de forma desequilibrada, hierárquica e centralizada. Desequilibrada, por ter ocorrido de forma diferente entre as diversas microrregiões e municípios. Hierárquica, pelo processo de desenvolvimento ter ocorrido com base na agroindústria exercendo a função de ―indústria motriz‖ estando os demais setores produtivos subordinados a dinâmica da agroindústria, o que determinou diferentes níveis de poder econômico. Centralizada, por ocorrer de forma mais intensa nas regiões centrais, atraindo para os polos, capital, trabalho e produção de bens e serviços, notadamente os que representam maiores recompensas e remuneração, provocando nas demais regiões processos de esvaziamento econômico e populacional.

As teorias dos distritos industriais e dos clusters contribuirão na descrição das forças endógenas do desenvolvimento regional. Assim, conforme já descrito por Mior (2005) veremos como se forma o cluster agroindustrial de carnes da região. Do debate sobre os processos de desenvolvimento local, serão buscados os elementos para expor os processos de elaboração de propostas e construção de alternativas para o desenvolvimento a partir das organizações regionais.

A problemática do desenvolvimento regionalizado frente à globalização coloca-se frente a duas grandes questões: (i)como o desenvolvimento regional do Oeste Catarinense tem gerado desigualdades intra-regionais e se colocado como propulsor de transformações sociais e territoriais? (ii) como a formação do cluster agroindustrial de carnes na região tem contribuído com o desenvolvimento de novas capacidades econômicas, sociais e culturais? Serão estas potencialidades suficientes para suprir uma nova onda de desenvolvimento, capaz de superar as desigualdades criadas pelas rupturas com o processo de integração?

Na região Oeste Catarinense a temática do desenvolvimento rural esteve incorporada ao debate durante todo o período recente, tendo-se como pano de fundo a construção de alternativas de desenvolvimento. Frente às rupturas provocadas pelo processo que excluiu milhares de propriedades da suinocultura, pondo fim a praticamente meio século de desenvolvimento baseado neste sistema de produção. No capítulo III e, principalmente no V, será apresentado em detalhes todo este processo.

A agricultura familiar foi a categoria que se consolidou durante a década de 1990 como o grande potencial do desenvolvimento rural e regional no interior do Brasil. Na região Oeste Catarinense esta é a forma agrícola predominante desde a colonização. É na forma familiar de produção agrícola que a região teve a base de sua formação econômica e social.

Como a agricultura familiar vem se comportando e se relacionando com os processos de desenvolvimento regional no Oeste Catarinense? Quais os maiores desafios colocados? Quais os limites que tem demonstrado? O capítulo V tratará da lógica econômica do comportamento da agricultura familiar na região, busca analisar seus potenciais e a lógica na formação dos seus sistemas de produção em relação com os processos sociais e econômicos mais amplos.

Pretende-se descrever a agricultura familiar da região Oeste Catarinense em seu comportamento econômico, com o conjunto de transformações que a mesma passou neste período. A partir das motivações para o trabalho para a sua reprodução imediata e futura e, de sua forma de planejamento e gestão. Primeiro, parti-se do pressuposto Chanoviano que a motivação para o trabalho nas unidades familiares é diferente das unidades de produção capitalistas e, portanto, a sua organização e forma de ser compreendida também são diferenciadas. Segundo, busca-se analisar o comportamento econômico da agricultura familiar, conforme descrito por Wanderlei (1999), como sendo a expressão da capacidade de prover a subsistência do grupo familiar, em dois níveis complementares, a subsistência imediata e a reprodução da família pelas gerações subsequentes. Terceiro, analisar-se-a a agricultura familiar da região Oeste, a partir da característica comum e natural da agricultura familiar brasileira. Que é, a busca de produto ou produtos comercializáveis que se tornam o carro-chefe dos sistemas produtivos, somando-se a esta (s) atividade (s) as produções de auto consumo (WANDERLEY, 1999), já descritos em vários trabalhos sobre a agricultura familiar da região Oeste Catarinense (TESTA, et al 1996; MIOR, 2005; CAMPOS, 1988; FERRARI, 2003).

Sob esta concepção a agricultura familiar da região Oeste Catarinense pode ser vista como uma forma adaptada e inserida ao contexto da sociedade atual. Para tanto, esta em constante mudança, se recriando constantemente, mas mantendo tradições anteriores que lhe permite sempre adaptar-se as novas exigências, impostas pelas forças do mercado, expressas nas ações das agroindústrias integradoras. Entender como esta forma de organização da vida e da produção vai se modificando, bem como, o quanto estas alterações provocam mudanças na lógica do funcionamento desta organização social, é imprescindível para uma leitura desta dinâmica tão complexa.

A pesquisa de campo e bibliográfica desta dissertação não tem a ambição de dar resposta a este conjunto de questões, mas buscará, a partir da realidade e das informações coletadas, descrever esta realidade, dentro dos limite que a mesma impõe. ―Todo ponto de vista é a vista de um ponto‖ (BOFF, 1997). A leitura da realidade da região Oeste Catarinense produzida nesta dissertação é vista do mote do estudo, que busca construir leituras e respostas

às questões formuladas pela agricultura familiar e pelos que vem sendo excluídos do processo de desenvolvimento implantado na região.

III A FORMAÇÃO ECONÔMICA DO OESTE CATARINENSE: UMA APROXIMAÇÃO À TRAJETÓRIA REGIONAL ATÉ A DÉCADA DE 1980

Neste capítulo, focaliza-se a relação entre a agricultura familiar e as agroindústrias, em seus desdobramentos na formação econômica da região Oeste Catarinense, até a década de 1980. Este período compreende uma primeira grande fase do desenvolvimento regional. De fato, conforme afirmado por Testa et al (1996), existem duas grandes fases na integração entre as agroindústrias e a agricultura familiar, com reflexos no desenvolvimento regional.

A primeira fase foi caracterizada pela convergência de interesses entre agricultores familiares e setores agroindustriais. O destino da produção era principalmente o mercado interno brasileiro, sendo que a ampliação deste possibilitou o crescimento da produção de matéria prima, ocorrendo, desta forma, a expansão agroindustrial e do número de produtores agrícolas. Tal fase se estendeu até o início da década de 1980.

A segunda fase da integração caracteriza-se pela inflexão nas formas tradicionais de organização e obtenção da matéria prima pelas agroindústrias. Nessa fase, ocorre a diversificação do mercado consumidor, com aumento da importância do mercado externo, combinado com a mudança dos produtos ofertados no mercado nacional (TESTA et al. 1996). Falar da trajetória das interações entre as agroindústrias e a agricultura familiar representa, assim, preparação para a abordagem que ocupa o centro desta pesquisa: as transformações mais recentes testemunhadas nesses vínculos. Essas transformações referem- se à aludida segunda fase da integração, observada desde os anos 1980.

Este capítulo está estruturado em quatro seções. A primeira trata da contextualização da região Oeste Catarinense e das fases da formação econômica da mesma; na segunda focaliza-se a produção de subsistência e a formação do capital comercial; já a terceira, da formação do capital agroindustrial e transformação da organização da produção agrícola em uma policultura hierarquicamente subordinada à suinocultura. A quarta debruça-se sobre a diversificação e ampliação da produção agroindustrial e a integração e seleção dos produtores de suínos.

3.1 A REGIÃO OESTE E O PROBLEMA DA PERIODIZAÇÃO DA SUA FORMAÇÃO