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CONSOLIDAÇÃO DO MERCADO DE TRABALHO REGIONAL E MODERNIZAÇÃO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA

Esta fase do desenvolvimento regional, compreendido pelas décadas de 1960 e 1970, é caracterizada pela monopolização do capital agroindustrial, o que determina o ritmo da produção regional a partir de sua dinâmica; pela consolidação do mercado de trabalho, aprofundando a urbanização dos centros agroindustriais; pela modernização da agricultura, alterando a base técnica e a organização produtiva nas áreas rurais; e pelo esgotamento da fronteira agrícola, iniciando-se processo de fragmentação das propriedades familiares. A monopolização do capital agroindustrial ocorreu a partir da centralização dos capitais de vários frigoríficos por meio de fusões e pela concentração da produção em alguns grandes grupos. A liderança desse processo coube principalmente, a Sadia e a Perdigão.

De acordo com Ferrari (2003), essa fase do desenvolvimento regional se deu, com base na expansão da agroindustrialização a partir do potencial de produção e do crescimento da agricultura familiar diversificada, de um lado, e da demanda provocada pela consolidação do modelo alimentar ―fordista‖, de outro lado. Para Testa et al (1996), nesta fase a relação de interrelação entre agricultura e agroindústria ocorreu com relativa convergência de interesses. As estratégias industriais buscavam alcançar e consolidar novos mercados internos e externos para seus produtos, o que possibilitava a incorporação de novos produtores familiares de suínos, respeitando os sistemas de produção dos mesmos. Desta forma, as estratégias das agroindústrias eram compatíveis com a produção diversificada da agricultura familiar.

Naquelas décadas, os antigos capitais comerciais, agora transformados em capital agroindustrial e multiplicados pela nova fase de acumulação, em conjunto com o Estado, passam a determinar novas relações com os agricultores. O processo de ―modernização conservadora‖ conduzida pelo Estado brasileiro, alterando a base técnica da produção agrícola, constituindo e consolidando os complexos agroindustriais e as cadeias agroalimentares, mantendo o modelo agrícola concentrador de terra e renda voltado à produção de commodities, é o processo seguido pelas agroindústrias. Este processo foi viabilizado pelo Estado, combinando a política de crédito agrícola com a criação do Sistema Nacional de Crédito Rural – SNCR, e a política de pesquisa e extensão rural com a criação da EMBRAPA e a Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural - EMBRATER. Em Santa Catarina, como parte deste processo foi instalada, no ano de 1975, o Centro Nacional de Suínos e Aves da EMBRAPA, no Município de Concórdia (FERRARI, 2003).

A monopolização do capital agroindustrial, na região Oeste Catarinense, ocorreu seguindo o movimento geral de centralização e concentração de capitais, determinando a formação de seis grandes conglomerados – Sadia, Perdigão, Aurora, Seara, Chapecó Alimentos e Ceval - que passaram a formar o parque agroindustrial do Oeste Catarinense. A concentração do capital agroindustrial na região ocorreu a partir de fusões e aquisições de frigoríficos, fábrica de rações e moinhos, processo este, também liderado pela Sadia e a Perdigão (ESPINDOLA, 1999). A Aurora, marca da central de cooperativas, iniciou seus trabalhos na industrialização frigorífica a partir do ano de 1973.

O rápido crescimento das agroindústrias foi beneficiado pelas alianças destas com o Estado, utilizando-se as primeiras de um conjunto de incentivos públicos para o seu desenvolvimento e da sua produção. As agroindústrias se aproveitaram fortemente das políticas de crédito do Estado, seja para o financiamento de sua estrutura industrial e comercial, seja para o financiamento da ―modernização‖ da produção agrícola em novas bases técnicas. Para além das políticas de crédito, a política de estruturação pelo Estado de centros de pesquisa e extensão rural, nesse período, possibilitou às agroindústrias a apropriação dos resultados deste trabalho, com ganhos de produtividade e na organização da produção da matéria prima. Exemplo marcante dessa política foi a estreita relação estabelecida pelo Estado catarinense, através da Associação de Crédito e Assistência Rural de Santa Catarina – ACARESC, com as agroindústrias no desenvolvimento e implantação de raças de suínos ―tipo carne‖ que possibilitaram a substituição da raças ―tipo banha‖ . Já durante a década de 1960, surgem iniciativas das agroindústrias no sentido de internalizarem na sua organização empresarial alguns destes serviços.

O fechamento da fronteira agrícola regional durante a década de 1970, que já havia dado sinais de esgotamento durante a década anterior, combinado com os limites impostos pelo relevo acidentado, criou grandes dificuldades para a expansão horizontal das propriedades. Iniciou-se ainda na década de 1960, intensificando-se na de 1970, processo de ―minifundização‖, por meio da divisão das propriedades para a formação de novas unidades. Este processo, já vivido nas ―colônias velhas‖, leva à busca de novas fronteiras, provocando a migração desde a região para o Estado do Paraná e para as regiões Centro Oeste e Norte do país. Uma parte, ainda que pequena, dessa migração ocorreu em direção para às cidades polos da região, onde estava em consolidação o essencial mercado regional de trabalho.

Neste período torna-se definitivamente consolidado na região um modo de vida e produção alicerçado na pequena propriedade, no trabalho da família, na produção diversificada, que combina diferentes culturas e criações, de forma integrada às agroindústrias e ao mercado, no marco da solidariedade e da vida comunitária. Este modo de vida e produção passa também a ter uma forte influência externa, principalmente através das políticas públicas, com a oferta de crédito subsidiado e com o estreitamento das relações de integração com as agroindústrias (FERRARI, 2003).

A característica principal deste período foi o início do processo de integração dos suinocultores. O primeiro passo nesse processo foi a diferenciação de preços entre os tipos de suínos, sendo que o valor pago aos agricultores que criavam suínos das novas raças introduzidas pelas agroindústrias recebiam um valor maior por Kg vivo do animal entregue a agroindústria. O segundo passo foi o estabelecimento de contratos entre os agricultores e as empresas, representados pelos comerciantes locais. Para se integrar o suinocultor precisava ter no mínimo três matrizes e assumir o compromisso de vender toda a sua produção para a empresa. Em contrapartida, a empresa assumia o compromisso de garantir assistência técnica e fornecer medicamentos e insumos a produção a ser pago pelo agricultor quando da comercialização da produção. Este processo foi liderado pela Sadia e a Perdigão, sendo seguidas pelas demais empresas.

3.5 IV FASE: DIVERSIFICAÇÃO E AMPLIAÇÃO DA PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL