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Nesta seção caracteriza-se a região Oeste Catarinense e se dialoga sobre a problemática de sua periodização, busca construir um referencial de períodos históricos do desenvolvimento regional a partir da suinocultura.

3.1.1 A região Oeste Catarinense

A região Oeste Catarinense ocupa uma área de 25,3 mil km²(TESTA et al, 1996) com uma população em 2000 de 1.116.766 habitantes (IBGE, CENSO 2000), compreendendo 117 municípios, nas microrregiões de São Miguel do Oeste, Chapecó, Xanxere, Concórdia e Joaçaba (IBGE, CENSO DE 2000).

Esta área foi durante longo tempo disputada entre Portugal e Espanha e, após o período das ―independências‖, por Brasil e Argentina. Depois da solução deste contencioso em 1885, arbitrada pelo presidente americano Cleveland, a região passou a pertencer definitivamente ao Brasil, sendo reivindicada a partir de então pelos estados de Santa Catarina e Paraná (WERLANG, 2006).

Neste período a terra era disputada por índios, caboclos, fazendeiros e colonizadoras, sendo a expressão maior desse conflito a Guerra do Contestado, que envolveu, de um lado, os posseiros, e, do outro lado, a polícia particular da estrada de ferro São Paulo - Rio Grande do Sul e o Exército brasileiro (op. cit.).

Mas a efetiva ocupação do Oeste Catarinense ocorreu a partir do norte, pelas fazendas de criação de gado bovino, uma atividade seguida pela extração de erva-mate e, no final do século XIX, pelo início da extração de madeira (WERLANG, 2006; BAVARESCO, 2003).

A colonização, de sua parte, se deu principalmente, na primeira metade do século passado. Entre suas características principais observam-se à recepção do excedente populacional da chamada ―colônia velha‖ do Rio Grande do Sul, a presença de colonos de origem italiana e alemã, em sua maioria, com tradição na policultura e na criação de animais

domésticos e um ―modelo‖ de colonização privada, em unidades chamadas colônias, com área de 24,2 hectares cada uma (Testa et al, 1996).

Os principais trabalhos de pesquisa sobre a região apontam a colonização em pequenas áreas como a característica principal que determinou o tipo de desenvolvimento econômico que ocorreu neste território. Fazendo parte do movimento geral e da expansão das fronteiras agrícolas no Brasil, durante o século XX, essa colonização constitui aspecto do processo de acumulação capitalista no país. Para Goularti (2007) a colonização da fronteira do Oeste Catarinense fez parte da ligação entre os capitais mercantil e industrial, que atuavam em comum acordo com os governos locais com o objetivo central de acumular capital por meio da venda da terra.

3.1.2 As fases da formação econômica regional até a década de 1980

É consenso na literatura sobre a região Oeste Catarinense, que o desenvolvimento regional ocorreu a partir da formação do complexo agroindustrial de carnes, primeiramente no segmento suinícola, depois no segmento de aves, e atualmente em diferentes setores agroalimentares, que exerceu, e ainda exerce, a função de atividade motriz regional. Dessa forma, a agroindústria suinícola, por um lado, e a agricultura familiar, por outro, acabaram dinamizando a economia regional em um período de mais de cinco décadas.

Não foi por acaso, de fato, que Campos (1987), tenha adotado o desenvolvimento da suinocultura para a periodização das relações entre as agroindústrias e os agricultores, desconsiderando a produção de fumo as margem do rio Uruguai e as extrações de madeira e erva mate, ocorridas anteriormente. Essas outras atividades não tinham possibilitado um maior desenvolvimento da região, ou pelo menos nada que se aproximasse da dinamização provocada pela suinocultura.

Campos (1987), identificou quatro fases na relação entre agroindústrias e agricultores:

II) crescimento do capital comercial e sua expansão em busca de excedente camponês3 (1935 – 1945);

III) surgimento do grande capital agroindustrial e a mercantilização da produção camponesa (1945 – 1965) e;

IV) processo de monopolização do capital agroindustrial e a modernização seletiva da pequena produção mercantilizada (1965 até a década de 1980)4.

Goularti (2007), defendendo a tese de que a formação econômica catarinense se apresenta como de ―crescimento articulado‖ ao movimento geral da industrialização brasileira, crítica as periodização apresentadas nos estudos de CEAG/SC (1980) e de Cunha (1982), e, partindo dos marcos da tese do capitalismo tardio de Cardoso de Mello (1988), Tavares (1998) e Cano (1985), propõe uma nova periodização para a economia estadual. As quatro fases elaboradas por Goularti (2007) para a economia catarinense são:

1) origem do capital industrial (1880 – 1945);

2) diversificação e ampliação da base produtiva (1945 – 1962); 3) integração e consolidação do capital Industrial (1962 – 1990) e; 4) desarticulação política e reestruturação econômica (pós 1990).

Com base nestas duas formulações sobre as etapas da relação entre às agroindústrias e os agricultores na região Oeste Catarinense, e sobre a formação econômica Catarinense, elaborou-se a seguinte periodização sobre a formação econômica da região Oeste tendo por base o desenvolvimento da suinocultura:

1) Produção extrativista e de subsistência e formação do capital comercial (1916 – 1945); 2) Formação do capital agroindustrial e transformação da produção agrícola em uma policultura hierarquicamente subordinada a suinocultura (1945 – 1965);

3) Monopolização do capital agroindustrial, consolidação do mercado de trabalho urbano industrial na região e modernização da produção agrícola ( 1965 – 1983) e;

4) Diversificação e ampliação da produção agroindustrial e, integração e seleção dos produtores de suínos (1983 a década de 1990);

5) Reestruturação produtiva e implantação da integração no sistema de parceria na suinocultura.

Essa periodização baseia-se nos elementos que constituem a formação econômica da região Oeste, levando-se em conta os momentos de inflexão relacionados a produção de

3 Campos (1987) trabalhou com a categoria camponês para designar os suinocultores. Nesta dissertação

trabalhamos com o termo agricultura familiar. Sobre estas caracterização ver a seção 2.2. Optamos por manter nessa descrição os termos usados por Campos.

suínos na região. Assim, a primeira fase é compreendida pelo período da constituição do município de Chapecó até a década de 1940, quando implantam-se na região os primeiros frigoríficos de suínos, que mais tarde tornam-se a indústria motriz do desenvolvimento regional. A segunda fase compreendida entre 1945 e 1965 é o período de constituição de vários frigoríficos na região e na agricultura familiar a constituição do sistema de policultura subordinado a suinocultura. É neste período que o suíno passa de apenas um produto da economia regional para a principal produção agrícola e industrial da região. A terceira fase, estendida do ano de 1965 a 1983, compreende o período de concentração dos frigoríficos em algumas grandes empresas, crescimento do mercado de trabalho urbano na região e de modernização da produção agrícola na suinocultura a marca desse período foi a diferenciação entre os produtores. A quarta fase é marcada pela intensificação e consolidação da integração dos suinocultores a agroindústria. E vai de 1983 a década de 1990. A quinta fase compreende o processo de reestruturação produtiva e a implantação do sistema de parceria na produção de suínos.

Na sequência, caracterizam-se cada uma das quatro primeiras fases. A quinta fase será tratada no capítulo 5. Esta caracterização ocupa o restante deste capítulo.

3.2 I FASE: PRODUÇÃO EXTRATIVISTA, DE SUBSISTÊNCIA E FORMAÇÃO DO