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IV: IMPACTOS DAS POLÍTICAS MACROECONÔMICAS NO SISTEMA

4.4 A AGRICULTURA NA REGIÃO OESTE CATARINENSE DOS ANOS DE 1970 A

4.4.1 Milho

A produção de milho é tradicional na agricultura familiar da região, sendo este produto, insumo básico para a criação de animais e também para o consumo humano. Cultura produzida no passado, praticamente, sem custos externos à propriedade, hoje é um produto de alto custo. Devido, principalmente, às sementes, os fertilizantes, herbicidas e inseticidas usados, intensamente, no modelo de produção atual.

A produção de milho cumpriu ao longo dos anos diferentes funções nos sistemas produtivos da agricultura familiar na região. No período da colonização regional era um dos insumos básicos para a alimentação animal, e tornou-se fundamental na produção de diversos itens de produtos de auto consumo das famílias. Com o crescimento da produção de suínos, e a consequente formação do já mencionado sistema de policultura subordinado à suinocultura, o milho tornou-se o principal insumo.

Nesse período, também, foi um produto comercial muito importante, com muitas unidades pequenas e desestruturadas se reproduzindo com base no cultivo desta cultura, produzida de forma consorciada com o feijão e, mais tarde, a soja. O produto comercializado era destinado ao próprio mercado local e utilizado, principalmente, para alimentação de suínos nas propriedades com déficit de produção do produto. Com a ampliação da produção mecanizada e em grande escala, as transformações ocorridas no sistema de criação de suínos, a produção de milho com a finalidade comercial perdeu espaço nas pequenas propriedades, na maioria dos casos tendo se tornado praticamente inviável. Recentemente com a formação do sistema de produção articulado ao leite, o milho tem sido utilizado nas pequenas propriedades, principalmente, para transformação em ―silagem‖7.

O gráfico da figura 5 ilustra esta realidade, demonstrando que a área total de milho plantada na região Oeste Catarinense vem sofrendo uma diminuição ao longo do período analisado. Observa-se que a maior área foi cultivada no ano de 1981, com 832.250 hectares, e a menor no ano de 2007, com 448.531 hectares. Esta redução entre a maior e a menor área plantada foi da ordem de 46,10%. Considerando-se a média dos primeiros 5 anos analisados e dos últimos 5, esta redução foi da ordem de 25,76%.

7 A Silagem é fabricada com o milho em uma fase avançada de desenvolvimento, quando o grão está em fase de

início de secagem, período anterior a colheita. É fabricada através da moagem da planta toda do milho, caule, folhas e espigas, sendo armazenado em montes pilados e protegidos por plásticos. É utilizado na complementação da alimentação dos animais, principalmente as vacas, sobretudo no período de inverno ou de escassez de pastagens.

0 100000 200000 300000 400000 500000 600000 700000 800000 900000 1973 1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 REGIAO OESTE

Figura 5: Região Oeste: Área Plantada de Milho em Hectares – 1973 a 2007 Fonte: IPEADATA. Elaborada pelo autor

Quanto à produção total, considerando-se a média do período de 1973 a 1977 com a média do final do período de 2003 a 2007, o crescimento foi da ordem de 28,5%. O gráfico da figura 6 ilustra o aumento da produtividade média no período, que, considerando-se a média dos primeiros 5 anos comparativamente à do final do período é da ordem de 74,6%.

PRODUTIVIDADE MÉDIA DA PRODUÇÃO DE MILHO (TONELADAS HECTAR)

0 1 2 3 4 5 6 1973 1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 REGIAO OESTE

Figura 6: Região Oeste: Produtividade Média de Milho (toneladas hectare) Fonte: IPEADATA. Elaborada pelo autor

Embora o aumento da produtividade a receita bruta média por hectare, neste período, caiu 6,5%. Isso deveu-se a queda do preço médio da saca de 60 Kg, que sofreu uma redução de 46,62%, conforme é ilustrado pelo gráfico da figura 7.

PREÇO DA SACA DE 60 KG MILHO (R$ ANO 2000)

0 5 10 15 20 25 30 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 REGIÃO OESTE

Figura 7: Região Oeste: Preço Médio da Saca de 60 Kg de milho (R$ 2000) Fonte: IPEADATA. Elaborada pelo autor

Ao analisar-se alguns itens dos custos de produção, percebe-se que a redução dos custos não foi tão significativa como a redução dos preços. Comparando-se os preços médios pagos no período de 1991 a 1995 com os de 2003 a 2007, encontra-se o seguinte resultado: adubo: redução de preço de 8,4%; uréia: aumento de 0,09%, ou seja, inalterado; gramozone: redução de 8,2%; semente: aumento de 14,78; preço do milho: redução de 21,25%. É possível deduzir facilmente destes dados que existe uma diminuição da receita líquida final por área plantada do produto.

O gráfico da figura 8 apresenta o comportamento trimestral do preço e dos custos de produção entre o ano de 2006 e o primeiro trimestre de 2009. Destaca-se que em apenas três trimestres os preços estiveram acima dos custos de produção total, e que em outros três trimestres estiveram iguais. Em outros três trimestres os preços estiveram abaixo dos custos variáveis, permanecendo nos demais trimestres, entre os custos variáveis e os custos totais.

RECEITA E CUSTOS MILHO 0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 fev/06 abr/06 jun/0 6 ago/06 out/06 dez/06 fev/07 abr/07 jun/0 7 ago/07 out/07 dez/07 fev/08 abr/08 jun/0 8 ago/08 out/08 dez/08 fev/09 TRIMESTRES RE AIS PREÇO CV CT CVM-MO

Figura 8: Receita e Custos Produção de Milho Nível de Tecnologia Média. Fonte: Dados de preços DESER. Elaborado pelo autor

Pode-se concluir, a partir das informações ilustradas nos diversos gráficos, que: (1) o aumento da produção de milho na região Oeste Catarinense deveu-se ao ganho de produtividade; (2) o aumento da produtividade por área cultivada não implicou em aumento da renda aos produtores, pelo contrário, a receita líquida por área plantada sofreu redução devido à queda dos preços de forma superior a: queda dos custos e aos ganhos de produtividade; (3) para compensar a perda de renda líquida por hectare plantado, a área cultivada por produtor teve que ser ampliada consideravelmente, levando a inviabilização econômica na produção comercial do produto, pela maioria das pequenas propriedades.

Na relação com a produção de suínos, a cultura do milho foi ao longo das últimas décadas sofrendo um processo de desintegração. A passagem da suinocultura da produção em ciclo completo para o sistema de parceria8, fez com que o milho passa-se a ser apenas uma

commodity. Na produção suinícola em ciclo completo, o milho representava um dos principais

diferenciais de custo de produção, sendo este insumo produzido na própria propriedade. Como no sistema de parceria, a ração passa a ser fornecida pela agroindústria, o milho no sistema de produção das propriedades se desvincula da produção de suínos, passando a sua produção a ser avaliada, economicamente, a partir do preço de mercado. Como consequência desse processo, a produção em áreas pequenas e não mecanizáveis tornou-se,

economicamente, inviável. Consequentemente levou a diminuição da área cultivada na região, sendo parte da produção de milho necessária para o abastecimento da região vinda de outros estados, principalmente da região centro oeste.