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DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA NUMA POLICULTURA SUBORDINADA A

SUINOCULTURA

O início dessa fase, durante a década de 1940, é marcado pela substituição da cultura do fumo pela suinocultura, como principal atividade das unidades familiares. A ascensão da suinocultura e o descenso da cultura do fumo foram motivados por vários fatores, destacando- se, entre eles, a crise vivida pela fumicultura na década de 1940 (CAMPOS, 1987), a dinâmica interna das pequenas propriedades e a integração da região ao mercado nacional. Esse período foi também marcado pelo crescimento da imigração para a região, com a decorrente multiplicação das unidades de produção agrícolas familiares (FERRARI, 2003). De acordo com a tabela 2, no período compreendido entre o ano de 1940 e o ano de 1960 a região recebeu 71.465 pessoas vindas do Rio Grande do Sul.

Tabela 2 – Estimativas de Saldos Migratórios da Colônia Velha Para a Região Oeste Catarinense PERIODO TOTAL % 1920 a 1940 10.340 7,2 1940 a 1950 22.801 15,9 1950 a 1960 48.664 33,9 1960 a 1970 61.730 43,0 TOTAL 143.535 100,0 Fonte: Campos (1987)

De acordo com Campos (1987), a década de 1940 foi marcada por uma profunda crise na fumicultura, causada por queda de preços durante todo o período, com recuperação dos preços aos patamares de 1945 apenas no ano de 1960. Crises de preços, grandes distâncias

das indústrias, com estradas em péssimas condições de trafegabilidade, limitaram a expansão e, até mesmo, a continuidade da fumicultura na região. A mesma voltou a ser praticada em larga escala, na região, apenas na década de 1980, já em outras condições.

A integração da região ao mercado nacional foi propiciada por razões da dinâmica econômica nacional e, também, de avanços nas condições da sua estrutura econômica. O avanço na industrialização do país, desencadeado a partir do governo de Getúlio Vargas, com a implantação da política de substituição de importações (Tavares, 1998), criou uma forte demanda por produtos alimentícios. Esse crescimento da demanda concentrou-se, principalmente, na Região Sudeste, articulados à rápida expansão do mercado de trabalho e ao aumento das cidades, ambos ligados ao acelerado processo de industrialização.

O crescimento da demanda por produtos alimentícios representou um mercado em expansão, permitindo grandes lucros ao setor comercial implantado na região Oeste e, consequentemente, criou oportunidades para um tipo de atividade capaz de gerar a renda necessária para a reprodução econômica e social do modo de vida dos agricultores. O avanço na infraestrutura da região em muito contribuiu para a expansão econômica da mesma. Conforme visto na secção anterior, ocorreu, no período, a criação de uma malha rodoviária ampla, foi ligada à abertura da estrada entre Chapecó e Joaçaba e, também, a estrada de ferro, dando acesso aos produtos da região aos grandes centros consumidores no Sudeste do país (CAMPOS, 1987).

Essas condições externas e internas à região, combinadas com as necessidades de reprodução do modo de vida dos agricultores, possibilitou a consolidação da suinocultura, como principal atividade econômica das propriedades. De fato foi a partir dela, que se estruturaram todo o sistema produtivo das mesmas. Dessa forma a organização e a divisão do trabalho no seio da família passam a registrar modificações(FERRARRI, 2003).

A suinocultura tornou-se, com efeito, o motor do sistema de produção das propriedades familiares. O conjunto das atividades realizadas nas unidades é subordinado e movido pela produção de suínos, o que faz com que o sistema produtivo apresente-se como uma ―policultura hierarquicamente subordinada à suinocultura‖ (TESTA et al, 1996). A diversidade existente no sistema de produção é combinada com a produção comercial de suínos, tendo como principal objetivo, a garantia de condições para a reprodução material e social da família rural. Assim, o sistema se organiza tendo na produção da matéria prima, na estrutura de armazenamento destes produtos, na estrutura de produção dos suínos e do seu manejo, os elementos básicos na conformação da paisagem que passou, a partir desse período, a marcar as propriedades do Oeste Catarinense. Sendo uma policultura

hierarquicamente subordinada à suinocultura, o sistema de produção das propriedades familiares e sua reprodução passam a ser determinados pelo ritmo dado pelo mercado de suínos. Como este se torna, cada vez mais, um oligopsônico, este ritmo vai sendo crescentemente determinado pelas agroindústrias, que dominam o conjunto da cadeia produtiva.

Como resultado destas transformações internas e externas, e com a consequente intensificação das relações entre agricultura e comércio, parte dos capitais comercial e industrial madeireiro existente na região, passaram a se estruturar e a se envolver na industrialização dos suínos na própria região. Assim, a agroindústria já nasce relacionada com os agricultores, sendo esta relação, não mais que uma sucessora da relação anteriormente existente entre estes e os comerciantes (FERRARI, 2003). A suinocultura e a sua industrialização foram as responsáveis pela metamorfose do capital comercial em capital industrial na região, transformando o processo de acumulação de capital até então observado em um processo muito mais intenso e centralizado.

Note-se que foi de um processo de concentração e do desdobramento do capital comercial e madeireiro que se originou a agroindústria de carnes, e com ela todo o complexo agroindustrial no Oeste Catarinense (GOULARTI, 2007). Nesse período surgiram vários frigoríficos na região, competindo entre si por suínos e dinamizando as economias nos locais onde estavam instalados, e provocando a dinamização também das demais regiões a partir do crescimento do mercado e da agricultura familiar. O quadro 1 ilustra esse aspecto, indicando o ano de formação dos principais frigoríficos no Estado de Santa Catarina.

Empresa Região de Implantação Ano de Fundação

Perdigão S/A Comércio e Ind. Vale do Rio do Peixe 1940 Com. e Ind. Saulle Pagnoncelli Vale do Rio do Peixe 1942

Sadia Concórdia S/A Vale do Rio do Peixe 1944

S/A Ind. e Com. Chapecó - SAIC Oeste 1952

Frigorífico Seara Vale do Rio do Peixe 1956

S.A Frigorífico Itapiranga Oeste 1962

Frigorífico Sul Catarinense Sul 1963

Coop. Central Oeste Catarinense Oeste 1969

Agro Indl. Eliane S.A Sul 1970

Frigorífico Rio Sulense Vale do Itajaí 1973

Frigorífico São Carlos- FRISCAR Oeste 1975

Quadro 1: Fundação dos Principais Frigoríficos Suinícola Catarinenses Fonte: Federação das Indústrias de Santa Catarina, FIESC, apud Borges, 1993

O início desta fase, que tem a suinocultura e sua industrialização como base principal, faz também nascer, um novo processo na formação do mercado de trabalho regional. Se a indústria madeireira, conforme visto anteriormente marcou o início das relações tipicamente capitalistas na região, a implantação das agroindústrias distingue-se por lançar os alicerces da formação efetiva de um mercado de trabalho e da organização de espaços urbanos onde tal mercado se enraizou (ALBA, 2002). É deste processo que vão se consolidar as cidades polos da região, passando as mesmas a exercer, movidas pela dinâmica agroindustrial, a efetiva ―coordenação‖ da economia regional.