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As negociações da UNFCCC no cenário da governança climática global

1980-1999) Caso estimativaMelhor provávelFaixa

3.1. As negociações da UNFCCC no cenário da governança climática global

As principais negociações da UNFCCC estavam concentradas na natureza e nos níveis dos comitês dos países industrializados para o controle das emissões dos GEE. Os EUA opuseram-se firmemente a adotar metas de redução e argumentaram por uma abordagem

compreensiva focada em todos os GEE, mais que somente no CO2. A proposta americana teria permitido aos países contabilizar as reduções nas emissões das substâncias destruidoras da camada de ozônio81, previstas no Protocolo de Montreal, em favor de suas metas de redução das emissões de GEE. Em sua proposta, os EUA esperavam compensar um incremento de 15% nas emissões de CO2 com a redução das emissões de CFC e propuseram a chamada abordagem compreensiva para a estabilização das emissões de GEE dos níveis de 1987 para os níveis de 2000 (OPUS, 1991).

Em contraste, muitas nações europeias e países em desenvolvimento estabeleceram metas de redução das emissões de GEE. Antes de 1988, nenhum país havia tomado ações unilaterais endereçadas às mudanças climáticas82. Em seu Relatório de Políticas Energéticas de 1987 da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a Agência Internacional de Energia (IEA) fez somente uma pequena nota quanto às mudanças climáticas em sua publicação. Em 1990, entretanto, o Relatório publicou

que considerações deveriam ser feitas para a implementação imediata de medidas para reduzir emissões de CO2 que fossem economicamente viáveis. A maioria das nações que compõem a IEA também expressou boa vontade em considerar ações futuras como parte de um amplo esforço internacional para reduzir as emissões projetadas de CO2 (IEA, 1990, p. 47-48).

A Suécia foi a primeira nação do mundo a empreender ações domésticas, decidindo em 1988 estabilizar as emissões de CO2 nos níveis daquele ano em 2000. Noruega e Holanda seguiram pouco tempo depois essa decisão.

Nos estágios iniciais (1988–1990), muitas nações participantes da OCDE (Austrália, Áustria, Dinamarca, Alemanha, Itália, Luxemburgo, Holanda e Nova Zelândia) adotaram a meta de Toronto de reduzir as emissões de CO2 em 20% abaixo dos níveis de 1988 até 2005. Entretanto, enquanto os governos ganhavam mais experiência no controle de suas

81 Substâncias destruidoras da camada de ozônio são também GEE.

82 É importante notar que o debate político em torno do tema das mudanças climáticas globais

teve seu início antes de 1988 em muitos países, incluindo os EUA. Entretanto a política iria efetivamente transformar o tema em ação após esse ano.

emissões de GEE, o entusiasmo inicial começou a diminuir. Entre 1990 e 1992, muitos países assumiram individualmente metas mais conservadoras para a estabilização das emissões, adotando os níveis de 1990 até o ano 2000. Em outubro de 1990 os ministros de Meio Ambiente da Comunidade Econômica Europeia (EEC) afirmaram que muitos países adotaram metas domésticas em consequência da Conferência de Toronto. Canadá, Austrália e Nova Zelândia, na tentativa de fazerem uma ponte entre as posições europeia e americana, propuseram metas para estabilizar as emissões de todos os GEE e não somente o CO2 aos níveis de 1990 em 2000, alegando, como os EUA, efeitos econômicos adversos dessas ações como, por exemplo, na competitividade econômica internacional (VIOLA, 2002).

Os Estados Unidos ainda não ratificaram o Protocolo de Quioto, mas um número considerável de nações decidiu permanecer no Protocolo. Quatro explicações principais podem ser consideradas para justificar essa posição, segundo Hovi e colaboradores (2003): 1ª.) Os demais países do Anexo I da Convenção do Clima ainda

esperam que o Protocolo possa reduzir suficientemente o aquecimento global a ponto de superar os custos econômicos de sua implementação;

2ª.) Pela implementação do tratado, as Partes esperam induzir as não-Partes a segui-las mais tarde;

3ª.) As instituições climáticas dos Estados Unidos em algum momento farão com que mude o rumo dessa decisão;

4ª.) Finalmente, os países que permanecem no Protocolo poderão estar ligados aos países da União Europeia desejando permanecer assim para adiante como líderes internacionais no campo da política climática.

A primeira e a segunda hipótese explicam parcialmente a posição desses países, mas considero a terceira e a quarta mais factíveis em um cenário futuro próximo.

Por outro lado, em reunião especial convocada pelo secretário- geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, em 22/9/2009, o presidente Barack Obama afirmou que os países ricos têm “responsabilidade financeira e técnica” pelas ações frente às mudanças climáticas e que os EUA podem ajudar com o desenvolvimento de tecnologias energéticas limpas para reduzir as emissões de gás carbônico. No discurso, Obama apontou as medidas de seu governo para combater

a mudança climática nos últimos oito meses, mas não apresentou nenhuma nova proposta de seu país que possa ajudar e dar um novo ritmo às conversas sobre um pacto internacional para combater o aquecimento global. Já em discurso recente na reunião do G-8, Barack Obama insistiu em que os líderes de todas as nações se unissem para enfrentar as mudanças climáticas, afirmando que todas correm perigo e, assim como nenhum país é responsável sozinho pela mudança climática, nenhum também deve lidar sozinho com o problema83.

Somente a Alemanha, o Reino Unido e a Rússia ratificaram as metas da UNFCCC de estabilizar as emissões de GEE nos níveis de 1990 ou abaixo. Em cada caso, entretanto, tais progressos resultam de uma circunstância econômica única, mais do que de políticas climáticas inovadoras. No caso da Alemanha, como fruto da reunificação, o governo fechou muitas das indústrias ineficientes do leste, reduzindo significativamente as emissões na Alemanha reunificada. Na Rússia, muitas indústrias fecharam em razão do colapso econômico, trazendo as emissões em até 30% abaixo dos níveis de 1990. E o Reino Unido beneficiou-se com o fechamento de muitas indústrias movidas a carvão combinado com a instalação de novas plantas de energia a gás (IPCC, 2008).

Em contraste, as emissões norte-americanas de GEE em 1999 foram 11% superiores aos níveis de 1990, resultado do crescimento econômico sem precedentes e dos baixos custos da energia durante a década de 1990 (IPCC, 2008). Os EUA, acompanhados de Canadá, Japão e Austrália, entre outros, procuram créditos para as emissões domésticas em todas as nações que manejem absorvedores/sumidouros de CO2 e que tenham projetos de MDL.

A China anuncia, por sua vez, que o primeiro plano nacional para as alterações climáticas buscará fortalecer o país contra os danos do aquecimento global e, ao mesmo tempo, contra as pressões internacionais para a redução de suas emissões de CO2, que o país considera como parte do custo do desenvolvimento84.

As pressões para a redução de emissões devem aumentar com as negociações para prorrogar um acordo da ONU sobre aquecimento global para além de 2012, quando se encerra a primeira etapa do Protocolo de Quioto.

83 Informação obtida em: <http://www.unfccc/int/>. Acesso em: 2009.