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As pesquisas qualitativas e sua utilização no contexto de museus de ciências

CAPÍTULO 2 – METODOLOGIA DA PESQUISA

2.1 As pesquisas qualitativas e sua utilização no contexto de museus de ciências

A metodologia utilizada nesta pesquisa foi a qualitativa. As pesquisas qualitativas privilegiam a análise de micro processos e se caracterizam também pela flexibilidade das técnicas de coleta de dados MARTINS (2004), configurando-se uma metodologia compatível com as necessidades desta pesquisa.

De acordo com Bogdan e Biklen (1991), cinco são as características das pesquisas qualitativas: 1) O ambiente natural é a fonte direta de dados e o investigador é o principal instrumento de coleta de dados; 2) É descritiva, incluindo transcrições de entrevistas, notas de campo, fotografias e vídeos, documentos pessoais, memorandos e outros registros oficiais; 3) Interessa na pesquisa mais o processo que os resultados ou produtos obtidos; 4) Os dados investigados tendem a serem analisados de forma indutiva e as abstrações construídas à medida em que os dados vão se agrupando; 5) O significado é de importância vital, pois, por meio dele, diferentes pessoas dão sentidos as coisas.

Tais características se adequam à atual pesquisa, visto que a Estação Ciências é a fonte direta para a obtenção dos dados, configurando-se como o ambiente natural a ser estudado, bem como eu, na condição de pesquisadora, sou o instrumento essencial para a coleta dos dados e articulação deles na pesquisa. Esta pesquisa é apresentada em sua maior parte de forma descritiva, considerando gráficos e tabelas oriundos dos dados obtidos por questionários e entrevistas.

A respeito das pesquisas qualitativas pode parecer que elas acontecem intuitivamente, tendo seu resultado ou produto final obtido sem que para isso haja um plano específico de estudo e investigação. Bogdan e Biklen (1991) afirmam que na investigação qualitativa os planos evoluem à medida que ocorre a familiarização com o ambiente, as pessoas e outras fontes de dados. Entretanto, os pesquisadores qualitativos não iniciam um estudo sem um plano, mesmo que flexível, que possa ser modificado a partir de hipóteses, experiências e conhecimentos.

Sobre os dados não poderem ser generalizados, conforme aponta Appolinário (2012), Bogdan e Biklen (1991) também os consideram simultaneamente como provas e pistas que “ligam-nos ao mundo empírico e, quando sistematizados e rigorosamente recolhidos, ligam a investigação qualitativa a outras formas de ciência.” (p.149)

Alguns dos pontos fortes de uma pesquisa qualitativa residem na possibilidade de estudar fenômenos que não podem ser encontrados em qualquer lugar, estabelecer correlações com as variáveis existentes e utilizar dados que “ocorrem naturalmente” para explicar os “comos” e os “o quês” são apresentados a fim de estabelecer um fenômeno. (SILVERMAN, 2009).

Ainda sobre possíveis generalizações ou não, Martins (2004) enfatiza que “essa não é a preocupação, pois o que a caracteriza é o estudo em amplitude e em profundidade, visando a elaboração de uma explicação válida para o caso (ou casos) em estudo, reconhecendo que os resultados das observações são sempre parciais.” (p.295).

Marandino (2011) enfatiza a importância de muitos trabalhos no Brasil, em museus de ciências, mapearem investigações que se utilizam da metodologia quantitativa e qualitativa articuladas e destaca que estas estão referenciadas no campo da educação e comunicação. Salienta que pesquisadores que atuam em museus de ciências fazem uso dos recursos da pesquisa qualitativa devido a diversidade de instrumentos metodológicos que esse tipo de pesquisa oferece e a adequação dos mesmos, principalmente no que se refere ao estudo de público, salientando as entrevistas, observações, questionários, painéis. (MARANDINO, 2011).

Martins (2006), em sua dissertação de mestrado, faz uma síntese de pesquisas qualitativas realizadas em museus de ciências enfatizando alguns trabalhos que abordam a relação museu- escola, como os de: Beatriz Muniz Freire (1992), que fez um estudo etnográfico das escolas de Ensino Fundamental, em visita ao Museu do Folclore no Rio de Janeiro; Sibele Cazzelli (1992), que fez estudo etnográfico das visitas escolares ao MAST, investigando o impacto de suas ações educacionais; Maria

Esther Alvarez Valente (1995), que fez uma pesquisa qualitativa de caráter antropológico, estudando representações do público sobre os espaços e as exposições do Museu Nacional no Rio de Janeiro.

Para o presente trabalho é importante dizer que Lüdke e André (2014) destacam a pesquisa etnográfica e o estudo de caso como duas formas de pesquisa qualitativa. Enfatizam que elas têm grande aceitação na área de educação devido ao potencial que ambas têm em estudar as questões relacionadas à escola. Descrevem essas duas abordagens considerando seus pressupostos, métodos e principais características a fim de situar leitor dentro dessas modalidades de pesquisa qualitativa.

Particularmente o estudo de caso, segundo as autoras, “é o estudo de um caso”, considerado: simples e específico ou complexo e abstrato, mas ao mesmo tempo, bem delimitado, conforme apontam:

O caso é sempre bem delimitado, devendo ter seus contornos claramente definidos no desenrolar do estudo. O caso pode ser similar a outros, mas é ao mesmo tempo distinto, pois tem um interesse próprio, singular. Segundo Goode e Hatt (1968), o caso se destaca por se constituir numa unidade dentro de um sistema mais amplo. (LÜDKE; ANDRÉ, 2014, p.20).

Enfatizam que tais estudos visam à descoberta; enfatizam a interpretação em contexto; retratam a realidade completa e profunda; utilizam-se de variedade de fontes de informação; permitem generalizações ao leitor; representam diferentes pontos de vista; utilizam linguagem mais acessível. Além dessas características, ressaltam algumas etapas do estudo de caso, como: fase exploratória em que o estudo começa com um plano mais amplo e, à medida em que a pesquisa se desenvolve, esse plano se afunila.

Bogdan e Biklen (1991) explicam tal comparação:

O plano geral do estudo de caso pode ser representado como um funil. Num estudo qualitativo, o tipo adequado de perguntas nunca é muito específico. O início do estudo é representado pela extremidade mais larga do funil. (BOGDAN; BIKLEN, 1991,p. 89).

Optou-se nesta investigação pela pesquisa qualitativa com dados numéricos e não é desconsiderada a possibilidade de inseri-la no contexto do estudo de caso, pois possui algumas das características para tanto, como, por exemplo, insere-se numa temática ampla que é o ensino de ciências em museus (plano geral) e restringe-se especificamente a uma instituição (EC) e sua relação com determinado público visitante, no caso o público docente. No início da pesquisa, a ideia era tratar dos objetivos dos professores ao levarem seus alunos à EC e museus em geral e as possíveis contribuições desses espaços durante a visita. No entanto, a exemplo do estudo de caso definido pelos autores aqui citados, sentiu-se a necessidade de refinar esse objetivo explicitando, no contexto da EC, quais os discursos dos docentes e da própria instituição em se tratando da visita e tudo o que se refere à ela. Dessa maneira, justifica-se a pesquisa qualitativa nesse trabalho e a possível classificação dele como um estudo de caso.

Para o presente trabalho, os instrumentos metodológicos e a metodologia utilizada serão descritos a seguir.

2.2 Metodologia

Para Moroz e Gianfaldoni (2006) “o pesquisador deve considerar seu problema de pesquisa e escolher em função deste a melhor forma de obter informações” (p. 74). Por isso, a escolha da pesquisa qualitativa nesse estudo deu-se principalmente pela necessidade apresentada, a partir do problema, de um plano de coleta de dados que permitissem inferir sobre o fenômeno estudado: os discursos que se estabelecem na relação museus de ciência e professor. Tal plano consistiu na escolha de aplicação de questionários e entrevistas semiestruturadas.

Os dados quantitativos foram importantes para ajudar na compreensão dos elementos qualitativos e do fenômeno estudado. Nesse caso, embora a pesquisa tenha caráter qualitativo, os dados quantitativos fizeram parte dela.

Silverman (2009), considera que uma das três maneiras de combinar a pesquisa quantitativa com a pesquisa qualitativa é utilizar os dados quantitativos para localizar resultados num contexto mais amplo na pesquisa qualitativa.

O fato de utilizar dados quantitativos, como contagem simples, pode dar ao leitor a possibilidade de ter uma visão mais específica do todo, em vez de confiar somente na palavra do pesquisador, além de permitir que outros pesquisadores testem e revejam as generalizações. (SILVERMAN, 2009).

Conforme já explicitado ao longo deste trabalho, esta pesquisa propôs-se a investigar, descrever e analisar os discursos estabelecidos entre a instituição e os docentes visitantes. Para alcançar os seus objetivos gerais e objetivos específicos, adotaram-se os seguintes procedimentos metodológicos de investigação, referentes:

 À Estação Ciências:

a) Levantar e analisar documentação referente ao histórico da Estação Ciências de Itatiba, por meio de dados de documentos oficiais e/ou registros, atas, relatórios, avaliações, materiais pedagógicos, diário de campo, memória, dentre outros.

a.i) Realizar entrevista semiestruturada junto aos idealizadores da Estação Ciências e aos ex-funcionários.

 Aos docentes visitantes:

d) Constituir categorias descritivas a fim de elaborar questionários e roteiros de entrevistas, a serem utilizadas nesta investigação.

e) Validar o questionário por meio da aplicação preliminar à uma parcela da população estudada, no caso, professores visitantes da Estação Ciências.

e.i) Fazer pré análise dos dados obtidos e derivar deles o conjunto definitivo de categorias descritivas.

e.ii) Selecionar período para aplicação de questionários ao público docente.

e.iii) Aplicar questionário fechado e aberto a fim de caracterizar o público docente visitante.

f) Planejar, elaborar e aplicar entrevistas com professores a fim de complementar dados obtidos a partir dos questionários.

g) Selecionar um grupo de docentes para aplicar entrevista semiestruturada sobre seus objetivos em relação à visita e as possíveis contribuições.

g.i) Descrever os dados obtidos nos questionários e entrevistas, por meio de gráficos e tabelas.