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Concretização da proposta pedagógica da Estação Ciências

2013 Quadro geral das visitas da Estação Ciências

FONTE: ESTAÇÃO CIÊNCIAS, 2010.

4.3 Concretização da proposta pedagógica da Estação Ciências

Mediantes as reflexões acerca das atividades oferecidas pela EC é possível verificar que a sua proposta pedagógica centra-se num modelo de ensino predominantemente construtivista, mas com nuances de modelo de redescoberta e, às vezes, CTS.

Sobre as atividades conclui-se que: as monitorias interativas são atividades que têm maior impacto sobre o público escolar, sejam com alunos ou com professores; as formações para professores de Educação Infantil e Ensino Fundamental refletem respectivamente os modelos clássico e prático-reflexivo de formação; os eventos de popularização, como a Feira Científica e Cultural de Itatiba, também se aproximam do modelo construtivista de ensino, pois priorizam o trabalho coletivo, o processo de construção do conhecimento pelo aluno e os projetos que visam a divulgação dos conhecimentos científicos, entretanto, limitados a um curto período de tempo, somente a duração do evento.

Contudo, sua proposta pedagógica prioriza a interação em todos os sentidos, seja com alunos, professores, monitores e objetos museais (durante a monitorias), seja com professores (durante as formações continuadas) ou com a comunidade (durante as FCCI). Essa proposta viabiliza a concretização de sua missão, propósito e vocação, descritos no início desse capítulo, que por sua vez são sustentados pelas ações desenvolvidas e articuladas a eles.

Sendo definida a proposta pedagógica da EC, é válido para esse estudo identificar como a EC se insere no campo museal a partir de características descritas por Cury (2013;2014), que distinguem os museus em: tradicionais, de transição e emergentes. Os museus tradicionais centram-se em ideias de museu enquanto nação, características do século XIX; que guarda memórias e identidades; considera o patrimônio como ideia fechada e estratégia de educação; possui agendas limitadas; tem caráter excludente; o discurso é fechado; e a educação é vista como instrução, em que o conteúdo é formalizado por especialistas e o público deve assimilar o conteúdo por meio da exposição. No museu tradicional o público não tem participação na elaboração do discurso expositivo.

O público nesse modelo, e em grande medida nos museus tradicionais, está em desequilíbrio com o poder que os profissionais de museus têm na definição de narrativas e discursos. (CURY, 2013, p. 474 – 475)

Os museus emergentes contestam os museus tradicionais e priorizam a inclusão, mesmo sendo excludentes do ponto de vista de excluir características do museu tradicional. Nele há inclusão de qualquer tipo de saber, pois nesse modelo a compreensão do público sobre o museu dependerá da aproximação ou distanciamento da cultura.

No entanto, o museu emergente é uma projeção de um futuro museal que queremos viver. Apesar de levantarmos algumas de suas características, em especial aquelas que contrapõem ao museu tradicional, ou de reconhecermos a alguns de seus elementos, na prática ele ainda não existe, mas, está em formação. (CURY, 2014, p.474)

O modelo de museus em transição, segundo Cury (2013; 2014), é o que ocorre atualmente. Nesse modelo ocorrem experimentações metodológicas e conceituais alicerçadas no público e nas coleções, ou seja, a partir de ações de comunicação capazes de inserir o público na constituição do museu.

Assim, se faz necessário tornar o público elemento constitutivo da instituição, uma vez que as coleções já o são. Este objetivo será alcançado com concepções de comunicação, diferentemente da transmissão de conhecimento. Em termos dos paradigmas mencionados e aquele em transição que sugerimos, podemos ver uma mudança de concepção de público nos museus, de acordo com posturas que as exposições assumiram no decorrer dos tempos, ajustada a determinada visão de ciência (CURY, 2014, p.475)

Diante das considerações de Cury (2013; 2014) é possível identificar que EC apresenta características dos três modelos de museu tradicional, em transição e emergente, conforme destacado a seguir:

1) Características do Modelo Tradicional presentes na EC

- Agenda limitada e acesso como possibilidade de visitação: a EC conduz suas ações especificamente para a escola, sobretudo por meio dos professores e alunos, entretanto, implicitamente esse público é conduzido à EC através de agendamentos compulsórios, ou seja, de projetos elaborados sob medida para atender as demandas presentes no ensino de ciências da Rede Municipal de Ensino

de Itatiba, principalmente ligadas ao desenvolvimento do Currículo de Ciências. Exemplos disso são os projetos “Física na Estação”, “Estação Ciências Itinerante”, “Educação Infantil na Estação” e “Feira Científica e Cultural de Itatiba”, em que as escolas são agendadas de acordo com a disponibilidade de datas e transporte público. Se por um lado tal estratégia viabiliza a visitação facilitando o trabalho das equipes gestoras em organizar as saídas da escola, por outro, limita a atuação das mesmas como protagonistas dos agendamentos, cabendo à própria EC criar eventos, ações e projetos para fomentar a visitação das escolas e a aproximação do público docentes das atividades oferecidas.

- Relação de poder: há evidências diretas de relações de poder sobre a escola, visto que são os profissionais da EC que determinam quando será possível realizar os agendamentos escolares, quais projetos serão oferecidos, em quais períodos serão oferecidos e qual público será contemplado.

- O público precisa do museu: levando-se em conta que o público precisa do museu, as relações de poder se estabelecem com o consentimento da escola e do professor, que por sua vez aceitam as facilidades da monitoria pré-estabelecida, das datas pré-agendadas e demais proposições do museu, considerando ser um auxílio à prática pedagógica e, por parte do museu, considerando que a escola precisa da EC. - Excludente: se, por um lado, a EC estimula o protagonismo e participação docentes da Rede Municipal nas atividades propostas, principalmente através dos encontros de formação continuada de Ciências, por outro, limita-se a ações voltadas especificamente para o público escolar. Embora a Estação Ciências atenda esporadicamente o público não-escolar, através das visitas espontâneas, não possui ações específicas para esse público restringindo a eles apenas o conhecimento do espaço físico e acervo. Dessa maneira fomenta ações escolarizadas julgando suprir as carências da escola ou da formação continuada dos professores, transforma o discurso museológico num discurso escolarizado. Autores nacionais como LOPES (2001) e internacionais como Paulette M. McManus (2009) alertam para a necessidade de reflexão sobre os centros ou museus de ciências não se tornarem

“escolas” ou centro de recursos para professores. Sobre isso a primeira autora descreve:

A maioria dos ambientes de educação informal, pelo menos no Reino Unido, já possui materiais e experiências feitos quase sob medida para o currículo nacional do sistema de educação formal. Nesse sentido apresentam duas faces – ao fornecer um ambiente educacional informal para o grande público e também ao trabalhar bem de perto com os professores nos currículos de educação formal. Por vezes, as demandas do currículo nacional poderiam ser introduzidas em planos de exposição. É necessário observar um cuidadoso equilíbrio, à medida que as crianças das escolas não são mais levadas àqueles locais apenas com a finalidade educacional liberal de estarem expostas a uma instituição cultural que, de uma maneira diferente, poderiam não visitar. Queremos que os ambientes de educação informal tornem-se escolas, centros de recursos para os professores? (LOPES, 2009, p.57)

Marandino (2001) se posiciona também sobre o assunto:

Em muitos casos as instituições culturais que se preocupam com a educação buscam na escola os referenciais para o desenvolvimento de suas atividades. No entanto, cada uma dessas instituições possui uma lógica própria. Os museus também são espaços de cultura própria e, neste sentido, espera-se que ele ofereça ao público uma forma de interação com o conhecimento diferenciada da escola. (MARANDINO, p.88, 2001)

✓ Características do Modelo de Transição:

- Educação como ensino-aprendizagem: considerando a proposta pedagógica da EC baseada preferencialmente em modelos de ensino construtivistas e CTS, em menor intensidade, a educação é vista pela EC como um processo de ensino e aprendizagem que ocorre por meio da interação entre os sujeitos durante a visitação, através das monitorias interativas. Ou seja, os curadores da EC são os profissionais que planejam, organizam e realizam as atividades propostas ao público docente visitante, porém, existem ações desenvolvidas na EC em que a proposta surgiu a partir de sugestões do público docente, como o projeto Física na Estação e outras atividades que foram avaliadas por eles e reorganizadas em função de suas necessidades como, por exemplo, a Estação Ciências Itinerante.

- Comunicação como capacidade de diálogo com o público: no contexto do ensino e aprendizagem na EC, a comunicação se caracteriza como um instrumento importante de diálogo com o público, visto que é por meio dela que ocorre a construção do conhecimento e a reelaboração de ações.

- Educa / Se educa: à medida em que a EC é uma instituição com fins educativos, privilegia-se esse pressuposto para se educar diante das necessidades apresentadas pelo público escolar e principalmente o docente.

- Acesso como direito à informação e ao entendimento: pressupondo que é direito de qualquer estudante ter acesso à informação, nesse caso a científica, a EC promove as ações privilegiando esse público e com foco no auxílio ao desenvolvimento curricular.

- O museu precisa do público: diante das ações desenvolvidas com foco para o público escolar e especialmente para o docente, a EC, ao mesmo que tempo que valoriza o trabalho docente, necessita de sua participação para manter o fluxo de público da instituição.

✓ Características do Museu Emergente:

- Discurso em construção: o discurso expositivo da EC, embora seja criado pelos seus profissionais com participação esporádica de docentes, reconstrói-se a cada monitoria ou atividade. A participação dos alunos em situações problematizadoras, hipotéticas e experimentais contribuem para que a cada monitoria o discurso expositivo se modifique de acordo com a necessidade, o grau de complexidade das explicações e o nível de compreensão dos alunos. No modelo de ensino construtivista o professor tem autonomia para participar das decisões referentes ao currículo e às metodologias de ensino e na EC esse modelo também influencia na participação docente junto à exposição museu e demais atividades.

- Educação como experiência: concretiza-se também por meio das monitorias interativas à medida que o conhecimento não é transmitido, “passado” ao público como algo estático, imutável e passível de assimilação, mas sim como experiência vivenciada e construída coletivamente a partir da interação.

- Cria situações performáticas, ritualísticas e lúdicas: as atividades desenvolvidas pela EC, além de promover situações sócio interacionistas, valoriza o caráter lúdico de suas ações permitindo em muitas situações que o visitante aprenda brincando.

- Diálogo entre o local e o global: é promovido durante a interação nas monitorias em que as relações entre conceitos ou informações são generalizados por meio de exemplos que são contextualizados na realidade do visitante e em outras realidades. Nesse contexto, evidencia principalmente o modelo CTS de ensino.

O discurso da Estação Ciências se evidencia por meio da sua proposta pedagógica e de seu discurso expositivo que é recontextualizado a partir de outros discursos, como o museológico, o da comunicação, o da ciência e o educacional. Entretanto, ele se concretiza efetivamente através das visitas monitoradas, pois é durante as visitas que a interação entre museu e público acontece e que outros discursos se estabelecem. Nesse caso, outro discurso que interessa no âmbito desta pesquisa, é o discurso docente, que será descrito a partir do capítulo 5 e detalhado juntamente com o discurso da Estação Ciências no capítulo 6.