• Nenhum resultado encontrado

Os primeiros profissionais e ações da Estação Ciências e o atendimento ao público escolar

2013 Quadro geral das visitas da Estação Ciências

FONTE: BORTOLETTO-RELA, 2012.

3.2 Origem da Estação Ciências: O histórico como o primeiro produto da pesquisa

3.2.4 Os primeiros profissionais e ações da Estação Ciências e o atendimento ao público escolar

Após a sua inauguração a ideia de priorizar o atendimento escolar foi mantida e priorizou-se a escola em seus agendamentos, atendendo desde alunos da Educação Infantil até o Ensino Médio.

Quem realizava as monitorias eram as duas professoras anteriormente citadas. Elas explicavam o funcionamento dos aparelhos aos alunos e, ao final, permitia-se a interação dos visitantes com os aparelhos expostos.

Nos anos que se seguiram ao início das monitorias da Estação Ciências, outras pessoas, em geral professoras afastadas das funções de sala de aula, também assumiram esse papel de monitoras. Tais pessoas, ao serem indicadas e integrarem-

se à equipe da Estação Ciências, deveriam se informar sobre o funcionamento dos aparelhos, monitorias e agendamentos. Ou seja, deveriam aprender a trabalhar na Estação Ciências principalmente como monitoras.

Vale ressaltar que nem sempre essas professoras eram da área de Ciências, como no caso de uma professora monitora que trabalhou na Estação Ciências e era formada em Pedagogia. Todavia, segundo Jacobucci (2012), é comum as equipes técnicas dos museus e centros de ciências brasileiros serem compostas por graduados em áreas específicas, como biólogos, químicos, físicos e matemáticos. O fato de a formação de umas das professoras ser em Pedagogia representava um desafio a ser vencido na função de monitora da Estação Ciências, uma vez que a maioria dos aparelhos presentes na instituição era da área da Física.

Sobre sua ida para a Estação Ciências e desafios encontrados, a professora relata em trecho da entrevista a seguir:

Como que foi a sua vinda pra Estação Ciências? (ENT)

Aconteceu assim: a primeira dama na época18 tinha trabalhado comigo como

diretora e eu como professora e gostava muito do meu trabalho. Eu gostava muito de pesquisas, teatro e gostava de fazer coisas novas na escola. Ela sugeriu apesar de eu não ser formada19. Eu sou professora do primeiro ao

quinto e fiz Pedagogia. Mas ela achou que eu tinha um perfil para trabalhar aqui, eu falei: mas eu não sou professora de ciências e ela falou assim: eu acredito em você, você é uma pessoa estudiosa elas vão colaborar no que for preciso [...]. Como eu gosto de desafio, aceitei o desafio e vim. [...] como monitora eu estudei bastante... aprendi sobre os aparelhos... [...] (INT 010)

A escolha de profissionais para atuação em museus de ciências deve ser uma escolha pautada em formação específica para atuação nesse setor e em competência profissional. Entretanto, sabe-se que os profissionais qualificados para essa função são escassos, facilitando, muitas vezes, que essas escolhas reflitam cunho político.

18

A entrevistada está se referindo á esposa do prefeito após a inauguração da Estação Ciências 19 A professora se referiu a não ter formação específica na área de Ciências (Exatas ou Naturais).

Essa realidade não se restringe apenas ao Brasil e o dilema de formação especifica também não é exclusividade de nosso país. “Na maioria dos países, não existe qualquer formação especializada que prepare as pessoas para a profissão de educação do museu. ´” (ICOM, 2004, p.131)

A formação inicial dos monitores é muito importante para uma boa mediação junto ao público, principalmente quando se trata de público escolar, como no caso da Estação Ciências. Sabe-se também que, em decorrência das deficitárias condições de alguns cursos de Graduação, nem todos os professores têm acesso a conhecimentos relacionados à educação em espaços não formais e isso acaba dificultando sobremaneira o trabalho de mediação e a compreensão sobre a importância da mesma. Entretanto, por meio da vivência cotidiana no museu de ciências, é possível que o profissional contribua com a dinâmica do museu e também para sua própria formação, tomando consciência da melhor maneira de atuar.

O “Manual Prático: Como Gerir um Museu”, uma publicação do Conselho Internacional de Museus (2004) com a apoio da UNESCO, enfatiza que os melhores pedagogos dos museus são formados em áreas diversas durante sua carreira e se empenharam no estudo sobre a temática do museu.

A exemplo da situação mencionada anteriormente, a entrevistada explica como se dava sua atuação como monitora da Estação Ciências:

As crianças fazem muitos questionamentos [...] então não poderia só falar como funcionava e a finalidade do aparelho, tinha que ir além disso. Transpunha o conhecimento que eu tinha sobre o aparelho para situações do dia a dia, da sala de aula, da vivência. Então eles gostavam muito, todo mundo queria contar um caso, alguma coisa e a participação deles nas questões era muito eficaz [...]. No final os professores perguntavam se eu era formada em Física, Química e Ciências. Aí, eu falava nenhum dos três, mas é que eu gosto do assunto... ((risos))(INT 010)

A fala da entrevistada comprova que sua formação, embora não fosse voltada para a atuação em museu de ciências, foi se dando ao longo de sua experiência na instituição.

Devido à demanda de agendamentos, eram atendidos dois grupos simultaneamente. Enquanto uma monitora iniciava a exposição por uma sala, a outra

monitora iniciava outra exposição em uma sala distante, de modo a uma não atrapalhar a outra. Assim, grupos de aproximadamente oitenta a noventa alunos eram atendidos ao mesmo tempo, conforme descrito abaixo:

Vocês trabalhavam com dois grupos? Vocês revezavam? (ENT)

Sempre eu com um grupo e a outra professora20 com outro. Uma começava da

sala da frente e a outra começava da sala dos fundos (INT09)

Sobre a linguagem utilizada em cada faixa etária, procurava-se adequá-la para que a monitoria fosse compreendida pelos diferentes segmentos escolares visitantes. Ou seja, se o grupo de visitantes era da Educação Infantil, a linguagem era mais simplificada, sem terminologias específicas e conceitos difíceis de serem compreendidos por eles, a explicação se baseava no fenômeno observado. Já para um grupo de estudantes das séries finais do Ensino Fundamental ou Médio, os conceitos relacionados à Física e à Matemática poderiam ser abordados. Entretanto, a dinâmica da monitoria era a mesma, com os mesmos aparelhos apresentados, sem haver uma seleção prévia para cada segmento atendido.

As monitorias, conforme descritas até aqui, bem como o funcionamento da Estação dessa maneira, ocorreram até o ano de 2008. Entretanto, outras ações diferenciadas que se destacaram nos primeiros anos de atividades da Estação Ciências foram se concretizando durante os anos, além das monitorias: algumas formações de professores , voltadas para a área de Ciências e Física; Concurso Científico, denominado “Jovem Cientista”, voltado para alunos do Ensino Fundamental II da Rede Municipal de Ensino, que tinha por objetivo revelar e premiar jovens talentos que se destacassem com trabalhos científicos nas áreas de Física, Química, Biologia, Astronomia, Matemática. Nesta ação, a seleção dos trabalhos era feita por uma comissão designada, a partir de critérios como: criatividade, originalidade, fidelidade à área e demonstração prática de um conhecimento teórico.

20

A partir do ano de 2009, a Estação Ciências passou a funcionar sob o governo do Sr. João Gualberto Fattori.