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Monitorias interativas na Estação Ciências

2013 Quadro geral das visitas da Estação Ciências

PROGRAMAÇÃO/AÇÃO (operacionalização dos

4.2 Atividades educacionais da Estação Ciências

4.2.1 Monitorias interativas na Estação Ciências

De acordo com o relatório da Estação Ciências de 2010, as monitorias na Estação Ciências “Profª. Neide Terezinha Canal Pereira” são consideradas monitorias interativas por propiciarem a interação dos visitantes com os aparelhos disponíveis e, ao mesmo tempo, a interação constante com o monitor e outros visitantes. Elas visam oferecer a oportunidade de interação entre os sujeitos envolvidos - alunos, monitores, professores e objetos de estudo -, valorizando as interações entre eles, o conhecimento prévio dos alunos, suas hipóteses, o confronto de ideias e a construção do conhecimento por meio das interações. (ESTAÇÃO CIÊNCIAS, 2010)

Alguns desses objetivos permeavam as monitorias da EC desde sua origem, a saber que desde sua inauguração os alunos podiam interagir com os monitores e, ao final das explicações, interagir com os equipamentos. Entretanto, a partir de 2009, tais objetivos foram escritos e procurou-se a partir deles desenvolver estratégias para que a interação se intensificasse em seus vários aspectos: monitor X alunos visitantes, alunos X alunos, alunos X professores visitantes; alunos X equipamentos. Para isso, foi preciso estruturar as monitorias de modo que para cada

aparelho fossem criadas perguntas ou situações problematizadoras que levassem os alunos a refletir sobre elas, falassem sobre suas experiências, expusessem seus conhecimentos a respeito, testassem suas hipóteses (quando possível) e chegassem juntos a determinadas conclusões, fossem elas confirmando ou refutando suas hipóteses iniciais. Nem sempre o planejamento de tais perguntas e situações levavam a um resultado igual em cada uma das monitorias e isso possibilitava enriquecê-las ainda mais. Tais perguntas ou situações se constituíam em desafios lançados aos alunos.

Nesse contexto, os desafios para o mediador mudavam entre uma monitoria e outra, bem como os desafios lançados por ele para os alunos visitantes também. Para Mora (2007), numa exposição, o desafio está associado ao processo de mediação, requer transformar os experimentos em perguntas aos visitantes e quem faz essa mediação é o monitor.

De a acordo com a experiência da autora desta investigação no desenvolvimento de monitorias na Estação Ciências, a capacidade de desafiar o visitante, principalmente adequando os desafios às faixas etárias, não é uma tarefa simples e fácil, exige formação, experiência e compreensão de que, na função de monitor, este representa a própria instituição. Além disso, a proposta pedagógica da instituição deve permear todo processo e o mediador não pode se esquecer de que não está agindo por si só, nem como um professor em aula convencional no ambiente escolar. Seu papel é outro, é o de mediar em um museu de ciências, e isso exige empenho constante.

A possibilidade de levantar hipóteses, por meio da mediação, a partir de um problema, é uma oportunidade de o aluno expor suas ideias interagindo com outros alunos, com o monitor, sem ter a preocupação de que pode estar errado. As hipóteses são “conjecturas, palpites, soluções provisórias, que tentam resolver um problema ou explicar um fato. Ao formular hipóteses, o cientista pode dar vazão à sua imaginação e criatividade, aproximando a atividade científica da criação em sua obra de arte” (GEWANDSZNAJDER, 2010, p.18).

As hipóteses têm a função de articular e fazer dialogar a teoria, a observação, e a experimentação e, uma vez formulada, tem dois caminhos a seguir: a confirmação positiva ou negativa. (CACHAPUZ, et al. 2005). Essa afirmação não significa que, ao se ter uma confirmação positiva, a resposta seja verdadeira e em uma confirmação negativa a resposta seja falsa. O que se deve ter claro é que, as hipóteses fazem parte do processo de construção do conhecimento científico, e este, por sua vez, está em constante processo de construção e reconstrução, conforme destacado a seguir:

O conhecimento científico é um constante jogo de hipóteses e expectativas lógicas, um constante vaivém entre o que pode ser e o que “é”, uma permanente discussão e argumentação/ contra argumentação entre a teoria e as observações e as experimentações realizadas. (CACHAPUZ et al, 2005, p.92)

O erro também tem importância fundamental nesse processo de reconstrução do conhecimento. Carvalho (1998) destaca que o ensino construtivista deve tentar entender o erro e transformá-lo numa situação de aprendizagem. Para ela, o erro deve ser compreendido a partir da estrutura de pensamento do aluno e dessa forma proporcionar a ele conflitos cognitivos a fim de que construa novos conhecimentos.

No artigo “As monitorias interativas e a valorização dos conhecimentos

prévios dos alunos para a aprendizagem de conhecimentos científicos”, produzido

pela Estação Ciências, o experimento da cama de pregos foi escolhido para exemplificar como se dá a monitoria interativa na perspectiva da construção do conhecimento, permitindo aos alunos expressarem suas hipóteses, testarem-nas, confrontarem-nas com as ideias de outros alunos e juntos construírem novas explicações.

Segue abaixo, um trecho do artigo em que a cama de pregos é destacada durante uma monitoria. Além de valorização do conhecimento prévio do aluno, destaca-se a importância do teste de suas hipóteses:

Por isso, a importância de fazer com que os alunos menores “testem” suas hipóteses quanto a acreditarem que os pregos eram de borracha, permitindo que reconstruam suas verdades. Um dos alunos, ao verificar que sua explicação inicial já não condizia com o observado, perguntou para a professora monitora: “Por que então não machuca?” e a professora devolveu a pergunta ao grupo novamente.

Aos poucos, relacionando as respostas pessoais com as respostas dos colegas, confrontando a interação com o objeto, retomando suas explicações e reelaborando-as, os alunos completam uns as falas dos outros:

1- “Por que quando você pisa no prego, é com toda a sua força! Na cama não, você espalha seu peso nela.” (Turma C)

2- “É que o peso fica dividido um pouco pra cada prego e não em um só.”(Turma D)

3- “Mas se tivesse um preguinho mais pra cima aí na cama iria machucar, né?”(Turma D)” (BORTOLETTO, 2009, p. 9)

O trecho da monitoria, destacado pelo artigo, revela o momento em que o aluno põe em xeque a sua primeira hipótese de que, ao se sentar na cama de pregos, eles machucariam. A professora monitora poderia ter explicado, logo de início, o motivo pelo qual os pregos não machucavam, mas optou por questioná-los sobre os possíveis motivos fazendo com que os próprios alunos chegassem às suas conclusões. Nota-se no trecho apresentado que o diálogo entre os alunos ocorre espontaneamente e a interação entre eles é estimulada pela observação do fenômeno físico.

A função do mediador é fundamental para que tal interação ocorra de modo a possibilitar que os alunos deem explicações para o fenômeno observado, ouçam uns aos outros e, ao mesmo tempo, vivenciem na prática a confirmação ou negação de suas hipóteses.

Para Mora (2007), algumas técnicas de mediação como aquelas em que são “apresentadas inicialmente aos visitantes, questões que qualquer um se colocaria diante de um certo objeto promovem a observação, ajudam na descoberta de informações sobre o tema tratado” (p.25). Conforme apontado por Moraes, algumas perguntas feitas aos visitantes, durante uma monitoria, podem auxiliar nessa observação, como por exemplo: Onde vocês viram isso antes? Como funciona? O que se pode fazer com ele? As respostas geram interesse por saber mais sobre os equipamentos e objetos observados.

Outro aspecto importante a ser considerado refere-se à adequação da linguagem ao nível de compreensão dos visitantes, principalmente quando se trata de grupos escolares, sob a pena de o mediador não conseguir a atenção dos mesmos se não adequar a sua linguagem à faixa etária, ao grau de escolaridade e às expectativas do grupo. Mora (2007) destaca a importância de o vocabulário e as expressões usadas pelos mediadores serem compatíveis e adaptáveis ao visitante considerando o nível de pensamento dos mesmos.

Na visão do monitor da EC, entrevistado nesta pesquisa, a adequação da linguagem era fundamental para o sucesso da monitoria, conforme destaca:

Primeiro eu procurava ver qual que era a sala da turma. Então se fosse uma sala mais velha, por exemplo, nono ano ou ensino médio, dá uma liberdade de falar de um jeito mais específico, mais aprofundado até de cada assunto ou aparelho. Se fosse uma turma mais nova eu procurava os aparelhos que possibilitavam eu usar uma linguagem não tão científica, acho que eu posso usar esse termo, uma linguagem menos profunda naquele assunto [...] (INT 012)

Observa-se a preocupação do monitor com a linguagem a ser utilizada com alunos maiores e menores, em níveis de escolaridade diferentes, bem como a utilização de linguagem científica, mais ou menos aprofundada, de acordo com tais níveis. Percebe-se também, a preocupação com o planejamento da visita, pois ele procurava saber qual a sala ou turma visitante para que as adequações fossem feitas. Segundo o mesmo monitor, as mediações não ocorriam de maneira aleatória, com explicações sempre iguais. Havia a preocupação não somente com a linguagem utilizada, mas também com os circuitos ou roteiros escolhidos para cada turma visitante e com a maneira de explorá-los:

Em geral, dependendo do aparelho e do assunto que ele21 estava tratando

eu escolhia se ia, por exemplo, testar o aparelho antes e depois ajudar as crianças a descobrirem o que que ele fez; ou qual que era a explicação por trás; ou se de repente a gente começava explicando algum assunto e introduzindo alguma coisa, daí eu testava os aparelhos e depois as crianças chegavam na resposta do que estava acontecendo ali por trás. (INT 012)

A maneira de explorar cada circuito da monitoria levava em consideração o conteúdo que o professor havia desenvolvido em sala ou que ainda viria a trabalhar, como forma de complementação ou introdução de conteúdos, respectivamente. A decisão tomada pelo monitor sobre a exploração do circuito implicava também na escolha das estratégias adequadas a ele.

De modo geral, durante as monitorias interativas da EC, independente da estratégia utilizada pelo monitor, um ponto em comum é que as respostas sobre os fenômenos observados pelos alunos nunca eram dadas de maneira pronta, sem que antes tivessem questionamentos, problematizações, contextualizações e o monitor propusesse o teste dos equipamentos para a inferência sobre seu funcionamento.

A imagem a seguir demonstra o momento de uma monitoria em que um dos alunos testa um equipamento. Isto é, após ser questionado sobre qual dos sacos de areia era mais pesado, o aluno foi comprovar sua hipótese.

Imagem 10- Monitoria interativa na Estação Ciências Prof. Neide Teresinha Canal Pereira – Itatiba/ SP – 2009