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5. A VISÃO DOS ATORES SOCIAIS SOBRE O DESENVOLVIMENTO

5.5. As Políticas Públicas de Turismo na Paraíba

O especialista em turismo diz que o grande problema do turismo na Paraíba são as políticas públicas deficitárias. Ressalta ainda:

Eu reconheço que nos últimos tempos há muitos esforços para se promover o turismo. Ações da secretaria de turismo do estado, da PBTUR em divulgar, a construção do centro de convenções, o que eu vejo também com algumas reservas, nós temos percebido um esforço. Entretanto, a Paraíba peca do ponto de vista histórico. Nunca houve um planejamento de médio e longo prazo para o desenvolvimento do turismo. Tudo é muito emergencial, tudo é muito diante das necessidades e de um certo empirismo na visão dos governantes, quando deveria ter um plano estratégico, um plano de desenvolvimento a médio e longo prazo, mas feito com seriedade, feito com profundidade, com profissionalismo, com pessoas capacitadas, e não alguns planos que foram feitos de maneira emergente, mais para atender as necessidades de política. Ou seja, se faz o plano para se dizer que fez alguma coisa. Inclusive sem estudo de exeqüibilidade de tal plano ou de tais planos.

(Especialista em turismo, 2013) O especialista diz ainda que sim, é possível o turismo ser sustentável e promover a distribuição de renda. Entretanto, não é o que ocorre na Paraíba. Para ele, impera no estado a lei do mercado, havendo apenas ações unilaterais do turismo, onde o capital se aproveita da configuração turística local, tanto cultural como ambiental, explorando-se as vocações, as capacidades, os atrativos da cidade, do estado, para o investimento do capital, restando para a população apenas o emprego. Embora alguns desses empregos sejam bem remunerados, de posições diretivas, executivas, para a maioria da população sobram as atividades mais de frente, atividades mais básicas, de prestação de serviços, como serviços de atendente, recepcionistas, garçons, arrumadeiras e mensageiros. Profissões que acabam não tendo uma remuneração condizente para que os profissionais dessa área tenham uma vida mais equitativa daqueles que mantém o capital.

Isso é muito problemático porque diante da fragilidade econômica do país, da região, esses empregos atraem uma mão de obra barata e essa mão de obra barata se dirige para os grandes centros, como é o caso de Fortaleza, Natal, Salvador, Recife, João Pessoa, e os salários que elas ganham são incompatíveis para uma qualidade de vida numa grande cidade. Por isso a favelização das cidades.

(Especialista em turismo, 2013) Cruz (2002) relaciona essa favelização com a falta de interação entre as políticas setoriais e participações equivocadas do poder público, seus erros e omissões. Além disso, é uma realidade que, como relata o especialista em turismo, ocorre em várias cidades turísticas, caracterizando-se como um padrão no desenvolvimento do turismo a nível nacional devido ao mau planejamento (ou não planejamento) da atividade.

A representante da APAN considera as PPs direcionadas para o turismo muito incipientes se analisadas como um todo, principalmente por serem direcionadas mais para o litoral e sempre na perspectiva do desenvolvimento do turismo do ponto de vista econômico. Para ela, não se fala em um turismo que contemple também a comunidade local, não há um desenvolvimento sustentável do turismo, mas sim um crescimento visando apenas o econômico.

Essa fala da representante da sociedade civil organizada corrobora os dados apresentados neste trabalho: a concentração no número de habitantes, concentração na representação do PIB do estado, concentração na consideração da rede hoteleira apenas em João Pessoa e Campina Grande para pesquisas, ou seja, um planejamento e desenvolvimento desigual no estado da Paraíba.

Para a diretora da ONG, a primeira preocupação ao se realizar algum empreendimento turístico deve ser a qualidade de vida dos residentes. Ter a preocupação com a questão do meio ambiente, se preocupar com a qualidade de vida das pessoas, em absorver a mão de obra local, evitando assim um turismo excludente. Todavia, não é o que a defensora do meio ambiente acredita existir em João Pessoa. Para ela, os moradores locais estão cada vez mais distantes dos equipamentos turísticos, inclusive pelo preço geralmente cobrado.

Essa afirmação da representante da APAN revela uma inversão na devida valorização do Estado, que planeja uma atividade pensando em visitantes ao invés de seus moradores locais, de se preocupar com o bem-estar daqueles que pagam seus impostos e esperam seu retorno.

A gestora da PBTUR diz, ainda, que há uma forte relação entre a PBTUR e a mídia, sendo a imprensa a mola propulsora para alavancar qualquer destino. De acordo com a entrevistada, a PBTUR, órgão que lida diretamente com a promoção e divulgação do estado, tem forte relação com a mídia da Paraíba, do nordeste, do Brasil, e até mesmo do exterior.

Segundo a gestora estadual, há integração e diálogo – intenso e produtivo – entre os diversos setores de governo. Segundo ela, o governador do estado, Ricardo Coutinho, exige a participação das diversas secretarias que podem envolver uma obra. Coloca que a secretaria de turismo depende, principalmente, da secretaria de segurança pública, de comunicação, secretaria da mulher e da diversidade humana e secretaria da ação social. Além disso, disse que a gestão em que atua dá continuidade a projetos da gestão passada, embora não tenha recebido nenhum projeto de grande magnitude na PBTUR. Ressaltou:

O dinheiro pertence ao povo da Paraíba e a gente tem que dar uma resposta para o povo. Essa história de você pegar uma coisa que já foi investido dinheiro e você não dar continuidade é pelo menos, no mínimo, irresponsável. Então aqui a gente sempre tem essa visão, entendeu. Tem, vamos trabalhar; tem que fazer isso, vamos fazer, independente de quem começou, de quem vai terminar.

(Presidente da PBTUR, 2013) A presidente da PBTUR disse ainda que a política pública serve para nortear a iniciativa privada, sendo sua implementação fundamental, pois não adianta criar um programa e não executá-lo.

Já com relação às possibilidades de turismo, a diretora da APAN, ao falar de turismo sustentável, discorre:

a gente não pensa só no nosso lado de preservar o meio ambiente, de ser um turismo ecológico, mas de ser um turismo que seja para sempre, que tenha essa referência eterna de que todos os anos as pessoas virão para ter aquela mesma qualidade, aquele mesmo atendimento. Então a gente pensa nesse turismo sustentável dessa forma, englobando tudo, o homem como um todo sendo respeitado, a natureza sendo respeitada, e também, obviamente, a questão econômica e social porque envolve as pessoas. Então a gente acredita que dá sim e que a Paraíba pode fazer diferente.