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Implicações jurídicas para o turismo: aspectos legais e administrativos

1. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E TURISMO

1.3. Implicações jurídicas para o turismo: aspectos legais e administrativos

Não é pequena a importância da atividade turística nesse início de século. As exigências laborais, o estresse do dia-a-dia, as rigorosas rotinas diárias, fazem o corpo e a mente necessitarem de um tempo de lazer, de ócio, um tempo para relaxar e descansar. Nesse cenário, muitos trabalhadores se tornam turistas para aproveitar seu tempo livre e suas férias remuneradas, ressaltando que o lazer e o turismo ainda são um privilégio de certas classes e grupos sociais.

Dada a importância sócio-econômica e ambiental da atividade, vale ressaltar os aspectos legais e administrativos que norteiam o turismo e servem de base para os gestores, empresários, turistas e comunidades locais. Vale ainda complementar que os equipamentos turísticos, sejam eles hotéis, restaurantes, parques temáticos, etc., servem não somente aos turistas, mas a toda população local e circunvizinha (ou deveriam), que pode (e deve) também se utilizar deles em seu tempo livre e de lazer.

A Constituição Federal do Brasil de 1988 garante, em seu artigo 6º, dentre os direitos sociais do cidadão brasileiro, o direito ao lazer:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. Estando o lazer assegurado ao cidadão brasileiro pela Constituição Federal, lei máxima de um Estado, sendo os equipamentos de turismo e lazer utilizados tanto pelos cidadãos e turistas nacionais e estrangeiros, torna-se de suma importância refletir acerca de seu aparato jurídico.

O turismo é uma atividade que depende diretamente de atrativos para a sua realização, sejam eles naturais ou culturais, utilizando-se desses ambientes para gerar diferentes oportunidades de lazer e consumo a fim de atender a uma demanda heterogênea, o que significa a necessidade de diversidade nessa produção. Contando com opções de lazer na praia, montanha, desertos, campos, neve, dentre outros exuberantes cenários. Há, ainda, opções para diferentes estratos de renda, desde turismo de massa a turismo de alto luxo.

Pelo anterior, a atividade turística deve ser realizada tendo em vista um ecossistema equilibrado já que, além de se apropriar dos recursos naturais e culturais, trabalhar em busca da sua sustentabilidade faz com que essa atividade possa se realizar em longo prazo. Do contrário, a degradação do meio ambiente e da cultura local levará, inevitavelmente, ao desaparecimento do atrativo, provocando, consequentemente, o desinteresse do turista por esta região com notáveis perdas econômicas para os dependentes do setor turístico.

Pensando em um segmento da atividade que busque conciliar seu crescimento econômico e seus impactos sócio-ambientais, tem-se o turismo sustentável, que mantém a qualidade do ambiente em que as atividades são baseadas através da gestão responsável dos recursos para o uso das gerações presentes e futuras (MIDDLETON, 1998 apud FREY; GEORGE, 2009). Desenvolver uma atividade é levar em consideração outras dimensões, em oposto ao crescimento baseado no aumento do produto, em critérios exclusivamente econômicos.

A Lei Geral do Turismo nº 11.771/08, em seu inciso VIII do artigo 5º, contempla os objetivos da Política Nacional de Turismo e traz a promoção da atividade turística como veículo de educação e interpretação patrimonial9, além de incentivar a adoção de condutas e práticas de mínimo impacto compatíveis com a conservação do meio ambiente natural.

Além disso, a Política Nacional de Turismo prevê também, em seu artigo 6º, a elaboração do Plano Nacional de Turismo pelo Ministério do Turismo, onde este deve promover:

VI - a proteção do meio ambiente, da biodiversidade e do patrimônio cultural de interesse turístico;

VII - a atenuação de passivos socioambientais eventualmente provocados pela atividade turística;

9 A interpretação patrimonial pode ser definida como uma estratégia de apresentação do patrimônio que utiliza

um conjunto de técnicas de comunicação a fim de facilitar a interação entre o patrimônio e a sociedade (MORALES, 2004, apud PIRES; FERREIRA, 2007).

VIII - o estímulo ao turismo responsável praticado em áreas naturais protegidas ou não;

Estes incisos da Política Nacional de Turismo estão em consonância com o artigo 225 da Constituição Federal Brasileira de 1988, que garante a todos o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, impondo ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Não obstante, o parágrafo 3º do artigo 225 implica sanções penais e administrativas, independente da obrigação de reparar eventuais danos causados, às condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente, sejam os infratores pessoas físicas ou jurídicas.

Assim, a Lei n. 9.605/98 dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, tratando de crimes contra a fauna e a flora, poluição e outros crimes ambientais, crimes contra a administração ambiental e também contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural.

Ressalta-se o avanço da Constituição Federal de 1988 na proteção ao meio ambiente, pois pela primeira vez no Brasil a tutela ambiental é elevada à categoria de direito fundamental de todo cidadão no texto constitucional (COSTA, 2007).

Já com relação à ordem econômica e financeira do Brasil, a CF/88 trata da atividade turística em seu artigo 180 e diz:

Art. 180. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios promoverão e incentivarão o turismo como fator de desenvolvimento social e econômico.

Assim, compete a todos os entes federados – União, Estados, Distrito Federal e Municípios – a promoção do turismo, sendo visto não somente como fator de desenvolvimento econômico, como também de desenvolvimento social.

Nesse sentido, a Política Nacional de Turismo, instituída pela Lei Geral do Turismo nº 11.771/08 tem dentre seus objetivos elencados no artigo 5º, a redução das disparidades sociais e econômicas dentre as regiões brasileiras10, de modo a beneficiar as regiões menos desenvolvidas:

10 Por exemplo, O Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste – Prodetur/NE, que procura ampliar e

modernizar a infraestrutura turística do Nordeste do Brasil. Através de investimentos em infraestrutura básica e em serviços públicos em áreas de expansão turística, o programa busca contribuir para o desenvolvimento sócio- econômico regional.

II - reduzir as disparidades sociais e econômicas de ordem regional, promovendo a inclusão social pelo crescimento da oferta de trabalho e melhor distribuição de renda;

IV - estimular a criação, a consolidação e a difusão dos produtos e destinos turísticos brasileiros, com vistas em atrair turistas nacionais e estrangeiros, diversificando os fluxos entre as unidades da Federação e buscando beneficiar, especialmente, as regiões de menor nível de desenvolvimento econômico e social;

Esses objetivos expressos na Política Nacional de Turismo se coadunam com os incisos II e III do artigo 3º da CF/88, que versa sobre os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

II - garantir o desenvolvimento nacional;

III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

Compreendendo a capacidade da atividade turística de auxiliar no desenvolvimento social e redução das desigualdades, há projetos, planos e programas internacionais e nacionais que utilizam o turismo com o objetivo de aliviar a pobreza11.

Além disso, até a Lei 6.938/81 que institui a Política Nacional do Meio Ambiente, em seu anexo III, coloca complexos turísticos e de lazer, inclusive temáticos, como atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos ambientais.

Com relação à atuação do poder público, o parágrafo único do artigo 3º da Lei Geral do Turismo nº 11.771/08 traz que:

Parágrafo único. O poder público atuará, mediante apoio técnico, logístico e financeiro, na consolidação do turismo como importante fator de desenvolvimento sustentável, de distribuição de renda, de geração de emprego e da conservação do patrimônio natural, cultural e turístico brasileiro.

Ao observar a Constituição do Estado da Paraíba (1989), percebe-se a proteção e valorização do meio ambiente em seu artigo 227, que considera o meio ambiente de uso

11 Dentre eles, vale ressaltar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) lançados pela Organização

das Nações Unidas, que tem como primeiro objetivo erradicar a pobreza extrema e a fome. Inspirados pelos ODM, a Organização Mundial do Turismo lançou o Programa Turismo Sustentável para a Eliminação da Pobreza e o Ministério do Turismo lançou no Brasil o Projeto de Aperfeiçoamento dos Programas Regionais de Desenvolvimento do Turismo, visando ao Alívio da Pobreza.

comum do povo e essencial à qualidade de vida, e diz que, para assegurar esse direito, compete ao poder público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais;

II - proteger a fauna e a flora, proibindo as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção da espécie ou submetam os animais à crueldade;

III - proibir as alterações físicas, químicas ou biológicas, direta ou indiretamente nocivas à saúde, à segurança e ao bem-estar da comunidade;

[...]

VI - preservar os ecossistemas naturais, garantindo a sobrevivência da fauna e da flora silvestres, notadamente das espécies raras ou ameaçadas de extinção;

VII – considerar de interesse ecológico do Estado toda a faixa de praia de seu território até cem metros da maré de sizígia, bem como a falésia do Cabo Branco, Coqueirinho, Tambaba, Tabatinga, Forte e Cardosa, e, ainda, os remanescentes da Mata Atlântica, compreendendo as matas de Mamanguape, Rio Vermelho, Buraquinho, Amém, Aldeia e Cavaçu, de Areia, as matas do Curimataú, Brejo, Agreste, Sertão, Cariri, a reserva florestal de São José da Mata no Município de Campina Grande e o Pico do Jabre em Teixeira, sendo dever de todos preservá-los, nos termos desta Constituição e da lei;

[...]

Vale ressaltar o inciso VII, falando que remanescentes de Mata Atlântica devem ser considerados de interesse ecológico, pois ao decorrer do trabalho haverá muitas questões relacionadas a remanescentes desta vegetação no estado e a implementação de projeto turístico na área.

Pode-se assim perceber a relevância das implicações jurídicas para a atividade turística, que devem nortear seus rumos, suas ações, seus empreendimentos e serviços. Porém, além da legislação vigente cabível, outro importante aparato jurídico essencial ao turismo sustentável são os princípios jurídicos ambientais, que podem ser explícitos – claramente descritos na Constituição Federal e textos legais – e implícitos – não se encontram escritos, porém reconhecidos e acolhidos pelo sistema constitucional.