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1. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E TURISMO

1.2. Turismo e Sustentabilidade Ambiental

Independente de as pessoas usufruírem em diferentes intensidades os benefícios da civilização industrial (ou não o fazerem), todos são afetados pelos impactos causados por ela. Eriksson (1999) destaca a necessidade de ampla educação e efetiva participação da sociedade, com decisões tomadas com responsabilidade e consciência na busca de uma sociedade igualitária e de qualidade de vida.

Leff (2001) também coloca a educação como um processo estratégico na formação de valores, habilidades e capacidades que orientem o processo de transição para a sustentabilidade, capaz de gerar uma modificação nas consciências, transformando a ordem econômica, política e cultural. Isso porque:

a consciência ambiental promove ações e mobiliza forças sociais que propiciam o aproveitamento sustentável dos recursos e a redução dos níveis de contaminação, melhorando as condições ambientais e a qualidade de vida da população (LEFF, 2001, p. 214).

Segundo o mesmo autor (LEFF, 2001, p. 246), “os desafios do desenvolvimento sustentável implicam a necessidade de formar capacidades para orientar um desenvolvimento fundado em bases ecológicas, de equidade social, diversidade cultural e democracia

participativa”. Isto significa o direito à educação, à participação na gestão de processos produtivos e a definição da qualidade de vida, entre outros.

Loureiro (2008) fala da necessidade de haver um controle público para que se tenha uma gestão dos recursos ambientais, com uma política que tenha como finalidade satisfazer as necessidades biológicas básicas, como alimentação, ar puro, água potável, etc., criticando, contudo, a democracia atual, que faz a população ter pouca chance de participação, sendo pautada exclusivamente nas eleições.

Segundo Binswanger (1999, p.41), “desenvolvimento sustentável significa qualificar o crescimento e reconciliar o desenvolvimento econômico com a necessidade de se preservar o meio ambiente”, incluindo-se a distribuição social dos benefícios, a participação dos cidadãos, a equidade regional, a valorização das culturas locais e a diversidade. Portanto, para que haja a possibilidade de haver tal desenvolvimento, são necessárias políticas que realmente incorporem esse tema. Mas, como cita Begossi (1999, p. 64),

no caso específico do Brasil, as políticas carecem de respaldo científico e cooperação local, e refletem a inexistência de competência técnica e infraestrutura nas organizações governamentais que possam manter tais políticas. Também são freqüentes conflitos entre organizações governamentais federais e estaduais e pesquisadores com relação a projetos de pesquisa e a prioridades.

Além dos problemas citados pelo autor, as políticas são inerentemente contraditórias e não conseguem aplicar na prática o que dizem, o que está no discurso e nas promessas. Não conseguem representar efetivamente a maioria dos cidadãos.

Partindo para as políticas de turismo, devido ao aumento da importância da atividade turística para as economias locais, quando estas passam a ser valorizadas por alguns segmentos, a exemplo do turismo comunitário, turismo de base local, ecoturismo, turismo sertanejo, turismo rural, dentre outros, surgem novos desafios8 na formulação e aplicabilidade das políticas de turismo, que aos poucos se incorporam na gestão pública. São desafios estruturais que persistirão até que a população, a sociedade civil organizada, amadureça, atinja um nível de cultura política de cobrança sistemática, de resistência e luta.

Com relação ao turismo de base local, Carvalho destaca seus benefícios quando planejado e executado de forma correta:

8 Conscientizar os atores envolvidos (comunidade local, gestores e turista) sobre a importância da preservação do

patrimônio ambiental e cultural, sobrepor os interesses ecológicos aos econômicos, inclusão social, dentre outros.

Pensando em indicadores de avanço coletivo: o ingresso de capital nos pequenos municípios, mais trabalho e empregos, inclusão dos excluídos, participação democrática, benefícios na economia local, infraestrutura de apoio ao turismo também para o residente, conservação do meio ambiente e ao patrimônio cultural. (CARVALHO, 2007, P. 33)

Já Novaes (1998, p.35) coloca que o turismo sustentável implica em “proteção do meio ambiente, bem estar da comunidade residente, satisfação do turista e desenvolvimento econômico da geração atual e, principalmente, das gerações futuras”, incluindo o estudo de capacidade de carga e respeitando as relações de interdependência do sistema de turismo.

A mesma autora cita que a eficiência e viabilidade da atividade turística em médio e longo prazo só são possíveis quando garantido a preservação dos recursos naturais e culturais, ou seja, gerando um desenvolvimento sem degradação e destruição dos recursos. Dessa forma, o turismo de base local é um turismo sustentável, desde que cumpra os objetivos mencionados, pois atinge as dimensões sociais, econômicas, culturais e ambientais do desenvolvimento.

Pensando economicamente, o turismo é uma atividade que usa e se apropria dos recursos naturais, transformando-os em espaços de lazer e consumo, gerando impactos não só ambientais como também sociais, causados em diferentes graus. Contudo, não se pode negar a importância econômica, social e espacial de tal atividade (CORIOLANO, 2007a). Vale salientar que o turista é atraído pelas qualidades estéticas dos atrativos naturais (BOULLÓN, 2002), o que ressalta a importância de preservá-los.

Coriolano (2007b, p. 19) comenta que “o turismo usa e apropria-se da natureza ou ambientes naturais e de ambientes produzidos como cidades, vilas, comunidades, gerando impactos que podem ser discutidos como uma questão de (in) sustentabilidade social e ambiental”, sendo assim, “turismo e meio ambiente são realidades inseparáveis [...] o turismo se apóia na conservação dos recursos”.

Claro que a atividade turística não é a única responsável pela degradação atual do planeta, mas teve e tem sua colaboração, como qualquer atividade orientada por uma lógica mercantil exclusiva. Não se pode negar a questão da exploração de locais paradisíacos para resorts e cadeias hoteleiras, com a consequente expansão das atividades ligadas ao turismo, como restaurantes, produção de resíduos, água e esgoto, problemas urbanos com o crescimento desordenado e especulação imobiliária estão atualmente atrelados ao modelo sistematicamente adotado e reproduzido.

Visto a atividade turística estar intimamente ligada ao meio ambiente e, caso realizada sem planejamento leve a uma atividade que degrada o mesmo, suas políticas devem ter um

aspecto voltado para a preservação dos ecossistemas, gerando turistas que incorporem certa responsabilidade com relação àquilo que consumirão. Igualmente deve estar a comunidade local envolvida nesse processo, reconhecendo e valorizando seu patrimônio ambiental e cultural.

Dessa forma, o tópico seguinte vem trabalhar as implicações jurídicas para o turismo, incluindo a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, a Constituição Federal de 1988, e outras que se relacionam diretamente com a atividade em questão e fornecem suporte à conservação e preservação dos recursos naturais diante de uma atividade principalmente econômica, mas com decorrências diretas na ordem social e nos recursos ambientais.