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3. POLÍTICAS PÚBLICAS EM JOÃO PESSOA

3.1. Complexo Turístico Cabo Branco (1988 – dias atuais)

Sendo planejado no governo de Tarcísio Miranda Burity (1987-90), o projeto21 foi inspirado nos projetos turísticos do México e teve como autor o arquiteto Luciano Agra, prefeito de João Pessoa de 2010-2012. A implementação do Complexo Turístico Cabo Branco, no final da década de 80, deu-se por causa da deficiência na infraestrutura turística do estado e pela considerável atratividade natural existente na Paraíba. Situa-se em uma área, até então não urbanizada, de 560 hectares no litoral sul de João Pessoa.

Segue foto da área delimitada destinada à construção do empreendimento, antes do início das obras:

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FIGURA 03: Área destinada à construção do Centro de Convenções, parte do

Complexo Turístico Cabo Branco

Fonte: PBTUR, 2009.

O Complexo Turístico, que era uma das prioridades do Prodetur-PB, “seria a principal base para o desenvolvimento do eixo litorâneo, localizado ao litoral sul do município de João Pessoa e deveria ser dotado de equipamentos hoteleiros e de infraestrutura de apoio compatíveis com a previsão de implantação de um total de 2.700 UH’s (unidades habitacionais)” (MOURA, 2008, p. 46).

Entretanto, a única etapa do projeto cumprida foi a implantação de parte da infraestrutura básica (abastecimento de água, esgoto sanitário e iluminação) no final da década de 80. Ainda assim, devido ao abandono da região gerado com a mudança de governo e divergências entre o Governo do Estado e a Prefeitura Municipal da capital paraibana (paralisado por duas décadas), já se encontrava em más condições quando o projeto foi retomado em 2009 (LEAL, 2001; MOURA, 2008; MOURA & GARCIA, 2009).

Com relação à área destinada ao projeto, tem-se uma faixa de orla marítima de grande interesse econômico, compondo uma região de Mata Atlântica e ecossistemas a ela associados, como também falésias e praias, constituindo uma área privilegiada com considerável valor paisagístico e ecológico (MOURA & GARCIA, 2009).

A área destinada ao Complexo Turístico Cabo Branco foi distribuída no projeto como mostra a figura a seguir:

FIGURA 04: Planta de zoneamento do Complexo Turístico Cabo Branco

Fonte: material cedido pela PBTUR.

Através desta ilustração, pode-se ter uma ideia da dimensão do projeto, bem como sua divisão, em área destinada a residências, outra para o setor de comércio e serviços, para o setor hoteleiro, a área do Centro de Convenções (no centro), áreas de preservação, entre outros.

Esse plano foi embargado em 1988 por não estar de acordo com as recomendações do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) de preservação para obras dessa magnitude. Após 21 anos, ao reassumir o Governo do estado da Paraíba em 2009 por ter sido segundo colocado nas eleições de 2006 (após a cassação de Cássio Cunha Lima), José Maranhão determinou que fossem cumpridas as exigências do IBAMA para a liberação da obra, sendo o Centro de Convenções o primeiro trabalho realizado (uma vez liberada e iniciadas as obras).

No ano de 2002, duas unidades de conservação foram decretadas dentro da área do projeto, o Parque Estadual de Jacarapé e Parque Estadual do Aratu. Entretanto, abandonados assim como o projeto, estas áreas foram aos poucos sendo ocupadas e hoje apresentam fortes sinais de desmatamento.

Costa (2002) fala do problema enfrentado pela maioria dos Parques tanto nacionais, como estaduais e municipais, que não possuem plano de manejo, nem estudos limitantes de áreas e possibilidades de exploração turística. A autora coloca que a falta do plano de manejo

dificulta a gestão da área, pois é um estudo que engloba conhecimentos em geografia, botânica, história, direito, geologia, etc., em conjunto com os saberes das populações diretamente envolvidas com a unidade de conservação. Trata-se de um instrumento regulador, que cria normas e auxilia no correto desenvolvimento da atividade turística.

A construção do Centro de Convenções é uma medida para estimular o setor privado a investir na área do projeto, pois a falta de qualquer equipamento turístico na área deixava os investidores receosos de não obterem sucesso, além da impossibilidade por conta do embargo. A PB-008 (rodovia Ministro Abelardo Jurema) é a rodovia que liga o empreendimento à João Pessoa e também foi construída através de recursos do Prodetur/NE I.

Segue imagem que mostra como será o futuro centro de convenções:

FIGURA 05: Futuro Centro de Convenções

Fonte: Disponível em: <http://www.isabelcaminha.com.br>. Acesso em: 20/07/13.

A foto a seguir é de dezembro de 2012 e mostra o avanço das obras na área do Centro de Convenções:

FIGURA 06: Avanço das obras do Centro de Convenções

Fonte: disponível em: < http://www.flickr.com/photos/olhos/8393482558/>, acesso em 20/07/2013.

No estudo fitossociológico – inventário florestal para fins de supressão – plano de controle ambiental de resgate – PCAR, disponibilizado pela Empresa Paraibana de Turismo S/A – PBTUR, tem-se que:

A concepção do projeto do Centro de Convenções do Estado da Paraíba a ser instalado na Cidade de João Pessoa difere de qualquer outro tipo de empreendimento, não podendo ser considerado como gerador de impactos ambientais de grande magnitude ou significância e assim interpretado. (PBTUR, 2009, p. 01)

Ainda no projeto, pode-se perceber alguns fatores colocados como justificativa para essa afirmação:

A paisagem natural sofrerá um impacto passando a coexistir com o moderno e tecnológico empreendimento, entretanto essa simultaneidade é fator de atração turística, geração de rendas, empregos e impostos, promovendo assim o desenvolvimento municipal e estadual (PBTUR, 2009, p. 01). Ao se evidenciar a geração de rendas, empregos e impostos em detrimento da preservação ambiental como desenvolvimento de uma região, verifica-se a concepção economicista e insustentável que orienta o projeto. Sabe-se que não é possível desenvolver22

22 O desenvolvimento genuíno requer soluções que atendam a três frentes: que sejam sensíveis ao social,

ambientalmente prudentes e economicamente viáveis. [...] deve obedecer ao duplo imperativo ético de solidariedade sincrônica com a geração atual e de solidariedade diacrônica com as gerações futuras, e deve se embasar num contrato social democraticamente estabelecido, complementado por um contrato natural (SACHS, 2001, p. 159-160).

uma região em detrimento do seu patrimônio natural, pois embora o resultado imediato possa ser considerado positivo, torna-se insustentável a médio e longo prazo pelos impactos negativos que causa ao ambiente e à qualidade de vida local.

Dos aproximados 33,52ha destinados ao empreendimento, 11,18ha são destinados à Reserva Legal averbado junto a SUDEMA e 15,65ha destinados às instalações do projeto, como teatro, salão de exposições e de eventos, restaurante, lojas, lanchonetes, serviços gerais e estacionamento. Há também áreas destinadas a jardins e vegetação nativa, como mostra o quadro a seguir:

QUADRO 08: Uso e ocupação da área – Centro de Convenções

Fonte: PBTUR, 2009.

O espaço destinado para a construção do centro de convenções equivale a 26 campos de futebol. Com relação às recomendações existentes no estudo, quando da limpeza e/ou supressão da vegetação, entre os cuidados que deverão ser observados tendo em vista os impactos ambientais, tem-se: “quando da supressão da vegetação recomenda-se que algumas espécies, considerando seu porte e importâncias, sejam preservadas caso não venham a alterar o projeto arquitetônico” (grifo nosso) (PBTUR, 2009, p.37).

A atual presidente da PBTUR diz que são terras pertencentes ao órgão estadual – PBTUR – e o Complexo Turístico Cabo Branco é um projeto que pretende incrementar o setor hoteleiro do estado da Paraíba como um todo, mas principalmente em João Pessoa. A gestora fala do projeto e faz uma comparação com a via costeira de Natal:

[...] foi uma área muito complicada, muito complexa porque é uma área de mata, de rio, de mangue, e foi feito acho que se não teve um estudo muito forte daquela história. Por outro lado, os empresários, são 19 empresários na área de hotelaria que pegaram os lotes, também não tiveram muita visão, talvez faltou dinheiro, faltou visão, faltou coragem pra investir. É tanto que pra você ter ideia, o Polo Turístico Cabo Branco foi lançado mais ou menos na mesma época

da via costeira em Natal. A via costeira deslanchou daquele jeito que você ta vendo, e nós não construímos um único hotel. Então, eu não participei diretamente, mas desde que entrei aqui que a gente vem falando sobre isso, é um problema muito sério, e agora, nessa gestão, nós estamos tentando destravar, já que o terreno pertence à PBTUR. Então a gente já fez a convocação dos 19 empresários inicialmente da hotelaria, porque ali é um complexo muito grande. Porque ali são mais de 600 hectares sabe, é muito grande, ali tem a parte hoteleira, a parte de entretenimento, a parte comercial, mas a gente acredita que a gente tenha que deslanchar primeiro a hotelaria, porque o governo já fez toda a parte de infraestrutura: estrada, luz, esgoto, água, saneamento, tudo foi feito, e agora o empresariado tem que começar a construir.

(Presidente da PBTUR, 2013) Segundo a gestora da PBTUR, estes empresários têm um prazo de três anos para estar com 50% da obra concluída. Do contrário, perderão seus terrenos e será realizada outra licitação pública.

Quando questionada sobre os conflitos ao longo da elaboração e implementação do complexo, a gestora comentou que sempre houve conflito por conta do fator ecológico. Afinal, como dito anteriormente, trata-se de uma área de mangue, mata atlântica, e essas obras destruiriam o patrimônio natural. Além disso, a entrevistada reconhece conflitos jurídicos existentes desde a elaboração do projeto.

Para a atual diretora da Associação Paraibana dos Amigos da natureza – APAN, o Polo Turístico Cabo Branco é a descaracterização dos últimos remanescentes de Mata Atlântica existentes na Paraíba. Trata-se de um conflito enfrentado pela ONG que dura mais de 20 anos, pois consideram que a implantação do Polo Cabo Branco irá retirar mais de 700 hectares de Mata Atlântica, mata que proporciona o bem estar de toda a cidade. A diretora salienta que esta luta será eterna, pois não desistirão de impedir a continuidade do projeto.

O especialista e professor de turismo entrevistado também reconhece que há problemas de ordem jurídica e ética no Complexo Turístico Cabo Branco, sendo um projeto desenvolvido sem o devido planejamento, a devida análise. Para o entrevistado, a forma com que as terras foram distribuídas favoreceu certas pessoas, próximas ao governador da Paraíba.

Já o Prodetur/NE vem para suprir as deficiências de infraestrutura de saneamento básico e de acesso (estradas, aeroportos). Podemos caracterizá-la, então, como uma política de turismo, mas que trabalha como uma política urbana, ou uma política compensatória, analisada a seguir.