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As principais características do Concertino N.1 para trombone e orquestra de cordas

3 O COMPOSITOR E INTÉRPRETE DA OBRA: PROCESSOS E

3.2 As principais características do Concertino N.1 para trombone e orquestra de cordas

O Concertino n.1 para Trombone e Orquestra de Cordas, do compositor Fernando Deddos, foi composta em 2013, encomendada e dedicada ao trombonista José Milton Vieira, primeiro trombone da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, e estreada no dia 18 de Novembro de 2013 com a Orquestra Sinfônica do Theatro São Pedro (OTSP). O compositor relata em entrevista que a parceria com o intérprete José Milton Vieira Leite surgiu em um festival de música do SESC/Pelotas – RS, em 2011. A sua primeira parceria com Vieira foi um duo, “Divertimento para trombone e eufônio”, dedicada ao professor e trombonista Gilberto Gagliardi pela sua importância na área dos instrumentos de metal no Brasil. Deddos fez citações de alguns dos temas do Gagliardi, que também era compositor. O compositor ressalta, ainda, que, durante um desses encontros, o Viera sugeriu ao compositor a criação de uma obra para trombone que fosse estreada com a Orquestra Sinfônica do Theatro São Pedro (DEDDOS, 2017).

Sobre o Concertino n.1 para Trombone e Orquestra de Cordas, Deddos comenta que a criação surgiu quando ele estava morando nos Estados Unidos, no final da sua formação de pós-graduação em performance musical na Duquesne University, onde se encontrava em parte afastado da atividade de composição pelo foco direcionado ao curso de mestrado em performance. E que o convite para compor uma obra para orquestra de cordas e trombone solista veio como um desafio para a continuidade de suas atividades como compositor.

[...] Eu tinha escrito uma outra peça de câmara lá e tive encomendas de uma brass band e pintou essa oportunidade de escrever pra cordas, o que eu tomei como um desafio. Eu já tinha orquestrado na universidade, mas pra uma orquestra profissional, eu ainda não tinha escrito, eu já tinha feito muitos arranjos, cordas e big band, trabalhei com direção de big band pop, big band de rock com pianista e acabei escrevendo pra cordas, mas pra eu escrever pra uma orquestra um Concertino seria uma tomada, um desafio. (DEDDOS, 2017).

Considerando os procedimentos de composição da obra, o compositor relata: “Ai o procedimento veio primeiramente de eu reestudar orquestração, as teorias. Gosto das coisas que o Samuel Adler escreve de orquestração. Isso veio como um desafio pra eu me estruturar pra escrever pra cordas. Então veio primeiro o estudo das cordas de melhor ou possível desses instrumentos pra eu escrever como orquestra de cordas” (DEDDOS, 2017). Para ele o trombone é um instrumento sobre o qual já havia um conhecimento prévio, porém é possível perceber na sua fala que houve uma interação entre compositor e intérprete no estímulo à criação da obra:

O trombone é um instrumento com que eu já tinha intimidade, então não teria maiores problemas. Isso foi um catalizador motivacional, o aprendizado! E as motivações musicais vieram sugeridas do próprio Milton de “o que você tem pensado?; você gosta muito de música brasileira, ritmos!” Daí eu vou pensar em unir o útil ao agradável, escrever uma peça que eu sei que seria com que o solista gostaria de se conectar, tentando me sentir confortável, mas experimentando o máximo que eu puder” (DEDDOS, 2017).

Neste contexto, Deddos comenta que buscou inspiração também em alguns Concertinos já consagrados, como o Concertino para Clarinete do Aaron Copland e o Concertino do Lars-Erik Larsson para trombone e orquestra de cordas, no qual ele explica: “Eu percebi que o trombone soava mais rapizódico, deliberado com mais liberdade em certos momentos e eu queria trazer essa mistura desse timbre... o trombone tem uma pomposidade orquestral, uma força; um brilho e eu queria trazer esse lado rapizódico do trombone e então eu já decidi antes que ia fazer algumas cadências” (DEDDOS, 2017). A partir desse comentário é possível observar as principais inspirações, obras que influenciaram o

compositor na criação do Concertino n.1 para Trombone e Orquestra de Cordas o que ajuda o intérprete a compreender algumas características peculiares, como, por exemplo, as nuances de caráter livre de andamento, logo no início do primeiro movimento.

A obra apresenta três movimentos interligados: Allegro Marcato, Andante poco rubato e Allegro Acelerado com algumas alterações de andamento dentro de cada movimento. A peça é repleta de variações rítmicas, buscando da música popular intertextos e alusões ao Frevo, à Marcha-rancho e à Guarânia, além de influências do choro (Silvestre e Oliveira, 2015). Considerando a análise estilística dos autores citados acima, bem como as influências da música popular, podemos observar, a partir das figuras abaixo, o esquema de desenvolvimento composicional de Deddos na criação da obra.

FIGURA 1 Manuscrito cedido pelo compositor: esquema composicional do Concertino N.1.

FONTE: Documento compartilhado pelo compositor

O compositor desenvolve as suas possibilidades através de rascunho em que ele atribui à obra uma forma específica como explica em entrevista: “[...] Eu gosto desse padrão rápido – lento – rápido. Não é necessariamente um A-B-A, mas eu sou um amante daquele discurso do texto: introdução, desenvolvimento e conclusão e não necessariamente que seja uma coisa que não possa ser continuada, mas nesse Concertino eu pensei numa estrutura já pensada antes” (DEDDOS, 2017). Nesse sentido, a partir da análise da obra, foi possível entender a forma estrutural do Concertino n.1 para Trombone e Orquestra de Cordas que se desenvolve na forma A-B-A, a partir de temáticas recorrentes, influenciados por diversos compositores e gêneros musicais, como podemos observar na próxima figura.

FIGURA 2 Manuscrito acerca da temática escolhida pelo compositor

FONTE: Documento compartilhado pelo compositor

A partir do manuscrito, observamos que o compositor seleciona algumas referências para que ele possa influenciar-se na criação da sua obra, nomes de compositores, peças e de gêneros musicais diversos com destaque no primeiro movimento para obras, como o Concertino do Lars-Erik Larsson para trombone e orquestra de cordas; música caipira, como o Rio de Piracicaba; música nordestina; compositores, como Heitor Villa Lobos e César Guerra Peixe. Para que possamos visualizar, segue na figura abaixo o tema do primeiro movimento.

FIGURA 3 Exemplo musical

FONTE: Arquivo do autor

Sobre o segundo movimento, o compositor relata ser uma valsa dedicada a sua esposa cuja melodia já existia, apenas foi orquestrada e inserida no Concertino N.1 como sendo o tema dois da obra.

“[...] No meu recital de mestrado eu fiz uma surpresa pra minha esposa que se chama Mariana. Eu reescrevi uma melodia simples, tem a ver com sonhos

porque ela sonha muito... e é baseada no nome Mariana que tem as temáticas Lá – Dó - Sol Fá” (DEDDOS, 2017).

Para que possamos visualizar, segue na figura abaixo o tema do segundo movimento.

FIGURA 4 Exemplo musical

FONTE: Documento compartilhado pelo compositor

Analisando a construção dos temas o compositor ressalta ainda: “[...] O que eu faço é separar temas que eu possa usar durante o concerto todo como, por exemplo, da sílaba do nome Mariana e temas que são mais ocorrentes. Então eu uso essas temáticas pra dar consistência e desenvolvo os pequenos momentos” (DEDDOS, 2017). É importante ressaltar que o tema do segundo movimento é recorrente em todo o Concertino, fazendo com que a obra obtenha uma unidade temática.

No terceiro movimento, o compositor comenta que se trata de um movimento mais experimental. Segundo o próprio Deddos, é uma homenagem a alguns compositores como Béla Viktor János Bartók de Szuhafő. “[...] O terceiro é uma mistura de um presto mais Bethoviano, uma coisa mais frenética e uma sonoridade entre Villa Lobos e Bartók” (DEDDOS, 2017). O compositor ainda ressalta que há uma grande mistura de populares, especialmente destaca os ritmos Chacarera e Frevo como sendo grande influência deste terceiro movimento. Para que possamos visualizar, segue na figura abaixo o tema do terceiro movimento.

FIGURA 5 Exemplo musical

FONTE: Arquivo do autor

Considerando as informações expostas acima, observamos que o compositor contempla diversos gêneros musicais, bem como busca selecionar alguns compositores nos quais ele gostaria de influenciar-se para o desenvolvimento e a criação de sua música, em especial sobre o Concertino N.1 para Trombone e Orquestra de Cordas. Deddos destaca, ainda, em entrevista, que faz algumas citações diretas de outros compositores e obras já consagradas como, por exemplo, o Concerto para trombone do dinamarquês Launy Grondahl, entre outras obras populares brasileiras (DEDDOS, 2017).

Com base nesses dados, defendemos que conhecer bem as concepções criativas do compositor, as suas influências, o seu processo de criação, conhecer a obra do compositor como um todo, objetivos sonoros, especialmente quando se trata de um compositor ainda vivo, bem como o reconhecimento das principais características composicionais da obra específica estudada vem a ser um aspecto de extrema importância no âmbito da construção da performance do trombonista. Dessa forma, as suas escolhas interpretativas constituem à música o mais aproximado possível dos objetivos sonoros pensados pelo compositor da obra. Podemos considerar, como exemplo, as constantes variações rítmicas atribuídas aos diferentes gêneros das músicas populares citados, o que, numa perspectiva empírica, para o músico que não obtém proximidade com esse tipo de repertório pode sofrer grandes dificuldades no reconhecimento de métricas e acentuações peculiares escritas pelo compositor.

3.3 Os principais desafios para o intérprete do Concertino N.1 para trombone e