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4.1 As produções acadêmicas da ANPAE

Os cinco estudos apontados nos Simpósios da Associação Nacional de Política e Administração da Educação - ANPAE versaram em sua maioria sobre o impacto das políticas educacionais para a Educação Infantil e sobre as políticas de oferta e atendimento da Educação Infantil no território brasileiro, dando ênfase na Região Sudeste e Sul do país, abordando os Estados do Espírito Santo e Curitiba, bem como, na Região Nordeste a partir do Estado da Bahia. E, sobre os desafios para a concretização do direito à Educação Infantil. Como podemos verificar nos trabalhos que serão mencionados abaixo.

O estudo de Souza e Damasco (2007), intitulado de “Análise das Políticas Educacionais na Oferta de Educação Infantil na Região Metropolitana de Curitiba e Litoral do Paraná”, faz parte de uma pesquisa conduzida pelo Núcleo de Políticas, Gestão e Financiamento da Educação da Universidade Federal do Paraná, pesquisa esta que objetivou avaliar os impactos das políticas educacionais na Educação Infantil no período de 2001 a 2006.

Para tanto, foi realizado análise de dados indiretos no intuito de apresentar a cobertura da rede dos municípios da Região Metropolitana de Curitiba e Litoral do Paraná - RMCL, em relação à população infantil dessa faixa etária (0-6 anos), os estabelecimentos de ensino e financiamento, buscando analisar o impacto das políticas educacionais no período já mencionado acerca da primeira etapa da Educação Básica. Assim sendo, o estudo concluiu que, apesar do crescimento da oferta da Educação Infantil na RMCL, é preciso considerar que tanto os possíveis impactos do FUNDEB, quanto às alterações nas taxas de natalidade e migração populacional seguramente reduzirão o prazo para a universalização do acesso. Em

suma, o atendimento à educação infantil na RMCL não é adequado às necessidades sociais (SOUZA; DAMASCO, 2007).

Assim como o estudo acima mencionado, o trabalho de Noguchi (2009), intitulado de “Políticas para a Educação Infantil na Região Metropolitana de Curitiba (2001-2006)”, também faz parte da pesquisa conduzida pelo Núcleo de Políticas, Gestão e Financiamento da Educação – NuPE/UFPR. Dessa forma, o presente estudo visa apresentar os resultados da dissertação intitulada “Políticas para a Educação Infantil na Região Metropolitana de Curitiba”, o qual teve como objetivo avaliar o impacto das políticas para a Educação Infantil, no período entre 2001 e 2006, no Primeiro Anel Metropolitano de Curitiba, constituído por 12 municípios.

Para tanto, foram analisados dados sobre a matrícula da população infantil desses municípios, no intuito de dimensionar a efetividade do direito à Educação Infantil, tomando como base os esforços imediatos do poder público em garantir este direito. Dessa forma, a autora pôde concluir que, a dissolução dos limites presentes nesta região, que de certo modo deveria propiciar um incremento da garantia efetiva aos direitos sociais, acaba por dificultar a efetivação dos mesmos nos municípios que compõem o Primeiro Anel Metropolitano, especialmente do direito à educação, devido às baixas condições dos municípios poderem atender a demanda oriunda do seu território, quiçá dos territórios vizinhos. É possível perceber que há um movimento de ampliação da garantia do direito, mas estas ações ainda são tomadas no âmbito local. Um dos caminhos na tentativa de superar as diversidades desta região seria a articulação das políticas públicas (NOGUCHI, 2009).

Silva, Antonia (2009), com seu trabalho, “Estado e Políticas Educacionais para Crianças de 0 a 6 anos na Bahia: paradoxos de um cenário local – transnacional” focou nas políticas públicas para a educação das crianças de zero a seis anos no Estado da Bahia no período de 1991-2006. O presente estudo teve como objetivo analisar a relação entre o local e o transnacional no delineamento e encaminhamento das políticas para a educação destinadas à população de zero a seis anos. Para tanto, a pesquisa foi amparada na análise de conteúdo qualitativa e teve como objetos os documentos impressos versando sobre as ações dos governos do Estado, focando no atendimento das crianças de zero a seis anos em programas sociais.

Assim sendo, o estudo concluiu que, os dados relatados no trabalho, indicam que a expansiva urbanização e as mudanças nas relações de trabalho, alteram não só a relação família-educação-cuidado com as crianças, mas desloca o foco do âmbito privado para o público. Dessa forma, no período em destaque, observou-se que as políticas deflagradas pelos governos, não só traduziram a personalização de uma concepção de Estado, mas a subversão

dos códigos administrativo, consoante às práticas de escamoteamento das relações de produção. Assim, olhando para o cenário baiano isto adquire contornos muito próprios, verificados tanto no refluxo do acesso das crianças à pré-escola e as contradições que este fato encerra em face das características socioeconômicas do Estado no período 1991-2006, quanto nos indicadores de urbanização e crescimento econômicos experimentados pelo Estado no período quando os movimentos entre o diagnóstico da realidade e a efetivação de políticas parecem sempre em descompasso (SILVA, ANTONIA, 2009).

O estudo de Correa (2011), intitulado de “Políticas de Educação Infantil no Brasil: ensaio sobre os desafios para a concretização de um direito” se configura como um ensaio que buscou versar sobre os desafios para a concretização do direito de todas as crianças brasileiras de zero a seis anos a uma Educação Infantil de qualidade. Para tanto, analisou o período de 1997-2010, na tentativa de evidenciar como, apesar de constatar certo reconhecimento quanto ao valor dessa etapa educacional na letra da lei e na produção de documentos oficiais produzidos no âmbito do MEC, como também defrontar com a aprovação de outras normativas legais, bem como a adoção de programas voltados à própria Educação Infantil que, objetivamente, impedem a expansão de vagas com a devida melhoria de sua qualidade, especialmente no que se refere às creches.

A autora considera que para haver efetividade, toda política pública dependeria, necessariamente, de três elementos principais: normas, de caráter mandatório, financiamento e fiscalização. Como um tripé de sustentação, a ausência de qualquer um dos três elementos representaria o risco de não se responder plenamente às demandas que originaram determinada política. Assim sendo, o estudo inferir que, considerando-se o tripé de sustentação de uma política pública, podemos dizer que os desafios ainda são grandes, conseguimos alcançar alguns consensos, ainda que haja aspectos não muito bem acordados. Por isto, aqueles que defendem o direito à Educação Infantil de qualidade no país ainda terão muito trabalho pela frente (CORREA, 2011).

Concluindo a apresentação dos trabalhos da ANPAE, expomos o estudo de Oliveira, C. e outros (2013), intitulado de “Políticas Públicas de Atendimento à Educação Infantil nos Municípios de Guarapari, Pancas e Afonso Cláudio/ES: pesquisas associadas”. Este estudo embasado na legislação brasileira para a Educação Infantil teve como objetivo explorar as políticas públicas de atendimento à Educação Infantil nos municípios de Guarapari, Pancas e Afonso Cláudio, no Estado do Espírito Santo, no entrelaçamento de três pesquisas desenvolvidas em escolas das redes municipais de ensino locais. Para tanto, teve como procedimentos metodológicos a análise documental e a entrevista, na busca de visibilizar a peculiaridade das escolas municipais de Educação Infantil e Ensino Fundamental – EMEIEF

de Guarapari no atendimento às crianças da Educação Infantil, bem como das salas extensivas de Educação Infantil do Campo – EIC em Pancas e as políticas de formação dos profissionais docentes da Educação Infantil em Afonso Cláudio, articuladas com as opções dos gestores municipais no atendimento às crianças da Educação Infantil.

Assim sendo, foi possível destacar a expressividade da expansão da Educação Infantil nos municípios de Guarapari, Pancas e Afonso Claudio, em atendimento às legislações atinentes à Educação Infantil e às demandas da sociedade postas aos gestores municipais, na garantia do direito das crianças pequenas à educação. O estudo visualizou: a cisão entre creche e pré-escola, devido à inserção das crianças de quatro e cinco anos nos espaços institucionais que atendem também aos anos iniciais do ensino fundamental – as EMEIEF; à oferta de Educação Infantil caracterizada por multi-idades ou multisséries vinculadas à zona rural dos municípios, na oferta da EIC; às distinções profissionais entre professores e auxiliares que atuam com o mesmo grupo de crianças, tensionado as relações de poder numa lógica hierárquica que reverbera na demanda de formação, tanto inicial como continuada. Em suma, destacamos a afirmação da Educação Infantil em sua inserção nos sistemas de ensino na vinculação às lutas por espaços próprios de atendimento, formação inicial e continuada, e pelo reconhecimento de todos os profissionais como docentes nessa modalidade de ensino (OLIVEIRA, C., et. al., 2013).

A partir da exposição dos trabalhos acima mencionados, podemos perceber que apesar de tratarem da Educação Infantil como temática de estudo, abordando as políticas de oferta e atendimento para esta etapa da Educação Básica, nenhum desses trabalhos apresenta discussões no âmbito da obrigatoriedade da matrícula e frequência a partir dos quatro anos de idade na Educação Infantil, no entanto, apontam aspectos importantes no desenvolvimento de políticas educacionais para oferta e para o atendimento da Educação Infantil brasileira. Como podemos apontar com base no estudo de Oliveira, C. e outros (2013), a cisão que existe entre a creche e a pré-escola. Assim sendo, como pontua os autores,

a afirmação da EI como um direito das crianças pequenas demanda o aprofundamento das discussões no que se refere ao reconhecimento/atendimento deste direito, considerando especialmente que a concretização das políticas municipais se efetiva num terreno de pluralidade de participação, de construção socio-histórica, num encadeamento mais amplo, aberto e sem fim do diálogo da/na vida e na história (OLIVEIRA, C., et al., 2013, p. 14-15).

Dessa forma, é importante pensar a Educação Infantil como um todo, sem dissociar creche e pré-escola, muito menos sobrepor uma sob a outra, uma vez que os dois segmentos compõem a primeira etapa da Educação Básica e se configuram como interdependentes para o

acolhimento e desenvolvimento das práticas educativas para as crianças de zero a cinco anos de idade de todo o país.